ABRUPTO

30.6.09


ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)



Foz do Douro. (José Carlos Santos)

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29.6.09

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PONTO / CONTRAPONTO: PROGRAMA DO PROGRAMA

Aqui.

Este é um programa de opinião sobre aquilo que vos (nos) faz ter opinião: a comunicação social. Oos media, os jornais, as rádios, os blogues, os livros, a televisão.

Eu sei que não é só comunicação social que vos (nos) faz ter opinião.
A nossa vida, a escola que tivemos, dentro da escola e fora dela, as origens, a família, o meio social - tudo faz a nossa opinião. Mas a comunicação social conta muito, conta mesmo muito.

O problema é que não vivemos tempos propícios à liberdade. Vivemos dificuldades, vivemos uma deterioração da democracia, vivemos demasiado espectáculo e pouca razão.
Vivemos mais de imagens do que palavras. Vivemos mais de pressa do que dea reflexão.
Vivemos em Portugal de uma longa história de submissão ao poder, a todos os poderes.
O do politicamente correcto. O do poder de Estado e dos Governos que abafam o cidadão e a sociedade.

Vivemos um mau momento para a liberdade, para respirar.Todos nos querem consensuais, submissos, respeitadores. Não é o meu caminho.

Mas há mais: a comunicação social portuguesa tem pouca qualidade. Há excepções e delas falaremos, mas a regra é outra. E como há pouca critica, pouca controvérsia, demasiados silêncios, não se separam as águas.

Ponto/ Contraponto é um programa de opinião.
Opinião individual, que vale o que vale.
Não é ciência, nem jornalismo, não tem a preocupação de ser equilibrado, nem isento e não será muitas vezes justo.

Mas a opinião é assim. A opinião de um consumidor de comunicação social, leitor, ouvinte, telespectador. Individual, sozinho. Do que eu não ouço, nem leio, nem vejo não falarei. Não posso ler, ouvir, ver tudo. P, por isso, como toda a opinião, esta é parcial, de gosto, frágil.

Ponto/ Contraponto é opinião que tem apenas o seu valor facial. Está à vista de todos com face, nada mais.

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EARLY MORNING BLOGS

1589 - Table Manners

The Goops they lick their fingers,
And the Goops they lick their knives;
They spill their broth on the tablecloth--
Oh, they lead disgusting lives!
The Goops they talk while eating,
And loud and fast they chew;
And that is why I'm glad that I
Am not a Goop--are you?

(Gelett Burgess)

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28.6.09


A "RENOVAÇÃO" QUE SE EXIGE

Quando Churchill chegou em 1940 ao lugar de primeiro-ministro de uma nação em guerra e a perder essa guerra, tinha quase quarenta anos de experiência parlamentar. Tinha sido quase tudo o que se podia ser: militar, estratega, parlamentar, ministro, jornalista, escritor, historiador, homem público, tudo. Era certamente uma das faces mais "gastas", como agora se diz, da vida política britânica. Era, com igual certeza, uma das pessoas que menos "renovação" traziam ao governo, ele que já por lá tinha passado várias vezes e algumas delas de forma bem conflitual. Era, com a certeza das certezas, uma personalidade "pouco consensual", tendo distribuído uma seara de ódios, de facções, de confrontos, de polémicas, ímpar nesses mesmos quarenta anos que o século durava. Tinha inimigos, completamente hostis, que o consideravam tudo aquilo que a política não devia ser: era acusado de ser irresponsável, incompetente, vingativo, belicista, conflituoso, quase um traidor. Os seus adversários odiavam-no muito menos do que os seus correlegionários, um sinal de intensidade do ódio muito particular. No seu partido tinha os maiores inimigos, que o acusavam de tudo o que de mal acontecera ao Reino Unido, desde derrotas militares sangrentas até a desastres eleitorais. Para além disso, era velho, gordo, bebia, era demasiado nobre de nascimento, tinha dívidas, maus costumes e língua afiada. E, homem da escrita e dos jornais, panfletário e excessivo, também não tinha os jornalistas em grande consideração. Em suma: Churchill chumbaria em todos os critérios mediáticos dos nossos dias e seria considerado tudo menos "uma face fresca", vinda da geração certa, que pudesse receber os elogios da "renovação", a variante em política do critério de "novidade" permanente que move jornais, rádios e televisões.

Vem isto a propósito da redução da "novidade", logo da "renovação", como um valor, à idade, ao turnover geracional, à "frescura" da face, como se isso fosse um critério fundamental para as escolhas políticos. Com enorme enfado, os jornalistas premeiam ou punem a "renovação" por este critério. Os critérios que usam são bastante parecidos com os da publicidade e inserem-se na tendência da redução da política ao espectáculo. Paulo Rangel beneficiou dele, mas duvido que esse seja o critério de qualidade que mais lhe interesse, dado que a "novidade" é a primeira coisa a gastar-se. Só quem não reparou na sua performance como líder parlamentar é que se pode ter surpreendido com a sua campanha. Aí também ele não era "novo", mas foi visto como tal pelos mesmos que o depreciavam como parlamentar e davam sempre a Sócrates as estrelas todas. Foi preciso que o estereótipo se impusesse, para beneficiar dele, neste caso para alguém com mérito. Menos mérito tem quem constrói uma "novidade" para fazer passar o gato pela lebre da "novidade" e, infelizmente, há muitos candidatos para isso e têm, no essencial, boa imprensa. Falsos "novos" como Passos Coelho usam a face como estratégia de marketing e o "novo" como mecanismo de reciclagem. Ou o novo porta-voz do PS, João Tiago Silveira, que foi apresentado pelo Expresso como uma "lufada de ar fresco" à custa de se iludir a sua actividade concreta como secretário de Estado, que mostrava como os "novos" podem ser os mais eficazes repetidores dos vícios dos velhos.

Muita coisa má se está a promover à custa da idade e da renovação "geracional", disfarçando conflitos de poder pelos bens escassos, não entrando em conta com outros critérios menos mediáticos e espectaculares. Numa sociedade equilibrada, numa democracia capaz, os critérios incluem a idade e a geração, mas incluem igualmente os costumes públicos, a experiência, os comportamentos, as ideias e as práticas. Ou seja, são indivíduos que são avaliados, não abstracções na moda. Por isso, se me perguntarem que "renovação" eu quero, por exemplo, nas listas de deputados, nos membros do governo, eu respondo de modo muito diferente daquele que por aí impera. Deve ser da idade.

Por exemplo, para mim, renovar é trazer para a política pessoas com vida e profissão, que tenham conhecido dificuldades, desilusões, derrotas, perdas, que sejam mais de carne do que de plástico. Há cada vez menos gente assim na política, à medida que nos partidos as jotas funcionam como incubadoras de carreiras semiprofissionais e profissionais de política. Elas implicam quase sempre baixa qualificação profissional, cursos de segunda, pouca experiência profissional e vidas que rapidamente acedem a regalias e prebendas que separam os que as recebem do comum dos cidadãos e dos seus companheiros de geração. Quem entra para assessor numa autarquia, ou para deputado, sem ter tido profissão, tende a ficar preso pela sua falta de qualificações e saída profissional. Os aparelhos partidários estão cheios de gente assim, que gere obediências e sindicatos de voto, a quem não se conhece um "não" que os afaste por consciência de qualquer lugar.

É para mim incompreensível que alguém que discorda profundamente de uma direcção partidária (já não digo de uma política, porque aí é tudo muito maleável) queira ser deputado em representação dessa maneira de fazer política que abomina. Não gosto de dar o meu exemplo, porque num mundo normal isto seria tão habitual como respirar, mas não concordando com a aliança entre o PP e o PSD nas eleições para o Parlamento Europeu, declinei sem qualquer drama o convite para ficar.

Por exemplo, para mim, renovar significa escolher pessoas que mostrem ter uma intransigência grande com a corrupção. Não basta serem honestas e sérias, o que muita gente é na política. É preciso ir mais longe, dada a natureza do meio e das suas tentações, é preciso não pactuar com quem seja menos honesto. Embora este seja um terreno difícil, a "ética republicana" como queria Pina Moura não é apenas a lei e os prevaricadores não são apenas os culpados em tribunal. É necessário que nos partidos políticos haja cada vez mais gente que não ajuda, promova, seja indiferente com quem abusa do seu lugar, quem enriquece sem explicação, quem serve o contínuo tráfego de influências que passa pela política. Os partidos políticos, em particular o PS, o PSD e o CDS, pagam em termos da opinião pública um preço elevado pelo comportamento dos seus dirigentes e militantes, envolvidos em histórias pouco dignificantes, mesmo que não cheguem a ser crimes. Muito da regeneração possível dos partidos passa por aí, embora reconheça as enormes pressões para marginalizar quem não pactua com esses hábitos.

Para mim, renovar é procurar diversidade, de modo que Portugal todo caiba na política e não apenas os eleitos pela fortuna, pela riqueza e pela classe social e pelo nascimento. Mais importante do que as quotas (que penso serem um absurdo, como o é a lei da paridade) é encontrar pessoas com capacidade de falarem e serem ouvidas pela sociedade portuguesa em todos os seus matizes. A maioria dos portugueses são operários, agricultores, trabalhadores dos serviços, funcionários públicos, micro e pequeno-empresários, e todos eles estão sub-representados na vida política, quer enquanto tal, quer através de representantes que conheçam os seus problemas e falem a sua língua. É o problema de qualificar a acção política por "saberes" diversos, fruto da experiência, do conhecimento de vida, do estudo, para evitar o progressivo divórcio entre a realidade nacional e a representação política.

Podia continuar, mas penso que já se percebe. Faça-se a "renovação" por aqui e encontrar-se-á gente nova e mais velha, capaz de nos fornecer melhores políticos. Mas para que tal seja possível nos partidos é necessário ir muito mais longe do que os poderes e equilíbrios internos, porque a realidade mostra que as escolhas das direcções nacionais são mais racionais do que as dos aparelhos interiores aos partidos. E não estou propriamente a pedir Churchills. Vamos ver.

(Versão do Público de 27 de Junho de 2009.)

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ESPÍRITO DO TEMPO: ESTES DIAS



Chuva matinal. (RM)



Vinhas no Douro. (Gil Regueira)



Varanda de Miragaia na noite de S.João. (Nuno Lima)



Jardins de Serralves. (C. Oliveira)



Num telhado de Alfama, a observar o Tejo. (Fernando Correia de Oliveira)



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Paisagem vista da EB2,3/S do Baixo Barroso, Venda Nova, Montalegre. (Isabel Cristina)

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EARLY MORNING BLOGS

1588 - Dedication for a Plot of Ground

This plot of ground
facing the waters of this inlet
is dedicated to the living presence of
Emily Dickinson Wellcome
who was born in England; married;
lost her husband and with
her five year old son
sailed for New York in a two-master;
was driven to the Azores;
ran adrift on Fire Island shoal,
met her second husband
in a Brooklyn boarding house,
went with him to Puerto Rico
bore three more children, lost
her second husband, lived hard
for eight years in St. Thomas,
Puerto Rico, San Domingo, followed
the oldest son to New York,
lost her daughter, lost her "baby,"
seized the two boys of
the oldest son by the second marriage
mothered them -- they being
motherless -- fought for them
against the other grandmother
and the aunts, brought them here
summer after summer, defended
herself here against thieves,
storms, sun, fire,
against flies, against girls
that came smelling about, against
drought, against weeds, storm-tides,
neighbors, weasels that stole her chickens,
against the weakness of her own hands,
against the growing strength of
the boys, against wind, against
the stones, against trespassers,
against rents, against her own mind.

She grubbed this earth with her own hands,
domineered over this grass plot,
blackguarded her oldest son
into buying it, lived here fifteen years,
attained a final loneliness and --

If you can bring nothing to this place
but your carcass, keep out.

(William Carlos Williams)

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27.6.09

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COISAS DA SÁBADO:
OS DEFEITOS DAS JOTAS EMIGRARAM PARA OS BLOGUES




Não sei se isto se pode dizer como se dizia do “socialismo real”: o “real” é muito mau, mas o socialismo é bom. Ou seja, os blogues são uma boa coisa, a blogosfera (política) está muito má. Má, intriguista, mesquinha, superficial, amiguista e revanchista, muito longe do país, que desconhece, muito longe da vida, que não vive, dominada por preocupações de carreira e sucesso, cheia dos vícios que tinha e tem o jornalismo, mais os das jotas. As excepções confirmam a regra, as vozes sensatas e limpas, sejam lá de que posição forem, de direita ou de esquerda, socialistas ou social-democratas, comunistas ou bloquistas, são cada vez menos, num ambiente dominado pela intriga e pela intriga intra-partidária. Hoje fazem-se blogues destinados a “colocar” pessoas sob a atenção dos partidos, e para “gerir carreiras” em base tribal, uma especialidade das jotas que antes era feita de forma mais rudimentar. Numa frase: os vícios das redacções e das jotas partidárias emigraram para os blogues políticos com imenso furor...

... e com grande complementaridade. Que aliás já há muito tinham, num contínuo entre políticos “a fazerem-se” no tradeoff mediático e jornalistas no jogo da promoção de grupos de amigos dentro e fora das redacções. A isso há que somar o crescente papel que agências de comunicação e de marketing têm na blogosfera e nas suas duas ramificações mais na moda, o Twitter e o Facebook, fazendo “propaganda viral”, fazendo circular boatos e “interpretações”, sugerindo escritas e incentivando amizades e ódios. Nada disto é novo, existia em qualquer café de província, incluindo em Lisboa. A diferença é que muita gente é iludida pela novidade tecnológica do meio e esquece-se de que, na Rede, se se mete lixo, sai lixo.

Ah! e convém não esquecer o trabalho dedicado e profissional de assessores governamentais que criam falsos blogues para disseminarem “análises”, boatos, informações escolhidas a dedo, dotados de arquivos e meios a que nenhum particular tem rápido acesso, como nenhum particular tem tempo para esse trabalho, 24 horas sem parar. E espero, espero mesmo, que não haja gente dos serviços de informação também nos combates blogosféricos, nas caixas de comentários, em blogues, usando todos os recursos e potencialidades da desinformação.

Isto pode parecer conspirativo, mas não é. Há muitos idiotas úteis nos blogues mas alguma gente sabe que é assim e que o segredo é a alma do negócio, porque, em muitos casos, é negócio mesmo. Mas o Muito Mentiroso, o primeiro blogue que fazia parte de uma operação de desinformação a pretexto do caso Casa Pia, deixou escola. E quem denuncia este “estado” da blogosfera política com clareza, ou seja, faz o exercício crítico que a blogosfera prometia nos seus inícios, é atacado por todos os lados. Se houvesse uma campainha como a que matava o Mandarim na longínqua China, haveria listas de espera para tilintar a sineta invisível. É sempre assim quando, mais do que uma selva de opiniões abertas, começa a existir uma selva de interesses disfarçados.

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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COISAS DA SÁBADO: O QUE É QUE VERDADEIRAMENTE FAZEM AS AGÊNCIAS DE COMUNICAÇÃO?

Esta é uma reprodução de um vídeo da agência LPM (podia ser de outra, mas esta é apesar de tudo mais “transparente”). Eu realmente gostava de saber que papel tem a agência nestas setinhas para cima (e noutros artigos de jornais que aparecem no vídeo). Eu sei a resposta politicamente correcta: a agência tratou tão bem da “imagem” destes cavalheiros, que eles foram premiados por jornalistas independentes com a setinha para cima, única e exclusivamente pelo seu mérito. Mas, deve ser por eu pensar que o Diabo está sempre nos detalhes, que gostaria de saber como é que se chega aqui. Ou, dito de outra maneira, fazendo a pergunta doutro modo: qual o grau de consciência que o jornalista que deu as setinhas tinha de que a “imagem” que premeia foi manipulada profissionalmente e pode não corresponder a uma avaliação puramente jornalística dos seus méritos? E a pergunta como se vê, ainda é muito inocente, há versões mais hard. Mas que gostava muito de ser esclarecido, lá isso gostava. Esclarecido e não “imageticamente” esclarecido.

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EARLY MORNING BLOGS

1587 - Will Consider Situation

There here are words of radical advice for a young man looking for a job;
Young man, be a snob.
Yes, if you are in search of arguments against starting at the bottom,
Why I've gottem.
Let the personnel managers differ;
It,s obvious that you will get on faster at the top than at the bottom because
there are more people at the bottom than at the top so naturally the competition
at the bottom is stiffer.
If you need any further proof that my theory works
Well, nobody can deny that presidents get paid more than vice-presidents and
vice-presidents get paid more than clerks.
Stop looking at me quizzically;
I want to add that you will never achieve fortune in a job that makes you
uncomfortable physically.
When anybody tells you that hard jobs are better for you than soft jobs be sure
to repeat this text to them,
Postmen tramp around all day through rain and snow just to deliver other
people's in cozy air-conditioned offices checks to them.
You don't need to interpret tea leaves stuck in a cup
To understand that people who work sitting down get paid more than people who
work standing up.
Another thing about having a comfortable job is you not only accommodate more
treasure;
You get more leisure.
So that when you find you have worked so comfortably that your waistline is a
menace,
You correct it with golf or tennis.
Whereas is in an uncomfortable job like piano-moving or stevedoring you
indulge,
You have no time to exercise, you just continue to bulge.
To sum it up, young man, there is every reason to refuse a job that will make
heavy demands on you corporally or manually,
And the only intelligent way to start your career is to accept a sitting
position paying at least twenty-five thousand dollars annually.

(Ogden Nash)

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26.6.09

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COISAS DA SÁBADO: O SENHOR VALDEMAR E O GOVERNO MORIBUNDO

O estado do governo faz-me lembrar uma história sinistra de Edgar Allan Poe, o estranho “caso do senhor Valdemar”, o homem hipnotizado quando morria e que ficou assim uns tempos - morto, mas “mesmerizado”. É como está o nosso governo do engenheiro José Sócrates.

Já escrevi várias vezes que, de há algum tempo para cá, não havia verdadeiro governo em Portugal. As pessoas podiam não o perceber, mas os ministros tinham emigrado para a Terra de Oz onde se dedicavam à propaganda, uma forma moderna de magia. A crise de fora acelerou esta fuga dos gabinetes para as sessões de inaugurações (poucas, muito poucas), de realizações das empresas (algumas) e para as de promessas (muitas). Mas hoje trata-se de ir mais longe e verificar que já não é o estado de ausência que impera no governo, é a morte acelerada dos seus ministros.

O ministro Mário Lino, honra lhe seja feita, mostrou pela primeira vez que está farto que lhe digam para “andar com as coisas” e depois para “parar com as coisas”. Numa entrevista disse que já estava “velho demais” para estar no governo, um desabafo fácil de traduzir em mais vernáculo por um “estou farto de ser usado”, “estou farto de ser enganado”. Pois, deve estar.
Nas escolas também está tudo bloqueado. Prosseguem as burocracias da avaliação, mas não prossegue a avaliação, Nem podia ser de outro modo. Depois de o Primeiro-ministro admitir que um dos seus raríssimos erros foi na avaliação dos professores, já não há autoridade para fazer coisa nenhuma. Está tudo à espera que Godot não apareça.

A bizarra afirmação sobre a falta de apoio à cultura, também mostra que o Ministério e o ministro estão mortos, o que já não é de agora, só que o Primeiro-ministro veio explicar a causa da morte. Não importa que não seja assim, mas o diagnóstico não deixa margem para dúvidas. Outro que jaz morto.

E por aí diante, o governo parece-se cada vez mais com o senhor Valdemar da história de Edgar Allan Poe. Acabou o efeito do hipnotismo, avança a cadaverina e a putrescina, coisas pouco amáveis. Como diz o tenebroso autor: “upon the bed, before the whole company, there lay a nearly liquid mass of loathsome—of detestable putrescence.”

*

Se não me engano, assistimos ontem, ao vivo e a cores, à quebra do transe hipnótico e a subsequente decomposição acelerada do Ministro da Agricultura que desmentia calmamente a versão do Primeiro Ministro (muito provavelmente por estar fora do circuito há muito tempo) acerca do senhor que foi constituído arguido no caso Freeport. Seria de esperar que, pelo menos, combinassem primeiro as histórias. Só é pena que, num país onde a comunicação social foi obliterada pela morte do Michael Jackson, este episódio grotesco já esteja esquecido.

(João Soares)

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24.6.09

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NUNCA É TARDE PARA APRENDER: AQUELE QUE HOJE NÃO PASSARIA EM NENHUM CRITÉRIO MEDIÁTICO



















Martin Gilbert, Continue To Pester, Nag And Bite: Churchill's War Leadership, Pimlico, 2005.

(Em breve.)

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (103): OS ABCESSOS DE FIXAÇÃO


A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

O actual abcesso de fixação com o PSD é a falta ou o atraso de programa eleitoral. Este abcesso de fixação é uma variante dos anteriores abcessos e é, como eles, puramente artificial (o "bloco central") ou mimético (a falta ou atraso do candidato às eleições europeias). Os trabalhadores da fixação, os que garantem vida ao abcesso, são exactamente os mesmos dos abcessos anteriores. Exactamente os mesmos. Como é um abcesso de fixação que tem a ver com tempo, que é por sua própria natureza subjectivo (ou, traduzindo este "subjectivo", depende de uma estratégia do tempo em que não há um critério objectivo para definir qual o "tempo certo"), não conhece outra validação que não seja a da pura opinião, matéria que está depois e não antes no jornalismo informativo. Na verdade, como de costume, o "problema" não é equitativamente distribuído: onde é que está o programa eleitoral do PS?

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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EARLY MORNING BLOGS

1586 - Reflection On A Wicked World

Purity
Is obscurity.

(Ogden Nash)

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23.6.09




"O homem que mata a mosca" na Sábado em linha.

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (101):
A CRITERIOSA ESCOLHA DAS PALAVRAS PARA MANIPULAR A OPINIÃO



A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

Esta é comigo, mas como é exemplar de como as coisas se fazem e de como se processa a manipulação, fica aqui registada. Em nenhum sítio e em nenhuma circunstância (quer no Público, quer na Quadratura do Círculo), usei a palavra "limpeza", como se poderia implicar pela existência de aspas numa palavra que nunca disse ("limpeza"). A única coisa que eu disse foi esta, ipsis verbis,:

O que Manuela Ferreira Leite hoje precisa para competir de forma mais perfeita com o PS é restituir a honra governativa perdida do PSD, um partido que deu ao país governos como os da AD e os de Cavaco Silva, mas que para muitos portugueses tem essa reputação manchada. Para isso, precisa da maior liberdade, porque tem autoridade política que veio de fora, do voto, e precisa de a usar rapidamente nas opções mais difíceis, antes que o tempo exerça a sua usura. Precisa de escolher listas de deputados qualificadas, constituindo equipas com gente velha e nova, mas que seja reconhecida pelo país, pelos grupos profissionais, pelas elites e pelo homem comum, pelos que precisam de melhor política, como dedicados, capazes, impolutos e estando ali pelo interesse público.

O Diário de Notícias e alguns blogues dos seus jornalistas, desde que apareceu esta frase, a única que eu disse, traduziram-na por "limpeza" e nalguns casos "purga" e "purga estalinista". Podia ser "renovação", mas como é comigo é sempre "purga", podia ser apenas a admissão de algo que toda a gente anda a dizer e a pedir há muito, mas comigo é sempre "limpeza". A manipulação está aqui, as palavras são ad hominem.

E esta manipulação não é de agora, começou mal eu disse a frase. Já na entrevista a Paulo Rangel, trataram igualmente de amplificar essa interpretação, levando alguém a responder não ao que eu disse, mas ao que o jornalista disse que eu disse, outro truque manipulatório cada vez mais frequente. Rangel foi perguntado nestes termos e com insistência:

E esta vitória deve levar Manuela Ferreira Leite a preparar as próximas eleições numa perspectiva de inclusão? Já ouvimos Pacheco Pereira dizer que é altura de limpar o partido, para garantir que esta forma de fazer política é a vencedora, portanto, que há aí algum mérito também nisso. Por onde é que deve ir a direcção do PSD? (..) A limpeza que propõe Pacheco Pereira implica uma exclusão de pessoas que estão no PSD.

Será que o Diário de Notícias se importa de me citar para eu saber quando é que disse isto: ("Já ouvimos Pacheco Pereira dizer que é altura de limpar o partido, para garantir que esta forma de fazer política é a vencedora") ou falei de "limpeza"? Claro que se importa, porque nada disto existe. É assim que se fazem as coisas.

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CREDO 4



Falsehood flies and the truth comes limping after; so that when men come to be undeceived it is too late: the jest is over and the tale has had its effect.

(Swift)

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EARLY MORNING BLOGS

1585 - Lines Indited With All The Depravity Of Poverty

One way to be very happy is to be very rich
For then you can buy orchids by the quire and bacon by the flitch.
And yet at the same time People don't mind if you only tip them a dime,
Because it's very funny
But somehow if you're rich enough you can get away with spending
water like money
While if you're not rich you can spend in one evening your salary for
the year
And everybody will just stand around and jeer.
If you are rich you don't have to think twice about buying a judge or a
horse,
Or a lower instead of an upper, or a new suit, or a divorce,
And you never have to say When,
And you can sleep every morning until nine or ten,
All of which
Explains why I should like very, very much to be very, very rich.

(Ogden Nash)

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22.6.09


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
O CONSELHO EUROPEU E AS MATÉRIAS QUE "PREOCUPAM O POVO IRLANDÊS"




O Conselho Europeu reuniu-se há alguns dias. Entre as decisões tomadas, os Chefes de Estado e de Governo reunidos no Conselho Europeu adotaram uma decisão que é suposta dar garantias sobre matérias que "preocupam o povo irlandês" e abrir caminho a um novo referendo do tratado de Lisboa. Essas matérias dizem respeito ao direito à vida, família e educação, à tributação, e à segurança e defesa. Até aqui parece-me bem, independentemente do que cada um de nós pensa do dito tratado.

Mas, nas suas conclusões, o Conselho afirmou que a dita decisão não era somente uma declaração política, mas que era "juridicamente vinculativa". E eu pergunto uma pergunta que até agora não vi, nem ouvi nenhum comentador, professor de Direito ou jornalista perguntar. Qual é a base legal dessa decisão "juridicamente vinculativa"? É que a decisão propriamente dita não o indica. De fato, tal base legal não existe. Ou seja a decisão é efetivamente juridicamente inexistente face o direito europeu em vigor, inexistente face aos direito nacionais e logo inconstitucional.

Não discuto o conteúdo da dita decisão; não é esse o ponto. Se fosse uma simples declaração política, nada eu teria a acrescentar. O problema é a afirmação que a decisão é "juridicamente vinculativa."

E o Conselho Europeu sabe bem que a sua decisão que se afirma "juridicamente vinculativa" não o é. Por isso se comprometeram (mas este compromisso é puramente político e não "juridicamente vinculativo") a que no momento da conclusão do próximo Tratado de Adesão, as disposições da dita decisão sejam incluídas num Protocolo a anexar ao Tratado da União Europeia e ao Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia. Ora, se a dita decisão é "juridicamente vinculativa" porque precisa ela de vir a ser incluída num protocolo a anexar aos tratados no futuro? Ou seja, a dita declaração não carece de nova ratificação, dizem eles; mas virá a ser ratificada disfarçadamente quando se discutir a adesão da Croácia ou da Islândia.

Mesmo a um europeísta e federalista como eu, isto cheira a esturro.

(Pedro Ferreira)

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (101): VOLTARAM OS MOMENTOS CHÁVEZ...


A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.


... às televisões. Na RTP como é costume, propaganda transmitida ipsis verbis, sem qualquer mediação jornalística. Nas outras (não vi) não deve ser muito melhor, embora com menos tempo. A coisa já vem formatada para passar nos ecrãs sem mediação. O jornalismo português acha normal passar comícios e propaganda todos os dias, ao sabor da programação feita pelos assessores e pelas agências de comunicação. Está bem, é o ar do tempo.

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (100): SEMPRE QUE SE GANHA PERDE-SE


A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

Na semana em que a suspensão das grandes obras públicas se concretizou, como fora exigido por Manuela Ferreira Leite, antes das eleições, e Paulo Rangel na noite das eleições; na semana em que um manifesto de economistas independentes, do PS e do PSD, reproduz as preocupações que, há mais de um ano, Manuela Ferreira Leite expressou sobre os investimentos megalómanos que estavam a ser prometidos com o país endividado, o Expresso entende que Manuela Ferreira Leite deve ficar em baixo por isso mesmo. Em vez de premiar ou castigar o que acontecera na semana anterior baseado nos resultados, Manuela Ferreira Leite é castigada pelo "problema" que os resultados irão trazer no futuro. É um bocado como se Manuela Ferreira Leite tivesse ganho as eleições legislativas e tivesse a sua seta para baixo pelos "problemas" que vai ter como Primeiro-ministro. Mas, é assim que se fazem as coisas...

*

Outra do mesmo Expresso é esta apologia do novo porta-voz do PS, de que aqui coloco apenas a introdução, porque o resto do artigo é puramente apologético e bem podia ter sido feito por uma agência de imagem. Claro que o jornalista esqueceu-se daquilo que Filipe Nunes Vicente lembrou no Mar Salgado: este é o homem que entendia que escrituras públicas eram afinal privadas. É como se tudo isto fosse feito na base do conhecimento próximo e das opiniões de meia dúzia de pessoas do PS, que inclui jornalistas e ex-jornalistas, hoje assessores ligados a António Costa, sem nenhuma consulta a arquivo, sem qualquer memória seja lá do que for. Até a promoção "geracional", um mecanismo que tem escapado à análise, e que tem a ver com a competição política no interior dos partidos por carreiras e lugares, lá vem en passant. O resultado é que a personagem torna-se a "imagem" que se quer dele dar e não um agente político concreto, com actos e comportamentos já conhecidos.



*
Veja o que encontrei aqui neste blog e que o autor intitula "Pérolas da imprensa de referência" e que inclui a manipulação pelo jornal do título da entrevista de Menezes e outros exemplos, todos do mesmo dia:
Quem tem princípios passa fome...

Cinco pormenores de sábado. O jornal i entrevista Luís Filipe Menezes. Eis a capa.
Como vêem, o título é uma citação da entrevista: "Pacheco Pereira é a loira do PSD". O leitor abre o jornal e a tal citação é "ligeiramente" diferente... Ei-la. ("Pacheco Pereira é a loira do regime.")

Já o Diário de Notícias tinha como manchete um tema do caso Freeport: "Ex-presidente do ICN arguido por corrupção". E lia-se no texto (ainda na primeira página): "Ao DN, Carlos Guerra recusou a existência de qualquer tratamento especial à aprovação do outlet de Alcochete."

Fica-se com a ideia de que o DN é tão bom que traz a notícia e ainda declarações do visado. Vamos lá, então, comprar o jornal! Mas, afinal, vai-se a ler lá dentro (pág. 6) e as tais declarações de Carlos Guerra eram de... Janeiro. Têm seis meses.

Repare-se agora numa "notícia" do Expresso sobre o novo porta-voz do PS, João Tiago Silveira. Eis alguns dos termos da "noticia" escritos pelo próprio jornalista:
- "uma lufada de ar fresco"
- "tome nota deste nome, porque vai ouvir falar dele muitas vezes..."
- "brilhante aluno de Direito"
- "foi genericamente bem recebido pelas hostes socialistas"
- "Sócrates precisa de renovar, com qualidade..."

Eu não conheço pessoal ou profissionalmente João Tiago Silveira, mas, por defeito de profissão, fico sempre cá com uma pulga atrás da orelha com estas "notícias" tão simpáticas...

Ainda no Expresso, na pág. 6. Título: "É um disparate falar de AD nesta altura". Foto: Manuela Ferreira Leite e Paulo Portas. Pós-título: "Líder do PSD proíbe conversas sobre coligações até às eleições. Portas também não garante estar interessado."

Vai-se a ler o texto e afinal a frase do título não é dita por Ferreira Leite ao Expresso. Afinal, Ferreira Leite "terá concordado com dirigentes do PSD para quem 'falar de AD nesta altura é um disparate'".

Chamo a atenção do "terá". É uma hipótese. Até pode ter dito, mas o jornal não diz que ela disse, até põe o verbo no condicional ("terá") e não identifica fontes para sustentar uma notícia, que, no fundo, é de pura análise política de bastidores feita pelos dois jornalistas que assinam.

Nada contra, se as fontes são boas. Não enganem é o leitor com uma frase no título que nem o jornal sabe se "terá" sido dita...

Ainda no Expresso na pág. 33. Jaime Nina, coordenador do Departamento de Doenças Infecciosas do Instituto Ricardo Jorge, fala ao jornal sobre a gripe suína: "A pandemia virá entre Outubro e Janeiro e DEVERÁ ATINGIR 10 a 25% da população.

Título do Expresso: "Infecção VAI ATINGIR até 25% dos portugueses"

Bom, isto são só cinco exemplos, de um dia apenas. Podia fazer um blog só com estas pérolas da imprensa de referência. E os outros é que são sensacionalistas e tablóides...
(Pedro M. Silveira)
*
Curiosa, essa sua referência à promoção “geracional”. Veio substanciar uma impressão que se me vinha ultimamente a acumular resultante de alguns factos avulsos que, se calhar, não são avulsos.

É o caso, por exemplo, da longa entrevista feita ontem pelo Público ao novo “coordenador do programa com Carnegie-Mellon”, um jovem brilhante de 36 anos, certamente cheio de entusiasmo e energia mas que, sobre o “espírito avançado” do que se faz “lá fora” em matéria de I&D afirma deslumbrado o que nós, mais velhos, já sabemos há muito e que nunca conseguimos entrosar com a nossa realidade nacional – e ele a manifestar o entusiasmo de quem nem sequer ainda se deu conta desse problema!...

É o caso semelhante, também, de outro jovem brilhante mais ou menos da mesma idade que começou a trabalhar comigo há 20 anos como bolseiro de investigação, ainda aluno de licenciatura, que foi depois comigo para a indústria nacional desenvolver uma linha de produtos pioneiros de alta tecnologia, mas que agora foi convidado para um alto cargo estatal de administração de subsídios (graças a boas ligações familiares) e que me atirou, ao ir, e com sobranceria, que “era tempo de os mais novos terem a sua oportunidade” porque “os mais velhos nunca tinham feito nada por este país”!...

E sabe que me lembra tudo isto? Deve ser por eu começar a ser um velho cheio de memórias, mas lembra-me a limpeza por Estaline de toda a velha guarda bolchevique delegada ao Congresso em que Kirov brilhara, e a sua substituição por “jovens operário e camponeses libertos de todos os vícios”…

Ou a mobilização da Guarda Vermelha por Mao para “limpar” Liu Shao Shi e os outros “degenerados revisionistas”.

Não por causa dos métodos assassinos, claro, mas pelo mesmo argumento de que os “jovens” vêem sem os vícios da velha guarda e de como essa ideia apenas esconde a busca do poder incontestado.

(José Luís Pinto de Sá)

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CREDO 3



Animula, vagula, blandula
Hospes comesque corporis!
Quae nunc abibis in loca,
Pallidula, frigida nudula
Nec ut soles dabis joca?

(Aelius Publius Hadrianus)

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CREDO 2



I will tell you what I will do and what I will not do. I will not serve that in which I no longer believe, whether it call itself my home, my fatherland, or my church: and I will try to express myself in some mode of life or art as freely as I can and as wholly as I can, using for my defence the only arms I allow myself to use — silence, exile and cunning.

( James Joyce)

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