ABRUPTO

6.1.07


COISAS SIMPLES

(Frederick Judd Waugh)

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INTENDÊNCIA

Actualizada a nota COISAS DA SÁBADO: A ETA E ZAPATERO.

Em actualização as bibliografias dos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO.

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EARLY MORNING BLOGS

943 - Des esprits forts

Les esprits forts savent-ils qu'on les appelle ainsi par ironie? Quelle plus grande faiblesse que d'être incertains quel est le principe de son être, de sa vie, de ses sens, de ses connaissances, et quelle en doit être la fin? Quel découragement plus grand que de douter si son âme n'est point matière comme la pierre et le reptile, et si elle n'est point corruptible comme ces viles créatures? N'y a-t-il pas plus de force et de grandeur à recevoir dans notre esprit l'idée d'un être supérieur à tous les êtres, qui les a tous faits, et à qui tous se doivent rapporter; d'un être souverainement parfait, qui est pur, qui n'a point commencé et qui ne peut finir, dont notre âme est l'image, et si j'ose dire, une portion, comme esprit et comme immortelle?

(Jean de La Bruyère)

*

Bom dia!

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JARDINS DE INVERNO

Serralves

(Álvaro Mendonça)

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5.1.07


INTENDÊNCIA

Em actualização as bibliografias dos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO.

Actualizadas as notas BOAS / MÁS / PÉSSIMAS COISAS NA COMUNICAÇÃO SOCIAL PORTUGUESA EM 2006, O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: PERPLEXIDADES e COISAS DA SÁBADO: A ETA E ZAPATERO.

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JARDINS DE INVERNO

Jardins do Campus da University of Southampton (Inglaterra).

(Luís Reino)

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JARDINS DE INVERNO

Mosteiro de Tibães, Braga.

(Rui Oliveira)

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RETRATOS DO TRABALHO EM DUBLIN, IRLANDA

Trabalhadores reparando uma das paredes do famoso bar de Dublin “Temple Bar Dublin”.

(Tiago Oliveira)

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JARDINS DE INVERNO



(José Rui Fernandes)

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BOAS / MÁS / PÉSSIMAS COISAS NA COMUNICAÇÃO SOCIAL PORTUGUESA EM 2006

VISTAS POR UM GRANDE (EM QUANTIDADE) CONSUMIDOR 2

[Nota: algumas sugestões de leitores já foram incorporadas nas escolhas.]

NOVAS / MÁS / PÉSSIMAS COISAS


Os blogues dos jornais em geral. Há excepções, mas a regra é má (a desenvolver). Na verdade, esses blogues não são vistos como tais pelos seus pares como se verifica pela quase ausência de citação. É como se não existissem.


Os jornais disponíveis em linha têm muitas vezes versões más. O caso mais flagrante nos diários é o do Diário de Notícias que tem um sítio mal feito, mal desenhado e mal mantido. Já me aconteceu várias vezes encontrar entrevistas em que o entrevistado nunca chega a ser identificado em linha, pelo que não se sabe de quem são as declarações. O Público alargou as matérias acessíveis sem assinatura, o que é uma evolução positiva, e tem o melhor sítio na Rede.


O excesso de futebol em todas as televisões, mas com mais gravidade na RTP.






A tendência crescente para a violação da intimidade e da privacidade em toda a imprensa, de referência e "cor de rosa". O Expresso e o Sol deram exemplos negativos e o que se passa nas revistas "cor de rosa", do jet set, do "coração" e quejandos, já ronda o mais miserável voyeurismo.

(Continua)

*
Penso que a "coisa" pior da comunicação social nacional em 2006 foi, sem sombra de dúvida, a sua falta de originalidade e identidade. Baptista-Bastos (pela primeira vez, concordámos) chamou a atenção para isto no Jornal de Negócios há uns meses atrás e foi, desde que me lembro, o primeiro a fazê-lo.

A imprensa nacional carece assustadoramente de jornalismo activo, de repórteres que observem a realidade in loco e a transformem em notícia. As notícias nos jornais portugueses não só são semelhantes entre si como, para cúmulo, iguais às dos principais jornais mundiais. A razão é que todos os jornais portugueses vão beber à mesma fonte: as agências de notícias.

Isto transforma a nossa imprensa numa indústria transformadora e recicladora, incapaz de se diferenciar entre si e face ao resto do Mundo. Esta conduta dos media portugueses, para além de condenar a sua própria existência (quem é que vai comprar um jornal, se pode ir logo ao site da France Press?), ridiculariza o próprio leitor/espectador, que dá por si, por vezes, a ler artigos que em nada condizem com a informação a prestar por um órgão de comunicação nacional, como por exemplo a polémica entre Donald Trump e a Miss USA ou a morte de um caçador de crocodilos famoso no Mundo anglófono mas praticamente anónimo em Portugal.

Esta dependência das agências não só condena os media portugueses à agenda de outros países - ridículo - como leva ao cúmulo de se focar em certos temas, sem dar atenção a outros. Questiono, por exemplo, porque é que nunca lemos nada sobre as milícias na Colômbia ou a ditadura na Birmânia. Porquê sempre os mesmos temas, Índia, China, Irão, Iraque e Angola? Porque não mais independência?

Porque é que eu, Luís Guimarães, tenho de ler a mesma capa que o Luigi Guimarani em Roma ou ou Louis Guimaraes em Washington?

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RETRATOS DO TRABALHO NA TORRE, SERRA DA ESTRELA, PORTUGAL

O vento teimava em ser gélido e o nevoeiro a tapar o horizonte serrano, mesmo assim o comércio na Torre continuava para além do frio e das quedas dos consumidores no gelo do primeiro dia do ano.

(Luís Miguel Pinto, Valencia de Alcántara - Espanha)

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A EXECUÇÃO DE SADDAM HUSSEIN

http://images.theglobeandmail.com/archives/RTGAM/images/20061230/whussein-execution1230/Hussein_Execution230.jpgAntes de se falar da morte de Saddam, o que "fala" nas imagens que vimos na televisão é a morte. No nosso mundo liofilizado europeu, a Ceifeira vê-se pouco. É escondida nos hospitais, disfarçada em quartos obscuros, cuidadosamente retirada da nossa vista. Ali, numa qualquer instalação policial ou militar, com o ar frio do cimento nu, às horas perigosas da madrugada, um homem como nós defronta tudo. Como nós. Ali, naquele momento, não há qualquer distinção. É ele e somos nós. O morto que ainda está vivo, anda, fala. Dead man walking, como se diz nos corredores da morte texanos.

Não há diálogo com a Ceifeira, não há palavras que possam ser ditas. Saddam portou-se com dignidade, embora eu não saiba bem o que significa esta frase, ou sequer se tem algum sentido dizê-la. Tivesse ele chorado, implorado, ou exibido um medo evidente e haveria alguma diferença? Havia para nós, o medo dele seria ainda mais o nosso. Assim como foi, alimenta a nossa vaidade, de que possamos também defrontar assim a Ceifeira e por isso ter essa "dignidade", forma última da nossa humanidade, prometeica a seu modo arrogante, diante do executor humano e divino.

Os brutos e os cruéis também podem ser dignos face à morte, isto, para quem saiba alguma coisa de história, não é novidade nenhuma. Aquele homem ali no cadafalso não era um homem comum, nem a morte lhe era alheia. Bem pelo contrário, Saddam matou, mesmo com as suas mãos, e deixou atrás de si um rastro de assassinatos, crimes e violências que o colocam entre os grandes criminosos políticos do século XX, numa indiferença brutal. Naquela sala, ele estava no seu ambiente, ele melhor que ninguém percebia todos os papéis, dos carrascos, da vingança tribal e religiosa, da pura habituação à morte violenta, o convívio próximo de muitos iraquianos com a Ceifeira, mais que próximo, íntimo. Se alguma coisa o podia surpreender, era até a relativo carácter asséptico daquela execução, tão encenada, limpa, sossegada. As coisas depois perderam um bocado o pé, com os insultos e os gritos, mas tenho a certeza que foi incomensuravelmente mais pacífica do que os hábitos da casa.

http://www.centipedia.com/images/en/c/c9/Nicolae_ceasescu_dead.PNGNão foi o espectáculo que foi brutal, foi a morte, como é sempre, aqui com a agravante de ter sido decidida por homens e não pelo fluir do destino. Se há adquirido civilizacional numa parte do "Ocidente", é que os nossos governantes máximos, políticos, juízes, polícias, perderam o direito de decidir sobre a vida e a morte dos que os afrontam, quer a eles, quer à sociedade. O fim da pena de morte é um adquirido crucial, frágil como todos, mas para já garantido em grande parte da Europa, embora mais recentemente do que se pensa. Mesmo assim, o assassinato político que acompanhou a nossa história, e que ainda há poucos anos matou Ceausescu e a mulher (esqueceram-se dos Ceausescu os jornalistas que repetiam na sua ignorância que no século XX "nenhum" ditador conheceu o destino de Saddam, pensando certamente que foi esta a "justiça" que faltou a Pinochet, que muitos que choram por Saddam desejavam ver morto), parece uma excepção, não o sendo. Que o digam os presidentes tchetchenos.

Mas uma coisa é ser radicalmente contra a pena de morte, como sou, outra é usar, com a "má fé" que Fernando Gil tão bem retratou, essa condenação como mais um argumento contra a invasão americana do Iraque. A discussão da invasão americana e dos sucessos que se lhe seguiram é hoje tão dominada pela irracionalidade e pelo "pensamento único" que nos impede pura e simplesmente de pensar. Aliás, nunca encontrei melhor exemplo do que possa ser o "pensamento único" do que a completa unanimidade agressiva sobre os eventos do Iraque. Bastava sequer ouvir a cena macabra dos últimos momentos de Saddam, para perceber como para os iraquianos presentes, entre os quais o próprio Saddam, o que está em jogo está muito para além do binómio ocupação-resistência e já lá estava muito antes da invasão.

Se se quer discutir a sério o papel político da execução de Saddam, então é preciso em primeiro lugar libertarmo-nos de usar a condenação da pena de morte como argumento, porque ele é em si muito irrelevante no Iraque, nem muda nada que não estivesse já mudado e infelizmente para pior. A execução de Saddam foi mais um episódio de uma guerra civil larvar que atravessa o Iraque, e é como tal interpretada pelos iraquianos, que a festejaram do lado xiita e que a condenaram do lado sunita, apenas e só nesse contexto. E é por ter sido mais um episódio da guerra civil que a desaparição física do ditador em nada contribui para a acalmia do país, e muito menos para a democracia. Mostra também como os americanos, em particular, perderam o controlo do processo e têm um dilema crescente: ao passarem o poder para os iraquianos, tem que aceitar uma política interna cada vez mais dominada pelo conflito civil entre xiitas e sunitas, com os curdos a desejarem estar noutro mapa, de preferência com o petróleo a que acham ter direito.

Se não se está de "má fé", então tem que se discutir as alternativas para a coligação após a invasão. Os EUA e os seus aliados sabiam que iam defrontar no Iraque o problema de capturar vivos os principais dirigentes do regime baasista. Não era nada que não tivesse vários precedentes recentes, como o da Alemanha e Japão no fim da II Guerra, ou dos dirigentes sérvios na guerra jugoslava. Arthur Seyss-Inquart after hangingO precedente alemão e japonês foi resolvido com tribunais como o de Nuremberga, que acabaram na condenação à morte de muitos altos dignitários nazis, ao exemplo do que aconteceu em muitos outros países da Europa, onde uma vaga de julgamentos ou de decisões extrajudiciais levaram à execução, muitas vezes sumária, de milhares de colaboradores dos alemães. Se no Iraque fosse seguido o mesmo exemplo, seriam americanos e os outros membros da coligação a julgar Saddam não se sabendo com que base jurídica. Se fosse com base na legislação nacional iraquiana, ou na base da legislação de Nuremberga, Saddam seria quase de certeza condenado também à morte.

Havia a alternativa de o julgar num tribunal como o de Haia, para onde foi enviado Milosevic. Mas o consenso que havia para a Jugoslávia não existia para o Iraque e um tribunal com um apoio internacional dúbio seria sempre visto como um tribunal americano disfarçado. Era provável que neste caso, se o julgamento fosse na Europa, Saddam escapasse com vida, mas http://www.latinamericanstudies.org/panama/noriega-mugshot.jpgficaria preso até ao fim dos seus dias. Não custa imaginar o clamor que, quer a solução tipo Nuremberga, quer a de um tribunal internacional levantariam, para além de poder reforçar a ideia de uma ocupação estrangeira permanente do Iraque.Havia uma outra solução, a de levar Saddam para os EUA, como aconteceu com Noriega, mas também aí não seria difícil imaginar o clamor internacional e o impasse jurídico a que se chegaria, pois também na lei americana os crimes de Saddam implicavam a pena de morte.

Apesar de tudo, visto pelo princípio dos "prognósticos só no final do jogo", qualquer destas soluções seria melhor, agora que sabemos o que aconteceu. Mas é preciso entender que os motivos dos americanos, como acontece com algumas das maiores asneiras cometidas no Iraque, resultam de uma mistura de boa vontade ingénua e negligência na análise cuidada dos riscos. Ninguém que quer a democracia pode deixar de admirar a enorme ingenuidade americana, que é o melhor da América, e nalguns caos, o pior. Vistas as coisas hoje percebem-se as intenções dos EUA: usar o julgamento de Saddam como uma catarse nacional para o Iraque, permitir um módico de justiça (e por muitas críticas que se possam fazer ao julgamento, ele esteve a milhas do que é habitual na região) e oferecer aos iraquianos um ponto zero de partida para a sua democracia. Só os americanos podiam alguma vez pensar nisto a sério, mas não há razão para duvidar das suas intenções, de que, bem sei, está o inferno cheio.

Havia, aliás, uma maneira não americana, nem ingénua de pensar esta questão. Estaline era especialista nessa maneira, que certamente seria muito mais realista e eficaz: a de que "acabando-se com o homem, acabava-se com o problema", mas não me parece que seja esta a alternativa em que alguns críticos do que se passou estejam a pensar.

(Para a semana, continuarei o artigo sobre Ratzinger intelectual)

(No Público de 4 de Janeiro de 2007)

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EARLY MORNING BLOGS

942 - So might I, standing on this pleasant lea, / Have glimpses ...

The world is too much with us; late and soon,
Getting and spending, we lay waste our powers:
Little we see in nature that is ours;
We have given our hearts away, a sordid boon!
This Sea that bares her bosom to the moon;
The Winds that will be howling at all hours
And are up-gathered now like sleeping flowers;
For this, for every thing, we are out of tune;
It moves us not—Great God! I'd rather be
A Pagan suckled in a creed outworn;
So might I, standing on this pleasant lea,
Have glimpses that would make me less forlorn
Have sight of Proteus coming from the sea,
Or hear old Triton blow his wreathed horn.

(William Wordsworth)

*

Bom dia!

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COISAS DA SÁBADO: A ETA E ZAPATERO

http://external.cache.el-mundo.net/elmundo/imagenes/2006/03/25/1143280123_1.jpgZapatero andou a brincar com o fogo espanhol mais intenso e antigo: a unidade do Estado. É uma velha história espanhola, mais ligada às raízes do conflito civil, e do conflito civil máximo que foi a guerra de 1936-9, do que parece, submergido que foi numa memória construída apenas na antinomia, fascismo-comunismo, ou em outras variantes do mesmo. Basta conhecermos na sua integridade o celebre episódio da Universidade de Salamanca entre Unamuno e Millan Astray para perceber como a “questão nacional” é vital na compreensão da Espanha. Zapatero, louvado por cegueira pelos nossos socialistas lusos, tem tentado activamente destruir duas políticas de Aznar que serviam Espanha: uma, a afirmação da Espanha na cena internacional e europeia, que correspondia ao vigor e pujança da economia e da sociedade espanholas; outra, uma política de intransigência com o terrorismo basco.

Saliente-se que em muitos aspectos estas políticas de Aznar eram sucedâneos de políticas de González. As políticas de Aznar continham riscos e foi aos erros assentes num desses riscos que ele ficou a dever a sua abrupta queda e o afastamento muito significativo do PP da opinião pública e do poder. Mas Zapatero fez e está a fazer pior: está a abalar a unidade do Estado espanhol caminhando para um ponto sem retorno a toda a velocidade. E esse ponto sem retorno será em Espanha não um momento pacífico, mas sim o soltar de todos os demónios. De novo.

O atentado da ETA só o podia surpreender a ele, e mostrou a enorme irresponsabilidade do caminho negocial que iniciou com o terrorismo, não a partir de uma posição de força, mas sim de fraqueza. Agora, a meio do caminho, o governo perdeu toda a legitimidade para tratar da questão basca, e o terrorismo da ETA, sendo o que foi sempre, mostrou as garras que nunca perdeu.

*
Em primeiro lugar gostava de pedir desculpas pelo meu português. Não concordo com o ponto de vista sobre Zapatero no assunto da ETA. A questão é muito complexa para um post de um blog, mas gostava de salientar algumas coisas:

- O problema dos nacionalismos na Península Ibérica é muito antigo e é um problema que ainda não ficou perfeitamente resolvido. Não sei se sabe que o hino de Catalunha faz referência a factos acontecidos em 1640 (Não é um ano especial para Portugal?) O dia Nacional de Catalunha faz referência a factos acontecidos em 1714. EM Aragão ainda fazemos homenagem ao chamado Justiça de Aragão, assassinado por Filipe I (II em Castela) no século XVI. Em resumo: As tensões territoriais é um problema que passa de geração em geração e que sofre momentos de imenso centralismo acompanhados de autonomismo. A única parte da Espanha da que falava o Conde de Barcelos na Crónica Geral e que conseguiu independência chama-se Portugal. Foi por essa independência que hoje existe uma cultura portuguesa e uma língua portuguesa forte no mundo. ( Não sei se sabe que os professores do franquismo batiam nas crianças que falavam na aula na língua das mães galegas, bascas ou catalãs)

O Aznar do período 2000-2004 foi realmente o activador de muitos dos problemas que hoje temos em Espanha. Ele quis falar sem complexos de uma Espanha que muitos pensávamos esquecida, a Espanha UNA de Franco que lamentavelmente só existe e existiu por meio da força.

ETA é uma organização que pretende por meio de violência terrorista a Independência do País Basco. São mais de 40 anos de actividade e é imensa a dor causada. Existe uma possibilidade de conseguir uma saída pacífica do conflito e é isso o que Zapatero estava a tentar, da mesma maneira que Aznar tentou nos anos 98-99. A direita espanhola não permitiu, por motivos eleitoralistas, que Zapatero pudesse atingir qualquer sucesso. Deixou o governo sem possibilidade de ter espaço para negociar o fim de ETA não permitiu que foram feitas concessões como as que Aznar fez naqueles anos. O resultado é que o sector mais intransigente da ETA ficou com o poder da organização dado que as negociações não conseguiam nem aquilo que já quase foi conseguido no ano 99.

E o problema agora é que dois cidadãos de Equador morreram e que o PP está hoje mais contento do que há duas semanas. Esse é o maior problema que temos e não a suposta debilidade de Zapatero, que não é um político perfeito mas infinitamente mais digno do que estes dirigentes da extrema direita do PP espanhol

Javier Figueiredo (Badajoz)

*

Certamente já conhecerá, mas em complemento às observações sobre Zapatero, convem talvez recordar este passo célebre da História de Espanha. A leitura deste texto arrancou de um simpatizante franquista português (com muita idade) a exclamação "Estes espanhois quando são bons, são bons, venham lá de onde vierem!"

História de Espanha (3) - Don Miguel de Unamuno (1864-1936)

Entre as tragédias da Guerra Civil de Espanha encontramos inúmeros testemunhos de cobardia e de coragem. Vejamos este conhecido episódio protagonizado por D Miguel de Unamuno na sessão solene do dia da Hispanidade de 1936 na Universidade de Salamanca, de que era então reitor. Passo a citar Antony Beevor em La Guerra Civil Española:

“Mientras tanto, de los altavoces en las calles surgían las notas del himno de la Legión El novio de la muerte y en las emisoras de radio cada tarde sonaba un cornetín para anunciar el “parte” desde el cuartel del Generalísimo. En este ambiente cuartelero iba a tener lugar un notable acto de coraje moral, un incidente jaleado por el énfasis que se dio en él al valor puramente físico de la guerra. El 12 de octubre, aniversario del descubrimiento de América, “Día de la Raza”, tuvo lugar un acto ceremonial en el Paraninfo de la Universidad de Salamanca. La audiencia estaba integrada por notables del Movimiento, incluido un fuerte contingente de la Falange local. En el estrado tomaron asiento Carmen Polo, esposa de Franco, Pla y Deniel, obispo de Salamanca, el general Millán Astray, fundador del Tercio de Extranjeros (que llegó acompañado de sus legionarios), y Miguel de Unamuno, rector de la Universidad. Unamuno, irritado contra los gobernantes de la República, había apoyado al principio el “alzamiento” que debía “salvar la civilización occidental, la civilización cristiana que se ve amenazada”, pero no podía pasar por alto la matanza que se había llevado a cabo en la ciudad bajo las órdenes del comandante Doval, (…) ni los asesinatos de sus amigos Castro Prieto, alcalde de Salamanca, Salvador Vila, catedrático de árabe y hebreo de la Universidad de Granada, o García Lorca.
Los discursos iniciales corrieron a cargo de Vicente Beltrán de Heredia y de José María Pemán. Acto seguido el profesor Francisco Maldonado lanzó una tremenda diatriba contra los nacionalismos catalán y vasco, “cánceres de la nación” que había de curar el implacable bisturí del fascismo. Al fondo de la sala alguien lanzó el grito legionario “¡Viva la muerte!” y el general Millán Astray, que parecia el auténtico espectro de la guerra, manco, tuerto y cubierto de cicatrices, dio los “¡Vivas!” de rigor, mientras los falangistas saludaban a la romana hacia el retrato de Franco, que colgaba sobre el sitial de su esposa. El alboroto se desvaneció cuando Unamuno tomó la palabra:

Estáis esperando mis palabras. Me conocéis bien y sabéis que soy incapaz de permanecer en silencio. A veces, quedarse callado equivale a mentir. Porque el silencio puede ser interpretado como aquiescencia. Quiero hacer algunos comentarios al discurso, por llamarlo de algún modo, del profesor Maldonado. Dejaré de lado la ofensa personal que supone su repentina explosión contra vascos y catalanes. Yo mismo, como sabéis, nací en Bilbao. El obispo, lo quiera o no lo quiera, es catalán nacido en Barcelona.

Pla y Deniel se removió a disgusto por la alusión de Unamuno a su lugar de origen, que era casi en si mismo una implicación de deslealtad a la cruzada nacional.
Entre el silencio, Unamuno prosiguió:

Pero ahora acabo de oír el necrófilo e insensato grito: “¡Viva la muerte!”. Y yo, que he pasado mi vida componiendo paradojas que excitaban la ira de algunos que no las comprendían, he de deciros, como experto en la materia, que esta ridícula paradoja me parece repelente. El general Millán Astral es un inválido. No es preciso que digamos esto con un tono más bajo. Es un inválido de guerra. También lo fue Cervantes. Pero, desgraciadamente, en España hay actualmente demasiados mutilados. Y, si Dios no nos ayuda, pronto habrá muchísimos más. Me atormenta pensar que el general Millán Astral pudiera dictar las normas de la psicología de la masa. Un mutilado que carezca de la grandeza espiritual de Cervantes, es de esperar que encuentre un terrible alivio viendo cómo se multiplican los mutilados a su alrededor.

Llegado Unamuno a este punto, Millán Astray ya no pudo contener su ira por más tiempo. “¡Muera la inteligência! ¡Viva la muerte!” gritó a pleno pulmón. Falangistas y militares echaron mano a sus pistolas y hasta el escolta del general apuntó su subfusil a la cabeza de Unamuno, lo que no impidió que éste terminara su intervención en tono desafiante:

Este es el templo de la inteligencia. Y yo soy su sumo sacerdote. Estáis profanando su sagrado recinto. Venceréis, porque tenéis sobrada fuerza bruta. Pero no convenceréis. Para convencer hay que persuadir. Y para persuadir necesitaríais algo que os falta: razón y derecho en la lucha. Me parece inútil el pediros que penséis en España.

Hizo una pausa y dejando caer, sin fuerza, los brazos, concluyó en tono resignado:

He dicho”.

Se dice que la presencia de Carmen Polo le libró de ser asesinado allí mismo y que cuando Franco se enteró de lo que había ocurrido lamentó que no hubiese sido así. Seguramente los nacionales no asesinaron a Unamuno por la fama internacional del filósofo y por la reacción que había causado ya en el exterior el asesinato de García Lorca. Pero Unamuno, destituido como rector y confinado en su domicilio, murió el día de fin de año consternado y tachado de “rojo” y traidor – aunque su funeral fuera manipulado por los falangistas – por aquellos a quienes él había creído amigos.

(Pág 149 – 152)

(Miguel G. Cardoso)

*

Concordo com muito do que diz, mas permita-me divergir um pouco. Parece-me que o ponto em que os nacionalismos espanhóis foram picados não foi com Zapatero no poder, mas antes quando, na segunda maioria de Aznar (a primeira absoluta), o Governo do PP, de repente livre da necessidade de negociar com os moderados bascos e catalães, começou uma política de confronto minucioso com os nacionalismos espanhóis não castelhanos (em pequenas coisas como as matrículas, por exemplo). Aí, ao tentar reafirmar o centralismo espanhol após anos de cada vez maior autonomia, Aznar acordou os tais demónios. Seja como for, tenho para mim que esses "demónios" nunca estiveram realmente adormecidos e que a solução para Espanha não passa por mais centralismo. Aliás, na libertação das energias autonomistas parece-me estar, em parte, a explicação do sucesso de Espanha (e incluo nessa libertação as tensões imensas entre regiões, que resultam num país muito mais complexo e dinâmico). Nada disto impede que a condução do "processo de paz" tenha sido um desastre. As minhas palavras referem-se mais, aliás, à Catalunha, e não tanto ao País Basco (são dois problemas muito distintos).

(Marco Neves )

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4.1.07


JARDINS DE INVERNO

Jardim do Marquês de Pombal, Porto, 3 de Janeiro de 2007

(Álvaro Mendonça)

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PERGUNTAS ENTRE O ESPAÇO E O CIBERESPAÇO 8

Texto em movimento, V. 1

8 - [Mediações]

(Não arranjei patrono para esta pergunta, mas deve haver. Uma hipótese: por que é que quem fica no meio é atropelado? A expressão mais correcta é "ensanduichado", mas é demasiado plebeia para meu gosto e não me parece bem colocar o Conde de Sandwich junto com Kafka e Nietzsche. Fica para já assim: "mediações" - as que o ciberespaço está a ajudar a desaparecer.)

As mediações estão em crise: na democracia (parlamento, representação), no saber (peer review), na comunicação social (edição), na escola (a própria escola enquanto factor de socialização), na vida, enfim. Se todo o tempo é "real" não há mediações entre o ser e o agir, não há espaço para pensar, não há lugar para o pensar. O pensar é sempre uma distância, uma lentidão do tempo. As instituições do "meio": partidos, sindicatos, parlamentos, associações, escolas, famílias, igrejas, academias, perdem aceleradamente poder.
(Nesta sala a instituição do "meio" é a mesa e o moderador do debate e não parecem estar lá muito bem. Eu também não estou lá muito bem, porque precisava de mais tempo e não tenho. Nenhum de nós tem mão no tempo.)
The image “http://msit.gsu.edu/socialstudies/constitution/images/turn.gif” cannot be displayed, because it contains errors.Se deixou de haver distância, a não ser a que vai do meu braço a uma tecla ou um botão, e o mundo é uma "aldeia global", por que razão eu preciso de delegar o meu poder a quem me represente? Nada é distante, tudo é próximo, à distância de um clique, de um botão, de uma palavra digitalmente reconhecida. O resultado são as utopias da "democracia directa" na Rede, que regressam em força. Estão por todo o lado na Rede, dos artigos académicos, aos comentários mais simples, no sentido bíblico de "simples". A razão do seu retorno, eterno retorno aliás porque a pulsão para a igualdade é sempre muito grande nas sociedades de massas, é óbvia: existem hoje as tecnologias para resolver o dilema da dimensão, que preocupava os Constituintes americanos que, antes da Rede, ajudaram a construir um país em Rede.
It is natural to a republic to have only a small territory, otherwise it cannot long subsist. In a large republic there are men of large fortunes, and consequently of less moderation; there are trusts too great to be placed in any single subject; he has interest of his own; he soon begins to think that he may be happy, great and glorious, by oppressing his fellow citizens; and that he may raise himself to grandeur on the ruins of his country. In a large republic, the public good is sacrificed to a thousand views; it is subordinate to exceptions, and depends on accidents. In a small one, the interest of the public is easier perceived, better understood, and more within the reach of every citizen; abuses are of less extent, and of course are less protected. (Montesquieu citado por "Brutus", Robert Yates contra o estado federal.)

Os federalistas respondiam também falando do "espaço", do "tamanho". Sim, uma democracia não podia ser "grande", mas uma República podia, desde que baseada no príncípio da representação.

As the natural limit of a democracy is that distance from the central point which will just permit the most remote citizens to assemble as often as their public functions demand, and will include no greater number than can join in those functions; so the natural limit of a republic is that distance from the centre which will barely allow the representatives to meet as often as may be necessary for the administration of public affairs. Can it be said that the limits of the United States exceed this distance?

Perguntava Madison ("Publius") e respondia que sim, medindo fisicamente o território da União.

Size matters... até agora. O "tamanho" era um óbice, complicava tudo, diferenciava, hierarquizava, tornava uns poderosos e outros fracos. Na distância perdia poder o que estava mais longe, ganhava o que estava mais perto. Tinha-se perdido a unidade ateniense, o "interesse público" mais "facilmente percebido", tinha que se delegar, representar, para manter a democracia num espaço grande. Agora deixou de ser preciso. A "aldeia global" encolhe tudo, ou não fosse uma aldeia. Problemas velhos, dizem os utopistas da Rede, que voltam ao pseudo-ideal do agora grego presente no "electronic town hall" ou nas propostas de televoto.
Veja-se por exemplo Scott London, "Teledemocracy vs. Deliberative Democracy: A Comparative Look at Two Models of Public Talk." Journal of Interpersonal Computing and Technology, Vol 3, No 2, Abril 1995.

Há boas razões para os populistas, os demagogos e os comunistas gostarem destas propostas. Comecemos por Ross Perot.

(Continua)

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: LAGOS, LAGOS E MAIS LAGOS

Radar imaging data of large bodies of liquid on Titan

em Titã, lua de Saturno, sistema solar.

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JARDINS DE INVERNO

Jardim do Passeio Alegre no Porto. Hoje.

(Gil Coelho)

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BOAS / MÁS / PÉSSIMAS COISAS NA COMUNICAÇÃO SOCIAL PORTUGUESA EM 2006

VISTAS POR UM GRANDE (EM QUANTIDADE) CONSUMIDOR


NOTAS DE ABERTURA

Escrevo no Público e na Sábado e participo num programa da SICN. Se esses são conflitos de interesse, aqui ficam registados. Este balanço depende muito do que li, ouvi e vi directamente, logo pode ser desigual e injusto com muito de bom ou mau na comunicação social. Por exemplo, ouvi muito pouca rádio este ano, vejo poucas vezes a TVI com excepção dos noticiários, mas leio quase toda a imprensa.

Esta primeira versão do texto é ainda uma aproximação. Como sempre, espero dos leitores do Abrupto opiniões, sugestões, correcções e debate, antes de fazer um texto definitivo.

BALANÇO DE ALGUMAS BOAS COISAS QUE VINHAM DO ANO PASSADO E DE COMO MUDARAM PARA MÁS OU CONTINUARAM NA MESMA


Na SIC Notícias: Mário Crespo e o par João Adelino Faria / Ana Lourenço nos noticiários. Crespo e João Adelino Faria têm um estilo de entrevista informado, estudioso, empático, que resulta muito bem no espaço temporal de que dispõem. A saída de João Adelino Faria é uma perda importante para a SICN.

Continua nas BOAS COISAS.


Na 2: Clube dos Jornalistas, perdeu qualidade e relevância. Começou a ter “causas” e a querer ouvir dos seus convidados a justificação dessas “causas”. Perdeu interesse e tornou-se mais conformista com o velho jornalismo do que o que já era.

Sai das BOAS COISAS.


A Sábado é o órgão de comunicação social portuguesa mais subestimado, vítima das “sinergias” que lhe faltam: não tem quem puxe pelas suas notícias nos outros órgãos de comunicação social. Mas que tem notícias, isso tem, por detrás daquelas capas sensacionalistas. Repito ipsis verbis o que disse o ano passado acrescentando que o sucesso da Sábado face à Visão levou-a a ultrapassá-la nas vendas em banca, o que é um feito. A Visão precisa mesmo de levar uma volta.

Continua nas BOAS COISAS.


A imprensa de distribuição gratuita está boa e recomenda-se.


Continua nas BOAS COISAS.

Na blogosfera: o debate político. Os blogues políticos de todas as cores continuam a ser a parte mais dinâmica da blogosfera, contra todas as cíclicas previsões em contrário. O debate pode ter todos os defeitos da "atmosfera", mas tem também qualidades que só há na blogosfera. Ipsis verbis.

Continua nas BOAS COISAS.

Pelo contrário, o papel da blogosfera nas micro-causas esbateu-se, em parte pela banalização do termo e da função, noutra parte, porque a imprensa em papel pega rapidamente nos temas da blogosfera e apaga a assinatura original. Os blogues de jornalismo também perderam alguma acuidade e foram menos activos e menos críticos.


Livros e revistas sobre jornalismo.



Continua nas BOAS COISAS.

NOVAS COISAS BOAS

Novos jornais: levanta-se o Sol e melhora o Expresso.


Os podcasts na rádio.


Alguns dos programas do Prós e Contras foram os melhores (nalguns casos os únicos) debates sobre matérias de interesse público.


Na nossa "era dos engraçadinhos" o humor tornou-se prato forte das televisões. Há de tudo, bom e mau. Detalhes a seguir.


As séries da Fox no cabo, e nas séries, as da HBO. Muito dividido entre os Sopranos e Deadwood, inclino-me para considerar Deadwood a melhor série televisiva que jamais vi, depois da Twilight Zone original.


O Provedor do Público.



Melhorias gráficas nos jornais (Diário de Notícias por exemplo) e excelentes ilustradores e cartonistas.


VELHAS COISAS MÁS QUE CONTINUAM MÁS


A política comunicacional governativa. Passou para as PÉSSIMAS COISAS.





A ausência de programas de informação nas televisões generalistas. Continua nas MÁS COISAS.


Na RTP: a cobertura dos assuntos da UE. Continua nas MÁS COISAS.



Na RTP: os comentários de António Vitorino. Continua nas MÁS COISAS.




A imprensa generalista cai. Agravou-se a situação . Passou para as PÉSSIMAS COISAS.




O jornalismo económico continua a depender de uma visão mais do “económico” do que do “jornalístico”. Melhorou substancialmente. Sairá das MÁS COISAS e irá para o limbo.


A Antena 2 é demasiado loquaz. Continua nas MÁS COISAS.




NOVAS / PÉSSIMAS MÁS COISAS



Entidade Reguladora para a Comunicação Social.






Truques na blogosfera portuguesa para incrementar visitas e ligações artificialmente.





(Continua)

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No balanço das coisas boas e das coisas más que nos ficaram do ano que terminou, gostaria de referir duas ou três coisas em relação à comunicação social/televisão/imprensa escrita.

Concordo plenamente com as análises que faz da Sábado e do Diário de Notícias.

Notei que o Público perdeu qualidade. E ou eu me engano muito ou também perdeu audiência. É óbvio que continua a ser um bom jornal, mas está a tornar-se demasiado maçudo. Alguns articulistas mudaram. Talvez pelo seu próprio estilo as crónicas tornaram-se menos interessantes. Há dias em que o jornal tem papel a mais e notícias a menos. Hoje é um deles. Também é certo que traz a revista "Dia D" e os suplementos "Mil Folhas" e "Y", só que estes dirigem-se a nichos de mercado. O jornal precisava de ser renovado, está com artigos demasiados extensos, repetitivos e pouco interessantes.

Continuou a degradação da informação televisiva. E os concursos e novelas a horas nobres da programação tornaram-se uma aberração consolidada. A ignorância de alguns dos apresentadores dos concursos concorre com a ignorância dos concorrentes. Se quanto a estes ela ainda é desculpável, já a daqueles não é. Comentários brejeiros, nalguns casos ordinários, tornaram-se um must. Humor sem humor com programas de piadas e anedotas em que o mau gosto impera e em que tipos boçais contam piadas de caserna com uma bolinha vermelha no canto superior direito do ecrã durante horas infindas. E isto para já não falar em programas como aquele que a TVI passa em que maridos e mulheres enganadas se enxovalham reciprocamente perante um apresentador e uma plateia de idiotas. Pobres dos que não podem usufruir dos prazeres do satélite ou do cabo.

Também foi muito mau o aumento de voyeurismo de alguma imprensa com o consequente aparecimento de novos títulos. A entrevista à artista despeitada, o mexerico, a intrigalhada, a baixeza, a proposta inconfessável via anúncio de jornal, anúncio televisivo ou notícia de revista do coração, tornaram-se moda. Péssima foi a praga da generalização dos toques de telemóveis e das imagens indecentes, via sms, ou a publicidade encapotada a pessoas e negócios em espaços de informação televisiva.

Inqualificável foi o tempo concedido ao futebol pela generalidade dos canais. E não falo do Mundial de Futebol que só corre de 4 em 4 anos. Horas e horas de programação imbecil, jogos sem qualquer interesse e sem público todos os dias da semana, debates desinteressantes, com gente que não tem nada a ensinar ou transmitir, incapaz de articular uma frase ou expressar uma ideia, discutindo o fora-de-jogo, o insulto ao árbitro ou as entrevistas do Mourinho. Ainda por cima com a presença de políticos, caso do Fernando Seara, que transmitem a ideia, creio que errada, que não fazem mais nada senão ir à bola, escrever n' "A Bola" e discutir a bola. Programas como a "Liga dos Últimos" na RTPN, com os comentários de um tal "Prof. Bitaites", deviam ser pura e simplesmente banidos, já que constituem um verdadeiro atentado à inteligência dos telespectadores, só servindo para gozar com quem não percebe que está ser gozado. O Pinto da Costa, o Vieira, a família Loureiro, o Veiga, o Scolari, o Hermínio Loureiro, o Madaíl, o Jorge Coroado, a corrupção, a fraude, a moscambilha, o insulto gratuito, tudo misturado e ao mesmo tempo e com toda a gente a toda a hora a debitar banalidades e barbaridades, a abrir telejornais, a fazer-nos detestar um espectáculo belíssimo como é o futebol.

Enfim, no meio de tanta coisa sempre há alguma que se aproveita, como alguns programas educativos visando temas do mar e da natureza, em especial na RTP2, e alguns debates como os promovidos pela Fátima Campos Ferreira. Noto, no entanto, que ultimamente os convidados são sempre os mesmos e há um excesso de atenção na discussão de temas económicos. É pena que assim seja, posto que isso começa a tornar o programa menos interessante, monótono e cansativo.

Boa foi também a introdução de pequenos programas tendentes à melhoria do falar e do escrever da nossa língua, alertando os telespectadores para a necessidade de correcção de alguns erros frequentes de dicção e de escrita.

(Sérgio de Almeida Correia)

*

Uma adenda para as suas coisas péssimas na imprensa portuguesa: a abundância de erros de ortografia que já ninguém se preocupa em emendar. Proponho-lhe um exercício: leia de lápis na mão, na mesma semana, a Sábado, a Visão e a Focus. Vai ver que não diferem neste aspecto. Tempos houve em que a Focus era péssima, a Sábado sofrível e a Visão de confiança. Agora estão empatadas.

(M. João Afonso)

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Para não falar da Sic Comédia que trazia diariamente "Allô Allô", Seinfeld, Leno, O'Brien, entre outros. O melhor da comédia de qualidade foi-se porque "não houve acordo...", o que quer que isto queira dizer...

(Jorge Gomes )

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Numa das "Novas Coisas Boas " , seria mais abrangente. Assim, alem dos Podcasts das Rádios , englobava o sector multimédia da RTP/RDP ( muito completo e bem ordenado ) - - e o Sapo XL ( mais ligado à SIC ) , também um canal na internet com uma larga panóplia de funcionalidades e conteúdos -

Ainda na Internet e virando a agulha para os jornais ; Com excepção do Público , os sites dos principais jornais Portugueses ( desportivos , generalistas e económicos ) são de uma pobreza franciscana tanto a nível de conteúdos , como a nível de Design. Claramente uma desorientação estratégica dos principais grupos de Media , que não sabem como lidar com a Internet. Claramente nas " Coisas Más".

(João Melo)

Na minha opinião, uma péssima coisa foi o facto de a própria comunicação social, em 2006, se ter tornado, por definição, numa má coisa. Não pela força das circunstâncias mas por uma clara opção comercial com base num direito, num conceito, numa propriedade e num ideal, todos eles definidos em função das circunstâncias. Na prática, o que acontece, como aconteceu, são fenómenos falaciosos ou paradoxais como por exemplo o caso de um director de um jornal, neste caso o 24 horas, dizer que nunca compraria o jornal que "fabrica" por o considerar demasiado foleiro! Uma nota final somente para dizer que as televisões, sobretudo a SIC e a TVI se tornaram no paradigma das más coisas.

(Ricardo S. Reis dos Santos)

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Sobre o balanço que faz da comunicação social em 2006, gostaria de acrescentar nas "velhas coisas más que continuam más" a crise no mercado da publicidade que se manteve este ano, regredindo para valores de 1999. Nunca é demais lembrar que é a publicidade que dá vida e dinamismo aos media. Nos últimos tempos, e como consequência directa da crise, os grupos só têm conseguido ganhar dinheiro à custa de redução de custos - com honrosas excepções - sendo visíveis as quebras na qualidade dos "conteúdos" veiculados. Acredito que, infelizmente, ainda só estamos no princípio (temo o pior por exemplo com a reestruturação do Público).

(Francisco A. van Zeller)

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(...) duas coisas péssimas na comunicação social portuguesa em 2006, ou, se se quiser, uma coisa bipartida:

A TvCabo substituiu o canal GNT pelo canal de uma seita evangélica qualquer (foi em 2006, não foi?);
A TvCabo substituiu um outro canal (salvo erro o “Viva” ou “Viver”) pelo canal “Infinito – abra sua mente”, com uma programação inqualificável sobre ocultismo, espiritismo, bruxaria, astrologia e temas afins.
Quer dizer, a TVCabo substituiu dois canais sofríveis por outros dois sem qualificação possível, tal o nível de degradação da qualidade que conseguem atingir. Não ouviu os espectadores. Não lhes baixou o preço da assinatura.

(António Cardoso da Conceição)

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HOJE

começa a série

BOAS /

e

PÉSSIMAS COISAS NA COMUNICAÇÃO SOCIAL PORTUGUESA EM 2006, VISTAS POR UM GRANDE (EM QUANTIDADE) CONSUMIDOR.

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© José Pacheco Pereira
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