ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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4.1.07
PERGUNTAS ENTRE O ESPAÇO E O CIBERESPAÇO 8 Texto em movimento, V. 1 8 - [Mediações] (Não arranjei patrono para esta pergunta, mas deve haver. Uma hipótese: por que é que quem fica no meio é atropelado? A expressão mais correcta é "ensanduichado", mas é demasiado plebeia para meu gosto e não me parece bem colocar o Conde de Sandwich junto com Kafka e Nietzsche. Fica para já assim: "mediações" - as que o ciberespaço está a ajudar a desaparecer.) As mediações estão em crise: na democracia (parlamento, representação), no saber (peer review), na comunicação social (edição), na escola (a própria escola enquanto factor de socialização), na vida, enfim. Se todo o tempo é "real" não há mediações entre o ser e o agir, não há espaço para pensar, não há lugar para o pensar. O pensar é sempre uma distância, uma lentidão do tempo. As instituições do "meio": partidos, sindicatos, parlamentos, associações, escolas, famílias, igrejas, academias, perdem aceleradamente poder. (Nesta sala a instituição do "meio" é a mesa e o moderador do debate e não parecem estar lá muito bem. Eu também não estou lá muito bem, porque precisava de mais tempo e não tenho. Nenhum de nós tem mão no tempo.)Se deixou de haver distância, a não ser a que vai do meu braço a uma tecla ou um botão, e o mundo é uma "aldeia global", por que razão eu preciso de delegar o meu poder a quem me represente? Nada é distante, tudo é próximo, à distância de um clique, de um botão, de uma palavra digitalmente reconhecida. O resultado são as utopias da "democracia directa" na Rede, que regressam em força. Estão por todo o lado na Rede, dos artigos académicos, aos comentários mais simples, no sentido bíblico de "simples". A razão do seu retorno, eterno retorno aliás porque a pulsão para a igualdade é sempre muito grande nas sociedades de massas, é óbvia: existem hoje as tecnologias para resolver o dilema da dimensão, que preocupava os Constituintes americanos que, antes da Rede, ajudaram a construir um país em Rede. It is natural to a republic to have only a small territory, otherwise it cannot long subsist. In a large republic there are men of large fortunes, and consequently of less moderation; there are trusts too great to be placed in any single subject; he has interest of his own; he soon begins to think that he may be happy, great and glorious, by oppressing his fellow citizens; and that he may raise himself to grandeur on the ruins of his country. In a large republic, the public good is sacrificed to a thousand views; it is subordinate to exceptions, and depends on accidents. In a small one, the interest of the public is easier perceived, better understood, and more within the reach of every citizen; abuses are of less extent, and of course are less protected. (Montesquieu citado por "Brutus", Robert Yates contra o estado federal.)
Veja-se por exemplo Scott London, "Teledemocracy vs. Deliberative Democracy: A Comparative Look at Two Models of Public Talk." Journal of Interpersonal Computing and Technology, Vol 3, No 2, Abril 1995. Há boas razões para os populistas, os demagogos e os comunistas gostarem destas propostas. Comecemos por Ross Perot. (Continua) Etiquetas: aldeia global, ciberespaço, democracia, mediações, representação, Ross Perot (url)
© José Pacheco Pereira
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