ABRUPTO

4.1.07


BOAS / MÁS / PÉSSIMAS COISAS NA COMUNICAÇÃO SOCIAL PORTUGUESA EM 2006

VISTAS POR UM GRANDE (EM QUANTIDADE) CONSUMIDOR


NOTAS DE ABERTURA

Escrevo no Público e na Sábado e participo num programa da SICN. Se esses são conflitos de interesse, aqui ficam registados. Este balanço depende muito do que li, ouvi e vi directamente, logo pode ser desigual e injusto com muito de bom ou mau na comunicação social. Por exemplo, ouvi muito pouca rádio este ano, vejo poucas vezes a TVI com excepção dos noticiários, mas leio quase toda a imprensa.

Esta primeira versão do texto é ainda uma aproximação. Como sempre, espero dos leitores do Abrupto opiniões, sugestões, correcções e debate, antes de fazer um texto definitivo.

BALANÇO DE ALGUMAS BOAS COISAS QUE VINHAM DO ANO PASSADO E DE COMO MUDARAM PARA MÁS OU CONTINUARAM NA MESMA


Na SIC Notícias: Mário Crespo e o par João Adelino Faria / Ana Lourenço nos noticiários. Crespo e João Adelino Faria têm um estilo de entrevista informado, estudioso, empático, que resulta muito bem no espaço temporal de que dispõem. A saída de João Adelino Faria é uma perda importante para a SICN.

Continua nas BOAS COISAS.


Na 2: Clube dos Jornalistas, perdeu qualidade e relevância. Começou a ter “causas” e a querer ouvir dos seus convidados a justificação dessas “causas”. Perdeu interesse e tornou-se mais conformista com o velho jornalismo do que o que já era.

Sai das BOAS COISAS.


A Sábado é o órgão de comunicação social portuguesa mais subestimado, vítima das “sinergias” que lhe faltam: não tem quem puxe pelas suas notícias nos outros órgãos de comunicação social. Mas que tem notícias, isso tem, por detrás daquelas capas sensacionalistas. Repito ipsis verbis o que disse o ano passado acrescentando que o sucesso da Sábado face à Visão levou-a a ultrapassá-la nas vendas em banca, o que é um feito. A Visão precisa mesmo de levar uma volta.

Continua nas BOAS COISAS.


A imprensa de distribuição gratuita está boa e recomenda-se.


Continua nas BOAS COISAS.

Na blogosfera: o debate político. Os blogues políticos de todas as cores continuam a ser a parte mais dinâmica da blogosfera, contra todas as cíclicas previsões em contrário. O debate pode ter todos os defeitos da "atmosfera", mas tem também qualidades que só há na blogosfera. Ipsis verbis.

Continua nas BOAS COISAS.

Pelo contrário, o papel da blogosfera nas micro-causas esbateu-se, em parte pela banalização do termo e da função, noutra parte, porque a imprensa em papel pega rapidamente nos temas da blogosfera e apaga a assinatura original. Os blogues de jornalismo também perderam alguma acuidade e foram menos activos e menos críticos.


Livros e revistas sobre jornalismo.



Continua nas BOAS COISAS.

NOVAS COISAS BOAS

Novos jornais: levanta-se o Sol e melhora o Expresso.


Os podcasts na rádio.


Alguns dos programas do Prós e Contras foram os melhores (nalguns casos os únicos) debates sobre matérias de interesse público.


Na nossa "era dos engraçadinhos" o humor tornou-se prato forte das televisões. Há de tudo, bom e mau. Detalhes a seguir.


As séries da Fox no cabo, e nas séries, as da HBO. Muito dividido entre os Sopranos e Deadwood, inclino-me para considerar Deadwood a melhor série televisiva que jamais vi, depois da Twilight Zone original.


O Provedor do Público.



Melhorias gráficas nos jornais (Diário de Notícias por exemplo) e excelentes ilustradores e cartonistas.


VELHAS COISAS MÁS QUE CONTINUAM MÁS


A política comunicacional governativa. Passou para as PÉSSIMAS COISAS.





A ausência de programas de informação nas televisões generalistas. Continua nas MÁS COISAS.


Na RTP: a cobertura dos assuntos da UE. Continua nas MÁS COISAS.



Na RTP: os comentários de António Vitorino. Continua nas MÁS COISAS.




A imprensa generalista cai. Agravou-se a situação . Passou para as PÉSSIMAS COISAS.




O jornalismo económico continua a depender de uma visão mais do “económico” do que do “jornalístico”. Melhorou substancialmente. Sairá das MÁS COISAS e irá para o limbo.


A Antena 2 é demasiado loquaz. Continua nas MÁS COISAS.




NOVAS / PÉSSIMAS MÁS COISAS



Entidade Reguladora para a Comunicação Social.






Truques na blogosfera portuguesa para incrementar visitas e ligações artificialmente.





(Continua)

*
No balanço das coisas boas e das coisas más que nos ficaram do ano que terminou, gostaria de referir duas ou três coisas em relação à comunicação social/televisão/imprensa escrita.

Concordo plenamente com as análises que faz da Sábado e do Diário de Notícias.

Notei que o Público perdeu qualidade. E ou eu me engano muito ou também perdeu audiência. É óbvio que continua a ser um bom jornal, mas está a tornar-se demasiado maçudo. Alguns articulistas mudaram. Talvez pelo seu próprio estilo as crónicas tornaram-se menos interessantes. Há dias em que o jornal tem papel a mais e notícias a menos. Hoje é um deles. Também é certo que traz a revista "Dia D" e os suplementos "Mil Folhas" e "Y", só que estes dirigem-se a nichos de mercado. O jornal precisava de ser renovado, está com artigos demasiados extensos, repetitivos e pouco interessantes.

Continuou a degradação da informação televisiva. E os concursos e novelas a horas nobres da programação tornaram-se uma aberração consolidada. A ignorância de alguns dos apresentadores dos concursos concorre com a ignorância dos concorrentes. Se quanto a estes ela ainda é desculpável, já a daqueles não é. Comentários brejeiros, nalguns casos ordinários, tornaram-se um must. Humor sem humor com programas de piadas e anedotas em que o mau gosto impera e em que tipos boçais contam piadas de caserna com uma bolinha vermelha no canto superior direito do ecrã durante horas infindas. E isto para já não falar em programas como aquele que a TVI passa em que maridos e mulheres enganadas se enxovalham reciprocamente perante um apresentador e uma plateia de idiotas. Pobres dos que não podem usufruir dos prazeres do satélite ou do cabo.

Também foi muito mau o aumento de voyeurismo de alguma imprensa com o consequente aparecimento de novos títulos. A entrevista à artista despeitada, o mexerico, a intrigalhada, a baixeza, a proposta inconfessável via anúncio de jornal, anúncio televisivo ou notícia de revista do coração, tornaram-se moda. Péssima foi a praga da generalização dos toques de telemóveis e das imagens indecentes, via sms, ou a publicidade encapotada a pessoas e negócios em espaços de informação televisiva.

Inqualificável foi o tempo concedido ao futebol pela generalidade dos canais. E não falo do Mundial de Futebol que só corre de 4 em 4 anos. Horas e horas de programação imbecil, jogos sem qualquer interesse e sem público todos os dias da semana, debates desinteressantes, com gente que não tem nada a ensinar ou transmitir, incapaz de articular uma frase ou expressar uma ideia, discutindo o fora-de-jogo, o insulto ao árbitro ou as entrevistas do Mourinho. Ainda por cima com a presença de políticos, caso do Fernando Seara, que transmitem a ideia, creio que errada, que não fazem mais nada senão ir à bola, escrever n' "A Bola" e discutir a bola. Programas como a "Liga dos Últimos" na RTPN, com os comentários de um tal "Prof. Bitaites", deviam ser pura e simplesmente banidos, já que constituem um verdadeiro atentado à inteligência dos telespectadores, só servindo para gozar com quem não percebe que está ser gozado. O Pinto da Costa, o Vieira, a família Loureiro, o Veiga, o Scolari, o Hermínio Loureiro, o Madaíl, o Jorge Coroado, a corrupção, a fraude, a moscambilha, o insulto gratuito, tudo misturado e ao mesmo tempo e com toda a gente a toda a hora a debitar banalidades e barbaridades, a abrir telejornais, a fazer-nos detestar um espectáculo belíssimo como é o futebol.

Enfim, no meio de tanta coisa sempre há alguma que se aproveita, como alguns programas educativos visando temas do mar e da natureza, em especial na RTP2, e alguns debates como os promovidos pela Fátima Campos Ferreira. Noto, no entanto, que ultimamente os convidados são sempre os mesmos e há um excesso de atenção na discussão de temas económicos. É pena que assim seja, posto que isso começa a tornar o programa menos interessante, monótono e cansativo.

Boa foi também a introdução de pequenos programas tendentes à melhoria do falar e do escrever da nossa língua, alertando os telespectadores para a necessidade de correcção de alguns erros frequentes de dicção e de escrita.

(Sérgio de Almeida Correia)

*

Uma adenda para as suas coisas péssimas na imprensa portuguesa: a abundância de erros de ortografia que já ninguém se preocupa em emendar. Proponho-lhe um exercício: leia de lápis na mão, na mesma semana, a Sábado, a Visão e a Focus. Vai ver que não diferem neste aspecto. Tempos houve em que a Focus era péssima, a Sábado sofrível e a Visão de confiança. Agora estão empatadas.

(M. João Afonso)

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Para não falar da Sic Comédia que trazia diariamente "Allô Allô", Seinfeld, Leno, O'Brien, entre outros. O melhor da comédia de qualidade foi-se porque "não houve acordo...", o que quer que isto queira dizer...

(Jorge Gomes )

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Numa das "Novas Coisas Boas " , seria mais abrangente. Assim, alem dos Podcasts das Rádios , englobava o sector multimédia da RTP/RDP ( muito completo e bem ordenado ) - - e o Sapo XL ( mais ligado à SIC ) , também um canal na internet com uma larga panóplia de funcionalidades e conteúdos -

Ainda na Internet e virando a agulha para os jornais ; Com excepção do Público , os sites dos principais jornais Portugueses ( desportivos , generalistas e económicos ) são de uma pobreza franciscana tanto a nível de conteúdos , como a nível de Design. Claramente uma desorientação estratégica dos principais grupos de Media , que não sabem como lidar com a Internet. Claramente nas " Coisas Más".

(João Melo)

Na minha opinião, uma péssima coisa foi o facto de a própria comunicação social, em 2006, se ter tornado, por definição, numa má coisa. Não pela força das circunstâncias mas por uma clara opção comercial com base num direito, num conceito, numa propriedade e num ideal, todos eles definidos em função das circunstâncias. Na prática, o que acontece, como aconteceu, são fenómenos falaciosos ou paradoxais como por exemplo o caso de um director de um jornal, neste caso o 24 horas, dizer que nunca compraria o jornal que "fabrica" por o considerar demasiado foleiro! Uma nota final somente para dizer que as televisões, sobretudo a SIC e a TVI se tornaram no paradigma das más coisas.

(Ricardo S. Reis dos Santos)

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Sobre o balanço que faz da comunicação social em 2006, gostaria de acrescentar nas "velhas coisas más que continuam más" a crise no mercado da publicidade que se manteve este ano, regredindo para valores de 1999. Nunca é demais lembrar que é a publicidade que dá vida e dinamismo aos media. Nos últimos tempos, e como consequência directa da crise, os grupos só têm conseguido ganhar dinheiro à custa de redução de custos - com honrosas excepções - sendo visíveis as quebras na qualidade dos "conteúdos" veiculados. Acredito que, infelizmente, ainda só estamos no princípio (temo o pior por exemplo com a reestruturação do Público).

(Francisco A. van Zeller)

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(...) duas coisas péssimas na comunicação social portuguesa em 2006, ou, se se quiser, uma coisa bipartida:

A TvCabo substituiu o canal GNT pelo canal de uma seita evangélica qualquer (foi em 2006, não foi?);
A TvCabo substituiu um outro canal (salvo erro o “Viva” ou “Viver”) pelo canal “Infinito – abra sua mente”, com uma programação inqualificável sobre ocultismo, espiritismo, bruxaria, astrologia e temas afins.
Quer dizer, a TVCabo substituiu dois canais sofríveis por outros dois sem qualificação possível, tal o nível de degradação da qualidade que conseguem atingir. Não ouviu os espectadores. Não lhes baixou o preço da assinatura.

(António Cardoso da Conceição)

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