ABRUPTO

7.12.04


SAUDADES DE ESTRASBURGO


Librairie de l'Amateur

Dos alfarrabistas.

(Em breve.)

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INTENDÊNCIA

Colocados no VERITAS FILIA TEMPORIS a LAGARTIXA E O JACARÉ 12 e 13, de Novembro de 2004. A primeira é sobre a Constituição Europeia, Arafat e a carta (nunca enviada) pelo Primeiro-ministro aos portugueses; e a segunda sobre os blogues políticos.

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80 ANOS

Parabéns, do seu amigo, admirador, algumas vezes companheiro e algumas vezes adversário. Sem reservas para a pessoa, e sem reservas para a parte do político que o fará estar na história, o político a quem devo parte da minha liberdade. Mas não estarei no seu jantar, porque, nos dias de hoje, ele tem um significado político para além do pessoal. Do mesmo modo que eu não desejo que o meu partido proponha ao país um mau candidato a primeiro-ministro, estou longe de pensar que os socialistas sejam alternativa. Considero até, blasfémia!, que um dos crimes maiores dos “meus” é estarem a criar condições para a chegada ao poder dos “seus”. Não irei, se quiser, por razões de “lealdade orgânica”, que o meu amigo sabe o que é, embora quem a levante como uma bandeira deseje apenas obediência às pessoas e não fidelidade aos princípios, sem saber que o substantivo é mais importante do que o adjectivo.

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A LER

o Portugal dos Pequeninos, um blogue político sólido e sóbrio.

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AR PURO


Levitan

*

É dia de S. Nicolau. O tal que com o seu ajudante Knecht Ruprecht oferece doces às crianças bem comportadas e promete castigos aos irrequietos. Está tudo cheio de gelo matinal por esta zona. Uma pequena recompensa para a neve cuja falta sinto muito.

(MKL)

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EARLY MORNING BLOGS 379

Light breaks where no sun shines


Light breaks where no sun shines;
Where no sea runs, the waters of the heart
Push in their tides;
And, broken ghosts with glow-worms in their heads,
The things of light
File through the flesh where no flesh decks the bones.

A candle in the thighs
Warms youth and seed and burns the seeds of age;
Where no seed stirs,
The fruit of man unwrinkles in the stars,
Bright as a fig;
Where no wax is, the candle shows its hairs.

Dawn breaks behind the eyes;
From poles of skull and toe the windy blood
Slides like a sea;
Nor fenced, nor staked, the gushers of the sky
Spout to the rod
Divining in a smile the oil of tears.

Night in the sockets rounds,
Like some pitch moon, the limit of the globes;
Day lights the bone;
Where no cold is, the skinning gales unpin
The winter's robes;
The film of spring is hanging from the lids.


Light breaks on secret lots,
On tips of thought where thoughts smell in the rain;
When logics dies,
The secret of the soil grows through the eye,
And blood jumps in the sun;
Above the waste allotments the dawn halts.


(Dylan Thomas)

*

Bom dia!

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6.12.04


AR PURO


Levitan

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A NECESSIDADE AGUÇA O ENGENHO

Sobre a reviravolta previsível a propósito da coligação PSD-PP, escrevi, quando do Congresso e quando quase todos diziam que ela não ia existir, o seguinte:

"Tenho a convicção que, pese tudo o que pesar contra ela, a coligação será inevitável nas próximas eleições legislativas. Razão? A constatação de necessidades prementes: ambos os partidos precisam desesperadamente um do outro para ser vagamente credível que podem ganhar as eleições e governar, o que hoje só em conjunto acontece. O cenário de concorrerem separados para depois se unirem é teórico: o PP, sob pena de desaparecer, não pode ir sozinho a eleições sem fazer campanha contra o PSD e demarcar-se do governo de que fez parte; o PSD não está em condições para ter que se defender, á esquerda e à direita, de uma experiência governativa de que será sempre o grande responsável.

Este princípio de necessidade só não funcionará … se não houver necessidade."

Como a necessidade quase roça o desespero, apesar de escondido, lá a teremos. Só que a um preço mais alto para o PSD, resultado, também aqui, de uma liderança errática, que soma erros sobre erros. Não tendo estratégia fora da coligação, a direcção do PSD permitiu que ela fosse minada. Deixou margem de manobra para o PP pensar duas coisas: uma, que as eleições podiam não gerar bipolarização devido à fragilidade do PSD face ao PS, e assim dar espaço de respiração para o PP (e para o BE e o PCP...); outra, a convicção que o PS poderia ganhar sem maioria absoluta e precisar de um acordo com o PP.

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COLIGAÇÃO E APARELHO DO PSD

As estruturas regionais e locais do PSD sabem muito bem que estão a permitir e caucionar um curso suicidário para o partido, mas, em vésperas de elaboração de listas, não se arriscam a pôr em causa os lugares dos seus dirigentes na Assembleia. Quando começarem a fazer as contas à acomodação, em lugares elegíveis, de catorze deputados do PP, eventualmente um ou dois do PPM, e os provindos dos vários "portugais", o Compromisso, a Missão, o Positivo, então começarão sérios problemas. Estéreis, aliás.

Bibliografia aqui.

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5.12.04


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: APANHADA



em flagrante delito. A NASA, com o humor habitual, escreve: "Lua de Saturno apanhada com a mão na massa. Roubar é crime na terra, mas em Saturno aparentemente é uma rotina". A foto constitui a prova: a lua Prometeu apanhada a roubar partículas dos anéis de Saturno. Para dar a quem?

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BIBLIOFILIA / EFÉMERA



Por muito que se arrumem papéis há sempre umas coisas que são impossíveis de arrumar. Acumulam-se em montes que passam de uma casa para outra, de uma vida para outra, numa biblioteca e arquivo que não tem a categoria de “vários”, que ambiciona ordenar tudo. A simples categoria de “vários”, o que é?. Como esta capa de livro, desenhada com umas ténues flores por uma “Maria Vitória”, em oito de Junho de 1937. Ou uma ilustração da “miraculada de Balazar” no seu leito de dor, olhando confiante. Ou o calendário da Camisaria Moderna de 1960, que encontrei num caderno escolar, e que tinha a matéria dos sonhos: a hora do resto do mundo. Que nos ensinava, com aquele pequeno computador rodante, que Lisboa, Dakar e Monróvia tinham a mesma hora. Quem é que queria ir a Monróvia? E, de passagem, dizia-nos que a Camisaria Moderna anunciava que “se notar alguma deficiência ao vestir as nossas camisas, faremos por medida sem aumento do preço”.

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APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA SOBRE A SUPERSTIÇÃO DOS PRESENTES

Mas que direi das ciências ou ignorâncias das artes ou superstições que os homens inventaram desde a terra até o céu, levados deste apetite? Sobre os quatro elementos assentaram quatro artes de adivinhar os futuros, que tomaram os nomes dos seus próprios sujeitos: agromancia, que ensina a adivinhar pelas cousas da terra; a hidromancia, pelas da água; a aeromancia, pelas do ar, e a piromancia, pelas do fogo. Tão cegos seus autores no apetite vão daquela curiosidade, que, tendo-se perdido na terra os vestígios de tantas cousas passadas, cuidaram que na água, no ar e no fogo os podiam achar das futuras.

No mesmo homem descobriram os homens dois livros sempre abertos e patentes, em que lessem ou soletrassem esta ciência. A fisionomia, nas feições do rosto; a quiromancia, nas raias da mão. Em um mapa tão pequeno, tão plano e tão liso como a palma da mão de um homem, inventaram os quiromantes não só linhas e caracteres distintos, senão montes levantados e divididos, e ali descrita a ordem e sucessão da vida e casos dela, os anos, as doenças e os perigos, os casamentos, as guerras, as dignidades, e todos os outros futuros prósperos ou adversos; arte certamente merecedora de ser verdadeira pois punha a nossa fortuna nas nossas mãos.

(...)

A este fim excogitaram tantos gêneros de sortilégios, como se na contingência da sorte se houvesse de achar a certeza; a este fim observaram os sonhos como se soubesse mais um homem dormindo do que sabia acordado; a este sentido consultavam as entranhas palpitantes dos animais, como se um bruto morto pudesse ensinar a tantos homens vivos. Com o mesmo apetite pediam respostas às fontes, aos rios, aos bosques e às penhas; com o mesmo inquiriam os cantos e vôos das aves, os mugidos dos animais, as folhas e movimentos das árvores, com o mesmo interpretavam os números, os nomes e as letras, os dias e os fumos, as sombras e as cores e não havia cousa tão baixa e tão miúda por onde os homens não imaginassem que podiam alcançar aquele segredo que Deus não quis que eles soubessem. O ranger da porta, o estalar do vidro, o cintilar da candeia, o topar do pé, o sacudir dos sapatos, tudo notavam como avisos da Providencia e temiam como presságios do futuro. Falo da cegueira e desatino dos tempos passados, por não envergonhar a nobreza da nossa Fé com a superstição dos presentes.

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AR PURO


Levitan

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EARLY MORNING BLOGS 378

¡Otra vez!, tras la lucha que rinde
y la incertidumbre amarga
del viajero que errante no sabe
dónde dormirá mañana,
en sus lares primitivos
halla un breve descanso mi alma.

Algo tiene este blando reposo
de sombrío y de halagüeño,
cual lo tiene, en la noche callada,
de un ser amado el recuerdo,
que de negras traiciones y dichas
inmensas, nos habla a un tiempo.

Ya no lloro..., y no obstante, agobiado
y afligido mi espíritu, apenas
de su cárcel estrecha y sombría
osa dejar las tinieblas
para bañarse en las ondas
de luz que el espacio llenan.

Cual si en suelo extranjero me hallase,
tímida y hosca, contemplo
desde lejos los bosques y alturas
y los floridos senderos
donde en cada rincón me aguardaba
la esperanza sonriendo.

(Rosalia de Castro)

*

Bom dia!

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4.12.04


APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA: "ANTES QUERIAM UMA ESTÁTUA QUE LHES DISSESSE OS FUTUROS, QUE UM DEUS QUE LHOS ENCOBRIA"

"Como é inclinação natural no homem apetecer o proibido e anelar ao negado, sempre o apetite e curiosidade humana está batendo às portas deste segredo, ignorando sem moléstia muitas cousas das que são, e afetando impaciente a ciência das que hão de ser. Por este meio veio o Demónio a conseguir que o homem lhe desse falsamente a divindade, que o mesmo demónio com igual falsidade lhe tinha prometido. E senão, pergunto: Quem foi o que introduziu no Mundo, sem algum medo, mas antes com aplauso, a adoração do Demónio? Quem fez que fosse tão frequentado e consultado o ídolo de Apolo em Delfos? O de Júpiter em Babilónia? O de Juno em Cartago? O de Vénus no Egito? O de Dafne em Antioquia? O de Orfeu em Lesbo? O de Fauno em Itália? O de Hércules em Espanha, e infinitos outros em muitas partes? Não há dúvida que o desejo insaciável que os homens sempre tiveram de saber os futuros, e a falsa opinião dos oráculos com que o Demónio respondia naquelas estátuas, foram os que todo este culto lhe granjearam, sendo certo que, se Deus, vindo ao Mundo, não emudecera (como emudeceu) os oráculos da Gentilidade, grande parte do que hoje é fé, fora ainda idolatria. Tão mal sofreram os homens que Deus reservasse para si a ciência dos futuros, que chegaram a dar às pedras a divindade própria de Deus, só porque Deus fizera própria da divindade esta ciência: antes queriam uma estátua que lhes dissesse os futuros, que um Deus que lhos encobria."

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PERGUNTA

Depois de ver um homem, que tinha acabado de ser constituído arguido, acusado de crimes de corrupção desportiva, a ser recebido com palmas por 25000 pessoas num estádio onde se dava uma competição desportiva, dá para acreditar nas conversas indignadas dos portugueses contra os corruptos ?

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AR PURO


Levitan

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EARLY MORNING BLOGS 377

Walkers With The Dawn


Being walkers with the dawn and morning,
Walkers with the sun and morning,
We are not afraid of night,
Nor days of gloom,
Nor darkness--
Being walkers with the sun and morning.


(Langston Hughes)

*

Bom dia!

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3.12.04


JÁ SE PERCEBEU

como uma parte da campanha de Santana Lopes será feita: o governo caiu porque os grandes interesses económicos não queriam o OE, as suas medidas de combate à fraude fiscal, e de imposição de impostos à banca. É hábil, apela ao populismo, e aos amadores das teorias da conspiração, mas não é verdade.

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APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA: "O HOMEM, FILHO DO TEMPO"

Nenhuma cousa se pode prometer à natureza humana mais conforme ao seu maior apetite, nem mais superior a toda a sua capacidade, que a notícia dos tempos e sucessos futuros; e isto é o que oferece a Portugal, à Europa e ao Mundo esta nova e nunca vista história. As outras histórias contam as cousas passadas, esta promete dizer as que estão por vir; as outras trazem à memória aqueles sucessos públicos que viu o Mundo; esta intenta manifestar ao Mundo aqueles segredos ocultos e escuríssimos que não chega a penetrar o entendimento. Levanta-se este assunto sobre toda a esfera da capacidade humana, porque Deus, que é a fonte de toda a sabedoria, posto que repartiu os tesouros dela tão liberalmente com os homens, e muito mais com o primeiro, sempre reservou para si a ciência dos futuros, como regalia própria da divindade. Como Deus por natureza seja eterno, é excelência gloriosa, não tanto de sua sabedoria, quanto de sua eternidade, que todos os futuros lhe sejam presentes; o homem, filho do tempo, reparte com o mesmo a sua ciência ou a sua ignorância; do presente sabe pouco, do passado menos e do futuro nada.

A ciência dos futuros — disse Platão — é a que distingue os deuses dos homens, e daqui lhes veio sem dúvida aquele antiquíssimo apetite de serem como deuses. Aos primeiros homens, a quem Deus tinha infundido todas as ciências, nenhuma lhes faltava senão a dos futuros, e esta lhes prometeu o Demônio com a divindade, quando lhes disse: Eritis sicut Dii, scientes bonum et malum. Mas ainda que experimentaram o engano, não perderam o apetite. Esta foi a herança que nos ficou do Paraíso, este o fruto daquela árvore fatal, bem vedado e mal apetecido, mas por isso mais apetecido, porque vedado.

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LÓGICAS

É muito simples perceber a diferença entre lógicas pessoais e partidárias e o interesse nacional. Aqueles que esperam (mais do que isso, desejam) que Santana Lopes concorra a eleições, as perca e depois, vulnerável, possa perder o partido, seguem uma estrita lógica pessoal e de grupo partidário. A esses pouco importa que Sócrates e o PS possam governar quatro anos, ou que Santana Lopes ferido possa arrastar o PSD para uma vendetta colectiva. Quem pensa na situação nacional tem urgência.

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AR PURO


Levitan

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EARLY MORNING BLOGS 376

Waiting


Today I will let the old boat stand
Where the sweep of the harbor tide comes in
To the pulse of a far, deep-steady sway.
And I will rest and dream and sit on the deck
Watching the world go by
And take my pay for many hard days gone I remember.

I will choose what clouds I like
In the great white fleets that wander the blue
As I lie on my back or loaf at the rail.
And I will listen as the veering winds kiss me and fold me
And put on my brow the touch of the world's great will.

Daybreak will hear the heart of the boat beat,
Engine throb and piston play
In the quiver and leap at call of life.
To-morrow we move in the gaps and heights
On changing floors of unlevel seas
And no man shall stop us and no man follow
For ours is the quest of an unknown shore
And we are husky and lusty and shouting-gay.


(Carl Sandburg)

*

Bom dia!

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2.12.04


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: JUVENTUDE



Temos pois aqui uma jovem galáxia, fulgurante nos seus apenas 500 milhões de anos, fotografada por esse velho telescópio Hubble um pouco voyeur. O azul é novo, o vermelho é velho.

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INÉRCIA

A mim da política interessam-me as reformas. Nem sequer é preciso dizer quais são, toda a gente sabe quais são, ou, pelo menos, o sentido que devem ter. Sei também que tudo está organizado para que não se façam. Partidos, sindicatos, corporações não querem que se mexa nem um átomo nos seus pequenos poderes. Uma população com fracos recursos, com uma memória próxima da pobreza, com baixos níveis de literacia, adormecida pelo garantismo do estado e por uma sociedade dominada por mecanismos de cunha e patrocinato, também não se mobiliza facilmente para a mudança.

O estado é uma poderosa máquina de geração e manutenção da mediocridade e pesa sobre todos, distribuindo os mínimos e castrando o mérito e a diferença, favorecendo a dependência subsidiada. Os governos preferem ter este estado, com os seus inúmeros cordelinhos e fios de poder, e não querem perder nem um só deles, mesmo que tudo seja frágil. A inércia é muita.

Só há três antídotos a esta situação: poder forte, com a força dos votos, autoridade que vem da credibilidade, e vontade de mudança. A conjugação é raríssima, mas existe.

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DESTINO (ESTE É QUE ESTÁ MESMO ESCRITO NAS ESTRELAS)

O nosso caminho não é a miséria. Disso estamos mais ou menos protegidos pela UE. É a mediocridade, e a mediocridade implica a miséria para alguns, o remediamento sem folga para uma vasta maioria, e o remediamento com folga para a classe média. Quanto aos ricos, esses defendem-se sempre bem. São internacionalistas e por isso podem viver em Portugal, com mudanças, ou sem elas. O nosso atraso e mediocridade estão-se a agravar e vão continuar a agravar-se. Esta situação é particularmente grave (e vergonhosa) porque isto ocorre ao fim de milhões e milhões de contos de apoios comunitários que não se repetirão. É um lugar comum dizer que temos uma última oportunidade numa ecologia ainda não inteiramente desfavorável, antes da UE ou implodir ou realmente se voltar a Leste. Talvez tenhamos mais “últimas oportunidades”, mas desconfio que não abundem.

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SAMBA DE UMA REFORMA SÓ

Não me importava que houvesse um governo minimalista que tocasse o samba de uma reforma só. Que dissesse: vou gerir tudo como é habitual os governos gerirem, com competência, mas sem veleidades de mudar nada. No entanto, reformarei de fundo um aspecto da vida pública. Vou, por exemplo, desburocratizar. Onde são precisos cem papéis ficarão um ou dois. Onde demora um ano, vai demorar uma semana. E todas as pedras necessárias serão viradas. E durante quatro anos serei julgado por objectivos, como agora se diz. Talvez alguma coisa mudasse.

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AS NOSSAS FORMAS PARTICULARES DE CEGUEIRA

Nas crises o que mais discutimos é a parte da economia que depende do estado, por singular coincidência a área da política onde os governos têm menos margem de manobra e o comando é de Bruxelas e da globalização. A parte da política onde o comando nacional é quase total e que é mais importante para nos arrancar da mediocridade – como por exemplo a educação e a formação profissional – nunca é discutida. Ouvimos economistas e empresários sobre a crise e nunca professores, estudantes ou operários.

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AR PURO / LUZ PURA


Levitan

O mais parecido com a luz de ontem.

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EARLY MORNING BLOGS 375

Parlez-Vous Francais?


Caesar, the amplifier voice, announces
Crime and reparation. In the barber shop
Recumbent men attend, while absently
The barber doffs the naked face with cream.
Caesar proposes, Caesar promises
Pride, justice, and the sun
Brilliant and strong on everyone,
Speeding one hundred miles an hour across the land:
Caesar declares the will. The barber firmly
Planes the stubble with a steady hand,
While all in barber chairs reclining,
In wet white faces, fully understand
Good and evil, who is Gentile, weakness and command.

And now who enters quietly? Who is this one
Shy, pale, and quite abstracted? Who is he?
It is the writer merely, with a three-day beard,
His tiredness not evident. He wears no tie.
And now he hears his enemy and trembles,
Resolving, speaks: "Ecoutez! La plupart des hommes
Vivent des vies de desespoir silenciuex,
Victimes des intentions innombrables. Et ca
Cet homme sait bien. Les mots de cette voix sont
Des songes et des mensonges. Il prend choix,
Il prend la volonte, il porte la fin d'ete.
La guerre. Ecoutez-moi! Il porte la mort."
He stands there speaking and they laugh to hear
Rage and excitement from the foreigner.


(Delmore Schwartz)

*

Bom dia!


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VER A NOITE

Sem luz, porque caiu a rede eléctrica. Com esta Lua brilhante, iluminando as nuvens por detrás, com as nuvens escuras da chuva, está uma luz esbranquiçada que se espalha por tudo. Parece o ambiente do "Noivado do Sepulcro".

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1.12.04


OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: COMO É QUE SE FICA



ao ver isto?

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OUVINDO CANÇÕES DE BOURVIL

enquanto escrevo sobre a crise da incubadora. Apropriado. Não tenho a letra, mas seria uma boa contribuição para o debate da "excepção cultural" a Chanson Anglaise de 1948. Mas fica agora a Tactique du Gendarme do filme Le Roi Pandore de 1949

Un gendarme doit avoir de très bons pieds.
Mais c'est pas tout
Mais c'est pas tout.
Il lui faut aussi de la sagacité.
Mais c'est pas tout
Mais c'est pas tout.
Car ce qu'il doit avoir et surtout
C'est d'la tactiqu',
De la tactiqu', dans la pratiqu'
Comm' la montre a son tic tac
Le gendarme a sa tactiqu'.
Attendez un peu que j'vous expliqu'
La taca taca tac tac tiqu'
Du gendarme
C'est de bien observer
Sans se fair' remarquer.
La taca taca tac tac tiqu'
Du gendarme
C'est d'avoir avant tout
Les yeux en fac' des trous.
Contravention
Allez, allez,
Pas d'discussion
Allez, allez,
Exécution
Allez, allez,
J'connais l'métier
La taca taca tac tac tiqu',
Du gendarme
C'est de verbaliser
Avec autorité.

Il y a ceux qui n'ont pas d'plaque à leur vélo.
Mais c'est pas tout
Mais c'est pas tout.
Faut courir après tous les voleurs d'autos.
Mais c'est pas tout
Mais c'est pas tout.
Les gens disent oh les gendarmes quand on a
Besoin d'eux, ils ne sont jamais là.
Je réponds du tac au tac
Car pensez j'ai ma tactiqu',
Attendez un peu que j'vous expliqu'

Refrain

La taca taca tac tac tiqu',
Du gendarme
C'est d'être toujours là
Quand on ne l'attend pas.
La taca taca tac tac tiqu',
Du gendarme
C'est d'être perspicac'
Sous un p'tit air bonnac'
Contravention
Allez, allez,
Pas d'discussion
Allez, allez,
Exécution
Allez, allez,
J'connais l'métier
La taca taca tac tac tiqu',
Du gendarme
C'est d'être constamment
A ch'val sur l'règlement.

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NOTAS DA CRISE DA INCUBADORA

Assisti a uma série de debates sobre a situação política com alguns dos mais importantes jornalistas portugueses na SIC Notícias. São pessoas bem informadas, conhecedoras e quase todas capazes na sua difícil profissão. São jornalistas do topo da profissão. Muito do que discutiram foi sensato, mas falta qualquer coisa, em grande parte porque abunda outra: o cinismo. A forma peculiar do cinismo dos jornalistas que comunica mas não é semelhante à descrença dos portugueses com os políticos.

Talvez do longo convívio com os políticos – estes jornalistas fazem parte de uma pequena minoria dos portugueses (os outros são os políticos) que passam o dia inteiro a falar de política – nasça uma parte importante desse cinismo. Desconto já os seus posicionamentos políticos, que se percebem com clareza. Não é daí que vem o mal. É do cinismo.

O cinismo gera um grande conservadorismo nas análises. O cinismo leva-os a valorizar a continuidade, a esbater as diferenças e o resultado é que as suas análises resultam pouco dinâmicas. Existe a tendência para enunciar aquilo que chamei no passado o argumento hegeliano: o que está tem muita força. (Seria aliás interessante ouvir o que os mesmos jornalistas disseram quando se constituiu o governo Santana Lopes para ver como o que previram esteve longe de acontecer. Uma das linhas de raciocínio foi “vão ver como Santana Lopes vai ser diferente do que foi até agora…” Viu-se.)

Um exemplo que me parece típico foi a forma abstracta como analisaram a próxima campanha eleitoral, com PSD e PP a concorrerem separados, como se fosse possível fazê-lo sem acrimónia ou conflito, uma impossibilidade prática a não ser que o PP se queira suicidar, o que é improvável. Os efeitos da bipolarização, inevitável em campanha, estiveram também em grande parte ausentes da análise.

O papel dos conflitos internos dentro dos partidos igualmente. Por exemplo, não disseram uma linha sobre aquilo que hoje está na cabeça dos dirigentes dos aparelhos partidários, dos deputados, que não são grandes análises, nem é sequer ganhar as eleições, mas fazer as listas de deputados. Os factores de perturbação internos para uma direcção como a de Santana Lopes são consideráveis, até porque nunca assumiu esta função e é visto dentro do partido como um chefe de facção.

(Continua)

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AR PURO / UMA JANELA EM ROMA


Johan Tischbein, Goethe à janela da sua casa em Roma

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EARLY MORNING BLOGS 374

Dream Song 29


There sat down, once, a thing on Henry's heart
só heavy, if he had a hundred years
& more, & weeping, sleepless, in all them time
Henry could not make good.
Starts again always in Henry's ears
the little cough somewhere, an odour, a chime.

And there is another thing he has in mind
like a grave Sienese face a thousand years
would fail to blur the still profiled reproach of. Ghastly,
with open eyes, he attends, blind.
All the bells say: too late. This is not for tears;
thinking.

But never did Henry, as he thought he did,
end anyone and hacks her body up
and hide the pieces, where they may be found.
He knows: he went over everyone, & nobody's missing.
Often he reckons, in the dawn, them up.
Nobody is ever missing.


(John Berryman)

*

Bom dia!

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© José Pacheco Pereira
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