ABRUPTO

4.12.04


APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA: "ANTES QUERIAM UMA ESTÁTUA QUE LHES DISSESSE OS FUTUROS, QUE UM DEUS QUE LHOS ENCOBRIA"

"Como é inclinação natural no homem apetecer o proibido e anelar ao negado, sempre o apetite e curiosidade humana está batendo às portas deste segredo, ignorando sem moléstia muitas cousas das que são, e afetando impaciente a ciência das que hão de ser. Por este meio veio o Demónio a conseguir que o homem lhe desse falsamente a divindade, que o mesmo demónio com igual falsidade lhe tinha prometido. E senão, pergunto: Quem foi o que introduziu no Mundo, sem algum medo, mas antes com aplauso, a adoração do Demónio? Quem fez que fosse tão frequentado e consultado o ídolo de Apolo em Delfos? O de Júpiter em Babilónia? O de Juno em Cartago? O de Vénus no Egito? O de Dafne em Antioquia? O de Orfeu em Lesbo? O de Fauno em Itália? O de Hércules em Espanha, e infinitos outros em muitas partes? Não há dúvida que o desejo insaciável que os homens sempre tiveram de saber os futuros, e a falsa opinião dos oráculos com que o Demónio respondia naquelas estátuas, foram os que todo este culto lhe granjearam, sendo certo que, se Deus, vindo ao Mundo, não emudecera (como emudeceu) os oráculos da Gentilidade, grande parte do que hoje é fé, fora ainda idolatria. Tão mal sofreram os homens que Deus reservasse para si a ciência dos futuros, que chegaram a dar às pedras a divindade própria de Deus, só porque Deus fizera própria da divindade esta ciência: antes queriam uma estátua que lhes dissesse os futuros, que um Deus que lhos encobria."

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]