ABRUPTO

4.7.09

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(Sábado, 2 de Julho de 2009.)

Porque é cada vez mais raro haver atitudes de pura decência, aqui fica o registo do comportamento de uma Senhora. ( A propósito disto.)

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COISAS DA SÁBADO: CADA QUAL ESCOLHE O MITO QUE QUER SOBRE A CAMPANHA DE OBAMA

Uma coisa é certa: a campanha de Obama foi um enorme sucesso e pode ser medido esse sucesso pelo melhor indicador: os resultados. O que a campanha de Obama não “demonstra” é que as formas mais tradicionais de fazer política tenham sido substituídas por outras novas, a começar pelas que utilizam novas tecnologias “interactivas” como os blogues, o Facebook, o MySpace e o Twitter. Contra mim falo, que combato, há muito tempo, a dependência das campanhas eleitorais portuguesas de formas ainda mais arcaicas do que as americanas e que me parecem, essas sim, muito ineficazes e voltadas apenas para dentro dos partidos, para lógicas políticas que pouco comunicam com o mundo exterior. E que pensam um Portugal rural e onde domina o patrocinato e o caciquismo.

Digo isto porque agora temos um surto de imitadores putativos de Obama que olham para a campanha americana mais com os olhos dos seus desejos do que com os da realidade. Após um surto de deslumbramento tecnológico com a campanha de Obama, que parecia que ganhara as eleições pela Internet, os primeiros estudos mostram a necessidade de moderar essa avaliação. De facto, os novos media tem uma crescente importância, mas ainda são muito menos importantes do que, por exemplo, o apoio institucional e político de personalidades, sindicatos, grupos de interesse, ou o efeito nos media clássicos de deslocações de apoios. E, no seu conjunto, a televisão continua o meio de comunicação por excelência onde se ganha e perde uma eleição. Não digo que seja bem ou mal, inclino-me mais para o mal, mas é mesmo assim. O resto é uma efervescência que mobiliza muito pouca gente e quase sempre acantonada socialmente.

Portugal já não é o país do roteiro da carne assada, mas ainda não se ganham eleições na Internet. Nem cá, nem lá, na pátria de Obama.

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HOJE NO


NOVO:

MATERIAIS DE PROPAGANDA POLÍTICA (133). O MOVIMENTO INDEPENDENTE DE DIREITO (1976)

Num recente artigo da Sábado, Nuno Rogeiro referia-se ao MID, muitas vezes erradamente nomeado como Movimento Independente da Direita, quando era de facto Movimento Independente de Direito ou Movimento Independente da Faculdade de Direito, a que pertencera com Pedro Santana Lopes. Junto publicam-se alguns documentos do MID, assim como os nomes da lista associativa de que ambos faziam parte.

PRIMEIRAS INFORMAÇÕES SOBRE O HOLOCAUSTO DIVULGADAS PELA EMBAIXADA DOS EUA EM LISBOA

4-Jul-09 Fotografia (2) (2)


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EARLY MORNING BLOGS

1582 - The Alien

I’m back again scrutinising the Milky Way
of your ultrasound, scanning the dark
matter, the nothingness, that now the heads say
is chockablock with quarks & squarks,
gravitons & gravitini, photons & photinos. Our sprout,

who art there inside the spacecraft
of your Ma, the time capsule of this printout,
hurling & whirling towards us, it’s all daft
on this earth. Our alien who art in the heavens,
our Martian, our little green man, we’re anxious

to make contact, to ask divers questions
about the heavendom you hail from, to discuss
the whole shebang of the beginning&end,
the pre-big-bang untime before you forget the why
and lie of thy first place. And, our friend,

to say Welcome, that we mean no harm, we’d die
for you even, that we pray you’re not here
to subdue us, that we’d put away
our ray guns, missiles, attitude and share
our world with you, little big head, if only you stay.

(Greg Delanty)

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3.7.09


ESPÍRITO DO TEMPO: ENTRE ONTEM E HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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COISAS DA SÁBADO: SOMOS ASSIM TÃO INDIFERENTES À MENTIRA?



No outro dia, no Parlamento, afirmando que o governo e ele próprio nada sabiam sobre o “negócio” da compra de 30% da Média Capital pela PT, o que permitia o controlo da TVI, o Primeiro-ministro manteve uma já habitual relação difícil com a verdade. Nesse mesmo dia, á noite Manuela Ferreira Leite disse, preto no branco, que ele não estava a dizer verdade. Não ouvi uma única pessoa, jornalista ou comentador que não dissesse que era impossível o governo desconhecer tal intenção de negócio, até porque ele tinha sido comunicado na véspera à CMVM e tinha feito a capa de um jornal. O PS ensaiou uma resposta indignada , mas foi sol de pouca dura dado que no fim de semana o Expresso publicou uma capa que dizia que, não só governo sabia, como era mais que evidente, que o sabia desde o início do ano.

Depois disso, até os amigos do PS se calaram, certamente convencidos que a mentira era tão evidente, que tentar nega-la só contribuía para escavar novos factos. Não seria difícil eles aparecerem, até porque tudo indica que o “negócio” foi ao ar no exacto dia em que era suposto ser concretizado e por isso muitos interesses estavam a ser afectados e, nestas circunstâncias, os interesses costumam “falar” sob a forma de fugas. Claro que saber se o “negócio” estava ou não concluído deu origem a uma mini-polémica, em que igualmente vários praticantes da arte de tornar plástica a verdade, mostraram as sua habilidades com contradiçõe s flagrantes. Mas não é isso o mais preocupante.

O mais preocupante é a indiferença reinante face ao facto de ter sido possível, numa matéria tão importante como esta, se aceitar a mentira flagrante de um governante ao órgão que controla e escrutina a governação, o Parlamento. Pelos vistos os escândalos são selectivos, quando Dias Loureiro se “esqueceu” de umas coisas e teve a mesma plasticidade com a verdade, foi um clamor, justo aliás. Com Sócrates, descontada a duplicidade da partidarite, parece que todos aceitam que os critérios de valor são muito baixos e por isso não se esperava outra coisa. Pode ser assim, mas não é sadio. Sócrates é muito mais importante para a nossa vida de hoje do que Dias Loureiro e o “negócio” que ele tentou ocultar para aparecer como facto consumado é muito mais perigoso do que as aventuras dos offshores de Porto Rico. Só há uma coisa em comum, ambos são muito caros paqa os contribuintes portugueses.

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2.7.09






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EARLY MORNING BLOGS

1581

Tout le parfait dont le ciel nous honore,
Tout l'imparfait qui naît dessous les cieux,
Tout ce qui paît nos esprits et nos yeux,
Et tout cela qui nos plaisirs dévore :

Tout le malheur qui notre âge dédore,
Tout le bonheur des siècles les plus vieux,
Rome du temps de ses premiers aïeux
Le tenait clos, ainsi qu'une Pandore.

Mais le destin, débrouillant ce chaos,
Où tout le bien et le mal fut enclos,
A fait depuis que les vertus divines

Volant au ciel ont laissé les péchés,
Qui jusqu'ici se sont tenus cachés
Sous les monceaux de ces vieilles ruines.

(Joachim Du Bellay)

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1.7.09


ÍNDICE DO SITUACIONISMO (104):
A ORTODOXIA EUROPEIA DISFARÇADA DE JORNALISMO



A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

Da correspondente" da Antena 1 em Estrasburgo:

“Estocolmo sucede assim a Praga e certamente que nenhum dos outros vinte e seis países-membros vão ter saudades dos seis meses da presidência checa marcada pela instabilidade governamental e pela discórdia entre o presidente Vaclav Klaus e os membros do governo. Um governo que acabou por cair em plena presidência da União Europeia, num momento em que a Europa precisava de estabilidade para fazer face à crise económica e financeira. Mas esta presidência ficou igualmente marcada pelo eurocepticismo do presidente Vaclav Klaus que teima em não promulgar o Tratado de Lisboa, ratificado pelo parlamento checo, por considerar o de Nice melhor. Os seis meses da presidência checa demonstraram a importância do Tratado de Lisboa que põe fim às presidências rotativas da União Europeia. A eleição de um presidente da Europa vai contribuir para impedir no futuro que eurocépticos que apenas aderiram à União Europeia por razões económicas possam dirigir os destinos da Europa durante seis meses. (Sublinhados meus)

(Enviado por Nuno Cardoso Dias e Filipe Covas.)

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE






No alto de uma das duas gruas, de uma obra no recinto do Parque Expo (Novos Laboratórios da EPAL). ( Luiz Carvalho)





Ponte da Chamusca vista de avião. (Paulo Peres)



Ria de Aveiro. (José Carlos Santos)



Interiores. (ana)

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"Verdade e mentira no mundo digital" na Sábado em linha.

*
No seu último texto para a Sábado em Linha escreveu que «[n]o século XIX alguns amadores de fotografias fizeram umas «fadas», rudimentares aos olhos de hoje, mas que enganaram muita gente incluindo Conan Doyle, que não era propriamente desprovido de capacidade de perceber fraudes». As «fadas» em questão são as «fadas de Cottingley» e não datam do século XIX, mas sim de 1917. Quanto a Conan Doyle, sim, ele era definitivamente «desprovido de capacidade de perceber fraudes». Custa a acreditar, tratando-se do criador de Sherlock Holmes, um paradigma de racionalidade, mas Conan Doyle era, de facto, dos seres humanos mais crédulos de que há registo. Por exemplo, ele recusava-se a acreditar que o seu amigo Harry Houdini fosse um mero ilusionista (como o próprio Houdini lhe dizia em privado) e acreditava que ele só podia fazer o que fazia graças a capacidades paranormais. Isto é um exemplo perfeito de como um criador literário não deve ser confundido com a sua criação.

Quanto à fotografia supostamente tirada no avião da Air France que recentemente se despenhou no Atlântico, ela é tirada do episódio piloto da série Lost. Sei isso pois fiz uma busca no snopes.com, que é o site da Internet que consulto quando quero saber o que há de verdade nestes boatos.

(José Carlos Santos)


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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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EARLY MORNING BLOGS

1580 - Coda

A strong song tows
us, long earsick.
Blind, we follow
rain slant, spray flick
to fields we do not know.

Night, float us.
Offshore wind, shout,
ask the sea
what’s lost, what’s left,
what horn sunk,
what crown adrift.

Where we are who knows
of kings who sup
while day fails? Who,
swinging his axe
to fell kings, guesses
where we go?

(Basil Bunting)

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30.6.09


ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)



Foz do Douro. (José Carlos Santos)

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29.6.09

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PONTO / CONTRAPONTO: PROGRAMA DO PROGRAMA

Aqui.

Este é um programa de opinião sobre aquilo que vos (nos) faz ter opinião: a comunicação social. Oos media, os jornais, as rádios, os blogues, os livros, a televisão.

Eu sei que não é só comunicação social que vos (nos) faz ter opinião.
A nossa vida, a escola que tivemos, dentro da escola e fora dela, as origens, a família, o meio social - tudo faz a nossa opinião. Mas a comunicação social conta muito, conta mesmo muito.

O problema é que não vivemos tempos propícios à liberdade. Vivemos dificuldades, vivemos uma deterioração da democracia, vivemos demasiado espectáculo e pouca razão.
Vivemos mais de imagens do que palavras. Vivemos mais de pressa do que dea reflexão.
Vivemos em Portugal de uma longa história de submissão ao poder, a todos os poderes.
O do politicamente correcto. O do poder de Estado e dos Governos que abafam o cidadão e a sociedade.

Vivemos um mau momento para a liberdade, para respirar.Todos nos querem consensuais, submissos, respeitadores. Não é o meu caminho.

Mas há mais: a comunicação social portuguesa tem pouca qualidade. Há excepções e delas falaremos, mas a regra é outra. E como há pouca critica, pouca controvérsia, demasiados silêncios, não se separam as águas.

Ponto/ Contraponto é um programa de opinião.
Opinião individual, que vale o que vale.
Não é ciência, nem jornalismo, não tem a preocupação de ser equilibrado, nem isento e não será muitas vezes justo.

Mas a opinião é assim. A opinião de um consumidor de comunicação social, leitor, ouvinte, telespectador. Individual, sozinho. Do que eu não ouço, nem leio, nem vejo não falarei. Não posso ler, ouvir, ver tudo. P, por isso, como toda a opinião, esta é parcial, de gosto, frágil.

Ponto/ Contraponto é opinião que tem apenas o seu valor facial. Está à vista de todos com face, nada mais.

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EARLY MORNING BLOGS

1589 - Table Manners

The Goops they lick their fingers,
And the Goops they lick their knives;
They spill their broth on the tablecloth--
Oh, they lead disgusting lives!
The Goops they talk while eating,
And loud and fast they chew;
And that is why I'm glad that I
Am not a Goop--are you?

(Gelett Burgess)

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28.6.09


A "RENOVAÇÃO" QUE SE EXIGE

Quando Churchill chegou em 1940 ao lugar de primeiro-ministro de uma nação em guerra e a perder essa guerra, tinha quase quarenta anos de experiência parlamentar. Tinha sido quase tudo o que se podia ser: militar, estratega, parlamentar, ministro, jornalista, escritor, historiador, homem público, tudo. Era certamente uma das faces mais "gastas", como agora se diz, da vida política britânica. Era, com igual certeza, uma das pessoas que menos "renovação" traziam ao governo, ele que já por lá tinha passado várias vezes e algumas delas de forma bem conflitual. Era, com a certeza das certezas, uma personalidade "pouco consensual", tendo distribuído uma seara de ódios, de facções, de confrontos, de polémicas, ímpar nesses mesmos quarenta anos que o século durava. Tinha inimigos, completamente hostis, que o consideravam tudo aquilo que a política não devia ser: era acusado de ser irresponsável, incompetente, vingativo, belicista, conflituoso, quase um traidor. Os seus adversários odiavam-no muito menos do que os seus correlegionários, um sinal de intensidade do ódio muito particular. No seu partido tinha os maiores inimigos, que o acusavam de tudo o que de mal acontecera ao Reino Unido, desde derrotas militares sangrentas até a desastres eleitorais. Para além disso, era velho, gordo, bebia, era demasiado nobre de nascimento, tinha dívidas, maus costumes e língua afiada. E, homem da escrita e dos jornais, panfletário e excessivo, também não tinha os jornalistas em grande consideração. Em suma: Churchill chumbaria em todos os critérios mediáticos dos nossos dias e seria considerado tudo menos "uma face fresca", vinda da geração certa, que pudesse receber os elogios da "renovação", a variante em política do critério de "novidade" permanente que move jornais, rádios e televisões.

Vem isto a propósito da redução da "novidade", logo da "renovação", como um valor, à idade, ao turnover geracional, à "frescura" da face, como se isso fosse um critério fundamental para as escolhas políticos. Com enorme enfado, os jornalistas premeiam ou punem a "renovação" por este critério. Os critérios que usam são bastante parecidos com os da publicidade e inserem-se na tendência da redução da política ao espectáculo. Paulo Rangel beneficiou dele, mas duvido que esse seja o critério de qualidade que mais lhe interesse, dado que a "novidade" é a primeira coisa a gastar-se. Só quem não reparou na sua performance como líder parlamentar é que se pode ter surpreendido com a sua campanha. Aí também ele não era "novo", mas foi visto como tal pelos mesmos que o depreciavam como parlamentar e davam sempre a Sócrates as estrelas todas. Foi preciso que o estereótipo se impusesse, para beneficiar dele, neste caso para alguém com mérito. Menos mérito tem quem constrói uma "novidade" para fazer passar o gato pela lebre da "novidade" e, infelizmente, há muitos candidatos para isso e têm, no essencial, boa imprensa. Falsos "novos" como Passos Coelho usam a face como estratégia de marketing e o "novo" como mecanismo de reciclagem. Ou o novo porta-voz do PS, João Tiago Silveira, que foi apresentado pelo Expresso como uma "lufada de ar fresco" à custa de se iludir a sua actividade concreta como secretário de Estado, que mostrava como os "novos" podem ser os mais eficazes repetidores dos vícios dos velhos.

Muita coisa má se está a promover à custa da idade e da renovação "geracional", disfarçando conflitos de poder pelos bens escassos, não entrando em conta com outros critérios menos mediáticos e espectaculares. Numa sociedade equilibrada, numa democracia capaz, os critérios incluem a idade e a geração, mas incluem igualmente os costumes públicos, a experiência, os comportamentos, as ideias e as práticas. Ou seja, são indivíduos que são avaliados, não abstracções na moda. Por isso, se me perguntarem que "renovação" eu quero, por exemplo, nas listas de deputados, nos membros do governo, eu respondo de modo muito diferente daquele que por aí impera. Deve ser da idade.

Por exemplo, para mim, renovar é trazer para a política pessoas com vida e profissão, que tenham conhecido dificuldades, desilusões, derrotas, perdas, que sejam mais de carne do que de plástico. Há cada vez menos gente assim na política, à medida que nos partidos as jotas funcionam como incubadoras de carreiras semiprofissionais e profissionais de política. Elas implicam quase sempre baixa qualificação profissional, cursos de segunda, pouca experiência profissional e vidas que rapidamente acedem a regalias e prebendas que separam os que as recebem do comum dos cidadãos e dos seus companheiros de geração. Quem entra para assessor numa autarquia, ou para deputado, sem ter tido profissão, tende a ficar preso pela sua falta de qualificações e saída profissional. Os aparelhos partidários estão cheios de gente assim, que gere obediências e sindicatos de voto, a quem não se conhece um "não" que os afaste por consciência de qualquer lugar.

É para mim incompreensível que alguém que discorda profundamente de uma direcção partidária (já não digo de uma política, porque aí é tudo muito maleável) queira ser deputado em representação dessa maneira de fazer política que abomina. Não gosto de dar o meu exemplo, porque num mundo normal isto seria tão habitual como respirar, mas não concordando com a aliança entre o PP e o PSD nas eleições para o Parlamento Europeu, declinei sem qualquer drama o convite para ficar.

Por exemplo, para mim, renovar significa escolher pessoas que mostrem ter uma intransigência grande com a corrupção. Não basta serem honestas e sérias, o que muita gente é na política. É preciso ir mais longe, dada a natureza do meio e das suas tentações, é preciso não pactuar com quem seja menos honesto. Embora este seja um terreno difícil, a "ética republicana" como queria Pina Moura não é apenas a lei e os prevaricadores não são apenas os culpados em tribunal. É necessário que nos partidos políticos haja cada vez mais gente que não ajuda, promova, seja indiferente com quem abusa do seu lugar, quem enriquece sem explicação, quem serve o contínuo tráfego de influências que passa pela política. Os partidos políticos, em particular o PS, o PSD e o CDS, pagam em termos da opinião pública um preço elevado pelo comportamento dos seus dirigentes e militantes, envolvidos em histórias pouco dignificantes, mesmo que não cheguem a ser crimes. Muito da regeneração possível dos partidos passa por aí, embora reconheça as enormes pressões para marginalizar quem não pactua com esses hábitos.

Para mim, renovar é procurar diversidade, de modo que Portugal todo caiba na política e não apenas os eleitos pela fortuna, pela riqueza e pela classe social e pelo nascimento. Mais importante do que as quotas (que penso serem um absurdo, como o é a lei da paridade) é encontrar pessoas com capacidade de falarem e serem ouvidas pela sociedade portuguesa em todos os seus matizes. A maioria dos portugueses são operários, agricultores, trabalhadores dos serviços, funcionários públicos, micro e pequeno-empresários, e todos eles estão sub-representados na vida política, quer enquanto tal, quer através de representantes que conheçam os seus problemas e falem a sua língua. É o problema de qualificar a acção política por "saberes" diversos, fruto da experiência, do conhecimento de vida, do estudo, para evitar o progressivo divórcio entre a realidade nacional e a representação política.

Podia continuar, mas penso que já se percebe. Faça-se a "renovação" por aqui e encontrar-se-á gente nova e mais velha, capaz de nos fornecer melhores políticos. Mas para que tal seja possível nos partidos é necessário ir muito mais longe do que os poderes e equilíbrios internos, porque a realidade mostra que as escolhas das direcções nacionais são mais racionais do que as dos aparelhos interiores aos partidos. E não estou propriamente a pedir Churchills. Vamos ver.

(Versão do Público de 27 de Junho de 2009.)

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ESPÍRITO DO TEMPO: ESTES DIAS



Chuva matinal. (RM)



Vinhas no Douro. (Gil Regueira)



Varanda de Miragaia na noite de S.João. (Nuno Lima)



Jardins de Serralves. (C. Oliveira)



Num telhado de Alfama, a observar o Tejo. (Fernando Correia de Oliveira)



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Paisagem vista da EB2,3/S do Baixo Barroso, Venda Nova, Montalegre. (Isabel Cristina)

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EARLY MORNING BLOGS

1588 - Dedication for a Plot of Ground

This plot of ground
facing the waters of this inlet
is dedicated to the living presence of
Emily Dickinson Wellcome
who was born in England; married;
lost her husband and with
her five year old son
sailed for New York in a two-master;
was driven to the Azores;
ran adrift on Fire Island shoal,
met her second husband
in a Brooklyn boarding house,
went with him to Puerto Rico
bore three more children, lost
her second husband, lived hard
for eight years in St. Thomas,
Puerto Rico, San Domingo, followed
the oldest son to New York,
lost her daughter, lost her "baby,"
seized the two boys of
the oldest son by the second marriage
mothered them -- they being
motherless -- fought for them
against the other grandmother
and the aunts, brought them here
summer after summer, defended
herself here against thieves,
storms, sun, fire,
against flies, against girls
that came smelling about, against
drought, against weeds, storm-tides,
neighbors, weasels that stole her chickens,
against the weakness of her own hands,
against the growing strength of
the boys, against wind, against
the stones, against trespassers,
against rents, against her own mind.

She grubbed this earth with her own hands,
domineered over this grass plot,
blackguarded her oldest son
into buying it, lived here fifteen years,
attained a final loneliness and --

If you can bring nothing to this place
but your carcass, keep out.

(William Carlos Williams)

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© José Pacheco Pereira
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