ABRUPTO

31.10.09

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POEIRA DE 31 DE OUTUBRO

31 de Outubro é um dia pesado, mesmo com o sol do Mediterrâneo a brilhar preparando os idos do Outono. Já sabemos o que o "pequeno Augusto" foi e o que o salvou. Já sabemos o que foi o mundo desde 475, ou melhor, 476, até hoje. Mas há mil quinhentos e trinta e três anos, quando tudo parecia desabar, já havia augúrios sobre o futuro. Uma crónica obscura, escrita quinhentos anos depois, relata que, nesses dias do fim, Cassiodoro mandou "ver o futuro" a um áugure. Fê-lo em segredo porque a prática já era mal vista nesses dias de confusão religiosa.

O áugure usou uma técnica antiga e, em vez de abrir um animal e olhar as suas entranhas, decidiu observar o destino no voo dos pássaros. O que viu deixou-o assustado. Havia sempre, em cada bando, um pássaro que voava ao contrário. Para ele esse pássaro era a Mão de Deus. E tirou conclusões. Viu que as Trevas eram mais fortes que a Luz, que o Mal venceria o Bem, que o Caos dissolveria a Ordem, que não havia Destino humano, mas apenas Destino manifesto. Viu que o tempo estava marcado desde início e que os homens pouco podiam fazer contra a barbárie.

Cassiodoro ficou tão impressionado pelo augúrio que mandou pagar uma pensão, vinda dos cofres de Teodorico, ao já não "pequeno Augusto", exilado num mosteiro. Pensava e bem, que com o fim do império no Ocidente, o tempo começava a andar para trás, como o pássaro, como a Mão de Deus.

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (105): JÁ SE TINHA PERCEBIDO A OPÇÃO DO DIÁRIO DE NOTÍCIAS


A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

Só que agora chegou ao editorial:
Usando linguagem futebolística, o PSD está outra vez no mercado à procura de treinador. E se no terreno já está o candidato do PPD, isto é, o mais popular - Pedro Passos Coelho -, as chamadas elites, isto é, o PSD, continuam de candeia acesa à procura de alguém institucional, do tradicional "eixo Lisboa-Cascais", que enfraqueça o aparentemente favorito ex-líder da JSD. (...) Mas a pretendida vaga de fundo a favor do professor parece, ainda assim, condenada ao fracasso. (...) Além de dar o dito por não dito, o que, aliás, não seria inédito, arrisca a perder, isso sim um obstáculo a levar em conta.
Miguel Relvas que escreve com mão alheia uma parte importante das "notícias" do Diário de Notícias sobre esta matéria (veja-se a "contagem de espingardas", distrital a distrital, com mapas e tudo, que já há quase um mês foi publicada no jornal, certamente que fruto de um trabalho de "investigação" semelhante ao do email roubado ao Público ), pelos vistos também escreveu o editorial.

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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EARLY MORNING BLOGS

1663 - Acima da verdade

Acima da verdade estão os deuses.
A nossa ciência é uma falhada cópia
Da certeza com que eles
Sabem que há o Universo.
Tudo é tudo, e mais alto estão os deuses,
Não pertence à ciência conhecê-los,
Mas adorar devemos
Seus vultos como às flores,
Porque visíveis à nossa alta vista,
São tão reais como reais as flores
E no seu calmo Olimpo
São outra Natureza.

(Fernando Pessoa / Ricardo Reis)

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30.10.09

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE









Procissão de São Pedro de Montijo 2009. (José Bastos)



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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CORREIO

Mais uma vez, uma verificação às "mensagens não solicitadas" do Gmail revelou vária correspondência que na verdade era até muito solicitada, incluindo colaborações para a recolha do material das eleições. Recuperei grande parte, embora não saiba se perdi alguma coisa. O mesmo acontece com alguma correspondência corrente. Peço pois desculpa se não estou a responder a algumas mensagens, para além do atraso habitual.

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NADA DE NOVO SOBRE A TERRA: OS CRIADOS ESTÚPIDOS, OS VALIDOS ASTUTOS E OS CONSELHEIROS PÉRFIDOS

Tirado daqui:

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CRÍTICAS À TELEVISÃO DO SENHOR NUNO CABRAL DE MONTALEGRE, QUE SÓ DÁ FOLCLORE TRANSMONTANO, ESCRITAS DO EXÍLIO(3)

(E TAMBÉM COISAS DA SÁBADO:)

A ESPANTOSA INDIFERENÇA...



... face ao conteúdos das políticas que vão ser executadas é um exemplo típico dos efeitos dessa superficialidade e culto da irrelevância. O que se discute são procedimentos, mecânica, coreografia. A substância das coisas parece pouco importante. Só Cavaco Silva o lembrou quando, no discurso de posse do governo falou das duas coisas ao mesmo tempo, da mecânica institucional e do conteúdo das políticas. Mas este último aspecto, o mais decisivo de todos, tem um pequeno papel na logomaquia que enche os ecrãs da televisão.

Não seria muito mais importante sabermos o que pensam os novos ministros, quando é suposto pensarem? Já nem sequer me refiro aos novos ministros desconhecidos (não é o caso de Isabel Alçada, Lacão ou Alberto Martins) em que apenas de um se sabe alguma coisa. Refiro-me ao Ministro das Obras Públicas que tomou posição na polémica sobre TGV e aeroporto. Mérito dele. Quanto aos outros, quase nada se sabe, como em bom rigor nada se sabe do que Santos Silva pensa sobre as Forças Armadas.

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CRÍTICAS À TELEVISÃO DO SENHOR NUNO CABRAL DE MONTALEGRE, QUE SÓ DÁ FOLCLORE TRANSMONTANO, ESCRITAS DO EXÍLIO(2)

(E TAMBÉM COISAS DA SÁBADO:)

NOVO GOVERNO E JOGOS DE EXPECTATIVAS




Num artigo que publiquei no Público referi-me ao facto de estarmos todos já tão habituados ao “folclore transmontano”, a única música que o canal comprado pelo senhor de Montalegre que ganhou o Euromilhões, passa, que não sabemos já o som de qualquer outra música. E todos os dias nos cantam e dançam o “folclore transmontano”, pela cabeça adentro, que já quase não damos por isso.

Um exemplo da música monocórdica desse canal único passou-se com a constituição do segundo governo Sócrates. Andei dias inteiros a ouvir como seria esse governo. Jornalista sobre jornalista, comentador sobre comentador. Como teria “surpresas”, como teria “ministros independentes de grande peso político”, como Sócrates iria tornear todos os pontos polémicos, etc., etc. Depois, nada disso aconteceu e o “folclore transmontano” mudou de registo, mudou de expectativas, mudou de foco, esquecendo as anteriores previsões como se elas não tivessem existido. Agora, o importante era o número de mulheres, o número de independentes, o perfil político de alguns ministros e o perfil técnico, os testemunhos simpáticos sobre os ministros que na semana passada deveriam ser “independentes de grande peso político” e agora eram tão desconhecidos que se tinha que ir saber quem eram junto dos colegas de trabalho na função pública.

Este tipo de “folclore transmontano” não é novo. Lembro-me, por exemplo, de como era voz corrente na comunicação social, as altas expectativas quanto ao anterior Ministro da Cultura, que saiu da cena agora sem história nem glória. Claro que os actuais podem vir a ser os melhores ministros do mundo e boas surpresas, não é isso que está em causa, embora eu suspeite que, noutro contexto e com outra música, algumas nomeações suscitassem perplexidade tão remota é a relação dos ministros com as áreas dos seus ministérios.

O problema é que no “folclore transmontano” o que se canta nada tem a ver com a consistência da letra. O que determina a canção é o que acontece, se há muitos negros é bom que haja negros, se há muitos brancos é bom que haja brancos, se houver cinzentos é bom que haja cinzentos. O problema é que esta mistura de intencionalidade, rebanhismo e superficialidade que hoje constitui o “folclore transmontano”, nos impede de pensar diferente. Ou sequer de recuar um pouco para ver melhor para além das trevas do pensamento único.

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CRÍTICAS À TELEVISÃO DO SENHOR NUNO CABRAL DE MONTALEGRE, QUE SÓ DÁ FOLCLORE TRANSMONTANO, ESCRITAS DO EXÍLIO

(E TAMBÉM COISAS DA SÁBADO:)

HÁ UM ANO...




... a comunicação social e os comentadores bramiam contra o “bloco central”. Os dedos acusadores que iam do CDS aos opositores de Manuela Ferreira Leite, passando pelo BE, juravam a pés juntos que o PSD se estava a preparar para servir de suporte a um governo de minoria relativa do PS, que começava a estar no horizonte. Baseando-se numa omissão qualquer, os jornais, com destaque para o Diário de Notícias, faziam páginas especiais sobre esse “bloco central”, que Cavaco Silva desejaria e que Manuela Ferreira Leite e o PSD se preparavam para concretizar. O mais interessante é que o tom era de crítica, de repúdio, do “sistema” do “centrão”, do “bloco central de interesses”. Depois, porque o tema não era sustentável, – havia demasiados desmentidos –, e o assunto, após quinze dias de histeria, já não era novidade, passou-se a falar de outras coisas. Lembrar isto é interessante, porque os mesmos, exactamente os mesmos, estão hoje no registo absolutamente contrário ao que tinham há um ano. Subitamente uma onda de “responsabilidade” invadiu a política portuguesa, na qual tem um papel central a quase que imperativa obrigação de fazer qualquer entendimento com o PS, daqueles que eram há um ano o maléfico “centrão” tão vilipendiado. De repente, a “estabilidade” passou a ser a obrigação primordial... da oposição. Mais do que do PS.

“Folclore transmontano” no seu melhor.

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EARLY MORNING BLOGS

1662

"To be able to procure its own entertainments, and to subsist upon its own stock, is not the prerogative of every mind. There are, indeed, understandings so fertile and comprehensive, that they can always feed reflection with new supplies, and suffer nothing from the preclusion of adventitious amusements; as some cities have within their own walls enclosed ground enough to feed their inhabitants in a siege. But others live only from day to day, and must be constantly enabled, by foreign supplies, to keep out the encroachments of languor and stupidity."

(Samuel Johnson)

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29.10.09

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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EARLY MORNING BLOGS

1661- Provérbio

A buena hambre no hace falta condimento.

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28.10.09


VAI DAR TRABALHO, É EM GRANDE PARTE INÚTIL, MAS NÃO VAI FICAR SEM ESCLARECIMENTO TODA A INTRIGALHADA HABITUAL (2)

Aqui no Expresso mais uma notícia falsa :

PSD afasta moção de rejeição ao Programa do Governo
A posição de Pacheco Pereira não vingou.
(...)

A direcção do PSD afasta a apresentação de qualquer moção de rejeição ao Programa do Governo, hipótese que chegou a ser defendida por alguns sectores do partido. Pacheco Pereira foi associado à ideia depois de ter defendido que o PSD chumbasse o Orçamento do Estado, mas estas teses mais radicais parecem definitivamente afastadas por Manuela Ferreira Leite.
Agradecia ao Expresso que me indicasse onde é que eu defendi "a apresentação de qualquer moção de rejeição ao Programa do Governo", porque eu desconheço que o tenha feito. Trata-se de uma pura invenção com uma fórmula brilhante de contorcionismo da verdade: "foi associado à ideia". Excelente jornalismo este! No título apareço como tendo "posição", no texto da "notícia" como estando apenas "associado" (por quem?) à "posição".

Se não aparecerem com qualquer declaração minha, e só as faço em on e com o meu nome, façam o favor de apagar a falsidade.

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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EARLY MORNING BLOGS

1660

Suna no gotoki kumo nagareyuku asa no aki

Areia entre os dedos
As nuvens descem
Outono nas manhãs.

(Shiki Masaoka )

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27.10.09


EARLY MORNING BLOGS

1679

Segundo lá escolhestes, assim cá vos contentai.

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26.10.09


POIS É,
JÁ HÁ MUITO TEMPO QUE SÓ SE TRANSMITE FOLCLORE TRANSMONTANO




Um notável anúncio do Euromilhões diz-nos que "este canal acaba de ser comprado pelo senhor Nuno Cabral de Montalegre e a partir de agora transmitirá apenas folclore transmontano". Nem sei como é que se deixou passar esta notícia que explica porque é que já há tanto tempo só vemos "folclore transmontano" na televisão, nos jornais, na imprensa. Como já só vemos "folclore transmontano" pensamos que não há mundo, fora da visão que o senhor Nuno Cabral nos dá todos os dias. O potencial subversivo desta notícia é dizer-nos que isso se passa porque o senhor Nuno Cabral "comprou" o canal e que este transmite "apenas" "folclore transmontano", quando nos noticiários do dito "canal" se diz que se passa toda a música do mundo e se fala de forma plural sobre a vida fora de Montalegre.

O Vasco Pulido Valente diz, e bem, que é difícil explicar a mediocridade aos medíocres, e eu acrescento que é igualmente difícil explicar a falta de ar a quem está habituado a respirar tóxicos. Usando o exemplo actual, é difícil dizer aos ouvintes do canal único, que estão "apenas" a ouvir "folclore transmontano" e que isso se deve ao facto de o senhor Nuno Cabral ter "comprado" o dito órgão de comunicação social. É por isso que, mais uma vez, sim mais uma vez e quantas forem precisas, eu vou falar da qualidade pouco sadia do ar da nossa democracia. Sim, falar da "asfixia democrática", aquela coisa de que este mesmo pensamento único não quer que se fale, por razões que se percebem demasiado bem.

Decretou-se, ao estilo rebanho, que foi por isso que o PSD perdeu as eleições. Como sabem? Não sabem, é a olho e é conveniente quer para o PS (que assim pretende calar as críticas à "compra" do senhor Nuno Cabral) quer para os opositores de Manuela Ferreira Leite, que assim não só secundam o PS, como apontam para os seus inimigos internos, porque é suposto que tenha sido por recomendação minha e de Paulo Rangel que disso se falou na campanha. Cómodo, mas falso. Mas hoje, quando a "verdade" é um anátema ou um insulto, isso também não incomoda ninguém. E, ao fim de dez em onze comentadores e jornalistas na SICN ou na TSF ou na RTPN a dizerem o mesmo, quem é que se atreve a duvidar?

Mas vamos ao "folclore transmontano", à música única que todos os canais transmitem. Há vários trechos desta música única, por exemplo, os relativos ao estado do mundo associados à completa ausência de espírito crítico sempre que o Presidente Obama está envolvido num assunto qualquer; os relativos à Europa e ao "europeísmo" apodíctico, insusceptível de discussão, a que só se pode dizer "sim" sob pena de envio para o Inferno do nacionalismo provinciano; e, por último, fico-me pela própria questão da "asfixia democrática" como exemplo nacional. Os dois primeiros mostram como em matérias tão decisivas se deixou de pensar, ou seja, de questionar se o "folclore transmontano" nos diz alguma coisa sobre o que se está a passar no Afeganistão, ou se o Tratado de Lisboa tem que ser acelerado não vão os conservadores ganhar as eleições no Reino Unido. Uma parte importante da "asfixia democrática" é a prevalência do pensamento único sobre Obama, a União Europeia, a crise e os seus fundamentos, o "neoliberalismo", etc., etc.

Deixou de se poder pensar de fora do "folclore transmontano", e parece tão absurdo fazê-lo que a acusação soviética de loucura e de promessa de internamento já tem sido feita pelos mastins dos blogues "transmontanos". Para eles, Cavaco Silva é louco ou senil, Manuela Ferreira Leite, amavelmente tratada pela "velha", idem aspas, eu também não estou melhor, José Manuel Fernandes, Cintra Torres e mais meia dúzia que ainda escreve com independência nos blogues e nos jornais, estamos todos obviamente doentes porque não vemos nada de preclaro no "folclore transmontano". A questão da "asfixia democrática" começa exactamente aqui, nas pessoas que querem respirar com os dois pulmões e ainda distinguem o ar puro do dióxido de carbono, logo têm que ser mutantes loucos. É por isso que a questão da "asfixia democrática" é tão incómoda que suscita esta unanimidade para a calar. Exactamente porque existe, ela não pode sequer ser nomeada sem ruptura do véu que a encobre. Por isso, é das mais incómodas para o PS e para os próceres do pensamento único que nos pastoreiam do lado do poder.

Primeiro, vamos ao termo e depois à coisa. O termo já se tornou um rodriguinho, mas a questão fia mais fino. A origem esteve num discurso de Paulo Rangel num 25 de Abril em que falou de "claustrofobia democrática", expressão que francamente prefiro à "asfixia", embora o que interessa é saber se a coisa existe e não se o nome é o melhor. O que é interessante lembrar é que o discurso de Rangel foi então muito positivamente saudado e, hoje, a mesma coisa, exactamente a mesma coisa, aparece como um atestado de derrota, apesar de Rangel ter falado nela na sua campanha vitoriosa nas eleições europeias. Pelos vistos, a "asfixia democrática" deu vitória nas europeias e derrota nas legislativas.

Dizer que existem limitações à plena liberdade dos portugueses, em particular, de exprimirem as suas opiniões, sem sofrerem retaliações nos seus interesses, seja de manter o seu emprego ou de conseguirem a devida promoção, seja de não serem administrativamente punidos, seja de não verem os seus negócios ilegitimamente prejudicados, ou de serem às claras ou, acima de tudo, às escuras, perseguidos porque não gostam do Governo, do PS, da maçonaria, ou das "empresas do regime", como diz Henrique Neto, ou afastados dos órgãos de comunicação ou ostracizados, a favor de gente mais "útil" ao poder, mesmo quando, ou principalmente quando, são de "direita" - nomear tudo isto -, é proibido no regime do canal único do "folclore transmontano" .

Seria interessante perguntar o que é que mudou para melhor, desde que Rangel fez o seu discurso, na "claustrofobia democrática"? Mudou, só que para pior. Os dois órgãos de comunicação que o primeiro-ministro atacou publicamente estão abatidos. O Jornal Nacional da TVI encerrou como espaço crítico do Governo, e o PÚBLICO está sujeito a uma campanha para mudar a sua linha editorial e o seu director. Somaram-se os assuntos tabu, a começar pelas investigações que envolvem o primeiro-ministro, como o caso Freeport e outros, em que ninguém se interroga como é que uma imprensa livre aceita tão grande condicionamento ao ponto de tornar "excessivo" quem tem coragem de falar. Fosse no Reino Unido ou nos EUA e veriam se era assim. É também porque há um coro de "folclore transmontano" que ninguém se incomoda em perguntar porque razão é que Portugal baixou de 16º para 30º no índice de liberdade de imprensa. Pelos vistos os Repórteres Sem Fronteiras acham que sempre há "asfixia democrática". Por cá, tudo a assobiar para o lado.

Mas nem sequer é o que se vê o que é o mais importante. O mais importante é o que não se vê, porque a patrulha dos dissidentes do "folclore transmontano" é feita em todos os azimutes, desde os blogues que fazem o dirty job, a começar pelos pagos pelo Governo, a acabar em operações políticas de monta como foi a do Diário de Notícias contra Cavaco Silva e o PSD. Gente cujo único pecado é não alinhar no coro do "folclore transmontano" é imediatamente sujeita a uma campanha de insultos. É, por exemplo, o caso de Paulo Tunhas, filósofo e co-autor de um notável livro com Fernando Gil, também cuidadosamente esquecido pela sua ruptura com o cânone, que cometeu o crime de "perceber", no melhor sentido, Manuela Ferreira Leite, um acto proibido no coro do "folclore transmontano", cantado "à esquerda" pelos amigos de José Sócrates e "à direita" pelos de Passos Coelho.

Estes exemplos vêm de uma pequena minoria das elites, e têm esse defeito, mas também têm uma vantagem. A vantagem é que estão em posição de perceber e falar do que se está a passar porque têm melhor condição económica, logo mais defesas. Mas seria profundamente errado pensarmos que é aqui que a "claustrofobia democrática" é mais grave. É no homem comum, que tem medo de perder o emprego, no pequeno empresário que teme perder uma encomenda porque refilou com as dívidas do Estado ou o fisco ou a ASAE, no funcionário público que sabe que tem que agradar ao chefe do PS, no jornalista que questiona opack journalisme é logo afastado da "política" por se suspeitar que "está feito com o PSD". É no homem que tem o direito de viver num país livre, com uma comunicação social crítica, com uma informação equilibrada, e nem sequer se pode aperceber até que ponto está a ser, todos os dias, manipulado com "folclore transmontano".

(Versão do Público de 24 de Outubro de 2009.)

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© José Pacheco Pereira
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