ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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31.10.09
POEIRA DE 31 DE OUTUBRO
31 de Outubro é um dia pesado, mesmo com o sol do Mediterrâneo a brilhar preparando os idos do Outono. Já sabemos o que o "pequeno Augusto" foi e o que o salvou. Já sabemos o que foi o mundo desde 475, ou melhor, 476, até hoje. Mas há mil quinhentos e trinta e três anos, quando tudo parecia desabar, já havia augúrios sobre o futuro. Uma crónica obscura, escrita quinhentos anos depois, relata que, nesses dias do fim, Cassiodoro mandou "ver o futuro" a um áugure. Fê-lo em segredo porque a prática já era mal vista nesses dias de confusão religiosa. O áugure usou uma técnica antiga e, em vez de abrir um animal e olhar as suas entranhas, decidiu observar o destino no voo dos pássaros. O que viu deixou-o assustado. Havia sempre, em cada bando, um pássaro que voava ao contrário. Para ele esse pássaro era a Mão de Deus. E tirou conclusões. Viu que as Trevas eram mais fortes que a Luz, que o Mal venceria o Bem, que o Caos dissolveria a Ordem, que não havia Destino humano, mas apenas Destino manifesto. Viu que o tempo estava marcado desde início e que os homens pouco podiam fazer contra a barbárie. Cassiodoro ficou tão impressionado pelo augúrio que mandou pagar uma pensão, vinda dos cofres de Teodorico, ao já não "pequeno Augusto", exilado num mosteiro. Pensava e bem, que com o fim do império no Ocidente, o tempo começava a andar para trás, como o pássaro, como a Mão de Deus. (url)
© José Pacheco Pereira
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