ABRUPTO

31.1.09




(Eustache le Sueur)

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (29)



A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração. E, nalguns casos, de respiração assistida.

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (28):
COMO SÃO TRATADAS AS INICIATIVAS DO PRINCIPAL PARTIDO DA OPOSIÇÃO




Conferência de imprensa de Manuela Ferreira Leite para apresentar um"plano contra a crise" (cito o Correio da Manhã): dois jornais noticiaram a conferência de imprensa, mas o Diário de Notícias aproveita-a para criticar Manuela Ferreira Leite de não falar do caso Freeport. Não custa imaginar o que seria se falasse...

O Público faz uma não-notícia absurda


e o Jornal de Notícias, ignora pura a simplesmente que houve uma conferência de imprensa da dirigente do maior partido da oposição.

Público -...... ..........SITUACIONISMO +3

Jornal de Notícias - SITUACIONISMO +5

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (27):
A QUESTÃO FREEPORT NA COMUNICAÇÃO SOCIAL (17)



Notícias sobre o caso Freeport na primeira página dos diários por ordem de relevância:


e, surprise, no Jornal de Notícias, nada!

A classificação que já é habitual: SITUACIONISMO +5

É assim que as coisas se fazem. Mas há muito mais nos jornais de hoje. (Continua.)

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INTENDÊNCIA



Os Estudos sobre o Comunismo estão em actualização. Na sequência das notas sobre o arquivo e papéis de Joaquim Barros de Sousa, publicam-se novos elementos sobre a censura ao jornal Mar Alto (Figueira da Foz, 1967 - 1974) . Está igualmente a ser actualizada a bibliografia.

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REFLEXÕES SOBRE O JORNALISMO (5)
A PROPÓSITO DAS IRRITAÇÕES PROVOCADAS PELO ÍNDICE DO SITUACIONISMO

(Ver parte 1, 2, 3, e 4. )

Outro problema, que se tem vindo a agravar no nosso actual sistema jornalístico, nas duas grandes cidades, e que os blogues ajudaram a radicalizar, tem a ver com a prisão do ego (psicológica, identitária, grupal) nas opiniões emitidas e a resistência psicológica (ou mesmo a negação) em modificá-las. A relação com as “notícias” passa a ser de saber se elas são ou não conformes com a opinião do jornalista, e são tratadas na sua relevância e destaque apenas por esse facto. Parece “interpretação”, na realidade é facção.

É isso que é interessante de observar nos blogues dos jornalistas: o seu fechamento e hostilidade a tudo o que possa contrariar uma opinião previamente emitida, com a agravante de, por tudo se passar em público e num meio muito conflitual, poder afectar a "imagem" do seu autor. Por exemplo, os blogues de jornalistas hostis a Manuela Ferreira Leite (que são muitos) ficam incomodados quando as dificuldades do governo Sócrates podem aumentar as probabilidades de um bom resultado do PSD. Reagem mais à consequência do que à causa.

Muitos deles são escritos por pessoas hostis a Sócrates e ao PS, mas como são muito mais hostis a Manuela Ferreira Leite e são muito mais "postos em causa" por um seu bom resultado do que por um bom resultado de Sócrates (que eles no fundo desejam psicologicamente para terem razão), a reacção é muito diferenciada na intensidade, no acinte, no tom. É um problema de proximidade afectiva. Eles têm uma política de proximidade com o PSD (quase sempre através de Passos Coelho, e menos de Menezes, ou Santana) e de distância do PS e de Sócrates, mas a proximidade conta sempre mais. São os amigos, os colegas, as conversas, as namoradas, os jantares, as bocas, uma cultura de identidade ligeira, light, mas que nos nossos dias é a que há. Para se ter outra, havia que viver e pensar diferente. Ler mais, trabalhar mais, mandar menos “bocas”, ter independência, pensar com liberdade, o que é de facto muito mais complicado.

É também por isso que os jornalistas são, regra geral, maus comentadores. Não só são muito pouco independentes, como não se afastam muito do seu ego de jantar e bocas. A actual blogosfera portuguesa é o seu terreno ideal, o seu caldo de cultura, o seu prato de Petri.

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EARLY MORNING BLOGS

1475 - Que fait ma main

Elle caresse, doux, doux, doux
Elle frappe, pan, pan, pan
Elle gratte, grr, grr, grr
Elle chatouille, guili, guili
Elle pince, ouille, ouille, ouille
Elle danse, hop, hop, hop
Au revoir, elle s'en va

(Comptine anónima.)

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30.1.09




Michelangelo Buonarroti (atribuído).

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (26):
A QUESTÃO FREEPORT NA COMUNICAÇÃO SOCIAL (16)



Vale a pena continuar a anotar o que acontece com o noticiário da RTP das 13 horas, tão sistemático e repetitivo é o seu situacionismo, a sua governamentalização? Vale, sempre fica registado e sempre alguém terá curiosidade de o ir ver e perceber melhor o que digo. O noticiário é feito não a partir das notícias, mas sim a partir de uma "mensagem" que se pretende passar. É verdade que o da TVI é igual, só com a diferença que não é pago pelos contribuintes e não tem a dependência do governo e, apesar de tudo, tem mais notícias. A "mensagem" de hoje é a mesma que o Primeiro-ministro quis passar na conferência de imprensa de ontem, há uma campanha de "forças ocultas" para o derrubar, e ele é vítima desse comportamento miserável dos seus "ocultos" adversários. O que o noticiário de hoje da RTP fez foi dar imagens a essa "mensagem" e transformá-la numa "notícia", como se fosse uma coisa verificada e verificável. É nestes momentos críticos que se percebe muito bem o papel da "televisão pública".

SITUACIONISMO +5

*

Vale a pena continuar a anotar o que acontece com os critérios de capa do Jornal de Notícias? Vale, porque assim também se percebe muita coisa. Veja-se como é quando as notícias são hostis ao Primeiro-ministro temos a tira cinzenta de cima, quando se trata de o defender o centro da capa (veja-se a terceira e a sexta capa, a de hoje.)


SITUACIONISMO +5

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (25):
A QUESTÃO FREEPORT NA COMUNICAÇÃO SOCIAL (15)



Como no caso Casa Pia há pessoas de primeira e de segunda. Sobre o "Bibi" tudo se podia dizer sem medo de consequências, a começar por tratá-lo com essa alcunha depreciativa. No caso Freeport também há pessoas de primeira e de segunda. Sobre as de primeira nem pensar se pode, e falar muito menos. É toda uma chuva de precauções, cuidados, obséquios, declarações prévias, etc. Sobre, por exemplo, o senhor Charles, o tio e o primo de José Sócrates, já tudo se pode dizer sem qualquer arrepio da língua. É assim que se fazem as coisas.

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COISAS DA SÁBADO: AS ANOMALIAS DO FREEPORT



Eu não penso que a questão política fundamental do Freeport para o debate público seja “seguir o dinheiro”. É-o para a justiça, mas para o debate público há muitas outras coisas que podem ser discutidas independentemente de se “seguir o dinheiro”. O dinheiro é a bomba atómica, mas há muito obus de artilharia por registar e a boa saúde dos soldados da democracia também depende de responder à barragem de artilharia.

É que, para além de ter havido ou não corrupção ou como pano de fundo da corrupção, há demasiadas anomalias no processo Freeport que podem e, a meu ver, devem ser discutidas para além da gravíssima questão do dinheiro. Essas anomalias são quatro (à data em que escrevo, podem ter surgido mais à data da publicação): a estranheza do processo de licenciamento do Freeport; o carácter errático da actuação da justiça portuguesa; a presença da família de José Sócrates no processo, e o modo como o Primeiro-ministro e o governo se comportam na resposta à divulgação de factos, entrevistas e notícias.

Todas devem ser esclarecidas. À luz da possibilidade de corrupção elas tem toda a gravidade, mas são também graves se não houver um só euro a circular.

(Continua.)

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INTENDÊNCIA



Os Estudos sobre o Comunismo estão em actualização. Na sequência das notas sobre o arquivo e papéis de Joaquim Barros de Sousa, publicam-se elementos sobre a repressão ao III Congresso da Oposição Democrática, em 1973, e sobre a censura ao jornal Mar Alto da Figueira da Foz entre 1967 e 1974.

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EARLY MORNING BLOGS

1474 - Dorothée l'araignée

Dorothée l'araignée
a mis ses gants de laine
Dorothée l'araignée
a mis ses chauds souliers
Dorothée l'araignée
a mis sa grande cape
Dorothée l'araignée
a mis son gros bonnet !

(Comptine anónima.)

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29.1.09


ÍNDICE DO SITUACIONISMO (24):
A QUESTÃO FREEPORT NA COMUNICAÇÃO SOCIAL (14)



A RTP mostra no noticiário das 20 horas como se protege activamente o Primeiro-ministro nos seus dire straits: do abundante material noticioso disponível escolhe-se aquele que lhe é mais favorável e trata-se com cuidado, com grafismo, efeitos especiais, apresentação cuidada.Como tem que se falar de algum material noticioso hostil, citam-se as partes mais inócuas, do resto não se fala. Por exemplo, na carta rogatória há toda uma série de pormenores e detalhes preocupantes, pura e simplesmente não se fala deles. Mais: seguem-se as deixas do Primeiro-ministro nos temas que ele pretende acentuar, e fazem-se pequenas peças a mostrar implicitamente a sua razão. A lógica interior do noticiário não é a actualidade noticiosa, mas sim os temas que o Primeiro-ministro quer que tenham pernas para andar ("campanha negra", "poderes ocultos", descrédito e ligeireza da investigação inglesa, ambiguidades dos comunicados do PGR e da procuradora encarregada do processo, etc.)

SITUACIONISMO +5

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AS NOVIDADES: "CAMPANHAS NEGRAS" E "PODERES OCULTOS"



Temos agora as "campanhas negras" e os "poderes ocultos". Se o Primeiro-ministro conhecesse melhor o seu país, ele, que tem acesso aos serviços de informações, perceberia que não existe em Portugal nem capacidades, nem vontades, nem know how, nem executores capazes, sem falarem de mais, sem tropeçarem nos seus pés, sem se enganarem nas deixas, de serem decentes e eficazes "poderes ocultos". A "cabala" contra o PS no caso Casa Pia? Ainda está muito por esclarecer, mas se houve cabala, houve também contra-cabala. Troca-se, como nos cromos imaginários, a queda de Ferro Rodrigues (cabala contra o PS) pela libertação de Pedroso (protecção da Maçonaria). Aquilo de que José Sócrates foi vítima em 2005? Houve de facto uma "campanhazinha negra", com origem nuns imbecis do meu partido e do PP, a brincar às coisas sérias. Mas foi também uma obra de amadores tão grosseira que tinha todos os rabos de palha de fora e foi denunciada por muito boa gente do PSD na altura. Partidos a fazerem "campanhas negras" mais profissionais só conheci na história da democracia o PS e o PCP, mas mesmo assim na sua dimensão caseira. E depois quem é que lhe quer tanto mal? Só se forem os professores, e não estou a ver um comité secreto na FENPROF a pedir aos polícias ingleses trabalhistas umas peças de desinformação. Na verdade, todos os que têm poderes, dinheiro, meios para poderem fazer "campanhas negras" a sério, gostam de si. E se eu agora me pusesse a dizer que havia uma "campanha branca" de "poderes ocultos" na justiça portuguesa para o proteger das suspeitas inglesas? Não concordava pois não? É o que dão as cabalas.

Não, senhor Primeiro-ministro, pode haver mais uns amadores a usarem o que vem nos jornais, mas verdadeiramente o que está em cima da mesa é algo de muito mais grave e nada "oculto". E isso é que é preciso esclarecer, sem vitimização, até porque as pessoas genuinamente indignadas não seguem "estratégias de indignação" profissionais, nem de marketing.

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COLHEITA DE INVERNO (8)



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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: PARA ENTENDER O CASO FREEPORT (2)



Segundo consta das notícias mais recentes, a entidade britânica encarregada da investigação da eventual fraude no caso Freeport é o Serious Fraud Office. Não é, naturalmente, a qualidade dos investigadores que determina a maior ou menor probabilidade de certos crimes terem efectivamente ocorrido, ou de os suspeitos virem a ser acusados ou condenados. Mas, para que se saiba do que estamos a falar, vale a pena referir que o Serious Fraud Office é um departamento integrado no sistema judicial do Reino Unido exclusivamente dedicado à investigação das fraudes mais graves e complexas. O mais curioso, e que soa tão invulgar a quem esteja habituado à organização da investigação criminal em Portugal, é que o SFO decide sobre os casos que “aceita” investigar, em função da menor ou maior complexidade do crime e de outros critérios.

Conforme consta do site do Serious Fraud Office, “o critério que usamos para decidir sobre a aceitação de um caso, é o de saber se a fraude parece ser tão grave e complexa que se justifique que a respectiva investigação seja feita por quem for responsável pela acusação (“The key criterion we use when deciding whether to accept a case is that the suspected fraud appears to be so serious or complex that its investigation should be carried out by those responsible for its prosecution.”)

Por outro lado, “o SFO não se encarrega de todos os casos que lhe são transmitidos. “Os recursos do SFO devem estar concentrados nas fraudes de maior gravidade e complexidade” (SFO resources must be focussed on major and complicated fraud.”).

Finalmente, e fora os casos de iniciativa do próprio SFO, a maioria dos casos investigados por esta autoridade são-lhe remetidos por entidades policiais, ou por departamentos e entidades reguladoras (Department for Business, Enterprise and Regulatory Reform, HM Revenue & Customs, Financial Services Authority) quando os mesmos forem suficientemente graves ou complexos.

(Miguel Almeida Motta)

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INTENDÊNCIA



Os Estudos sobre o Comunismo estão em actualização. Iniciou-se uma série de notas sobre o arquivo e papéis de Joaquim Barros de Sousa, com a publicação dos materiais gráficos do III Congresso da Oposição Democrática, em 1973



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REFLEXÕES SOBRE O JORNALISMO (4)
A PROPÓSITO DAS IRRITAÇÕES PROVOCADAS PELO ÍNDICE DO SITUACIONISMO

(Ver parte 1, 2, 3. )

Vários problemas se acrescentam a este ponto de partida: um, o pack journalism, a tendência para os jornalistas partilharem, seguirem, como rebanho, como pack, uma opinião comum, forjada entre eles, partilhada entre eles. Se A, B e C disserem que um discurso de Sócrates foi bom, D tende a não dizer que foi mau, mesmo que ache que não foi assim tão bom. Isso explica a similitude dos jornais, rádios e televisões numa apreciação comum que passa por ser objectiva apenas porque aparenta ser partilhada por todos. Como os elementos para o julgamento individual de leitores, ouvintes, telespectadores não estão muitas vezes disponíveis, porque são meros “factos” que este tipo de "jornalismo" opinativo despreza, o que passa, a “mensagem”, é uma versão seleccionada para confirmar a opinião do jornalista, com exclusão do que a contraria. Daqui resulta um efeito de manipulação e um empobrecimento do espaço público. Uma das razões porque uma elite mais informada tecnologicamente prefere aceder directamente à informação em bruto ou a universos muito diversificados de opinião em Rede, é porque o "jornalismo" de opinião gerou um efeito de pensamento único, muito subordinado ao "politicamente correcto" em geral e ao "politicamente correcto" da classe, ou de grupos da classe, ou dos blogues dos grupos da classe.

(Continua.)

*
O que refere como pack journalism não é senão uma entre outras variadíssimas formas de conformismo social. Os primeiros estudos têm cinquenta anos são engenhosos e devem-se a Solomon Asch (1951) (para primeira abordagem rápida ver aqui. ). Qualquer aluno de Psicologia os conhece a partir do primeiro ou segundo ano de Faculdade. O que é grave é que em certas profissões o conformismo pode reverter em erro técnico (por ex. nos médicos ou nos engenheiros) com consequências importantes (é a vida ou o bem estar de alguém que pode
estar em causa) que podem redundar em sanção grave. No jornalismo será mera opinião publicada - quer dizer não há verdadeira accountability profissional.

Asch, S. E. (1951). Effects of group pressure upon the modification and distortion of judgment. In H. Guetzkow (ed.) Groups, leadership and men. Pittsburgh, PA: Carnegie Press em português ver Vala & Monteiro (2006) Psicologia Social. Lisboa: Gulbenkian.

(Miguel Oliveira)

*

Em complemento ao texto enviado pelo seu leitor Miguel Oliveira, venho sugerir a leitura do texto sobre o mesmo assunto publicado hoje no blogue De Rerum Natura.

(José Carlos Santos)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: PARA ENTENDER O CASO FREEPORT



(1)

Vou-lhe explicar, com um exemplo paralelo, para que serve alterar uma lei à posteriori de um facto que fica legitimado por ela.

O fisco, em 2008, e relativamente às declarações de rendimentos de 2007, decidiu assumir uma interpretação do código do IRS que o viola. Concretamente, o nº 6 do artº. 28, que estipula em que condições um profissional liberal deixa de se enquadrar no Regime Simplificado, e passa a ter de ter Contabilidade Organizada. Segundo esse artigo, a tal mudança de enquadramento contabilístico acontece se se ultrapassar determinado limite de rendimento por dois anos consecutivos.

Ora o fisco (Direcção de IRS) acha que basta que o aludido limite de rendimento seja ultrapassado uma única vez para que a mudança de enquadramento se verifique, se o ano em que isso ocorrer tiver sido 2006. Baseia-se para isso na invocação de argumentos administrativos.

O resultado desta interpretação é poder o fisco aplicar a taxa de IRS à totalidade dos rendimentos de 2007, sem possibilidade de dedução de despesas, que no Regime Simplificado eram assumidas, sem necessidade de registo, como tendo sido de 30%. Ou seja, supondo que a taxa de IRS a aplicar seja de 42%, com esta interpretação o fisco candidata-se a 42% dos rendimentos auferidos, e não aos 42% de 70% (29.4%) a que teria direito por lei.

Acontece que não haverá muita gente nesta situação, mas alguns dos que há são fiscalistas conceituados e influentes (talvez eu seja o único engenheiro nessa situação). Tanto quanto sei, também, eu serei talvez o único que decidiu afrontar o Estado pelas vias legais. Os fiscalistas, e porque, como já aprendi, não querem cair em desgraça perante o Estado que é o seu principal cliente e/ou padrinho, optaram por outras vias, mais de corredor. E entre essas vias, está uma subtil alteração ao texto do tal nº 6 do artº 28 do código do IRS contida no OE de 2009 recentemente aprovado.

Essa alteração, provavelmente inspirada por algum dos tais fiscalistas e talvez até sem consciência dos governantes que mandam no fisco, acrescenta, ao texto pré-existente, uma só palavra: “apenas”. Fica, portanto, legislado que a tal mudança de enquadramento contabilístico acontece apenas se se ultrapassar determinado limite de rendimento por dois anos consecutivos. O que resolve definitivamente a querela com o fisco.

Simplesmente, esta nova redacção da lei só é válida para 2009 e futuro. Qual o interesse, então, para os casos passados em anos anteriores? É aqui que o caso tem uma semelhança formal com o da aprovação da alteração dos limites da zona protegida de Alcochete.

Como me explicou o meu advogado, o interesse desta nova redacção da lei é que, perante uma discussão em Tribunal de qual a interpretação adequada da lei existente antes de 2009, havendo dúvidas a invocação da redacção posterior serve como clarificação do significado eventualmente ambíguo do que estava escrito antes. E, portanto, desta forma, uma lei posterior a determinado acto pode acabar por ser aplicada a esse acto.

(2)

Já agora, e para que o paralelismo fique absolutamente claro: a razão invocada para a lei que alterou a zona protegida de Alcochete é que a definição dos limites anteriores continha “erros técnicos e imprecisões”.

Imagine que alguém (a Quercus, por exemplo), vinha a processar os proprietários do empreendimento, com base em que parte deste (a tal zona A) violava os limites da zona protegida. Estes invocariam que isso era uma questão de interpretação de quais eram esses limites, e diriam que os vigentes na altura eram ambíguos por conterem “erros técnicos e imprecisões”, e que a sua interpretação era a de que o empreendimento estava todo fora dos limites. Aliás, só uma parte estava em causa, a “zona A”…

A Quercus diria que a sua interpretação era a contrária, mas não poderia negar que havia “erros técnicos e imprecisões” na lei anterior. Como resolver então a ambiguidade criada por tais erros, sobre a existência dos quais haveria consenso?

Invocando precisamente a lei que os corrigira e que, por acaso, claramente incluiu a tal zona A do empreendimento fora da zona protegida…

(José Luís Pinto de Sá)

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REFLEXÕES SOBRE O JORNALISMO (3)
A PROPÓSITO DAS IRRITAÇÕES PROVOCADAS PELO ÍNDICE DO SITUACIONISMO

Hoje os jornalistas, por regra, dão pouca importância às notícias, à factualidade, que acham um trabalho menor, em detrimento de um "jornalismo" cheio de opiniões próprias e subordinado às opiniões, àquilo que o jornalista "gosta" ou não "gosta" e que passa por ser interpretação. Os jornalistas pensam que é um upgrade. Colocam-se no mesmo terreno dos comentadores, colocam-se no mesmo terreno dos políticos, colocam-se no mesmo terreno de todos os que interferem com causas e interesses no espaço público e que são um elemento fundamental desse processo em democracia. Mas não é jornalismo.

(Continua.)

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (23):
A QUESTÃO FREEPORT NA COMUNICAÇÃO SOCIAL (13)



A falta de vergonha dos responsáveis da RTP atinge hoje as raias do inadmissível. No dia em que surgem as informações mais comprometedoras para o Primeiro-Ministro sobre o caso Freeport, aquelas que realmente indiciam uma conexão directa de Sócrates como suspeito no caso, eis que a nossa garbosa estação pública, no seu site, se sai com esta pérola: "Imprensa coloca Sócrates entre suspeitos da polícia britânica". Como?!! Será que os responsáveis por isto na RTP continuarão impunes depois disto?

(Paulo Almeida)

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REFLEXÕES SOBRE O JORNALISMO (2)
A PROPÓSITO DAS IRRITAÇÕES PROVOCADAS PELO ÍNDICE DO SITUACIONISMO

Nos últimos anos, os jornalistas tem vindo a misturar informação e opinião ou, como muitas vezes se diz, de uma forma que permite muita confusão, "interpretação". Ainda recentemente, o provedor do Diário de Notícias defendeu um jornalismo "interpretativo", em contraposição a um jornalismo que repete as agências noticiosas. É um ponto de vista legítimo que pode e deve ser discutido, mas implica muitos outros condicionamentos que nem sempre os jornalistas da escola da “interpretação” estão dispostos a ter, um dos quais é a obrigação de transparência editorial, da afirmação pública de interesses e causas do jornal em causa. A imprensa anglo-saxónica tem essa tradição, sendo que mesmo tendo-a, é muito menos “interpretativa” e muito mais noticiosa no sentido restrito, do que a portuguesa, onde a “interpretação” oculta quase sempre a notícia, ou seja é má “interpretação” e má “notícia”.

(Continua)

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REFLEXÕES SOBRE O JORNALISMO (1)
A PROPÓSITO DAS IRRITAÇÕES PROVOCADAS PELO ÍNDICE DO SITUACIONISMO

A distinção entre comentário / opinião e o jornalismo é das mais importantes dos dias de hoje. Quando emito uma opinião, é a minha opinião. Pode ser mais ou menos fundada, mais ou menos informada, mais ou menos interessante para os outros, mas é uma opinião, não pretende ser uma notícia. Pode conter uma notícia, pode ter valor noticioso, mas o seu objectivo principal é ser uma opinião. Precária como todas, que só vale o caminho que fizer no espaço público, sendo que esse caminho é o que denota influência. Não é a concordância ou a discordância. É o ter que se discutir aquilo e não outra coisa. E a opinião tem um nome e uma pessoa a assinar e a identificar, com tudo o que um nome e uma pessoa significam no espaço público. Uma opinião não engana ninguém, uma opinião disfarçada de "notícia" engana toda a gente.

(Continua)

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As mãos de Georgia O'Keeffe.

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (22):
A QUESTÃO FREEPORT NA COMUNICAÇÃO SOCIAL (12)



As capas são o melhor espelho visível da orientação editorial de um jornal. Ontem já vários jornais tinham deixado cair o caso Freeport da capa. Hoje era impossível evitá-lo, mesmo no caso mais óbvio de um jornal que sistematicamente o oculta e minimiza como o Jornal de Notícias. O mesmo jornal voltou hoje a remeter o caso para a tira cinzenta de cima, de onde ele só sai quando se trata de publicar títulos favoráveis a José Sócrates. Hoje entendeu que a constituição de um alto quadro do BPP como arguido é mais relevante do que as acusações da polícia inglesa ao Primeiro-ministro português. Critérios bem estranhos, mas que fazem com que o principal jornal do Porto e do Norte, entenda minimizar, isto para ser meigo, a importância do que se está a passar. Só se percebe por critérios mais políticos do que editoriais porque não deve haver um jornalista sobre a terra que não perceba a relevância deste caso.



Hoje o Público tem uma capa mais explicíta, abandonando uma postura excessivamente defensiva face a Sócrates. O Público sempre foi o jornal-alvo da agressividade do Primeiro-ministro e pelos vistos interiorizou uma atitude defensiva, que lhe tira vigor no tratamento noticioso, muitas vezes suplantado pelo mais situacionista Diário de Notícias. Hoje porém o Diário de Notícias tem uma capa destinada a proteger Sócrates.

Público -................ SITUACIONISMO - 4

Correio da Manhã - SITUACIONISMO - 3

Diário de Notícias - SITUACIONISMO +2

Jornal de Notícias - SITUACIONISMO +5

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© José Pacheco Pereira
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