ABRUPTO

7.8.09


COISAS DA SÁBADO: O REINO DA PEQUENA, GRANDE E MÉDIA MENTIRA

Embora haja filosofias da verdade, e todas as religiões vivam da Verdade, a verdade terrena é do domínio do não provado, do inverificável. Popper foi apenas um dos vários teóricos que escreveu sobre isso. Pelo contrário, a mentira é verificável e todas as humanas proposições podem e devem ser sujeitas a um critério de verificação, do qual saem como falsas mas nunca como verdadeiras. Mas se a verdade está assim tão longe de povoar a humana terra, nem por isso deixa de nela existir a vontade de verdade, matéria imperfeita, mas pura. Sim, o melhor que nos cabe é a vontade de verdade, não a verdade. Na filosofia e nos costumes. É a escola que prefiro, o branco de um preto que invade tudo, o da meia verdade, o da cosmética da mentira, o da ilusão programada, o da aparência, o do relativismo. É uma escola de vida, mas também uma escola da política. Diferentíssima no reino das pequenas, médias e grandes mentiras.

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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(António Leal)

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UM ATENTADO À LIBERDADE SEM SUCESSO


Ver aqui.

Com esta deliberação da Confederação Portuguesa dos Meios de Comunicação Social acabou a "directiva" da ERC que representava um objectivo atentado à liberdade dos órgãos de comunicação social e de todos aqueles que livremente materializam os seus critérios editoriais e o interesse do seu público:
A confederação das empresas de comunicação social considerou hoje "inadmissível" a suspensão das colaborações na imprensa de comentadores que são candidatos eleitorais, defendida pelo regulador, e ordenou aos órgãos de informação que sigam os seus critérios jornalísticos.

Há uma semana, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) emitiu uma directiva que determina que os órgãos de informação "deverão suspender" a "participação e a colaboração" regulares com comentadores, analistas e colunistas que são candidatos às eleições legislativas de 27 de Setembro e autárquicas de 11 de Outubro, sempre que não esteja garantido espaço para todas as candidaturas se exprimirem.

A orientação, que não é vinculativa, visa "assegurar a igualdade de oportunidades de acção e propaganda das candidaturas" durante as pré-campanhas e campanhas eleitorais.

Em comunicado, a Confederação Portuguesa dos Meios de Comunicação Social, que agrega mais de 600 empresas, sustenta que, "não sendo a directiva vinculativa nos termos da lei, os órgãos de comunicação social não estão obrigados a cumpri-la, devendo cumprir as normais legais contratuais em vigor e seguir os seus próprios critérios jornalísticos, com respeito pelos estatutos editoriais".

A Confederação considera a recomendação da ERC "uma interferência inadmissível na liberdade editorial" dos órgãos de informação e na "liberdade de imprensa, valor fundamental para a democracia, constitucionalmente reconhecido".

O organismo entende que a directiva do regulador "interfere, igualmente, na liberdade de contratação, 'impondo' limites à prestação de trabalho, ao sugerir a suspensão de 'colaboradores regulares em espaço de opinião' menosprezando o quadro constitucional em vigor".

A mesma nota conclui que a orientação da ERC, que invoca critérios de "boas práticas" de "justificação subjectiva e pouca fundamentada", se intromete "numa área da competência habitual da Comissão Nacional de Eleições".

A directiva da Entidade Reguladora para a Comunicação Social já havia sido contestada, em declarações à agência Lusa, por directores de informação de jornais, rádios e televisões, que advogaram que a suspensão das colaborações de comentadores, analistas ou colunistas candidatos comprometia os critérios jornalísticos, o debate político e o esclarecimento da opinião pública.

Embora reconhecendo condicionamentos à actividade editoral dos órgãos de informação, o presidente da ERC, José Azeredo Lopes, justificou a directiva com o respeito pelo princípio constitucional de igualdade de oportunidades das candidaturas. (Público)


A Quadratura do Círculo, sucessora do Flashback, na rádio e na televisão, tem mais de vinte anos e é o programa de discussão política mais antigo dos media portugueses. Atravessou várias eleições com situações muito diversas dos seus intervenientes, que participaram sempre no programa pela sua individualidade e não por qualquer condição, rateio ou equilíbrio político. Todos os seus intervenientes defenderam sempre este carácter único do programa, em grande parte responsável pelo seu sucesso e longevidade. Pela Quadratura do Círculo, fundada por Emídio Rangel na TSF, passaram para além de mim próprio, Vasco Pulido Valente, José Magalhães, Miguel Sousa Tavares, Nogueira de Brito, Lobo Xavier, Jorge Coelho, António Costa, Carlos Andrade e o próprio Emídio Rangel. Já teve entre os seus participantes independentes, deputados do PCP, PS, PSD e CDS, um membro do governo no exercício de funções, gente umas vezes próxima da direcção do seu partido, outras vezes afastada, nenhuma nessa qualidade, nenhum escondendo essa qualidade. O público da Quadratura do Círculo é adulto e vacinado e manteve-se sempre fiel ao programa.

Em várias eleições, havia candidatos no programa e não candidatos, e isso nunca foi problema nem para o programa, nem para os órgãos de comunicação social em que passou (TSF e SIC), nem para os seus ouvintes e telespectadores. A Quadratura do Círculo foi sempre sujeita a pressões, mas nunca tinha sido tão posta em causa na sua identidade do que pelas medidas autoritárias, administrativas e "reguladoras" da ERC. A atitude de resistência contra esta intromissão abusiva da ERC na liberdade editorial da Confederação Portuguesa dos Meios de Comunicação Social, numa altura em que do lado do governo e do estado existe uma ofensiva regulamentadora, é um sinal muito positivo nestes tempos difíceis para a liberdade.

Eu sempre combati a existência de entidades como a ERC. No passado, defendi a extinção da Alta Autoridade para a Comunicação Social e votei vencido em várias circunstâncias sobre a sua existência. Continuarei a defender a extinção da ERC, ainda mais convencido da razão dessa atitude por "directivas" como esta.

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COISAS DA SÁBADO: O PROGRAMA

Há quatro anos o PS apresentou o seu programa mesmo em vésperas de eleições. Não havia então a discussão, sempre inconclusiva, sobre as datas óptimas para apresentar os programas, (um remake da discussão sobre o “atraso” na apresentação dos candidatos para o PE), que agora grassa, à falta de melhor , soprada pelo PS.

Na verdade, para além desta discussão escolástica e inútil, - claro que PS, PSD, PCP, BE e tutti quanti irão apresentar os programas em tempo útil, - valia mais a pena lembrar o que aconteceu ao programa sufragado nas eleições de 2005. Porque, um dos efeitos perversos ou pretendidos nesta pseudo-discussão, é ela esconder a necessidade de se fazer um balanço sobre a governação do PS e a sua relação com o programa de 2005 e as afirmações e promessas de campanha. E aí é que tudo se torna mais complicado e se lança uma luz de irrealidade e ficção sobre o programa actual do PS.

É que duas coisas são esquecidas nesta discussão, que seria inteiramente fútil se não fosse interessada. Uma é que o PS actuou de forma diametralmente oposta àquela com que orientou o seu programa e a sua campanha de 2005, outra é que a concepção do que é um programa eleitoral é muito diferente no PS e no PSD.

O PS fez campanha em 2005 a favor do abandono da “obsessão pelo deficit”, prometendo empregos e baixa de impostos, num tom desenvolvimentista e de investimento público contra o “discurso da tanga”. Este era também o tom do candidato do PSD, Santana Lopes, que também se demarcava da “obsessão pelo deficit”. Depois, José Sócrates fez exactamente o oposto ao que prometeu na campanha eleitoral e, nalguns aspectos, ainda bem. Não hesitou, logo que o Banco de Portugal lhe deu o pretexto, meteu o programa e as promessas dos cartazes no saco, e passou a partidário da “obsessão pelo deficit”. Por isso, é preciso ter muito cuidado com os programas quando eles são uma lista de promessas, em que cada dia acordamos com mais uma nas notícias da manhã.

É por isso, que a diferença com o PS também deve ser na concepção do programa. Em vez de listas de promessas, as coisas que devem ser feitas de imediato, a seis meses, a dois anos, para consertar o país. Poucas promessas, mas linhas de diferença claras que orientam decisões alternativas. Contrariamente ao que o PS diz, durante um ano existiram propostas alternativas quanto ao apoio social na crise, à luta contra o desemprego, ao apoio á pequenas empresas, aos grandes projectos, ao controlo do deficit público. Dos Certificados de Aforro aos PIN sabe-se o que deve ser feito. O resto, mesmo que algumas coisas não estejam muito bem, mais vale deixar estar como está, gerir o melhor possível, para que haja um esforço de concentração no que é mais importante: fazer de novo Portugal crescer. Um programa que diga cinco medidas de fundo, que são realmente para cumprir, é melhor do que um com cem medidas para encher olho.

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"Livros a mais" na Sábado em linha.

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6.8.09


EARLY MORNING BLOGS

1608


(Padre Manuel Bernardes)

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5.8.09

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(António Leal)

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EARLY MORNING BLOGS

1605 - On the Freedom of the Press

While free from Force the Press remains,
Virtue and Freedom chear our Plains,
And Learning Largesses bestows,
And keeps unlicens'd open House.
We to the Nation's publick Mart
Our Works of Wit, and Schemes of Art,
And philosophic Goods, this Way,
Like Water carriage, cheap convey.
This Tree which Knowledge so affords,
Inquisitors with flaming swords
From Lay-Approach with Zeal defend,
Lest their own Paradise should end.

The Press from her fecundous Womb
Brought forth the Arts of Greece and Rome;
Her offspring, skill'd in Logic War,
Truth's Banner wav'd in open Air;
The Monster Superstition fled,
And hid in Shades in Gorgon Head;
And awless Pow'r, the long kept Field,
By Reason quell'd, was forc'd to yield.

This Nurse of Arts, and Freedom's Fence,
To chain, is Treason against Sense:
And Liberty, thy thousand Tongues
None silence who design no Wrongs;
For those who use the Gag's Restraint,
First Rob, before they stop Complaint.

(Benjamin Franklin)

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4.8.09

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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EARLY MORNING BLOGS

1604 - My Hundred Books

A thousand books my library
Contains;
And all are primed, it seems to me
With brains.
Mine are so few I scratch in thought
My head;
For just a hundred of the lot
I've read.

A hundred books, but of the best,
I can
With wisdom savour and digest
And scan.
Yet when afar from kin and kith
In nooks
Of quietness I'm happy with
Sweet books.

So as nine hundred at me stare
In vain,
My lack I'm wistfully aware
Of brain;
Yet as my leave of living ends,
With looks
Of love I view a hundred friends,
My books.

(Robert Service)

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3.8.09


NUNCA É TARDE PARA APRENDER: A VENATIO LIBRORUM

Este é um livro só para amadores da coisa. A coisa é aquilo a que o autor chama a venatio librorum, a caça aos livros, neste caso os livros quinhentistas e seiscentistas, de que Pina Martins é um praticante exímio tendo conseguido reunir uma preciosa livraria pessoal sem paralelo em Portugal. Estamos a falar de uma caça cara e rara que pode andar por volta das centenas de milhares de euros por volume e muita sorte, muita sorte, sequer em ver tão esguios e fugidios animais a passar pelas mãos de um livreiro, ou pelas páginas de um leilão francês ou inglês.

Pina Martins, o senhor académico mais respeitável que se possa imaginar, que se fotografa no livro de traje académico e segurando um volume ricamente encadernado (e com que volúpia se fala das encadernações...), chega junto aos livros que quer e parece um voyou. Confessa que, num leilão, fez correr que um exemplar que queria arrematar não era perfeito, a ver se não tinha competição e o preço baixava e que hesitou em devolver um livro na biblioteca de Poitiers que lhe fora emprestado com ligeireza e que deveria estar na Reserve precieuse ... e muitos outros truques do ofício. E bateu, metaforicamente claro, em si próprio, quando se ofereceu para avaliar um livro que lhe tinha sido proposto barato e que foi depois tido como raríssimo e centenas de vezes mais caro.

Que faz Pina Martins nestes textos? Primeiro traz um gosto erudito, - a erudição é que é a verdadeira fonte da loucura, - pelos grandes humanistas da Renascença: Erasmo, Pico della Mirandola, Moore, e pelos seus livros, texto e objecto. Depois acrescenta o conhecimento aprofundado da edição renascentista, a começar pelo mestre Aldus Manucio, e a continuar por várias edições cujas datas e locais ele conhece de cor ao ponto de conseguir assim identificar edições que nunca tinham sido recenseadas em qualquer bibliografia, como é o caso de uma edição lisboeta de Garcilaso de Vega.

Neste livro, Pina Martins faz umas pequenas vinhetas à volta de um livro ou um manuscrito, o modo como o procurou, encontrou, comprou, perdeu ou vendeu, sempre num tom a roçar uma mansa loucura agravada pelas idiossincrasias narrativas do autor. Por exemplo, Lisboa é Ulisseia e Paris, Lutécia dos Parísios, e os alfarrabistas (ou melhor os livreiros-antiquários) toda uma fauna bizarra que habita lugares que são identificados ou por arcaísmos ou por latinismos e que tem sempre um "gabinete" obscuro de onde saem preciosidades, ou uma gaveta que se abre magicamente mostrando uma edição aldina. Primeiro estranha-se e depois se entranha, tanto mais que tudo aquilo parece um mundo já perdido pelo tempo, como no relato que tem de várias conversas com o seu amigo e bibliófilo Eugenio Asensio. Imaginem dois senhores de idade, passeando pelo Guincho, passando por várias raparigas "peripatéticas", a discutir Camões , Sá de Miranda e Lope de Vega... Depois Pina Martins fala com os livros e ouve os livros falarem com ele, o que , convenhamos, como eu ainda não o consegui apesar dos meus esforços, me parece um pouco para lá do sério. Por fim, ele também pensa que os livros reconhecem os seus verdadeiros amantes e que regressam sempre aos seus braços, mesmo depois de turbulentas traições, o que não é ciência exacta.

Eu gosto de ler livros como este, embora seja em si mesmo um livro muito especial, onde no meio da sua leitura me pergunto muitas vezes sobre quem é mais louco, quem escreve, ou quem lê tão estranho e extravagante produto.

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EARLY MORNING BLOGS

1603 - A mis soledades voy (fragmento)

(...)

Dos polos tiene la tierra,
universal movimiento;
la mejor vida el favor,
la mejor sangre el dinero.

Oigo tañer las campanas,
y no me espanto, aunque puedo,
que en lugar de tantas cruces
haya tantos hombres muertos.

Mirando estoy los sepulcros
cuyos mármoles eternos
están diciendo sin lengua
que no lo fueron sus dueños.

¡Oh, bien haya quien los hizo,
porque solamente en ellos
de los poderosos grandes
se vengaron los pequeños!

Fea pintan a la envidia,
yo confieso que la tengo
de unos hombres que no saben
quién vive pared en medio.

Sin libros y sin papeles,
sin tratos, cuentas ni cuentos,
cuando quieren escribir
piden prestado el tintero.

Sin ser pobres ni ser ricos,
tienen chimenea y huerto;
no los despiertan cuidados,
ni pretensiones, ni pleitos.

Ni murmuraron del grande,
ni ofendieron al pequeño;
nunca, como yo, afirmaron
parabién, ni pascua dieron.

Con esta envidia que digo
y lo que paso en silencio,
a mis soledades voy,
de mis soledades vengo.

(Lope de Vega)

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2.8.09


ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)



Cabo Sardão. (RM)








Cabo Espichel (LR)



(Carlos Oliveira)

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UM ATENTADO À LIBERDADE



ACTUALIZAÇÃO: novos comentários e carta de Estrela Serrano da ERC.

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EARLY MORNING BLOGS

1602 - A mis soledades voy (fragmento)

No me precio de entendido,
de desdichado me precio,
que los que no son dichosos,
¿cómo pueden ser discretos?

No puede durar el mundo,
porque dicen, y lo creo,
que suena a vidrio quebrado
y que ha de romperse presto.

Señales son del jüicio
ver que todos le perdemos,
unos por carta de más
otros por cartas de menos.

Dijeron que antiguamente
se fue la verdad al cielo;
tal la pusieron los hombres
que desde entonces no ha vuelto.

En dos edades vivimos
los propios y los ajenos:
la de plata los extraños
y la de cobre los nuestros.

¿A quién no dará cuidado,
si es español verdadero,
ver los hombres a lo antiguo
y el valor a lo moderno?

Dixo Dios que comería
su pan el hombre primero
con el sudor de su cara
por quebrar su mandamiento,

y algunos inobedientes
a la vergüenza y al miedo,
con las prendas de su honor
han trocado los efectos.

Virtud y filosofía
peregrina como ciegos;
el uno se lleva al otro,
llorando van y pidiendo.

(...)

(Lope de Vega)

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1.8.09


UM ATENTADO À LIBERDADE



ACTUALIZAÇÃO: novos comentários e carta de Estrela Serrano da ERC.

Se as pessoas forem capazes de deixar de lado os seus inimigos de estimação e a "camisola" da partidarização, que hoje vai muito mais longe do que os partidos, combateriam de imediato a "directiva" da ERC como um dos atentados maiores à liberdade de informação, à liberdade editorial (e os órgãos de comunicação social privada não se regem pela fita métrica do "serviço público", que aliás a viola todos os dias a favor do governo), ao debate público. Se os órgãos de comunicação social e os jornalistas forem capazes de distinguir o principal do secundário, idem.

Mas não só: esta resolução favorece o poder que existe, ela vai calar críticas à governação e permitir que se continue a fazer propaganda todos os dias sob a forma de passagens "normais" nos noticiários, muito mais importantes para a manipulação da opinião pública do que artigos de opinião ou a participação em debates em órgãos de comunicação. Com o modus operandi e o pensamento autoritário, burocrático e regulador da ASAE da comunicação social que é hoje a ERC, esta medida é apenas mais uma num caminho de normativização burocrática da liberdade de opinião, da liberdade. A seu tempo passar-se-á para os blogues, para os autores de programas de governo mesmo que não candidatos, para os futuros putativos candidatos, passará da contabilidade dos candidatos às eleições para os seus apoiantes ou para qualquer pessoa que manifeste uma opinião qualquer que possa ser tida como alinhada num período eleitoral. A seu tempo chegará aos signatários de qualquer abaixo assinado a favor de um candidato, às suas Comissões de Honra, aos apoiantes com relevo público, a Saramago, Mário Soares, José Miguel Júdice, etc. Abram a porta e vão ver quantos cabem por ela, incluindo jornalistas, que têm todo o direito de participação cívica.

A ideia que o alinhamento político+exposição pública (na televisão em particular) deturpa a igualdade que o PS ou o PSD ou o PCP possam ter com o POUS, comporta todas as ideias erradas sobre comunicação que se possa ter e implica uma visão da sociedade e da política estatizante, burocrática e iliberal. Pelas normas da ERC, Obama e McCain nunca poderiam ter um debate entre si, sem ter ao lado mais cinquenta pequenos candidatos às eleições presidenciais. Numa democracia não é possível garantir uma participação milimétrica de todas as forças políticas no espaço público, nem isso é por si só democrático. Numa ditadura é possível, a favor do partido do poder e dos seus companheiros de estrada.

Se estivéssemos em tempos de coragem, os órgãos de comunicação social contestariam por todos os meios esta "directiva" e não a aceitariam, mesmo arcando com as consequências. O que está em causa é a liberdade editorial da comunicação social, a existência de critérios jornalísticos, por contestáveis que sejam, o interesse público e o interesse do público, a pura e simples liberdade sem mais nada. Esta é uma boa causa.
NOTA por causa da reinante má fé: é verdade que participo num programa em que também participa António Costa, que aliás já tinha decidido afastar-se durante o período da campanha eleitoral. Como também não custa compreender, pelo que se escreve e se "ilustra" nos jornais, a Quadratura do Círculo, é provavelmente o alvo principal desta "directiva" e duvido muito que seja pela presença de António Costa. Aliás, nunca me passou pela cabeça lembrar que Pedro Santana Lopes, que tem igualmente participação regular em órgãos de comunicação social, pudesse ser posto em causa na sua liberdade de continuar a tê-los, liberdade essa que defenderei sem ambiguidades. A Quadratura do Círculo, com o seu papel no debate público, com as suas audiências, sempre foi um alvo apetecido por todos os que com ela se sentem incomodados. A ERC tomou para si essas dores.
Confesso que nunca percebi os ataques à Quadratura do Círculo por causa da presença de António Costa. Se Marcelo Rebelo de Sousa, por exemplo, fosse candidato a algum cargo, aí ainda conseguia perceber; ele brilha sozinho no programa dele. Mas na Quadratura do Círculo os comentadores não estão sós. Cada um sabe que qualquer ideia que possa emitir pode (e geralmente é) criticada pelos outros participantes, que são de outras áreas políticas.

(José Carlos Santos)

*

Subscrevo inteiramente.

Este tem sido o papel que o governo de Sócrates lhe atribuiu e que a ERC tem cumprido paulatinamente: procurar meios de limitar a liberdade dos media, dos seus jornalistas, críticos e comentadores. Esses meios passam por uma carapaça pseudo-científica e legalista, que não só é prejudicial para liberdade como para o trabalho meritório e não enviesado dos cientistas sociais que recorrem a metodologias qualitativas e quantitativas na análise dos media (não em decisões administrativas, como se arroga a ERC).

A maioria governamental da ERC vai procurando limitar as liberdades de informar e opinar a coberto de leis, decretos-leis e directivas e ainda de relatórios pseudo-científicos que são arrasados por especialistas do mundo académico. Seria importante, além da repulsa pública por parte dos media, que a legitimidade administrativa invocada pela ERC para nos limitar o que o 25 de Abril nos devolveu, pudesse também ser verificada pelo Tribunal Constitucional: pode a ERC limitar a liberdade de informação e de opinião tal como propõe esta "directiva" de sabor a bafio pré-25 de Abril?

(Eduardo Cintra Torres)

*

Pela lógica subjacente à directiva da ERC sobre a “igualdade de oportunidades” durante o período eleitoral, o governo deveria demitir-se e ser substituído por um governo de coligação entre todos os partidos candidatos às legislativas ou, em alternativa, por um governo de independentes.

(Pedro Bandeira)

*

Caro Dr. Pacheco Pereira

Considero espantoso e interessante o incitamento ao desrespeito da Constituição e da lei que faz aos jornalistas e, indirectamente, aos membros da classe política, a propósito da Directiva da ERC sobre as campanhas eleitorais.

Num País onde muitos acusam os órgãos reguladores de não regularem e em que o espaço público mediático é estreito e “aristocrático” - no sentido em que a ele têm acesso apenas certas elites, algumas das quais opinando ao mesmo tempo em jornais, rádios e televisões - é no mínimo incoerente que seja o Dr. Pacheco Pereira, porventura o actor político com maior presença no espaço mediático (independentemente do seu mérito, que é muito), a não aceitar o princípio constitucional e legal que assiste a todos os candidatos a eleições de, em período eleitoral, disporem de igualdade de oportunidades no acesso aos media.

É uma estranha concepção da democracia e da liberdade a que revela no seu post, ao classificar como “um dos atentados maiores à liberdade de informação [e] à liberdade editorial” (!) o facto de o órgão regulador dos media adoptar uma Directiva sobre o cumprimento desse princípio de igualdade de oportunidades dos candidatos e das candidaturas em espaços de opinião (debates, entrevistas, comentários).

Mas o seu post incorre, além do mais, em omissões e equívocos. Por um lado, ignora que a liberdade editorial e os critérios jornalísticos não são absolutos e que em período eleitoral os critérios jornalísticos não podem sobrepor-se ao princípio da igualdade de oportunidades e da não discriminação entre candidatos. Por outro, esquece que esse princípio se aplica a todos os órgãos de comunicação social e não apenas ao operador de serviço público. Parece, ainda, confundir o direito que assiste aos media privados para, de forma transparente, manifestarem, se assim o entenderem, apoio a um partido ou candidato (que não é prática comum em Portugal embora exista noutros países europeus) com o dever, que sempre lhes incumbe, de conferirem a todos os candidatos e candidaturas um tratamento jornalístico não discriminatório, incluindo, portanto, a igualdade de acesso aos media.

O Dr. Pacheco Pereira defende um critério, no mínimo, redutor de classificação dos candidatos, dividindo-os entre candidatos de “primeira” e candidatos de “segunda”. Aos primeiros, confere (exige) acesso aos espaços “nobres” da opinião e do comentário; aos segundos, aceita que lhes sejam reservados alguns minutinhos nos telejornais (de menor audiência, adivinha-se, para não “roubarem tempo” aos candidatos de “primeira”, os que, em sua opinião, verdadeiramente contam). Tomando como exemplo a hipótese de o Dr. Pacheco Pereira ser candidato a uma autarquia, será que acharia que os concorrentes a essa mesma autarquia não teriam, se o desejassem, direito de usufruir de espaços de comentário equivalentes aos seus?

Mesmo correndo o risco de o ouvir dizer que “a liberdade editorial está posta em causa” (!) não posso concordar com os seus critérios de “graduação” de candidatos e candidaturas.

Diz também no seu post que o “alvo principal desta "directiva" é a Quadratura do Círculo (um dos seus espaços semanais de intervenção) mas, depois, confrontado com a sua própria contradição (afirma também que Directiva “favorece o poder actual”), duvida ”que seja pela presença de António Costa”. Afinal, em que ficamos? Bem sei que lhe é difícil aceitar (mesmo com os factos à vista) que a ERC não se move por critérios político-partidários. Mas há-de concordar que o seu argumento é um estereótipo politicamente correcto.

Também ao contrário do que afirma, nada impede que um “Obama” português possa ter um debate com um “McCain” português, “sem ter ao lado mais cinquenta pequenos candidatos”, porque, como diz o ponto 6 da Directiva, “no que se refere a debates e entrevistas, sempre que estes ocorram, deverá ser assegurada a presença, ainda que não necessariamente simultânea, de representantes de todas as candidaturas”. Faz toda a diferença, como vê.

No fundo, o Dr. Pacheco Pereira não acredita na capacidade de directores e editores alargarem os espaços de debate e comentário a outros actores (candidatos ou membros das candidaturas), para além dos que já têm entrada nesses espaços. É uma convicção elitista e conservadora que não encontra sustento na realidade, desde logo por não ter em conta a deslocação da Internet para os media tradicionais e para os partidos políticos de figuras até há pouco mal conhecidas ou mesmo desconhecidas. É que a Directiva da ERC não estreita o espaço público mediático. Ao contrário, alarga-o a outros (candidatos ou representantes de candidaturas).

Tenho, pois, de concluir que o Dr. Pacheco Pereira não leu a Directiva até ao fim e viu nela apenas mais uma oportunidade para bramar contra a ERC. Aliás, faça a ERC o que fizer sempre, na opinião do Dr. Pacheco Pereira, será para favorecer o Governo. É o seu direito à opinião. Admiradora que sou da sua inteligência leio o seu post como fruto de uma reacção impulsiva.

Cordialmente,

Lisboa, 2 de Agosto de 2009

Estrela Serrano

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1601 - A mis soledades voy (fragmento)

A mis soledades voy,
de mis soledades vengo,
porque para andar conmigo
me bastan mis pensamientos.

¡No sé qué tiene la aldea
donde vivo y donde muero,
que con venir de mí mismo
no puedo venir más lejos!

Ni estoy bien ni mal conmigo;
mas dice mi entendimiento
que un hombre que todo es alma
está cautivo en su cuerpo.

Entiendo lo que me basta,
y solamente no entiendo
cómo se sufre a sí mismo
un ignorante soberbio.

De cuantas cosas me cansan,
fácilmente me defiendo;
pero no puedo guardarme
de los peligros de un necio.

El dirá que yo lo soy,
pero con falso argumento,
que humildad y necedad
no caben en un sujeto.

La diferencia conozco,
porque en él y en mí contemplo,
su locura en su arrogancia,
mi humildad en su desprecio.

O sabe naturaleza
más que supo en otro tiempo,
o tantos que nacen sabios
es porque lo dicen ellos.

Sólo sé que no sé nada,
dijo un filósofo, haciendo
la cuenta con su humildad,
adonde lo más es menos.

(...)

(Lope de Vega)

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© José Pacheco Pereira
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