ABRUPTO

7.8.09


COISAS DA SÁBADO: O PROGRAMA

Há quatro anos o PS apresentou o seu programa mesmo em vésperas de eleições. Não havia então a discussão, sempre inconclusiva, sobre as datas óptimas para apresentar os programas, (um remake da discussão sobre o “atraso” na apresentação dos candidatos para o PE), que agora grassa, à falta de melhor , soprada pelo PS.

Na verdade, para além desta discussão escolástica e inútil, - claro que PS, PSD, PCP, BE e tutti quanti irão apresentar os programas em tempo útil, - valia mais a pena lembrar o que aconteceu ao programa sufragado nas eleições de 2005. Porque, um dos efeitos perversos ou pretendidos nesta pseudo-discussão, é ela esconder a necessidade de se fazer um balanço sobre a governação do PS e a sua relação com o programa de 2005 e as afirmações e promessas de campanha. E aí é que tudo se torna mais complicado e se lança uma luz de irrealidade e ficção sobre o programa actual do PS.

É que duas coisas são esquecidas nesta discussão, que seria inteiramente fútil se não fosse interessada. Uma é que o PS actuou de forma diametralmente oposta àquela com que orientou o seu programa e a sua campanha de 2005, outra é que a concepção do que é um programa eleitoral é muito diferente no PS e no PSD.

O PS fez campanha em 2005 a favor do abandono da “obsessão pelo deficit”, prometendo empregos e baixa de impostos, num tom desenvolvimentista e de investimento público contra o “discurso da tanga”. Este era também o tom do candidato do PSD, Santana Lopes, que também se demarcava da “obsessão pelo deficit”. Depois, José Sócrates fez exactamente o oposto ao que prometeu na campanha eleitoral e, nalguns aspectos, ainda bem. Não hesitou, logo que o Banco de Portugal lhe deu o pretexto, meteu o programa e as promessas dos cartazes no saco, e passou a partidário da “obsessão pelo deficit”. Por isso, é preciso ter muito cuidado com os programas quando eles são uma lista de promessas, em que cada dia acordamos com mais uma nas notícias da manhã.

É por isso, que a diferença com o PS também deve ser na concepção do programa. Em vez de listas de promessas, as coisas que devem ser feitas de imediato, a seis meses, a dois anos, para consertar o país. Poucas promessas, mas linhas de diferença claras que orientam decisões alternativas. Contrariamente ao que o PS diz, durante um ano existiram propostas alternativas quanto ao apoio social na crise, à luta contra o desemprego, ao apoio á pequenas empresas, aos grandes projectos, ao controlo do deficit público. Dos Certificados de Aforro aos PIN sabe-se o que deve ser feito. O resto, mesmo que algumas coisas não estejam muito bem, mais vale deixar estar como está, gerir o melhor possível, para que haja um esforço de concentração no que é mais importante: fazer de novo Portugal crescer. Um programa que diga cinco medidas de fundo, que são realmente para cumprir, é melhor do que um com cem medidas para encher olho.

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© José Pacheco Pereira
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