ABRUPTO

7.10.06


VER A NOITE



Noite desigual. Agora.

(RM)

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COISAS DA SÁBADO: VERDADE E POLÍTICA

http://newsimg.bbc.co.uk/media/images/41548000/jpg/_41548116_gyurafp203b.jpgO Primeiro-Ministro húngaro num momento de catarse resolveu dizer que mentira aos seus concidadãos para ganhar eleições. Os seus eleitores, num momento de catarse, resolveram dizer que tinham acreditado nas mentiras e que se sentiam agora enganados pelo que querem o homem na rua. Todos os dilemas da política moderna nas democracias estão aqui presentes. Sem mentir, os políticos não ganham eleições, por regra. As excepções confirmam a regra. Sem serem voluntariamente enganados os eleitores não votam em ninguém. Vou acaso votar em alguém que me diz, na miséria em que eu estou, que vou ter que trabalhar mais, ou ganhar menos e não ter esperança tão cedo de a deixar? Nem pensar nisso, vou votar mas é no que parece saído da televisão, bem falante, bem parecido, que me acaricia o ouvido com o que eu quero ouvir. Que faz todas as rábulas do que eu desejo: se vivo em tempos inseguros, quero um duro e firme com o crime, se vivo num túnel, quero um que me fale do fim do túnel e da sua luz radiosa. Eu sei que ele me mente que é só teatro, mas é desse teatro que eu gosto, não me quebrem a ilusão, esse doce enlevo. Vai para a rua ó mentiroso húngaro!

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BIBLIOFILIA: QUANDO O MUNDO ERA SIMPLES



e pouco politicamente correcto.

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EARLY MORNING BLOGS

882 - ...nobody answers this bell!


There was an Old Man who said, 'Well!
Will nobody answer this bell?
I have pulled day and night,
Till my hair has grown white,
But nobody answers this bell!'

(Edward Lear)

*

Bom dia!


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6.10.06


O FUTEBOL COMO REPOSITÓRIO DOS BONS COSTUMES

http://www.apostolado.info/fotos/grandes/bola.gif
A última coisa que sou é um moralista e muito menos alguém que pense que as sociedades são assépticas, ou sequer que devam ser assépticas. Deve ser tenebroso viver num mundo inteiramente ordenado por curadores da moral pública, numa espécie de Singapura gigantesca policiada por patrulhas do vício, embora o crescente papel dos defensores da sharia vá nesse caminho e a cobardia ocidental lhes abra a porta. Mas exactamente por não ser moralista é que vejo com curiosidade entomológica (sim, de entomologia, "a ciência que estuda os artrópodes sob o aspecto morfológico e biológico e a sua relação com os outros seres vivos") o modo como na sociedade portuguesa as pessoas se relacionam com o futebol. E o modo como este fornece "exemplos de vida", propaganda pelos factos, modelos de comportamentos morais. Bons exemplos, não por serem bons, mas por serem eficazes.

Preciso duas coisas, neste terreno armadilhado com ácido fórmico: não é só em Portugal mas também noutros países, com graus diferentes conforme os mecanismos de socialização distintos, e não se aplica a toda a gente, mas à maioria da gente. Mais uma prevenção por causa do mesmo ácido: o fornecimento de exemplos sociais de malfeitorias não se limita ao futebol, também os políticos, as profissões liberais, os ricos, o jet set, os jornalistas, os artistas de variedades, etc., etc., contribuem. Só que o anátema social que de imediato os atinge é duro e fulminante, o que ainda torna mais reveladora a complacência com o futebol.

Este aspecto de "propaganda pelo exemplo", como diriam os anarquistas, é muito interessante, porque, numa sociedade com uma moral pública feita de bons costumes e respeitinho, ninguém se importa com os desmandos vindos desse exemplo de virtudes que é o mundo do futebol. Exactamente por não ser moralista - repito pela terceira vez - é que o que me parece revelador é a hipocrisia que esta atitude mostra e a forma como a circulação social dessa hipocrisia mostra a superficialidade desses bons costumes: dêem-lhes um campo de futebol, uma discussão de café, uma entrevista televisiva, uma chamada telefónica a fazer umas certas combinações, uma noitada de alterne, horas e horas a fio de conversa no emprego, um megafone na Internet, uma excitação de cachecol e lá vai a boa educação, a moralidade cristã, a cartilha do João de Deus, a prelecção da missa ao domingo, e só ficam os urros colectivos e a suave música tribal do "ó Pinto da Costa vai para o c..." (que no Público não se escrevem obscenidades).

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/18/MattiParkkonen_chimpanze1.jpg/180px-MattiParkkonen_chimpanze1.jpgO noticiário nacional é revelador e uma consulta rápida a essa parte dos jornais pulula de casos virtuosos. Prova um: o Manchester United processou o Benfica, porque, quando os seus jogadores negros apareciam, as bancadas desatavam a gritar umas coisas com us, com a boca atirada para cima e o beiço grosso, que os adeptos aprenderam com os macacos. Percebe-se: macacos nas bancadas num diálogo multicultural com os macacos no relvado. Esta dos macacos já eu vi num dos raros jogos de futebol a que assisti, confesso que a sua maioria em campanhas eleitorais, eis o tributo que o vício paga à virtude, e de clubes de pequena dimensão. Num desses jogos, começaram os macacos sincopados a urrar e eu, que não sabia o que era aquilo, perguntei, penso que ao Hermínio Loureiro, o que é que se passava, se era o hino do clube, e ele, com infinita paciência, explicou-me. O Benfica ficou naturalmente indignado com tão vil acusação e nega que haja racismo entre os seus adeptos, tudo gente que paga as quotas ao SOS Racismo, e presumo que o Manchester também não é um poço de virtudes.
http://www.artnet.com/artwork_images_287_117714_Carol-Anthony.jpg
Adiante, que não faltam exemplos nas fabulosas escutas do Apito Dourado que parece que servem para tudo menos para levar a tribunal os nelas implicados. Prova dois: esta semana ouvi na televisão mais um virtuoso exemplo de um clube que para agradecer aos árbitros os bons serviços prestados lhes garantia "fruta", ou melhor, "fruta para a noite". Mais uma vez me surpreendi pela indigência do nosso futebol que paga um bom resultado apenas com fruta, embora possa pressupor que fruta nocturna deva ser mais rara. Uma pesquisa na Internet sobre o que era essa "fruta nocturna" não deu resultados, pelo que o Google ainda está para apanhar as subtilezas das prendas aos árbitros portugueses. Há um Night Fruit Café, um Starry Night Fruit Cake. Há uma recomendação de que não se deve comer uma Night Fruit Pie antes de se ser operado, o que me parece recomendável, mas nada que explique o sucedido. Ainda me inclinei, metaforicamente claro, a favor da bebida, porque parece que o presidente Pinto da Costa teria sido consultado ou teria perguntado se queriam "café com leite, com muito leite ou mais café".
Podia também ser um caramelo, um doce, uma pastilha, visto que alguém escutado diz ao outro escutado, o presidente, que um árbitro estaria "à espera de um rebuçadinho", ao que lhe foi respondido "pois está-lhe garantido". Aqui está um retalho da vida desportiva ímpar de virtudes frugais. Basta um "rebuçadinho". Só intelectuais maldosos ou apoiantes do presidente do Benfica é que falam da corrupção no desporto.

Afinal, o Record funcionou como aqueles malvados que nos dizem cedo de mais que não há Pai Natal e informou-me da minha angustiante ignorância, tornando prosaica a procura da "fruta nocturna", explicando que o pagamento aos árbitros era feito através de "serviços sexuais com prostitutas", o que alargou a minha noção de serviço público e me elucidou ainda mais sobre o fascinante mundo dos "rebuçadinhos".

Eu sei que isto é chover no molhado. Há altíssima probabilidade de os meus leitores - sim o PÚBLICO é lido por gente normal e não por especialistas em Duns Scoto (embora na semana do discurso papal tivesse as minhas dúvidas) - conhecerem estas e mil e uma outras histórias e terem-se já divertido e encolhido os ombros com elas. É esse encolher dos ombros (pensando bem, hoje que eu estou a encher este artigo de metadiscursos protegidos por vírgulas, parêntesis e travessões, o que é isso de encolher os ombros face à riquíssima linguagem gestual dos jogos de futebol...) que me interessa: ver pais cuidadosos com a educação dos seus filhos, que não lhes permitem um palavrão, ululantes nos estádios mais os herdeiros; raparigas finas nos salões a tornarem-se raparigas grossas nos estádios; gente que não conhece, nem quer conhecer o vizinho e que só se dá com os seus eleitos a confraternizarem com a cerveja convencidos que estão entre os apaches a dançar com os lobos. Chegam ao futebol e vale tudo, a começar pelos olhos.

Os amadores ilustrados pelo intelecto dirão que isto é que revela a "força do futebol" e eu acrescento "e a fragilidade da nossa comunidade, mais a hipocrisia da nossa sociedade". Essa da hipocrisia move-me mais do que a "fruta nocturna" ou os us, porque num país católico, apostólico, romano, na cauda da Europa, e com uma nostalgia mítica do passado, faz estragos consideráveis e comunica com outros pecados sociais que acho mais sinistros, a começar pela inveja socializada e a defesa activa da mediocridade.

Eu sei que a sociologia, a antropologia, a psicologia de massas, a psicanálise social, a etologia dos primatas, a endocrinologia, e muitas mais áreas científicas explicam tudo. Mas um pouco mais consciência da hipocrisia social activa que o futebol propicia teria certamente a virtude de tornar a sociedade mais genuinamente tolerante, o que ela é pouco e... menos moralista. Eu bem vos disse, agora aqui pela quarta vez, que não sou moralista.

(No Público de 5 de Outubro de 2006)

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LENDO
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ÁTOMOS E BITS

de 6 de Outubro de 2006


O modo como a manifestação dos professores foi tratada mostra a fragilidade do nosso jornalismo, que tem muita dificuldade em sair do habitual, em perceber o que é diferente, para além das legítimas dúvidas sobre a governamentalização da RTP que suscita. A manifestação dos professores não foi apenas uma manifestação bem sucedida para os sindicatos, não foi apenas a "maior" manifestação dos professores, foi um elemento qualitativamente novo na análise da situação do nosso ensino.

Mereceria que se lhe estivesse mais atento porque mostra uma ruptura entre os professores e o Ministério sem precedentes e que não pode deixar de ter consequências sobre o que se passa nas escolas. Mereceria um comentário mais qualificado, fora do tradicional conflito sindical, mereceria que se tentasse perceber porque razão o Ministério alienou nas escolas a parte mais qualificada dos professores que podiam ser o suporte de muitas das reformas que têm vindo a ser propostas e que são vitalmente necessárias. Mostra o preço do estilo do governo de tentar fazer reformas atacando os grupos profissionais no seu conjunto pelos seus "privilégios", o que no caso dos professores foi fatal.

Os professores são uma profissão muito especial, com grandes fracturas internas, muito maus hábitos mas também um dos ambientes de trabalho mais árduos que se possa imaginar, tendo que defrontar problemas sociais, familiares, culturais, para que não tem meios nem qualificações, para que nem sequer é suposto que escola tenha eficácia. Mas há uma minoria de professores, uma minoria porque a profissão está muito degradada, que se dedica de forma quase "vocacional" ao ensino e esses desejavam há muito algumas das reformas que o Ministério se propõe fazer. Sucede que esses professores também sabem bem demais o papel negativo que o Ministério sempre teve e as enormes responsabilidades do aparelho burocrático-sindical que o domina. Revoltaram-se por passarem a bodes expiatórios de uma situação que sempre combateram, sem qualquer assunção de responsabilidades próprias do Ministério. Alguns pela primeira vez foram ontem a uma manifestação sindical.

Boa tarde, sou um jovem desempregado de 29 anos e senti-me indignado ontem, pois vi o péssimo telejornal transmitido pela RTP1(casa que eu tinha em consideação).Surge-me dizer que estou tentado á acreditar nas palavras de
Cintra torres, em relação á governamentalização do telejornal. Que todo
e qualquer governante se sirva do serviço publico para dar a conhecer o que pretende para o pais tudo bem, agora que praticamente se ignore os protestos, no caso de professores, está mal.Na Sic além da nossa manifestação até apareceu uma na Grecia, na rtp penso que esta nem foi mencionada.

Aqui por casa somos todos professores e estamos profundamente desiludidos com este ministério. Podemos dizer que o serviço publico melhorou deste que estão este senhores a mandar(veja-se o caso recente do progrma sobre lingua português, ou programa d reportagens que ecentemente emitiu uma sobre violência dos alunos sobre os professores),menos o telejornal claro.O caso dos professores é apenas a ponta do iceberg.

Façam-me um favor toca a congestionar o mail do provedor sobre este assunto.Penso que vou passar a ver mais o telejornal da Sic.

(Hugo Cunha)

*

Foi muito oportuna a ida do Secretário de Estado ao Canal Dois, ao telejornal, onde uma vez mais tratou o problema dos professores como se estivesse a tratar de birras de crianças e a explicar-lhes que quando uns se portam mal, todos são castigados.
Isto é algo que eu não entendo nesta equipa ministerial. Nunca o professor foi tão humilhado e a ressalva dos competentes e dedicados não tem qualquer tipo de efeito balsâmico na ferida da humilhação.

Mas o pior estaria para a acontecer, quando em pleno dever de informar o espectador sobre o que tinha acontecido, ou estava ainda a acontecer, nas ruas de Lisboa, numa manifestação espantosamente participada, a notícia dos professores foi breve e rapidamente substituída pela repetição de um excerto da entrevista dada na véspera, exactamente no tema ECD, em que o Sr. Secretário de estado repisa a teoria do ME.

Fica esquecida a questão do desemprego dos professores profissionalizados que esperam por contratações cíclicas que não têm nem dia nem hora para serem publicadas na internet? Este desemprego contribui para a existência de seres humanos cada vez mais infelizes do ponto de vista pessoal e social. E este governo devia ter preocupações com as pessoas. Que socialismo é este? Os alunos são gente e os professores são gente. Obrigada por lerem a minha indignação!

(Madalena Santos, professora do Ensino Básico, 54 anos de idade, 31 de profissão)

*

1. A minha mãe é professora há 34 anos. Pela primeira vez foi a uma manisfestação. A manifestação dos professores. Ela é uma pessoa completamente despolitizada.Despolitizada entenda-se :raramente vota , nunca militou em partidos e/ou sindicatos e quando falam em politica na Tv , muda logo de canal.
Quando chegou a casa , vinha com uma bandeira na mão e a primeira coisa que fez , foi guardar a dita cuja , como que dizendo " Quero guardar uma recordação deste dia".
Como ela , outros se lhe juntaram na manifestação , que claramente não foi só apenas uma manifestação dos sindicatos e seus compagnons de route . Foi um largo contigente de professores que desceu a Lisboa. E foi isso que a RTP omitiu.

2.Imaginemos um Gestor. No primeiro dia , quando chega à sua nova Empresa , a primeira medida que faz é chamar os Trabalhadores para uma reunião.
Expõe-lhes os seus planos e objectivos e no final da reunião , remata a mesma dizendo :"Estes são os meus planos e objectivos. Sei que voçês são uns incompetentes, mas os objectivos tem de ser alcançados!Agora mãos à obra!".Logicamente que a motivação e a produtividade dos trabalhadores não será elevado.Agora substitua-se Gestor por "Ministra da Educação", Empresa por "Ministério da Educação" e Trabalhadores por "Professores."No contexto actual , a situação não muda muito..

3.Aquando da já longínqua (quase dois anos..) campanha eleitoral , em Portugal descobriu-se que existe um pais chamado Finlândia , que por "acaso" é bastante desenvolvido .O que motivou uma visita de José Socrates, já indigitado Primeiro Ministro , para conhecer in loco este fenómeno. Uma das conclusões , foi que , supresa das supresas , uma das razões para o sucesso Finlandês passava por uma forte aposta da educação.
Lembro-me que nessa visita , quando entrevistavam professores Finlandeses , todos eles frisavam o facto de , por via da sua profissão , serem pessoas bastante respeitadas na comunidade e a sua opinião ser ouvida atentamente.Será que isso sucede em Portugal?Acho que não...

(João Melo)

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O problema político da educação é muito mais sério do que pode parecer. Era altura de a comunicação social (e o sistema político) deixarem de tratar o assunto como «pano de fundo» da vida cívica. Ele merece lugar central. Incido em dois aspectos estranhamente ignorados e que, se se passassem noutro sector, já teriam chamado a atenção dos analistas políticos: (i) o mesmo PS que bate no peito a favor das quotas para as mulheres ao nível da representatividade política, ataca sem pudor o sector da educação, caso singular em Portugal (talvez acompanhado pelo da saúde) de valorização e dignificação social das mulheres que se afirmaram em pé de igualdade face ao género oposto «sem favores»; (ii) se o maior problema da estrutura social portuguesa é o fosso a tender para o terceiro-mundismo entre as elites e o «resto», uma almofada de classe média (mais média-baixa) que o Estado Democrático impulsionou está em vias de ser estreitada a um terço, se tomarmos como referência a proposta de Estatuto da Carreira Docente e tendo em conta os efeitos de modelação social associados às decisões estratégicas do Estado.

Que o Eng.º José Sócrates e os contabilistas-gestores-propagandistas que o acompanham sejam ignorantes nessas matérias, o mesmo não é aceitável vindo da socióloga Maria de Lurdes Rodrigues. Se a última para progredir na carreira fosse sujeita a um exame sobre a relação entre estrutura social e estabilidade política, estava rotundamente chumbada. Nem sequer parece ter percebido que a maioria absoluta não é eterna e a ressaca, com tal herança governativa, será um tiro no pé da estabilidade do sistema político democrático. Como o processo está a ser conduzido no plano político, onde muitos sonham com reformas na estrutura do Estado, daqui a uma década provavelmente encontrarão uma fragmentação estéril no tecido social e uma administração pública um pouco mais leve nos custos, mas muito mais ineficaz para os que mais precisam em sectores estruturais (segurança social, saúde e educação) e a persistência de um sector privado referenciado na mão-de-obra barata. Depois não valerá a pena voltar a chorar a estruturante desigualdade social de um país bipolar, que não sabe ser moderado, no qual desde 2005 os novos «capitães» tentaram uma revolução de Abril ao contrário, em vez de encetarem um processo reformista inteligente, honesto, ponderado, solidamente negociado e socialmente diluído.

A reacção de corpos profissionais como o dos professores simboliza muito mais para o sistema político do que a simples reacção absurda de pessoas bem instaladas que procuram a mera conservação de direitos adquiridos tornados ilegítimos pela propaganda governativa.


(Gabriel Mithá Ribeiro)
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Sobre monstros, geometria, os gatinhos e o ET - ou de como é fácil levarem-nos pela certa. Basta ter grandes olhos, nariz curto...

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Em continuação de ontem:
Não podia estar mais de acordo com os comentários relativos aos critérios noticiosos da RTP. Como é que se explica que notícias como o do sequestro de Setúbal tenha durado vinte minutos de entrevistas banais a transeuntes (sem que nada se passasse) e outras bem mais relevantes (Discurso do 5 de Outubro, Manifestação dos professores, etc...) tenham sido relegados para segundo plano? Isto para já não falar da duração do telejornal principal (mais de 1 hora!) cheio de banalidades futebolísticas (lesões, entrevistas a jogadores, sub-21, selecções diversas...). Basta ver os noticiários da BBC, Sky.News, TV5, CNN, para perceber as diferenças...

(Rui Mota )

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EARLY MORNING BLOGS

881 - Sur un hôte douteux



Ses disciples chantent : Il revient le Sauveur des hommes : Il vêt un autre habit de chair. L'étoile, tombée du plus haut ciel a fécondé la Vierge choisie. Et il va renaître parmi nous.

Temps bénis où la douleur recule ! Temps de gloire où la Roue de la Loi courant sur l'Empire conquis va traîner tous les êtres hors du monde illusoire.

*

L'Empereur dit : Qu'il revienne, et je le recevrai, et je l'accueillerai comme un hôte.

Comme un hôte petit, qu'on gratifie d'une petite audience, -- pour la coutume, -- et d'un repas et d'un habit et d'une perruque afin d'orner sa tête rase.

Comme un hôte douteux que l'on surveille ; que l'on reconduit bien vite là d'où il vient, pour qu'il ne soudoie personne.

*

Car l'Empire, qui est le monde sous le Ciel, n'est pas fait d'illusoire : le bonheur est le prix, seul, du bon gouvernement.

Que fut-il, celui qu'on annonce, le Bouddha, le Seigneur Fô ? Pas même un lettré poli,

Mais un barbare qui connut mal ses devoirs de sujet et devint le plus mauvais des fils.

(Victor Segalen)

*

Bom dia!

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5.10.06


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 5 de Outubro de 2006


Na RTP uma "grande" entrevista a Nobre Guedes cheia de banalidades. Uma coisa interessante: Nobre Guedes defende o retorno à tradicional estratégia do PP de Portas - dar-se bem com o PS, atacar o PSD.

*

Estou a ver o telejornal da RTP (5 de Outubro) e gostaria apenas de expressar a minha estupefacção relativamente às primeiras notícias do dia. São 20:19 e apenas foram tratados dois temas: o sequestro do dia anterior num banco e a subida das taxas de juro. Acho inqualificável as opções de quem tem define os critérios de escolha das notícias no telejornal da RTP. Hoje houve um discurso relevante do Sr. Presidente da República e (digo-lhe desde já que não sou professor) pelo que ouvi, porque ainda não vi, houve a maior manifestação de sempre de professores. Como é que é possível?

(João Paulo Neto)

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BIBLIOFILIA: PARA O CENTENÁRIO DE HUMBERTO DELGADO



Um livro muito pouco conhecido de Humberto Delgado de 1944, o ano em que foi nomeado responsável pela aviação civil.

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EARLY MORNING BLOGS

880 -THE ANT



The ant has made himself illustrious
Through constant industry industrious.
So what?
Would you be calm and placid
If you were full of formic acid?

(Ogden Nash)

*

Bom dia!

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3.10.06


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 3 de Outubro de 2006


A Helena Matos cheia de razão no Blasfémias:
"É de anedotário o que se tem passado com as notícias sobre estas eleições no Brasil. Além de Lula sabem os leitores e telespectadores portugueses que existe a candidata Heloísa Helena. Quantas vezes se falou daquele obscurantissimo senhor que vai à segunda volta? E note-se que segundo nos é dito o incógnito vai à segunda volta apenas porque os ricos votaram nele e também porque os companheiros de Lula se deixaram apanhar nuns esquemas de corrupção (coisa confusa que nem vale a pena detalhar e que assim como assim é endémica e generalizada no Brasil)"
A caveira e tíbias é o símbolo dos produtos tóxicos.O grau de proselitismo político na nossa comunicação social está tão embrenhado, é tão denso e tão habitual, a começar pela questão "americano-bushista-israelo-palestiniana-iraquiana", que já é difícil imaginar como seriam as "notícias" sem ele. Seriam certamente mais notícias.

Exemplos: silêncios sobre o que se passa e é necessário fazer no Darfur, resultado de não se querer integrar o noticiário sudanês no contexto dos conflitos de origem islâmica; indiferença perante atentados como o de Mombai, também descontextualizado; conflitos húngaros entre o primeiro-ministro e a "extrema-direita", forma de diminuir a reacção contra um governante socialista; omissão do conteúdo do documento dos serviços secretos americanos publicado para mostrar como eram de má fé as fugas parcelares realizadas, etc., etc. Fecho rápido de assuntos, de tudo o que contraria as teses dominantes, ao mesmo tempo que se estica até ao limite tudo o que as reforça. É intencional? Muitas vezes nem sequer isso é. É como quem respira. Sempre o mesmo ar.

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879 - A Man Said To The Universe

A man said to the universe:
"Sir I exist!"
"However," replied the universe,
"The fact has not created in me
A sense of obligation."

(Stephen Crane)

*

Bom dia!

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2.10.06


RETRATOS DO TRABALHO EM DUHRAM, REINO UNIDO



Diariamente este homem ajuda os alunos e pais de uma escola próxima a atravessar a rua numa passagem para peões.

(Fernando Baiao Dias)

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 2 de Outubro de 2006


Novas paisagens. Esta nunca vi: um aerogerador incendiou-se. Está neste momento a arder.



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Da mesma maneira que critiquei o seu "fecho", louvo agora a abertura do Público em linha com muito mais conteúdos disponíveis sem assinatura. Não é tudo, mas é um avanço. O jornal só pode ganhar, nós só podemos ganhar.

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Como nos fala a memória? De um modo geral enganando-nos. Excelente iniciativa sobre os caminhos da memória e da história no Passado / Presente.

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RETRATOS DO TRABALHO NO LOBITO, ANGOLA



No mercado do Lobito encontra-se todo o tipo de serviços.
Neste caso, um ‘improvisado’ salão de barbeiro.

(Carlos Guerreiro)

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A FAVOR DA TURQUIA

http://www.essex.ac.uk/armedcon/images/country/headings/flags/turkey_flag_large.bmp

No dia 1 de Janeiro de 2007, mais dois países, a Roménia e a Bulgária, vão entrar na União Europeia. Ao mesmo tempo que confirmava esta data para o acesso dos dois países do Leste europeu, Durão Barroso adiou mais uma vez a esperança da Turquia de aceder em prazo razoável à União Europeia. As duas decisões são completamente contraditórias na sua lógica, a primeira certa mas cheia de ambiguidades, a segunda clara mas completamente errada.

Qualquer pessoa que conheça minimamente a Bulgária e a Roménia sabe de ciência certa que nenhuma das duas, mais a Roménia do que a Bulgária, está "preparada" para aceder à União Europeia, se os seus critérios de adesão fossem tomados a sério. A verdade é que já não o foram na última vaga de adesões, mas sim esticados até limites puramente formais para que, procedendo a rearranjos formais, alguns países pudessem entrar. As questões complexas que traduzem a história turbulenta do Centro e Leste da Europa, assim como a herança do comunismo permanecem longe de ser resolvidas. Algumas dessas questões, envolvendo nacionalidades, direitos de minorias, fronteiras contestadas, direitos individuais, independência do sistema judicial, sobrevivências de mecanismos totalitários de governo, menorização das oposições, desigual acesso aos meios do Estado, corrupção institucionalizada, com maior ou menor grau, existem em muitos países da antiga cortina de ferro. O que é que aconteceu à importante minoria russa na Letónia cujos direitos eram violados pela legislação sobre a língua e o emprego do Estado, discriminatória a favor dos falantes em letão? Este é apenas um exemplo dos muitos problemas a que se deu uma solução formal, para garantir a adesão, mas que efectivamente se varreram para debaixo do tapete. A Roménia e a Bulgária tem muitos destes problemas e mais alguns oriundos da maior pobreza relativa.

Apesar disto tudo, é positivo que a União Europeia inclua estes países no seu seio, dando-lhe mais oportunidades para prosperarem economicamente e funcionando como uma poderosa força de pressão para impedir os desmandos a que a herança do comunismo e os processos de transição, ou apenas o retornar de histórias nacionais antigas, poderiam levar. Só que me parece bem que se tenha consciência de que só entram, mesmo sem as condições cumpridas e ainda com um longo caminho pela frente, por puras razões geopolíticas.

Ao mesmo tempo convém abandonar a ilusão de que a sua entrada favorece a "integração" europeia, que de há muito está emperrada, em parte porque não se soube lidar com a realidade posterior à queda do muro de Berlim. Eu, do mal o menos: prefiro uma Europa mínima assente numa geopolítica da paz, que por sua vez assenta numa comunidade de bem-estar económico, do que Europa nenhuma. Ou seja, caminha-se para "unificar" a Europa e não para a "integrar". Também penso que valia a pena aos países fundadores da União, e que foram os seus motores, perceberem que a Europa que existe de facto é bem diferente da que se começou a fazer até Maastricht. Essa, a sua retórica vanguardista deitou-a a perder nos últimos dez anos e não volta tão cedo. E ou aceitam o que há, e trabalham a partir do que há, ou acabam por perder tudo.

Numa Europa mínima tem todo o sentido fazer entrar a Roménia e a Bulgária, mas se a Europa fosse "máxima", tivesse a unidade política, económica e social integrada que a utopia constitucional desejava, não teria. Quando se aceitou o alargamento apressado que culminou em 2004, decidiu-se por meras razões geopolíticas impedir que o Centro e Leste da Europa ficasse uma terra de ninguém entregue à pobreza, aos seus fantasmas do passado e à vizinhança perigosa de uma Rússia que Putin cada vez mais aproxima da política externa que foi a dos czares e a dos comunistas. E decidiu-se por essas razões porque já nessa altura se tornava evidente que a União Europeia não estava disposta a pagar o elevado preço de um processo de adesão a sério, mais lento, testado e caro, e isso se devia a que o impulso para um upgrade político era demasiado superficial, voluntarista e pouco adequado às realidades das políticas nacionais.

Depois, a um erro somaram-se muitos outros: a fuga em frente da Constituição europeia, a retórica da PESC, o gabanço de uma Europa mais economicamente desenvolvida que os EUA em 2010. E a assunção de uma política gaullista da Europa como superpotência destinada a contestar o palco mundial dos EUA. Tudo políticas profundamente erradas, que deixaram tornar o chamado "modelo social europeu" num mecanismo de bloqueio económico e social que gerou proteccionismo, que fracturaram o eixo transatlântico e que produziram uma política externa tão politicamente correcta como ineficaz. Hoje continuamos a não entender que a única Europa que funciona é a mínima e essa devia ser preservada antes que se estrague e que a "máxima" só traz caos e tensões, e nem sequer é hoje minimamente factível.

É por tudo isto que é um erro gravíssimo estar a criar dificuldades à adesão da Turquia nesta Europa mínima, a única que existe e funciona. A adesão da Turquia tem a mesma lógica da que vai aproximando a UE das fronteiras do continente, fazendo-a parar na Federação Russa, com a vantagem de a levar a outras fronteiras cuja instabilidade também afecta a Europa, as do Médio Oriente. É verdade que a Turquia tem graves problemas, alguns dos quais semelhantes aos de outros países no Leste europeu e outros que são uma sobrevivência da complexidade da sua história do século XX, em particular graves questões de direitos humanos relacionados com a questão curda. Mesmo para essa entrada numa Europa mínima, estes abusos devem ser controlados e eliminados, mas não se conhece outro dissuasor do que a manutenção da esperança da adesão na UE.

Depois há a vexata questão, a de ser um país maioritariamente muçulmano. É verdade, mas também é o único grande país muçulmano no mundo (em parte a Indonésia também) em que existe separação entre a religião e o Estado e este é laico, nalguns aspectos agressivamente laico. O nosso problema com a Turquia é que aquilo de que gostamos na Turquia, o Estado laico, assenta naquilo de que não gostamos, o papel constitucional do exército, herança das simpatias de Ataturk pelo nacionalismo de génese europeia e os totalitarismos dos anos 30. Uma revolução imposta a pulso de ferro, mas que criou um sistema de equilíbrios único.

Resolvidos esses problemas, há que lidar com a dimensão da Turquia de forma positiva, como benéfica para a paz da Europa. A Turquia não é um pequeno país, é uma potência regional, com uma área de influência que se estende das repúblicas centro-asiáticas até à China. E, para além disso, entra para a UE um dos poucos exércitos credíveis existentes na Europa. Também pode fazer diferença. Para a estabilidade da Europa, precisamos da Turquia e da Turquia do nosso lado. Pode ser até que a sua entrada na UE gere uma dinâmica mais favorável a uma retomada de um caminho político, mais lento, prudente e seguro. Exige-se senso e olhar grande sobre a geografia, a história e a política. Senão, damos por nossa iniciativa um eficaz passo para a "guerra de civilizações" que todos esconjuram, mas não praticam.

(No Público de 28 de Setembro de 2006)

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EARLY MORNING BLOGS

878 - Spring Comes to Murray Hill

I sit in an office at 244 Madison Avenue
And say to myself You have a responsible job havenue?
Why then do you fritter away your time on this doggerel?
If you have a sore throat you can cure it by using a good goggeral,
If you have a sore foot you can get it fixed by a chiropodist,
And you can get your original sin removed by St. John the Bopodist,
Why then should this flocculent lassitude be incurable?
Kansas City, Kansas, proves that even Kansas City needn't always be Missourible.
Up up my soul! This inaction is abominable.
Perhaps it is the result of disturbances abdominable.
The pilgrims settled Massachusetts in 1620 when they landed on a stone hummock.
Maybe if they were here now they would settle my stomach.
Oh, if I only had the wings of a bird
Instead of being confined on Madison Avenue I could soar in a jiffy to Second or Third.

(Ogden Nash)

*

Bom dia!

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1.10.06


INTENDÊNCIA

Actualizada a nota LENDO / VENDO / OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 28 de Setembro de 2006.

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RETRATOS DO TRABALHO EM LOBITO, ANGOLA



CUPAPATA é um serviço de táxis muito comum no sul de Angola. Não se encontra em Luanda.

(Carlos Guerreiro)

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