ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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7.10.06
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Noite desigual. Agora. (RM) (url) COISAS DA SÁBADO: VERDADE E POLÍTICA O Primeiro-Ministro húngaro num momento de catarse resolveu dizer que mentira aos seus concidadãos para ganhar eleições. Os seus eleitores, num momento de catarse, resolveram dizer que tinham acreditado nas mentiras e que se sentiam agora enganados pelo que querem o homem na rua. Todos os dilemas da política moderna nas democracias estão aqui presentes. Sem mentir, os políticos não ganham eleições, por regra. As excepções confirmam a regra. Sem serem voluntariamente enganados os eleitores não votam em ninguém. Vou acaso votar em alguém que me diz, na miséria em que eu estou, que vou ter que trabalhar mais, ou ganhar menos e não ter esperança tão cedo de a deixar? Nem pensar nisso, vou votar mas é no que parece saído da televisão, bem falante, bem parecido, que me acaricia o ouvido com o que eu quero ouvir. Que faz todas as rábulas do que eu desejo: se vivo em tempos inseguros, quero um duro e firme com o crime, se vivo num túnel, quero um que me fale do fim do túnel e da sua luz radiosa. Eu sei que ele me mente que é só teatro, mas é desse teatro que eu gosto, não me quebrem a ilusão, esse doce enlevo. Vai para a rua ó mentiroso húngaro! (url) BIBLIOFILIA: QUANDO O MUNDO ERA SIMPLES
e pouco politicamente correcto. (url) EARLY MORNING BLOGS 882 - ...nobody answers this bell! There was an Old Man who said, 'Well! (Edward Lear) * Bom dia! (url) 6.10.06
O FUTEBOL COMO REPOSITÓRIO DOS BONS COSTUMES Preciso duas coisas, neste terreno armadilhado com ácido fórmico: não é só em Portugal mas também noutros países, com graus diferentes conforme os mecanismos de socialização distintos, e não se aplica a toda a gente, mas à maioria da gente. Mais uma prevenção por causa do mesmo ácido: o fornecimento de exemplos sociais de malfeitorias não se limita ao futebol, também os políticos, as profissões liberais, os ricos, o jet set, os jornalistas, os artistas de variedades, etc., etc., contribuem. Só que o anátema social que de imediato os atinge é duro e fulminante, o que ainda torna mais reveladora a complacência com o futebol. Este aspecto de "propaganda pelo exemplo", como diriam os anarquistas, é muito interessante, porque, numa sociedade com uma moral pública feita de bons costumes e respeitinho, ninguém se importa com os desmandos vindos desse exemplo de virtudes que é o mundo do futebol. Exactamente por não ser moralista - repito pela terceira vez - é que o que me parece revelador é a hipocrisia que esta atitude mostra e a forma como a circulação social dessa hipocrisia mostra a superficialidade desses bons costumes: dêem-lhes um campo de futebol, uma discussão de café, uma entrevista televisiva, uma chamada telefónica a fazer umas certas combinações, uma noitada de alterne, horas e horas a fio de conversa no emprego, um megafone na Internet, uma excitação de cachecol e lá vai a boa educação, a moralidade cristã, a cartilha do João de Deus, a prelecção da missa ao domingo, e só ficam os urros colectivos e a suave música tribal do "ó Pinto da Costa vai para o c..." (que no Público não se escrevem obscenidades). O noticiário nacional é revelador e uma consulta rápida a essa parte dos jornais pulula de casos virtuosos. Prova um: o Manchester United processou o Benfica, porque, quando os seus jogadores negros apareciam, as bancadas desatavam a gritar umas coisas com us, com a boca atirada para cima e o beiço grosso, que os adeptos aprenderam com os macacos. Percebe-se: macacos nas bancadas num diálogo multicultural com os macacos no relvado. Esta dos macacos já eu vi num dos raros jogos de futebol a que assisti, confesso que a sua maioria em campanhas eleitorais, eis o tributo que o vício paga à virtude, e de clubes de pequena dimensão. Num desses jogos, começaram os macacos sincopados a urrar e eu, que não sabia o que era aquilo, perguntei, penso que ao Hermínio Loureiro, o que é que se passava, se era o hino do clube, e ele, com infinita paciência, explicou-me. O Benfica ficou naturalmente indignado com tão vil acusação e nega que haja racismo entre os seus adeptos, tudo gente que paga as quotas ao SOS Racismo, e presumo que o Manchester também não é um poço de virtudes. Podia também ser um caramelo, um doce, uma pastilha, visto que alguém escutado diz ao outro escutado, o presidente, que um árbitro estaria "à espera de um rebuçadinho", ao que lhe foi respondido "pois está-lhe garantido". Aqui está um retalho da vida desportiva ímpar de virtudes frugais. Basta um "rebuçadinho". Só intelectuais maldosos ou apoiantes do presidente do Benfica é que falam da corrupção no desporto. Afinal, o Record funcionou como aqueles malvados que nos dizem cedo de mais que não há Pai Natal e informou-me da minha angustiante ignorância, tornando prosaica a procura da "fruta nocturna", explicando que o pagamento aos árbitros era feito através de "serviços sexuais com prostitutas", o que alargou a minha noção de serviço público e me elucidou ainda mais sobre o fascinante mundo dos "rebuçadinhos". Eu sei que isto é chover no molhado. Há altíssima probabilidade de os meus leitores - sim o PÚBLICO é lido por gente normal e não por especialistas em Duns Scoto (embora na semana do discurso papal tivesse as minhas dúvidas) - conhecerem estas e mil e uma outras histórias e terem-se já divertido e encolhido os ombros com elas. É esse encolher dos ombros (pensando bem, hoje que eu estou a encher este artigo de metadiscursos protegidos por vírgulas, parêntesis e travessões, o que é isso de encolher os ombros face à riquíssima linguagem gestual dos jogos de futebol...) que me interessa: ver pais cuidadosos com a educação dos seus filhos, que não lhes permitem um palavrão, ululantes nos estádios mais os herdeiros; raparigas finas nos salões a tornarem-se raparigas grossas nos estádios; gente que não conhece, nem quer conhecer o vizinho e que só se dá com os seus eleitos a confraternizarem com a cerveja convencidos que estão entre os apaches a dançar com os lobos. Chegam ao futebol e vale tudo, a começar pelos olhos. Os amadores ilustrados pelo intelecto dirão que isto é que revela a "força do futebol" e eu acrescento "e a fragilidade da nossa comunidade, mais a hipocrisia da nossa sociedade". Essa da hipocrisia move-me mais do que a "fruta nocturna" ou os us, porque num país católico, apostólico, romano, na cauda da Europa, e com uma nostalgia mítica do passado, faz estragos consideráveis e comunica com outros pecados sociais que acho mais sinistros, a começar pela inveja socializada e a defesa activa da mediocridade. Eu sei que a sociologia, a antropologia, a psicologia de massas, a psicanálise social, a etologia dos primatas, a endocrinologia, e muitas mais áreas científicas explicam tudo. Mas um pouco mais consciência da hipocrisia social activa que o futebol propicia teria certamente a virtude de tornar a sociedade mais genuinamente tolerante, o que ela é pouco e... menos moralista. Eu bem vos disse, agora aqui pela quarta vez, que não sou moralista. (No Público de 5 de Outubro de 2006) (url)
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VENDO OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 6 de Outubro de 2006 O modo como a manifestação dos professores foi tratada mostra a fragilidade do nosso jornalismo, que tem muita dificuldade em sair do habitual, em perceber o que é diferente, para além das legítimas dúvidas sobre a governamentalização da RTP que suscita. A manifestação dos professores não foi apenas uma manifestação bem sucedida para os sindicatos, não foi apenas a "maior" manifestação dos professores, foi um elemento qualitativamente novo na análise da situação do nosso ensino. Mereceria que se lhe estivesse mais atento porque mostra uma ruptura entre os professores e o Ministério sem precedentes e que não pode deixar de ter consequências sobre o que se passa nas escolas. Mereceria um comentário mais qualificado, fora do tradicional conflito sindical, mereceria que se tentasse perceber porque razão o Ministério alienou nas escolas a parte mais qualificada dos professores que podiam ser o suporte de muitas das reformas que têm vindo a ser propostas e que são vitalmente necessárias. Mostra o preço do estilo do governo de tentar fazer reformas atacando os grupos profissionais no seu conjunto pelos seus "privilégios", o que no caso dos professores foi fatal. Os professores são uma profissão muito especial, com grandes fracturas internas, muito maus hábitos mas também um dos ambientes de trabalho mais árduos que se possa imaginar, tendo que defrontar problemas sociais, familiares, culturais, para que não tem meios nem qualificações, para que nem sequer é suposto que escola tenha eficácia. Mas há uma minoria de professores, uma minoria porque a profissão está muito degradada, que se dedica de forma quase "vocacional" ao ensino e esses desejavam há muito algumas das reformas que o Ministério se propõe fazer. Sucede que esses professores também sabem bem demais o papel negativo que o Ministério sempre teve e as enormes responsabilidades do aparelho burocrático-sindical que o domina. Revoltaram-se por passarem a bodes expiatórios de uma situação que sempre combateram, sem qualquer assunção de responsabilidades próprias do Ministério. Alguns pela primeira vez foram ontem a uma manifestação sindical. Boa tarde, sou um jovem desempregado de 29 anos e senti-me indignado ontem, pois vi o péssimo telejornal transmitido pela RTP1(casa que eu tinha em consideação).Surge-me dizer que estou tentado á acreditar nas palavras de * Sobre monstros, geometria, os gatinhos e o ET - ou de como é fácil levarem-nos pela certa. Basta ter grandes olhos, nariz curto... * Em continuação de ontem: Não podia estar mais de acordo com os comentários relativos aos critérios noticiosos da RTP. Como é que se explica que notícias como o do sequestro de Setúbal tenha durado vinte minutos de entrevistas banais a transeuntes (sem que nada se passasse) e outras bem mais relevantes (Discurso do 5 de Outubro, Manifestação dos professores, etc...) tenham sido relegados para segundo plano? Isto para já não falar da duração do telejornal principal (mais de 1 hora!) cheio de banalidades futebolísticas (lesões, entrevistas a jogadores, sub-21, selecções diversas...). Basta ver os noticiários da BBC, Sky.News, TV5, CNN, para perceber as diferenças... (url) EARLY MORNING BLOGS 881 - Sur un hôte douteux Ses disciples chantent : Il revient le Sauveur des hommes : Il vêt un autre habit de chair. L'étoile, tombée du plus haut ciel a fécondé la Vierge choisie. Et il va renaître parmi nous. Temps bénis où la douleur recule ! Temps de gloire où la Roue de la Loi courant sur l'Empire conquis va traîner tous les êtres hors du monde illusoire. * L'Empereur dit : Qu'il revienne, et je le recevrai, et je l'accueillerai comme un hôte. Comme un hôte petit, qu'on gratifie d'une petite audience, -- pour la coutume, -- et d'un repas et d'un habit et d'une perruque afin d'orner sa tête rase. Comme un hôte douteux que l'on surveille ; que l'on reconduit bien vite là d'où il vient, pour qu'il ne soudoie personne. * Car l'Empire, qui est le monde sous le Ciel, n'est pas fait d'illusoire : le bonheur est le prix, seul, du bon gouvernement. Que fut-il, celui qu'on annonce, le Bouddha, le Seigneur Fô ? Pas même un lettré poli, Mais un barbare qui connut mal ses devoirs de sujet et devint le plus mauvais des fils. (Victor Segalen)
* Bom dia! (url) 5.10.06
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VENDO OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 5 de Outubro de 2006 Na RTP uma "grande" entrevista a Nobre Guedes cheia de banalidades. Uma coisa interessante: Nobre Guedes defende o retorno à tradicional estratégia do PP de Portas - dar-se bem com o PS, atacar o PSD. * Estou a ver o telejornal da RTP (5 de Outubro) e gostaria apenas de expressar a minha estupefacção relativamente às primeiras notícias do dia. São 20:19 e apenas foram tratados dois temas: o sequestro do dia anterior num banco e a subida das taxas de juro. Acho inqualificável as opções de quem tem define os critérios de escolha das notícias no telejornal da RTP. Hoje houve um discurso relevante do Sr. Presidente da República e (digo-lhe desde já que não sou professor) pelo que ouvi, porque ainda não vi, houve a maior manifestação de sempre de professores. Como é que é possível? (João Paulo Neto) (url) BIBLIOFILIA: PARA O CENTENÁRIO DE HUMBERTO DELGADO Um livro muito pouco conhecido de Humberto Delgado de 1944, o ano em que foi nomeado responsável pela aviação civil. (url) EARLY MORNING BLOGS
880 -THE ANT The ant has made himself illustrious Through constant industry industrious. So what? Would you be calm and placid If you were full of formic acid? (Ogden Nash) * Bom dia! (url) 3.10.06
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VENDO OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 3 de Outubro de 2006 A Helena Matos cheia de razão no Blasfémias: "É de anedotário o que se tem passado com as notícias sobre estas eleições no Brasil. Além de Lula sabem os leitores e telespectadores portugueses que existe a candidata Heloísa Helena. Quantas vezes se falou daquele obscurantissimo senhor que vai à segunda volta? E note-se que segundo nos é dito o incógnito vai à segunda volta apenas porque os ricos votaram nele e também porque os companheiros de Lula se deixaram apanhar nuns esquemas de corrupção (coisa confusa que nem vale a pena detalhar e que assim como assim é endémica e generalizada no Brasil)"O grau de proselitismo político na nossa comunicação social está tão embrenhado, é tão denso e tão habitual, a começar pela questão "americano-bushista-israelo-palestiniana-iraquiana", que já é difícil imaginar como seriam as "notícias" sem ele. Seriam certamente mais notícias. Exemplos: silêncios sobre o que se passa e é necessário fazer no Darfur, resultado de não se querer integrar o noticiário sudanês no contexto dos conflitos de origem islâmica; indiferença perante atentados como o de Mombai, também descontextualizado; conflitos húngaros entre o primeiro-ministro e a "extrema-direita", forma de diminuir a reacção contra um governante socialista; omissão do conteúdo do documento dos serviços secretos americanos publicado para mostrar como eram de má fé as fugas parcelares realizadas, etc., etc. Fecho rápido de assuntos, de tudo o que contraria as teses dominantes, ao mesmo tempo que se estica até ao limite tudo o que as reforça. É intencional? Muitas vezes nem sequer isso é. É como quem respira. Sempre o mesmo ar. (url) EARLY MORNING BLOGS
879 - A Man Said To The Universe A man said to the universe: "Sir I exist!" "However," replied the universe, "The fact has not created in me A sense of obligation." (Stephen Crane) * Bom dia! (url) 2.10.06
RETRATOS DO TRABALHO EM DUHRAM, REINO UNIDO Diariamente este homem ajuda os alunos e pais de uma escola próxima a atravessar a rua numa passagem para peões. (Fernando Baiao Dias) Etiquetas: trabalho - retratos (url)
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VENDO OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 2 de Outubro de 2006 Novas paisagens. Esta nunca vi: um aerogerador incendiou-se. Está neste momento a arder. * Da mesma maneira que critiquei o seu "fecho", louvo agora a abertura do Público em linha com muito mais conteúdos disponíveis sem assinatura. Não é tudo, mas é um avanço. O jornal só pode ganhar, nós só podemos ganhar. * Como nos fala a memória? De um modo geral enganando-nos. Excelente iniciativa sobre os caminhos da memória e da história no Passado / Presente. (url) RETRATOS DO TRABALHO NO LOBITO, ANGOLA No mercado do Lobito encontra-se todo o tipo de serviços. Neste caso, um ‘improvisado’ salão de barbeiro. (Carlos Guerreiro) Etiquetas: trabalho - retratos (url) A FAVOR DA TURQUIA No dia 1 de Janeiro de 2007, mais dois países, a Roménia e a Bulgária, vão entrar na União Europeia. Ao mesmo tempo que confirmava esta data para o acesso dos dois países do Leste europeu, Durão Barroso adiou mais uma vez a esperança da Turquia de aceder em prazo razoável à União Europeia. As duas decisões são completamente contraditórias na sua lógica, a primeira certa mas cheia de ambiguidades, a segunda clara mas completamente errada. Qualquer pessoa que conheça minimamente a Bulgária e a Roménia sabe de ciência certa que nenhuma das duas, mais a Roménia do que a Bulgária, está "preparada" para aceder à União Europeia, se os seus critérios de adesão fossem tomados a sério. A verdade é que já não o foram na última vaga de adesões, mas sim esticados até limites puramente formais para que, procedendo a rearranjos formais, alguns países pudessem entrar. As questões complexas que traduzem a história turbulenta do Centro e Leste da Europa, assim como a herança do comunismo permanecem longe de ser resolvidas. Algumas dessas questões, envolvendo nacionalidades, direitos de minorias, fronteiras contestadas, direitos individuais, independência do sistema judicial, sobrevivências de mecanismos totalitários de governo, menorização das oposições, desigual acesso aos meios do Estado, corrupção institucionalizada, com maior ou menor grau, existem em muitos países da antiga cortina de ferro. O que é que aconteceu à importante minoria russa na Letónia cujos direitos eram violados pela legislação sobre a língua e o emprego do Estado, discriminatória a favor dos falantes em letão? Este é apenas um exemplo dos muitos problemas a que se deu uma solução formal, para garantir a adesão, mas que efectivamente se varreram para debaixo do tapete. A Roménia e a Bulgária tem muitos destes problemas e mais alguns oriundos da maior pobreza relativa. Apesar disto tudo, é positivo que a União Europeia inclua estes países no seu seio, dando-lhe mais oportunidades para prosperarem economicamente e funcionando como uma poderosa força de pressão para impedir os desmandos a que a herança do comunismo e os processos de transição, ou apenas o retornar de histórias nacionais antigas, poderiam levar. Só que me parece bem que se tenha consciência de que só entram, mesmo sem as condições cumpridas e ainda com um longo caminho pela frente, por puras razões geopolíticas. Ao mesmo tempo convém abandonar a ilusão de que a sua entrada favorece a "integração" europeia, que de há muito está emperrada, em parte porque não se soube lidar com a realidade posterior à queda do muro de Berlim. Eu, do mal o menos: prefiro uma Europa mínima assente numa geopolítica da paz, que por sua vez assenta numa comunidade de bem-estar económico, do que Europa nenhuma. Ou seja, caminha-se para "unificar" a Europa e não para a "integrar". Também penso que valia a pena aos países fundadores da União, e que foram os seus motores, perceberem que a Europa que existe de facto é bem diferente da que se começou a fazer até Maastricht. Essa, a sua retórica vanguardista deitou-a a perder nos últimos dez anos e não volta tão cedo. E ou aceitam o que há, e trabalham a partir do que há, ou acabam por perder tudo. Numa Europa mínima tem todo o sentido fazer entrar a Roménia e a Bulgária, mas se a Europa fosse "máxima", tivesse a unidade política, económica e social integrada que a utopia constitucional desejava, não teria. Quando se aceitou o alargamento apressado que culminou em 2004, decidiu-se por meras razões geopolíticas impedir que o Centro e Leste da Europa ficasse uma terra de ninguém entregue à pobreza, aos seus fantasmas do passado e à vizinhança perigosa de uma Rússia que Putin cada vez mais aproxima da política externa que foi a dos czares e a dos comunistas. E decidiu-se por essas razões porque já nessa altura se tornava evidente que a União Europeia não estava disposta a pagar o elevado preço de um processo de adesão a sério, mais lento, testado e caro, e isso se devia a que o impulso para um upgrade político era demasiado superficial, voluntarista e pouco adequado às realidades das políticas nacionais. Depois, a um erro somaram-se muitos outros: a fuga em frente da Constituição europeia, a retórica da PESC, o gabanço de uma Europa mais economicamente desenvolvida que os EUA em 2010. E a assunção de uma política gaullista da Europa como superpotência destinada a contestar o palco mundial dos EUA. Tudo políticas profundamente erradas, que deixaram tornar o chamado "modelo social europeu" num mecanismo de bloqueio económico e social que gerou proteccionismo, que fracturaram o eixo transatlântico e que produziram uma política externa tão politicamente correcta como ineficaz. Hoje continuamos a não entender que a única Europa que funciona é a mínima e essa devia ser preservada antes que se estrague e que a "máxima" só traz caos e tensões, e nem sequer é hoje minimamente factível. É por tudo isto que é um erro gravíssimo estar a criar dificuldades à adesão da Turquia nesta Europa mínima, a única que existe e funciona. A adesão da Turquia tem a mesma lógica da que vai aproximando a UE das fronteiras do continente, fazendo-a parar na Federação Russa, com a vantagem de a levar a outras fronteiras cuja instabilidade também afecta a Europa, as do Médio Oriente. É verdade que a Turquia tem graves problemas, alguns dos quais semelhantes aos de outros países no Leste europeu e outros que são uma sobrevivência da complexidade da sua história do século XX, em particular graves questões de direitos humanos relacionados com a questão curda. Mesmo para essa entrada numa Europa mínima, estes abusos devem ser controlados e eliminados, mas não se conhece outro dissuasor do que a manutenção da esperança da adesão na UE. Depois há a vexata questão, a de ser um país maioritariamente muçulmano. É verdade, mas também é o único grande país muçulmano no mundo (em parte a Indonésia também) em que existe separação entre a religião e o Estado e este é laico, nalguns aspectos agressivamente laico. O nosso problema com a Turquia é que aquilo de que gostamos na Turquia, o Estado laico, assenta naquilo de que não gostamos, o papel constitucional do exército, herança das simpatias de Ataturk pelo nacionalismo de génese europeia e os totalitarismos dos anos 30. Uma revolução imposta a pulso de ferro, mas que criou um sistema de equilíbrios único. Resolvidos esses problemas, há que lidar com a dimensão da Turquia de forma positiva, como benéfica para a paz da Europa. A Turquia não é um pequeno país, é uma potência regional, com uma área de influência que se estende das repúblicas centro-asiáticas até à China. E, para além disso, entra para a UE um dos poucos exércitos credíveis existentes na Europa. Também pode fazer diferença. Para a estabilidade da Europa, precisamos da Turquia e da Turquia do nosso lado. Pode ser até que a sua entrada na UE gere uma dinâmica mais favorável a uma retomada de um caminho político, mais lento, prudente e seguro. Exige-se senso e olhar grande sobre a geografia, a história e a política. Senão, damos por nossa iniciativa um eficaz passo para a "guerra de civilizações" que todos esconjuram, mas não praticam. (No Público de 28 de Setembro de 2006) Etiquetas: Turquia (url) EARLY MORNING BLOGS 878 - Spring Comes to Murray Hill I sit in an office at 244 Madison Avenue And say to myself You have a responsible job havenue? Why then do you fritter away your time on this doggerel? If you have a sore throat you can cure it by using a good goggeral, If you have a sore foot you can get it fixed by a chiropodist, And you can get your original sin removed by St. John the Bopodist, Why then should this flocculent lassitude be incurable? Kansas City, Kansas, proves that even Kansas City needn't always be Missourible. Up up my soul! This inaction is abominable. Perhaps it is the result of disturbances abdominable. The pilgrims settled Massachusetts in 1620 when they landed on a stone hummock. Maybe if they were here now they would settle my stomach. Oh, if I only had the wings of a bird Instead of being confined on Madison Avenue I could soar in a jiffy to Second or Third. (Ogden Nash) * Bom dia! (url) 1.10.06
INTENDÊNCIA
Actualizada a nota LENDO / VENDO / OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 28 de Setembro de 2006. (url) RETRATOS DO TRABALHO EM LOBITO, ANGOLA CUPAPATA é um serviço de táxis muito comum no sul de Angola. Não se encontra em Luanda. (Carlos Guerreiro) Etiquetas: trabalho - retratos (url)
© José Pacheco Pereira
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