ABRUPTO

6.10.06


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OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 6 de Outubro de 2006


O modo como a manifestação dos professores foi tratada mostra a fragilidade do nosso jornalismo, que tem muita dificuldade em sair do habitual, em perceber o que é diferente, para além das legítimas dúvidas sobre a governamentalização da RTP que suscita. A manifestação dos professores não foi apenas uma manifestação bem sucedida para os sindicatos, não foi apenas a "maior" manifestação dos professores, foi um elemento qualitativamente novo na análise da situação do nosso ensino.

Mereceria que se lhe estivesse mais atento porque mostra uma ruptura entre os professores e o Ministério sem precedentes e que não pode deixar de ter consequências sobre o que se passa nas escolas. Mereceria um comentário mais qualificado, fora do tradicional conflito sindical, mereceria que se tentasse perceber porque razão o Ministério alienou nas escolas a parte mais qualificada dos professores que podiam ser o suporte de muitas das reformas que têm vindo a ser propostas e que são vitalmente necessárias. Mostra o preço do estilo do governo de tentar fazer reformas atacando os grupos profissionais no seu conjunto pelos seus "privilégios", o que no caso dos professores foi fatal.

Os professores são uma profissão muito especial, com grandes fracturas internas, muito maus hábitos mas também um dos ambientes de trabalho mais árduos que se possa imaginar, tendo que defrontar problemas sociais, familiares, culturais, para que não tem meios nem qualificações, para que nem sequer é suposto que escola tenha eficácia. Mas há uma minoria de professores, uma minoria porque a profissão está muito degradada, que se dedica de forma quase "vocacional" ao ensino e esses desejavam há muito algumas das reformas que o Ministério se propõe fazer. Sucede que esses professores também sabem bem demais o papel negativo que o Ministério sempre teve e as enormes responsabilidades do aparelho burocrático-sindical que o domina. Revoltaram-se por passarem a bodes expiatórios de uma situação que sempre combateram, sem qualquer assunção de responsabilidades próprias do Ministério. Alguns pela primeira vez foram ontem a uma manifestação sindical.

Boa tarde, sou um jovem desempregado de 29 anos e senti-me indignado ontem, pois vi o péssimo telejornal transmitido pela RTP1(casa que eu tinha em consideação).Surge-me dizer que estou tentado á acreditar nas palavras de
Cintra torres, em relação á governamentalização do telejornal. Que todo
e qualquer governante se sirva do serviço publico para dar a conhecer o que pretende para o pais tudo bem, agora que praticamente se ignore os protestos, no caso de professores, está mal.Na Sic além da nossa manifestação até apareceu uma na Grecia, na rtp penso que esta nem foi mencionada.

Aqui por casa somos todos professores e estamos profundamente desiludidos com este ministério. Podemos dizer que o serviço publico melhorou deste que estão este senhores a mandar(veja-se o caso recente do progrma sobre lingua português, ou programa d reportagens que ecentemente emitiu uma sobre violência dos alunos sobre os professores),menos o telejornal claro.O caso dos professores é apenas a ponta do iceberg.

Façam-me um favor toca a congestionar o mail do provedor sobre este assunto.Penso que vou passar a ver mais o telejornal da Sic.

(Hugo Cunha)

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Foi muito oportuna a ida do Secretário de Estado ao Canal Dois, ao telejornal, onde uma vez mais tratou o problema dos professores como se estivesse a tratar de birras de crianças e a explicar-lhes que quando uns se portam mal, todos são castigados.
Isto é algo que eu não entendo nesta equipa ministerial. Nunca o professor foi tão humilhado e a ressalva dos competentes e dedicados não tem qualquer tipo de efeito balsâmico na ferida da humilhação.

Mas o pior estaria para a acontecer, quando em pleno dever de informar o espectador sobre o que tinha acontecido, ou estava ainda a acontecer, nas ruas de Lisboa, numa manifestação espantosamente participada, a notícia dos professores foi breve e rapidamente substituída pela repetição de um excerto da entrevista dada na véspera, exactamente no tema ECD, em que o Sr. Secretário de estado repisa a teoria do ME.

Fica esquecida a questão do desemprego dos professores profissionalizados que esperam por contratações cíclicas que não têm nem dia nem hora para serem publicadas na internet? Este desemprego contribui para a existência de seres humanos cada vez mais infelizes do ponto de vista pessoal e social. E este governo devia ter preocupações com as pessoas. Que socialismo é este? Os alunos são gente e os professores são gente. Obrigada por lerem a minha indignação!

(Madalena Santos, professora do Ensino Básico, 54 anos de idade, 31 de profissão)

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1. A minha mãe é professora há 34 anos. Pela primeira vez foi a uma manisfestação. A manifestação dos professores. Ela é uma pessoa completamente despolitizada.Despolitizada entenda-se :raramente vota , nunca militou em partidos e/ou sindicatos e quando falam em politica na Tv , muda logo de canal.
Quando chegou a casa , vinha com uma bandeira na mão e a primeira coisa que fez , foi guardar a dita cuja , como que dizendo " Quero guardar uma recordação deste dia".
Como ela , outros se lhe juntaram na manifestação , que claramente não foi só apenas uma manifestação dos sindicatos e seus compagnons de route . Foi um largo contigente de professores que desceu a Lisboa. E foi isso que a RTP omitiu.

2.Imaginemos um Gestor. No primeiro dia , quando chega à sua nova Empresa , a primeira medida que faz é chamar os Trabalhadores para uma reunião.
Expõe-lhes os seus planos e objectivos e no final da reunião , remata a mesma dizendo :"Estes são os meus planos e objectivos. Sei que voçês são uns incompetentes, mas os objectivos tem de ser alcançados!Agora mãos à obra!".Logicamente que a motivação e a produtividade dos trabalhadores não será elevado.Agora substitua-se Gestor por "Ministra da Educação", Empresa por "Ministério da Educação" e Trabalhadores por "Professores."No contexto actual , a situação não muda muito..

3.Aquando da já longínqua (quase dois anos..) campanha eleitoral , em Portugal descobriu-se que existe um pais chamado Finlândia , que por "acaso" é bastante desenvolvido .O que motivou uma visita de José Socrates, já indigitado Primeiro Ministro , para conhecer in loco este fenómeno. Uma das conclusões , foi que , supresa das supresas , uma das razões para o sucesso Finlandês passava por uma forte aposta da educação.
Lembro-me que nessa visita , quando entrevistavam professores Finlandeses , todos eles frisavam o facto de , por via da sua profissão , serem pessoas bastante respeitadas na comunidade e a sua opinião ser ouvida atentamente.Será que isso sucede em Portugal?Acho que não...

(João Melo)

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O problema político da educação é muito mais sério do que pode parecer. Era altura de a comunicação social (e o sistema político) deixarem de tratar o assunto como «pano de fundo» da vida cívica. Ele merece lugar central. Incido em dois aspectos estranhamente ignorados e que, se se passassem noutro sector, já teriam chamado a atenção dos analistas políticos: (i) o mesmo PS que bate no peito a favor das quotas para as mulheres ao nível da representatividade política, ataca sem pudor o sector da educação, caso singular em Portugal (talvez acompanhado pelo da saúde) de valorização e dignificação social das mulheres que se afirmaram em pé de igualdade face ao género oposto «sem favores»; (ii) se o maior problema da estrutura social portuguesa é o fosso a tender para o terceiro-mundismo entre as elites e o «resto», uma almofada de classe média (mais média-baixa) que o Estado Democrático impulsionou está em vias de ser estreitada a um terço, se tomarmos como referência a proposta de Estatuto da Carreira Docente e tendo em conta os efeitos de modelação social associados às decisões estratégicas do Estado.

Que o Eng.º José Sócrates e os contabilistas-gestores-propagandistas que o acompanham sejam ignorantes nessas matérias, o mesmo não é aceitável vindo da socióloga Maria de Lurdes Rodrigues. Se a última para progredir na carreira fosse sujeita a um exame sobre a relação entre estrutura social e estabilidade política, estava rotundamente chumbada. Nem sequer parece ter percebido que a maioria absoluta não é eterna e a ressaca, com tal herança governativa, será um tiro no pé da estabilidade do sistema político democrático. Como o processo está a ser conduzido no plano político, onde muitos sonham com reformas na estrutura do Estado, daqui a uma década provavelmente encontrarão uma fragmentação estéril no tecido social e uma administração pública um pouco mais leve nos custos, mas muito mais ineficaz para os que mais precisam em sectores estruturais (segurança social, saúde e educação) e a persistência de um sector privado referenciado na mão-de-obra barata. Depois não valerá a pena voltar a chorar a estruturante desigualdade social de um país bipolar, que não sabe ser moderado, no qual desde 2005 os novos «capitães» tentaram uma revolução de Abril ao contrário, em vez de encetarem um processo reformista inteligente, honesto, ponderado, solidamente negociado e socialmente diluído.

A reacção de corpos profissionais como o dos professores simboliza muito mais para o sistema político do que a simples reacção absurda de pessoas bem instaladas que procuram a mera conservação de direitos adquiridos tornados ilegítimos pela propaganda governativa.


(Gabriel Mithá Ribeiro)
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Sobre monstros, geometria, os gatinhos e o ET - ou de como é fácil levarem-nos pela certa. Basta ter grandes olhos, nariz curto...

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Em continuação de ontem:
Não podia estar mais de acordo com os comentários relativos aos critérios noticiosos da RTP. Como é que se explica que notícias como o do sequestro de Setúbal tenha durado vinte minutos de entrevistas banais a transeuntes (sem que nada se passasse) e outras bem mais relevantes (Discurso do 5 de Outubro, Manifestação dos professores, etc...) tenham sido relegados para segundo plano? Isto para já não falar da duração do telejornal principal (mais de 1 hora!) cheio de banalidades futebolísticas (lesões, entrevistas a jogadores, sub-21, selecções diversas...). Basta ver os noticiários da BBC, Sky.News, TV5, CNN, para perceber as diferenças...

(Rui Mota )

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