ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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7.6.04
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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES
"Ao ler o seu comentário sobre os Jornalistas e a cobertura da campanha eleitoral recordei-me de um pequeno ensaio de Kierkgaard que li há anos. Só o tenho em tradução inglesa, publicado em Soren Kierkegaard, The Present Age and of the Difference Between a Genius and an Apostle, New York, Harper Torchbooks, 1962. Escrito em 1846, intitula-se The Present Age e segue um pequeno extracto, mais precisamente o final do ensaio: "The Media is an abstraction (because a newspaper is not concrete and only in an abstract sense can be considered an individual), which in association with the passionlessness and reflection of the times creates that abstract phantom, the public, which is the actual leveler. . . . More and more individuals will, because of their indolent bloodlessness,aspire to become nothing, in order to become the public, this abstract whole, which forms in this ridiculous manner: the public comes into existence because all its participants become third parties. This lazy mass, which understands nothing and does nothing, this public gallery seeks some distraction, and soon gives itself over to the idea that everything which someone does, or achieves, has been done to provide the public something to gossip about. . . . The public has a dog for its amusement. That dog is the Media. If there is someone better than the public, someone who distinguishes himself, the public sets the dog on him and all the amusement begins. This biting dog tears up his coat-tails, and takes all sort of vulgar liberties with his leg--until the public bores of it all and calls the dog off. That is how the public levels." Actualmente já ninguém lê Kierkegaard mas é pena pois ele tem muito para nos ensinar." (João Costa) (url)
NOTAS CHEKOVIANAS
Ivan Bounine, Tchékhov, Editions du Rocher, 2004 Bunine, um grande escritor russo esquecido apesar de ter recebido o Prémio Nobel, foi amigo de Chekov nos últimos anos da sua vida. Anotou ditos, situações e comentários sobre o escritor seu amigo e, quase cinquenta anos depois da morte de Chekov, publicou este livro que só agora, cinquenta anos depois, está disponível em francês. Chekov quando o viu tirar notas disse-lhe: “Nunca fales de mim como um “gentil talento” ou como uma “boa alma”. Bunine cumpriu metade. Falou de Chekov como um génio e … como uma “boa alma”. Citando opiniões de Kurdiumov sobre Chekov, Bunine escolhe esta : “Depois do sangrento cataclismo russo, lê-se Chekov com muita atenção, porque longe de estar ultrapassado, ele parece-nos agora mais próximo, mais compreensível e infinitamente mais importante do que antes.” Serve para os dias de hoje. (url)
EARLY MORNING BLOGS 220
Corazón, ayer sonoro, ¿ya no suena tu monedilla de oro? Tu alcancía, antes que el tiempo la rompa, ¿se irá quedando vacía? Confiemos en que no será verdad nada de lo que sabemos. (Antonio Machado) * Bom dia! (url) 6.6.04
OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: UMA OLHA PARA CIMA, OUTRA PARA BAIXO
Opportunity on the Edge é o título que a NASA dá à situação da Oportunidade, pendurada numa encosta, olhando para a cratera Endurance. O Espírito olha para cima, para as Columbia Hills, a Oportunidade olha para baixo – boa metáfora, dirão os cínicos. Mas quando a Oportunidade fala com o Espírito, diz-lhe que aquela cova perfeita foi cavada por um gigante que ali se deitou. (url) (url) (url)
EARLY MORNING BLOGS 219
On the Disadvantages of Central Heating cold nights on the farm, a sock-shod stove-warmed flatiron slid under the covers, mornings a damascene- sealed bizarrerie of fernwork decades ago now waking in northwest London, tea brought up steaming, a Peak Frean biscuit alongside to be nibbled as blue gas leaps up singing decades ago now damp sheets in Dorset, fog-hung habitat of bronchitis, of long hot soaks in the bathtub, of nothing quite drying out till next summer: delicious to think of hassocks pulled in close, toasting- forks held to coal-glow, strong-minded small boys and big eager sheepdogs muscling in on bookish profundities now quite forgotten the farmhouse long sold, old friends dead or lost track of, what's salvaged is this vivid diminuendo, unfogged by mere affect, the perishing residue of pure sensation (Amy Clampitt ) * Bom dia! (url) 5.6.04
POEIRA DE 5 DE JUNHO
Hoje, há mil e dezasseis anos, o que viria a ser a Rússia entrava na nossa história comum. O príncipe Vladimir, convertido ao cristianismo ortodoxo, ordenou o baptismo colectivo da população de Kiev, capital do Rus. A partir daí, a história da Rússia faz-se para o lado de cá e não para o lado de lá. (url)
QUANDO É QUE OS SENHORES JORNALISTAS AUTORIZAM QUE A CAMPANHA ELEITORAL SEJA SOBRE QUALQUER OUTRA COISA QUE NÃO SEJA OS “INSULTOS”? (2)
Claro que tudo isto tem também muito a ver com o interesse que os meios de comunicação social têm sobre as questões europeias, e com a preparação dos jornalistas para as tratar – que, salvo honrosas excepções, é quase nula, em particular nos que são "atirados" para seguir os candidatos em campanha. Durante cinco anos no Parlamento Europeu, e com a excepção dos correspondentes locais em Bruxelas (do Diário de Notícias, da RTP, da SIC, da Lusa) que acompanhavam as questões europeias e que as conheciam bem – e que eram os primeiros a queixar-se do desinteresse dos seus órgãos de comunicação social, que pouco lhes pediam para além de peças de circunstância e institucionais – pude testemunhar o completo desinteresse sobre a Europa. Quando havia cobertura dos assuntos europeus era puramente oficiosa, atrás de ministros em visita, ou pedindo depoimentos de meia dúzia de segundos a todos os partidos em corridinho, para parecer pluralista. Estava feito por encomenda. E não é jornalismo, é agenda de obrigação, sem qualquer vantagem informativa. Este desinteresse é (foi) tanto mais grave quando acompanhou um período de profundas mudanças qualitativas na Europa. Só para dar um exemplo concreto: que interesse jornalístico suscitou a participação portuguesa na Convenção que preparou a chamada “Constituição europeia” ? Nenhum. E se retirarmos casos isolados de jornalistas que se interessam pela Europa, como Teresa de Sousa ou Sarsfield Cabral, então é menos que nada. E não me venham com a treta auto justificativa de que a culpa foi dos políticos que não fizeram nada para lhes chamar o interesse, porque pude assistir aos esforços em vão de gente de todos os partidos, querendo discutir as matérias controversas e, obviamente, divulgar a sua posição. Em vão. Pelo contrário, se havia qualquer vislumbre de escândalo ou polémica incidental, então lá corriam em massa para desaparecerem logo de seguida, mesmo que o destino da Europa se discutisse na sala ao lado. São esses mesmos do “nada” que agora vêm queixar-se com arrogância de que não se fala na Europa. (url) A. Ivanov (url)
QUANDO É QUE OS SENHORES JORNALISTAS AUTORIZAM QUE A CAMPANHA ELEITORAL SEJA SOBRE QUALQUER OUTRA COISA QUE NÃO SEJA OS “INSULTOS”?
Quando é que os senhores jornalistas autorizam que a campanha eleitoral seja sobre qualquer outra coisa que não seja os “insultos”? Os insultos ocorreram de facto nos primeiros dias da campanha, de forma inteiramente lamentável. Chamo insultos aos insultos pessoais porque só esses merecem a classificação de insultos. Classificações políticas podem ser consideradas ofensivas, excessivas, radicais, mas não são insultos. Devem ter respostas políticas e comentários políticos, e não metidas no mesmo saco da orelha e do periquito. Seguiram-se os pedidos de desculpa e os insultos não se repetiram. Podiam ser considerados um epifenómeno da campanha, lamentável mas que dificilmente caracterizava as principais figuras envolvidas. Ana Manso e João Almeida (quem é?) não são propriamente gente grada. Ocorreram, insisto, no início da campanha e, no entanto, para quem ligue uma televisão, ou uma rádio, ou leia um jornal, nada mais tem acontecido uma semana depois. Senhores jornalistas – e dou dois exemplos: Constança Cunha e Sá, na TSF, e Eduardo Dâmaso, na RTP – fazem arrogantes exercícios de superioridade moral sobre essa malta ignara dos políticos que se insultam todos os dias, perante eles, guardiões da moral e dos bons costumes cívicos. É por isso que, até ao último dia, os senhores jornalistas não vão deixar sair a campanha do episódio dos insultos. Convém-lhes, dá-lhes pretexto para esta arrogância moral. E, no entanto, e sem distinguir entre os principais candidatos do PS e PSD, eu já li entrevistas suas e debates em que falam de questões importantes para a Europa. Sobre impostos europeus, sobre a defesa europeia, sobre os riscos de directório, sobre o enquadramento institucional, defendendo, nalguns casos, posições controversas e mais do que dignas de debate. Algum senhor jornalista, na colecta diária de soundbites, lhes fez alguma pergunta sobre a Europa? Algum deu seguimento a qualquer posição sobre a Europa que merecesse atenção? Não, perguntavam-lhes sobre os insultos, “picavam-nos” na esperança de obter novos insultos. (Contnua) (url)
EARLY MORNING BLOGS 218
Madame, ce matin je vous offre une fleur Madame, ce matin je vous offre une fleur Qui du sang de Narcis a pris son origine : Pour vous y comparer Amour vous la destine, Et vous vient consacrer son tige et sa couleur. Vous semblez un Narcis de grâce et de rigueur, Il avait comme vous l'apparence divine, De sa vive beauté l'onde fut la ruine, Et je crains qu'un miroir cause votre malheur ! De moi je suis Écho dolente forestière, Qui va cherchant partout votre grâce meurtrière Pour trouver du relâche à ma captivité, Mais vous voyant toujours plus fière et inhumaine, Je désire sans plus que je sois la fontaine Où les dieux puniront votre sévérité. (Siméon-Guillaume de la Roque) * Bom dia! (url) 4.6.04
ASPECTOS DA CAMPANHA ELEITORAL NO MEU BAIRRO BELGA 2
Alguns candidatos. Não, não foram escolhidos pelos seus nomes estrangeiros, não foram escolhidos por serem árabes, ou turcos, ou libaneses, ou gregos. São mesmo aqueles cujos cartazes enchem os muros, as lojas, as ruas. Há muitos mais exemplos. Não aparece nenhum português. Não trocaria o meu bairro belga por qualquer outro. (url)
COMO DE COSTUME
a manipulação continua. Noticiário da RTP das 20 horas abre com a audiência do Papa a Bush. Referência à afirmação do Papa da necessidade de devolução da soberania ao Iraque. Muito bem. Depois, acrescenta-se esta pequena palavra: "irritado". "O Papa irritado com Bush..." , invenção do jornalista de um estado de alma numa audiência cordata. É assim que se fazem as coisas. (url)
ASPECTOS DA CAMPANHA ELEITORAL NO MEU BAIRRO BELGA
Panfleto da Front National belga Cartaz de propaganda do Parti Citoyenneté et Prosperité (url) (url) 3.6.04
EARLY MORNING BLOGS 217
J'ay voulu voyager, à la fin le voyage J'ay voulu voyager, à la fin le voyage M'a fait en ma maison mal content retirer. En mon estude seul j'ay voulu demeurer, En fin la solitude a causé mon dommage. J'ay volu naviguer, en fin le navigage Entre vie et trespas m'a fait desesperer. J'ay voulu pour plaisir la terre labourer, En fin j'ay mesprisé l'estat du labourage. J'ay voulu pratiquer la science et les ars, En fin je n'ay rien sceu ; j'ay couru le hasars Des combas carnaciers, la guerre ore m'offence : Ô imbecillité de l'esprit curieus Qui mescontent de tout de tout est desireus, Et douteus n'a de rien parfaite connoissance. (Jean-Baptiste Chassignet) * Bom dia! (url) 2.6.04
EARLY MORNING BLOGS 216
Dusty Doors Child of the Aztec gods, how long must we listen here, how long before we go? The dust is deep on the lintels. The dust is dark on the doors. If the dreams shake our bones, what can we say or do? Since early morning we waited. Since early, early morning, child. There must be dreams on the way now. There must be a song for our bones. The dust gets deeper and darker. Do the doors and lintels shudder? How long must we listen here? How long before we go? (Carl Sandburg) * Bom dia! (url) 1.6.04
DIANTE DESTAS ÁGUAS
que já viram tudo, em breve , encontrarei, não o silêncio que conforta, mas o que permite ouvir melhor. (url)
AO LONGE
Ouço o fio de voz da pátria: confusões, erros perigosos, insultos, agitação pequenina. De passagem por um livro, para escrever uma nota sobre Richard Holmes, encontro as primeiras impressões de Wellington à chegada a Lisboa. Sinistro. “O mais Horrível Lugar que jamais se viu”, assim mesmo, com maiúsculas. O lixo em que Lisboa estava mergulhada tornava a mais “suja pocilga num palácio”, escrevia um soldado inglês para a família. Portugal positivo? Só de facto no combate ao Portugal negativo. Erros perigosos. Erros muito perigosos na justiça, área que no seu primeiro embate a sério com o escrutínio público, revelou uma situação de “anormalidade” preocupante. Se um inocente esteve preso por uma sanha persecutória contra os “políticos” ou as “figuras públicas”, esta situação equivale àquilo que nas forças armadas seria um golpe de estado. (url)
SCRITTI VENETI
Pela fresca manhã, leitura apropriada da Toccata Of Galuppi's de Robert Browning, muito extensa para colocar aqui. Fica um sabor, um flavour: I Oh Galuppi, Baldassaro, this is very sad to find! I can hardly misconceive you; it would prove me deaf and blind; But although I give you credit, 'tis with such a heavy mind! II Here you come with your old music, and here's all the good it brings. What, they lived once thus at Venice, where the merchants were the kings, Where Saint Mark's is, where the Doges used to wed the sea with rings? III Ay, because the sea's the street there; and 'tis arched by... what you call ... Shylock's bridge with houses on it, where they kept the carnival; I was never out of England—it's as if I saw it all! ….. Como continua? Com uma pergunta retórica: “Did young people take their pleasure when the sea was warm in May?”. Depois há uma paráfrase de Catulo sobre a quantidade dos beijos necessários e termina no tom de Villon: XIV "As for Venice and its people, merely born to bloom and drop, Here on earth they bore their fruitage, mirth and folly were the crop: What of soul was left, I wonder, when the kissing had to stop? XV "Dust and ashes!" So you creak it, and I want the heart to scold. Dear dead women, with such hair, too—what's become of all the gold Used to hang and brush their bosoms? I feel chilly and grown old. Um pouco gloomy na ironia. "Co l'arte e co l'ingano se vive mezo ano; co l'ingano e co l'arte se vive staltra parte.", diz um provérbio veneto. Muitas línguas pela manhã. Tudo misturado, inglês, italiano, português. (url) (url)
EARLY MORNING BLOGS 215
Margaret Many birds and the beating of wings Make a flinging reckless hum In the early morning at the rocks Above the blue pool Where the gray shadows swim lazy. In your blue eyes, O reckless child, I saw today many little wild wishes, Eager as the great morning. (Carl Sandburg) * Bom dia! (url)
© José Pacheco Pereira
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