ABRUPTO

31.12.06


JARDINS DE INVERNO


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JARDINS DE INVERNO

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JARDINS DE INVERNO

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 31 de Dezembro de 2006

Em breve, como de costume,

BOAS / PÉSSIMAS COISAS NA COMUNICAÇÃO SOCIAL PORTUGUESA EM 2006, VISTAS POR UM GRANDE (EM QUANTIDADE) CONSUMIDOR.

*

Fui apanhado de surpresa pelas reacções ao enforcamento de Saddam Hussein. Será que isto revela somente que ainda sou muito ingénuo? Quero dizer desde já que estou de acordo com quem defende que seria preferível que a execução só tivesse lugar depois de os americanos terem abandonado o Iraque, que também acho que me pareceu haver uma pressa estranha em
todo o processo e, finalmente, que me inclino a ser da opinião de que ele também deveria também ter sido julgado pelos restantes crimes de que é acusado. Mas toda esta atitude de se considerar bárbara a sua execução e mesmo um retrocesso civilizacional é algo que não compreendo. Em primeiro lugar porque a pena de morte está em vigor em vários países
considerados civilizados (nos Estados Unidos e no Japão, por exemplo), em segundo lugar porque está em vigor na generalidade dos países da região e, em terceiro lugar, porque, obviamente, a pena de morte estava em vigor no Iraque no tempo de Saddam Hussein. Sendo assim, como é que integrar a pena de morte no código civil iraquiano pode ser um retrocesso civilizacional?

Por outro lado, porque é que os crimes cometidos por Saddam Hussein não provocaram a mesma comoção? Cada vez me parece mais que foi Estaline quem melhor captou a maneira de pensar subjacente a esta atitude com a célebre frase «Uma morte é uma tragédia, milhões de mortes é somente um dado estatístico.» Para além de se ver aqui mais uma vez uma perturbante dualidade de critérios. Por exemplo, Ana Gomes escreveu aqui a propósito da morte de Pinochet que «[d]urante anos viajou, na casa que levei às costas, de país para país, uma garrafa de champanhe. Para abrir no dia em que Pinochet morresse ou fosse preso.» Não consta que a senhora deputada tenha aberto uma pela morte de Saddam, ou que tenha declarado que não abriria a destinada a Pinochet caso este fosse executado. Porque será?

(José Carlos Santos)
*

Como seria de esperar num país onde não se aprende a discutir e onde os
sound-bytes são encaradas pela generalidade da população como a forma
suprema de argumentação, o texto que lhe enviei relativo à execução de
Saddam Hussein desencadeou reacções pavlovianas. Quem lesse as respostas
que publicou pensaria que o meu texto defendia a execução, quando em
nenhuma passagem mencionei a minha concordância ou discordância com esta
e fui ao ponto de criticar o facto de ter tido lugar nas circunstâncias
em que teve lugar. De facto, o meu texto não foi, obviamente, um texto a
favor nem contra a pena de morte. Aquilo que afirmei (e que mantenho) é
somente que a expressão «retrocesso civilizacional» não pode, pelas
razões que expus, ser empregue neste caso. De facto, sou da opinião de
que constituiu mesmo um avanço civilizacional, pelo facto de Saddam ter
sido somente executado mas não torturado.

Quanto à longa lista de irregularidades (estou a ser eufemístico)
exposta pelo seu leitor António Cardoso da Conceição relativamente ao
julgamento, agradeço-lhe o trabalho. Só reforçou a minha opinião de que
o julgamento já tinha o desfecho condicionado à partida. Por acaso terá
extraído ele do meu texto que eu pensaria outra coisa?

(José Carlos Santos)

*

Com efeito, aquela perspectiva assenta num raciocínio lógico e disciplinar, apontando para as regras pré-estabelecidas - de acordo - que fazem juz ao conhecido ditado de que "quem com ferros mata, com ferros morre". Ora, parece-me que o que devemos por em causa são essas regras, aqui e lá, em qualquer parte do mundo dito civilizado.


Não me bastará, assim, invocar o meu desacordo com qualquer pena de morte, nem por um princípio religioso, nem por qualquer convicção "fundamentalista". O que coloco em causa, se quisermos até, apenas numa perspectiva das tais regras que uma sociedade deve possuir, é se este método é o mais eficaz não para o condenado mas para a "sociedade" punidora.

Sabemos que, dentro de algum tempo, este facto acaba por esquecer. E não servirá mais como exemplo, como medida preventiva para outras atitudes desumanas como as cometidas por aquele condenado. Defendo, isso sim, castigos severos em vida porque aí sofre o prevaricador e sofrem as pessoas em geral na comunidade.

Todos condenámos as atitudes daquele ditador; todos condenamos as atitudes de guerra seja ela onde e quando for.

Não se trata, apenas, de uma questão de direito á vida; trata-se, isso sim, de uma questão de dignidade colectiva que a sociedade, a breve prazo, terá que resolver. Esta e muitas outras sob pena de, a não inverter este rumo, ela própria ficar condenada à sua própria execução.

(Francisco Teixeira)

*

Leio as palavras de José Carlos Santos sobre o enforcamento de Saddam Hussein e não as compreendo. Não está em causa, a morte de Saddam, nem estão em causa os modos bárbaros e desumanos como o mundo árabe executa os seus criminosos. Isso é outro tema. Não está sequer em causa a pena de morte, cuja abolição secular faz de nós portugueses, com todo os nossos outros infinitos defeitos, um povo superior.
O que está em causa é a farsa intolerável que foi o julgamento de Saddam. O que está em causa é, essencialmente, o regozijo expresso e infame de Georges W. Bush com o desenlace dessa farsa. Indigna de um líder ocidental e, sobretudo, indigna do presidente da que já foi a pátria da liberdade.

Num Iraque em guerra, todos compreendedríamos que, no momento da sua captura, as tropas americanas tivessem simulado um acto de resistência do antigo ditador iraquiano e o tivessem imediatamente liquidado no acto. Não tendo escolhido essa via, optando por proceder à sua captura, tinham os americanos, como imperativo moral absolutamente categórico, a obrigação de assegurar que esse julgamento fosse justo. Não asseguraram. Desonraram-se e desonraram o povo que representam.
Porque José Carlos Santos Santos não se lembra, porque muitos outros José Carlos Santos não se lembram, valerá a pena recordar aqui que:

• Três advogados de Saddam foram assassinados durante o processo;
• Houve pressões públicas de membros do governo iraquiano, para que o Tribunal produzisse uma rápida condenação;
• O comité de dabaasificação removeu e substituiu, pelo menos, um juiz que se empenhou demasiado em ouvir os arguidos no processo e que, com essa substituição, perdeu o direito de viver na segura zona verde de Bagdad;
• Os arguidos nunca tiveram o direito de conhecer indvidual e especificadamente aquilo de que eram acusados, havendo apenas uma acusação genérica sobre os acontecimentos do processo Dujail?;
• O tribunal não aceitou a junção ao processo de quaisquer provas que pudessem indiciar a inocência dos arguidos;
• As provas da apresentadas pela acusação foram frequentemente ocultadas à defesa e, quando lhe era dado conhecimento das mesmas, não lhe era dado o tempo adequado para preparar o contraditório;
• Houve muitos documentos atribuídos ao governo de Saddam, que fundamentaram a acusação, mas que nunca foram devidamente autenticados, como documentos oficiais do governo de Saddam;
• O julgamento ocorreu no país e na cidade mais inseguros do mundo, sem que às testemunhas de defesa dos arguidos fosse assegurada qualquer protecção.

Podemos nós, os herdeiros da cultura, da civilização e dos valores do ocidente, aceitar a validade deste julgamento? Não, não podemos! Não podemos, de maneira nenhuma, aceitar que Saddam tenha sido julgado da mesma maneira que ele nos teria julgado a nós.

- Tal como um cão!
E era como se a vergonha devesse sobreviver-lhe.
As palavras são de Kafka, a encerrar O processo. Lembrei-me delas ao ver as imagens do enforcamento da Saddam Hussein.

(António Cardoso da Conceição)

*

Que "a pena de morte está em vigor em vários países considerados civilizados", que "está em vigor na generalidade dos países da região" e que "estava em vigor no Iraque no tempo de Saddam Hussein", é a melhor colecção de argumentos que já li a favor da pena de morte. Que não está na maior parte dos países considerados civilizados, que os exemplos que da região vêm não têm sido últimamente os melhores e que o que estava em vigor no tempo de Saddam é precisamente o contrário daquilo a que vulgarmente se chama civilização, parece não ser argumento para alguns. Fez bem, desta vez, a generalidade dos países europeus em condenar a execução. Pela mesma razão por que me indigno quando o poder se verga perante as exigências descabidas (reais ou não) de algum grupo de fundamentalistas, me devo orgulhar quando o mesmo faz ouvir os valores de que me orgulho na civilização a que pertenço.

E depois há o argumento a preto e branco, claro! Quem não ficou no mínimo triste por não ver o homem pendurardo (esperem que há-de vir...) é um esquerdista perigoso que ignora as atrocidades de Estaline e deita foguetes quando morre um fascista. É sempre assim e, pior, há-de ainda por muito tempo continuar a ser; esperem uns dias pela campanha do próximo referendo e verão...

(João Tinoco)

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EARLY MORNING BLOGS

938 - The Visionary

Silent is the house: all are laid asleep:
One alone looks out o’er the snow-wreaths deep,
Watching every cloud, dreading every breeze
That whirls the wildering drift, and bends the groaning trees.

Cheerful is the hearth, soft the matted floor;
Not one shivering gust creeps through pane or door;
The little lamp burns straight, its rays shoot strong and far:
I trim it well, to be the wanderer’s guiding-star.

Frown, my haughty sire! chide, my angry dame!
Set your slaves to spy; threaten me with shame:
But neither sire nor dame nor prying serf shall know,
What angel nightly tracks that waste of frozen snow.

What I love shall come like visitant of air,
Safe in secret power from lurking human snare;
What loves me, no word of mine shall e’er betray,
Though for faith unstained my life must forfeit pay.

Burn, then, little lamp; glimmer straight and clear—
Hush! a rustling wing stirs, methinks, the air:
He for whom I wait, thus ever comes to me;
Strange Power! I trust thy might; trust thou my constancy.


(Emily Brontë)

*

Bom dia e bom ano!

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30.12.06


JARDINS DE INVERNO

Foto que fiz há três horas atrás numa praia perto de minha casa em Tenerife
(mais um sinal da aceleração do tempo).


(António Marques)

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EARLY MORNING BLOGS

937 - Bien qu'il y ait plusieurs épithètes pour l'esprit ...

Un esprit fin et un esprit de finesse sont très différents. Le premier plaît toujours; il est délié, il pense des choses délicates et voit les plus imperceptibles. Un esprit de finesse ne va jamais droit, il cherche des biais et des détours pour faire réussir ses desseins; cette conduite est bientôt découverte, elle se fait toujours craindre et ne mène presque jamais aux grandes choses.

Il y a quelque différence entre un esprit de feu et un esprit brillant. Un esprit de feu va plus loin et avec plus de rapidité; un esprit brillant a de la vivacité, de l'agrément et de la justesse.

La douceur de l'esprit, c'est un air facile et accommodant, qui plaît toujours quand il n'est point fade.

Un esprit de détail s'applique avec de l'ordre et de la règle à toutes les particularités des sujets qu'on lui présente. Cette application le renferme d'ordinaire à de petites choses; elle n'est pas néanmoins toujours incompatible avec de grandes vues, et quand ces deux qualités se trouvent ensemble dans un même esprit, elles l'élèvent infiniment au-dessus des autres.

On a abusé du terme de bel esprit, et bien que tout ce qu'on vient de dire des différentes qualités de l'esprit puisse convenir à un bel esprit, néanmoins, comme ce titre a été donné à un nombre infini de mauvais poètes et d'auteurs ennuyeux, on s'en sert plus souvent pour tourner les gens en ridicule que pour les louer.

Bien qu'il y ait plusieurs épithètes pour l'esprit qui paraissent une même chose, le ton et la manière de les prononcer y mettent de la différence; mais comme les tons et les manières ne se peuvent écrire, je n'entrerai point dans un détail qu'il serait impossible de bien expliquer.

(La Rochefoucauld)

*

Bom dia!

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29.12.06


RETRATOS DO TRABALHO NA GUARDA, PORTUGAL

Construção de uma ponte pedonal na Guarda ( freguesia de S. Miguel) , esta tarde.

(Alexandrina Pinto)

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COISAS DA SÁBADO: OS MITOS SOBRE O YOU TUBE

http://media3.washingtonpost.com/wp-dyn/content/photo/2006/12/16/PH2006121601061.jpg
O You Tube ajudou-nos a “nós” a ficar na imagem do espelho da “pessoa do ano” na revista Time. Os milhões de visionamentos de vídeos do You Tube suscitaram de novo as glórias utópicas da Rede, feita por todos para todos, gratuita e desinteressadamente. Mas o You Tube é um sinal de outras coisas: de uma Rede que cada vez mais vai deixar de ser “escrita” e “lida”, para passar a ser “vista”. É natural que assim seja, é a vista, o sentido da visão que mais em nós manda, quanto mais nós somos “nós”. Já foi assim cá fora com a televisão, será assim lá dentro: a imagem será mais importante que a palavra, quanto maior for o número de pessoas que constitua o “nós” da Rede. No fundo, o You Tube é só um sinal percursor.

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JARDINS DE INVERNO

Margens do Tâmega.
(Clique sobre a foto para a ver em todo o seu esplendor.)

(Gil Coelho)

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UM INTELECTUAL ORGÂNICO EUROPEU: JOSEPH RATZINGER (BENTO XVI)

Olhando para 2006 com os olhos do fim do ano, pequena convenção do tempo, há uma figura intelectual que emerge da Europa, onde hoje elas não abundam: Joseph Ratzinger, o actual Papa Bento XVI. Não é tanto o Papa que me interessa em primeiro lugar, nem são motivos religiosos que me levam a destacar Ratzinger, mas sim o seu papel como intelectual na feitura da Europa como nós a conhecemos e do "Ocidente" como nós já não o conhecemos. Este tipo de aproximação a Ratzinger é provavelmente uma das que mais lhe desagradará, após uma vida a combater uma visão que considerará relativista e positivista e que acaba inevitavelmente por minimizar, na sua análise, o homem de fé que o padre, bispo, cardeal e agora Papa é sem dúvida. Ele próprio resumiu algumas das suas recusas em tomar determinadas posições com a afirmação definitiva: "Se o fizesse, não seria capaz de afirmar o Credo." Neste sítio, onde eu paro, começa Ratzinger.

http://ec3.images-amazon.com/images/P/0826417868.01._AA240_SCLZZZZZZZ_.jpg
Pope Benedict XVI: A Biography of Joseph Ratzinger. A biografia de Ratzinger de John L. Allen, um jornalista do National Catholic Reporter e "especialista do Vaticano" na CNN, é um excepcional trabalho jornalístico. Escrita ainda sobre Ratzinger e não sobre Bento XVI, mostra o papel crucial que teve em moldar a Igreja católica no pontificado de João Paulo II e o vigor das suas polémicas com outros teólogos, assim como a controvérsia contínua, na Igreja e fora dela, sobre as suas posições. Sendo um livro de jornalista, interessado mais pelo confronto de posições e opiniões, do que pela obra doutrinária de Ratzinger, mostra um profundo e rigoroso conhecimento dos pontos de teologia, doutrina e tradição envolvidos. É o livro obrigatório sobre este aspecto da personalidade e carreira de Ratzinger, central na sua vida pessoal e espiritual.
Como intelectual, Ratzinger tem um percurso que pode ser comparado com outros intelectuais europeus do seu tempo e há nele, descontada a vertente mais estritamente teológica, uma comunidade de temas muito próxima, por exemplo, da de George Steiner. O facto de Ratzinger ter desenvolvido a sua actuação essencialmente dentro de um nicho ecológico muito particular, a Igreja católica, obscureceu o seu papel de intelectual propriamente dito, sem por isso deixar de ter na história recente uma importância pouco comparável, porque maior, com a de muitos outros intelectuais com uma "cobertura" mais laica, mais mediática, logo mais próxima do "século". A razão pela qual Ratzinger se tornou mais importante nos dias de hoje, embora a sua influência tenha sido já muita nas últimas duas décadas, tem a ver com um efeito de procura de identidade, que o actual conflito cultural e civilizacional reforçou na Europa. Os textos de Ratzinger, os seus temas e o seu posicionamento, tornaram-se mais centrais nas preocupações culturais, intelectuais e políticas dos dias de hoje, concorde-se ou não com eles.
O discurso proferido em Ratisbona foi distinguido com o prémio "Discurso do ano" pelo Departamento de Retórica da Universidade de Tubingen, um dos mais prestigiados da Alemanha. (Informação de Miguel Alves.)
Bento XVI não é um Papa como os outros, não chegou ao lugar de Pedro apenas pela sua actuação pastoral, nem sequer pela ascensão dentro da Cúria romana, mas através do seu papel como teólogo, autor de múltiplos livros e artigos académicos na sua área de especialidade, discursos, entrevistas e debates. No mundo cultural do centro da Europa e nos EUA os seus trabalhos são muito conhecidos, partilhando com outros teólogos como Urs von Balthasar, Kung e Barth o lugar cimeiro de uma disciplina não só religiosa, quando o é, mas também académica, ligada em particular à filosofia.

Para além disso, Ratzinger exerceu durante um período crucial da história recente da Igreja uma outra função típica de um intelectual, a de prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, a instituição sucessora na Igreja católica, do Santo Ofício, da Inquisição. Como defensor da ortodoxia, o que significa também construtor da ortodoxia, Ratzinger oferece um exemplo de uma tradição puramente intelectual, mais próxima do intelectual "orgânico" gramsciano do que do intelectual ao modelo do Zola do J'Accuse, mais conforme com a nossa tradição afrancesada. A formulação da ortodoxia doutrinária é uma tarefa que contém elementos punitivos, mesmos nos nossos dias, a começar pela retirada da autorização a um teólogo da missio canonica que o impede de ensinar nas cátedras universitárias que dependem da aprovação da Igreja, como acontece com muitas universidades alemãs onde os departamentos de Teologia católica exigem essa autorização. Hans Kung foi uma das vítimas desta situação.

http://images.amazon.com/images/P/0679640924.01._AA240_SCLZZZZZZZ_.jpgA obra de Kung sobre a Igreja católica fornece uma visão alternativa em muitos pontos às posições de Ratzinger, revelando como a interpretação doutrinária seguindo diferentes tradições filosóficas, entre Agostinho e Tomás de Aquino, pode conduzir a resultados muito distintos no entendimento da Igreja, e da sua relação com a sociedade. Kung insiste no carácter da Igreja como construção temporal, em que muitas das opções - os mecanismos de autoridade e hierarquia, o afastamento das mulheres do sacerdócio, a natureza do "apostolado", a infalibilidade papal, etc. - resultam não da Revelação, mas sim da história. Kung lamenta
a posteriori o papel do helenismo em que mergulhou o cristianismo primitivo, enquanto muitas das concepções de Ratzinger valorizam uma "prioridade ontologógica" da Igreja sobre a "igreja" tal como ela é. Ver sobre este aspecto um artigo de Ratzinger (em inglês) The Ecclesiology of the Constitution on the Church, Vatican II, "Lumen Gentium" e o texto "platónico" da Congregação da Doutrina da Fé, dirigido aos bispos "sobre alguns aspectos da Igreja entendida como comunhão".
O mesmo aconteceu com outras formas de punição, como a obrigação de silêncio, a retratação pública, a retirada do imprimatur a livros publicados e outras. Ratzinger foi o inquisidor, mas não foi o grande inquisidor com que muitos hoje o classificam. Na verdade, a maioria das posições doutrinais que teve que defender eram há 50 anos consideradas tão fundamentais para a fé católica que ninguém pensaria contestá-las e permanecer católico.

Neste duplo sentido da sua acção intelectual, Ratzinger acompanha muito proximamente os tempos, mesmo que a partir de uma dada altura o faça em contraciclo, contra as tendências do "século". É exactamente este contraciclo que o torna interessante na procura de identidade europeia que começou com a crise do comunismo e depois da União Europeia e se acentuou face ao crescente número de conflitos com o islão fundamentalista e a aparição de uma Europa na qual religiões não cristãs e uma alteridade cultural mais agressiva começam a assumir um peso significativo. A Igreja católica foi uma das construtoras da Europa e do "Ocidente", e, mesmo com todas as ambiguidades da sua história e sem pôr em causa as sociedades "descrentes" dos nossos dias, é natural que aquilo que era um pensamento fora do mainstream europeu começasse a migrar de novo para um centro onde sempre esteve. O interesse por Ratzinger vem daí, mesmo pelo Ratzinger inquisidor.
Uma anedota corrente sobre Ratzinger, o "Cardeal Panzer", como lhe chamam alguns dos seus críticos, envolve os três teólogos: Ratzinger, Hans Kung e Karl Barth. Viajavam no mesmo avião para a o Vaticano. O avião caiu e todos apareceram diante de S. Pedro (há uma versão com Cristo no lugar de S. Pedro). S. Pedro sai do seu gabinete e chama Karl Barth; "vem aqui...". Durante uma hora, ouvem-se gritos e barulho e depois Barth sai a chorar dizendo: "Ó, como é que eu pude cometer tal erro de doutrina!". A seguir vai Kung e durante cinco horas ouvem-se gritos e coisas a partirem-se, até que sai dizendo: "Ó, como é que eu pude ser tão tonto!". Chega a vez de Ratzinger. Oito horas de reunião, silêncio. Então a porta abre-se e sai S. Pedro a chorar como um bebé, dizendo: "Como é que eu pude ter sido tão enganado!"
No início da sua carreira, como peritus dos cardeais alemães no Vaticano II, Ratzinger distinguiu-se como um progressista que apoiou muitas das medidas inovadoras do Concílio. Nos seus comentários aos documentos do Concílio, alguns dos quais ajudou a escrever nos bastidores, foi claro na defesa de uma renovação da Igreja, mas rapidamente foi aumentando as reservas sobre os efeitos que as inovações conciliares traziam ao catolicismo e passou de reformador a conservador. Os eventos de Maio de 1968, que viveu directamente na universidade alemã, assim como o crescimento da "teologia da libertação" na América Latina, levaram-no para um caminho de muito maior prudência e acabaram por o tornar no principal opositor dentro da Igreja à multiplicidade de inovações teológicas, litúrgicas e eclesiais que pulularam a partir da década de 70. Aumentando a sua influência no pontificado de João Paulo II, de que era o alter ego doutrinário, Ratzinger acabou por ser a voz da ortodoxia em todas as questões "fracturantes" da Igreja: papel da mulher no sacerdócio, moral sexual, "democracia" ao modelo oriental dos sínodos versus autoridade da Cúria Romana, infalibilidade papal, diálogo inter-religioso, relações com as sociedades laicas do Ocidente.

Ao pensar sobre todas estas matérias, Ratzinger deixou escritos sobre questões morais, religiosas, teológicas, filosóficas, culturais, que, independentemente da crença religiosa de cada um, suscitam problemas muito actuais da acção política, ancoradas em velhas tradições intelectuais europeias. Por exemplo, na sua condenação da "teologia da libertação", nos seus textos contra Leonardo Boff e outros teólogos sul-americanos, Ratzinger travou a dissolução de um acervo doutrinal mais vasto do que a instituição da Igreja em si, que na realidade punha em causa a dignidade da pessoa humana, e a correlativa responsabilidade individual, substituindo-a por uma culpabilidade social baseada numa versão abastardada do marxismo e na apologia da violência. Ratzinger, que achava que os teólogos da libertação tinham "lido teologia alemã a mais", referindo-se a colegas e discípulos seus cujas posições tinham influenciado os latino-americanos, atacou doutrinariamente com veemência os seus defensores não só em pontos de política, como de filosofia e teologia.

Ao se lerem esses textos hoje, à luz do fim do comunismo e do que se sabe das experiências latino-americanas, percebe-se a razão de Ratzinger e a solidez do seu corpo doutrinário.
O Público a 24 de Dezembro publicou uma entrevsita de António Marujo a Johann Baptist Metz, um dos teólogos alemães que influenciaram a "teologia da libertação" que refere o papel da sua experiência da guerra e do Holocausto como fonte para a sua teologia política:

A questão da teodiceia e a sensibilidade da teologia para esse aspecto tornaram-se importantes para mim. Quando o cristianismo se torna teologia, mudamos esta questão sobre a teodiceia, que era a pergunta principal - acerca da justiça de Deus perante os seres humanos que sofrem injustamente. O que define a tradição bíblica, desde o início, é a justiça para os que sofrem injustamente - que foi transformada na reconciliação dos pecadores. (...) O que sempre enfatizei na minha teologia foi: não esqueçamos este grito por justiça. Não apenas um grito político, mas o grito bíblico, já do Antigo Testamento, que regressa com experiências de catástrofes como a de Auschwitz. Este foi um dos temas que nunca abandonei na minha teologia.

Escreve que o olhar de Jesus é para os sofredores e não para os pecadores...

É também para os pecadores, mas a primeira perspectiva messiânica foi sempre a dos sofredores. Esta era a primeira visão de Cristo. Nós mudámos o cristianismo de uma religião basicamente sensível ao sofrimento dos outros para uma religião sensível aos culpados e aos pecadores.

Os cristãos esqueceram o sofrimento dos outros?

Sim. Melhor: claro que nunca esquecemos essa ideia, mas o cristianismo concreto e a sua história, pelo menos como o entendo, atiraram essa dimensão para as traseiras. Eu pretendo trazê-la de novo [ao de cima], precisamente no confronto da actual situação do cristianismo com o mundo globalizado.
(Continua.)

(No Público de 28 de dezembro de 2006)

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EARLY MORNING BLOGS

936 - ... a very proud Farmer at Rye-gate...

Said a very proud Farmer at Rye-gate,
When the Squire rode up to his high gate,
With your horse and your hound,
You had better go round,
For, I say, you shan't jump over my gate.

(Anecdotes and Adventures of Fifteen Gentlemen, atribuído a Richard Scrafton Sharpe, e os desenhos a Robert Cruikshank.)

*

Bom dia!

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28.12.06


JARDINS DE INVERNO




(José Carlos Santos)

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INTENDÊNCIA

Actualizadas as notas LENDO, VENDO, OUVINDO , ÁTOMOS E BITS de 26 de Dezembro de 2006 e PERGUNTAS ENTRE O ESPAÇO E O CIBERESPAÇO 8

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JARDINS DE INVERNO

Capelinhos, Faial

(MJ)

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RETRATOS DO TRABALHO NA PRAIA DE SANTA CRUZ - TORRES VEDRAS, PORTUGAL


(Frederico Fonseca)

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EARLY MORNING BLOGS

935 - Romance del Prisionero

Que por mayo era por mayo,
cuando hace la calor,
cuando los trigos encañan
y están los campos en flor,
cuando canta la calandria
y responde el ruiseñor,
cuando los enamorados
van a servir al amor;
sino yo, triste, cuitado,
que vivo en esta prisión;
que ni sé cuando es de día
ni cuando las noches son,
sino por una avecilla
que me cantaba al albor.
Matómela un ballestero;
déle Dios mal galardón.

*

Bom dia!

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27.12.06


GRANDES CAPAS


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26.12.06


JARDINS DE INVERNO




Reserva Natural das Dunas de S.Jacinto.

(Angelina Barbosa)

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PERGUNTAS ENTRE O ESPAÇO E O CIBERESPAÇO 8
(Actualizadas)

Texto em movimento, V. 1

8. A pergunta do Coelho Branco na Alice no País das Maravilhas (Continuação)

Marcadores do tempo no espaço / ciberespaço.

O tempo no ciberespaço é "biológico" e catastrófico. O quadro em baixo é o do número de blogues seguidos pelo Technorati e a ponta da linha ainda não descansou em qualquer planalto. O mesmo acontece com o gráfico do crescimento da Internet. Gráficos assim retratam normalmente actividade biológica, infecções, epidemias, momentos que precedem catástrofes, a queda de um avião, o colapso de uma ponte, a ruptura de uma estrutura.

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O ciclo de desenvolvimento do ciberespaço é muito parecido com o da infestação do escaravelho do pinheiro (Dendroctonus ponderosae), um exemplo, entre muitos, de um ciclo biológico rápido.


Haverá também nesta aceleração um momento de colapso? Certamente. A nossa percepção da "rapidez" vem do cada vez maior confronto entre o tempo biológico e o modo como o "lemos" psicologicamente face ao tempo do mundo. Quanto mais rápido é o tempo, menos o controlamos e de mais máquinas precisamos para o controlar (mais à frente voltamos a este ponto). Haverá um momento de ruptura quando o tempo do mundo (do espaço e do ciberespaço) for impossível de acompanhar pelos sentidos. Já não o acompanhamos pela Razão - não há tempo para pensar, não se pára para pensar num mundo afectivamente envolvente e apressado - mas ainda o fazemos pelo Pathos. Até breve. Até já. Já.
De há duzentos anos para cá, vivemos assim no mundo ocidental, o que traz os relógios mais acelerados. De há uns dez anos para cá, vivemos ainda mais depressa dentro da Rede, onde tudo muda muito rapidamente. Quando se está no meio da curva ascendente o tempo é sempre rápido, tudo se transforma à nossa volta, a memória encurta-se, falta-nos tempo como ao Coelho Branco da Alice no País das Maravilhas. Para se parar o tempo, é preciso uma grande violência e só se consegue por breves momentos, antes de ele começar a correr como o Coelho, fugindo-nos. Lembramo-nos? Quase nada. Arquivamos, mais do que recordamos, e depois não vamos aos arquivos.

Tudo é rápido: a Moda.

No espaço, e ainda mais depressa no ciberespaço, as imagens retratam a velocidade da mudança. Para vermos a rapidez do tempo nos nossos dias, a Moda pode servir de marcador. Identificamos um filme no tempo, por década, com facilidade, pelo modo como se vestem as personagens, pelos toucados das senhoras, pelo cabelo dos homens, pelas cores dominantes, pela quantidade de pele à vista. A Moda também existia no passado, mas era muito lenta, arrastava-se por centenas de anos sem grandes novidades.

Trinta anos separam este vestido de Schiaparelli das roupas de Mary Quant, mas nós somos capazes de perceber que o primeiro entra, usando a classificação do correio do GMail, no "Mais Antigas" e o segundo no "Antigas". Ambas são imagens do século passado.

Elsa Schiaparelli, 1937: lamé dihabille. © Bettmann/CORBIS. Mary Quant (right) with three of her designs, 1968. © AP/Wide World Photos.

Na categoria GMail de "Recentes", a fotografia de Margarida Rebelo Pinto que ilustra a sua crónica do Sol é muito representativa. Como todo o presente, está muito cheia de significado: cheia de Moda. Densa, intensa, falando por todos os poros da roupa. Aquela roupa não se usava há dois anos (há dois anos Margarida Rebelo Pinto far-se-ia fotografar numa saia de folhos e não nuns calções de ganga), e está a começar a deixar de se usar. Está por isso cheia de presente e a escoar-se para o passado, ou seja, a ficar fora de Moda. Quanto mais presente, quanto mais na Moda, quanto mais rapidamente fora de Moda. Num ano, a fotografia acabará por ter que ser mudada ou ficará retro.
São as mulheres portadoras de um tempo da Moda mais rápido do que o dos homens? Tudo indica que sim, pelo menos nos últimos cinquenta anos. A roupa das mulheres envelhece mais depressa, precisa de mudar mais vezes, marca com os seus sinais um tempo mais curto. É um dado cultural que pode vir, ou estar a, mudar, mas que para já é um facto.

Trabalho de Casa: na Rede, que blogues envelhecem mais rapidamente, os que têm género ou os que não têm? Ou, o que é quase a mesma coisa, os de homens (sem género) ou os de mulheres (que se classificam como tendo muito género)?
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Os gráficos que apresentou o que têm em comum é a mesma função matemática, neste caso uma exponencial crescente. A função exponencial é a que descreve o tipo de fenómenos em que a taxa de crescimento de uma quantidade, num dado momento, é proporcional à própria quantidade já existente nesse momento. Matematicamente isso representa-se por uma (assim chamada) “equação diferencial de 1ª ordem”.

Só uma nota, que deve considerar curiosa, e suscitada pelo leitor José Carlos:
Muitas vezes estes processos, além de se caracterizarem por uma taxa de crescimento proporcional ao próprio valor da grandeza em si, têm uma segunda característica: uma outra taxa, de decrescimento, proporcional à taxa de crescimento anterior. Matematicamente isto define uma “equação diferencial de 2ª ordem”.
Aplica-se ao processo de crescimento de muitas espécies de seres vivos, em que a tal segunda taxa de decrescimento exprime o efeito dos predadores. Assim, por exemplo como sucede com certas espécies de peixes, eles inicialmente reproduzem-se exponencialmente, mas com isso também proliferam os predadores que os comem, até haver tantos que a população inicial dos peixes comestíveis deixa de crescer e depois começa a diminuir. Com isto, por sua vez, os predadores passam a ter escassez relativa, e a sua população também diminui, o que vai permitir novo ciclo de crescimento dos peixes iniciais.
Traduz isto o facto de uma equação diferencial de 2ª ordem ter muitas vezes uma solução sinusoidal... ?
Claro que em matéria de blogues o provável é a curva em S característica dos produtos tecnológicos, e não a sinusoidal.
Os especialistas sabem que é fácil investir em negócios tecnológicos que estão na fase ascendente do S, como foi a informática há algum tempo. Convém no entanto ter a noção que um crescimento de negócios numa tecnologia em ascensão pode não significar nenhuma capacidade duradoura de lá se manter quando se atingir o ponto de viragem do S, como mais uma vez o exemplo nacional na informática é exemplo infeliz. Sucede isto por que também aqui há uma taxa de decrescimento proporcional à taxa de crescimento, resultante do efeito da concorrência. Matematicamente isto traduz o facto de uma outra solução possível da equação diferencial de 2ª ordem ser uma função que inicialmente cresce, para depois decrescer definitivamente. O processo limita-se a um “overshoot”, ou sobressalto, e também há muitos exemplos disso nas questões sociais. O exemplo que melhor me ocorre é o do INESC, que cresceu esplendidamente nos anos 80, para depois ser desgastado quase até à extinção pelo conservadorismo nacional, quando se acabaram os fundos da UE...
Para conseguir sobreviver na fase estabilizante do S, é preciso ser mais forte que a concorrência, como sucede entre os predadores dos peixes.

(Pinto de Sá)

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Além dos exemplos que apresentou, referiria que em geral essa lei se aplica a todos os processos de crescimento de populações de seres vivos e a muitos outros, como o da aprendizagem ou o do aperfeiçoamento de um novo produto e sua implantação no mercado. Compreenderá, portanto, o prazer que dá o poder da matemática!

Porém, mesmo matematicamente, os fenómenos são mais complexos e o crescimento exponencial só os pode caracterizar por algum tempo limitado. O escaravelho do pinheiro, por exemplo, só pode crescer até matar o pinheiro. O mesmo se pode extrapolar relativamente ao consumo dos recursos petrolíferos do planeta. Em muitos casos, entretanto, a função evolui a partir de certo valor para uma redução da taxa de crescimento até à estabilização, evolução representável por uma curva em S. É o que acontece com a generalidade dos produtos baseados em novas tecnologias e é certamente o que acontecerá com a proliferação de blogues. Normalmente quando um produto entra na fase amortecida do S, um novo produto aparece que inicia a sua fase de crescimento exponencial.

(Pinto de Sá)

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Escreveu no seu texto «A pergunta do Coelho Branco na Alice no País das Maravilhas (Continuação)» que «[g]ráficos assim retratam normalmente actividade biológica, infecções, epidemias, momentos que precedem catástrofes, a queda de um avião, o colapso de uma ponte, a ruptura de uma estrutura.» A linguagem empregue parece-me ser a de alguém que já esteve exposto à Teoria das Catástrofes, de René Thom, o qual a divulgou precisamente num livro sobre Biologia (chamado «Estabilidade Estrutural e Morfogénese»). Devo observar que crescimento exponencial é algo que se manifesta também em fenómenos não biológicos; caso contrário, não teríamos energia nuclear, que depende de reacções em cadeia. Por outro lado, e regressando ao âmbito dos fenómenos biológicos, um tipo de crescimento que começa por parecer exponencial é o do crescimento de uma população num ambiente livre de predadores. Inicialmente o crescimento é exponencial, mas estabiliza numa fase posterior, quando a alimentação começa a escassear. Veja os gráficos que lhe envio. O primeiro tem todo o aspecto de um crescimento exponencial, mas o segundo (que contém o primeiro do seu lado esquerdo) mostra uma fase posterior de estabilização. Este tipo de crescimento tende para um ponto de equilíbrio, que corresponde à situação na qual a alimentação disponível é suficiente para sustentar a população já existente mas sem permitir que esta aumente.

Questão: quando é que se chegará a uma situação análoga no caso da Internet?

(José Carlos Santos)

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A moda avança aos saltos. Se assim não fosse (se se actualizasse em cadeia deslizando em vertente suave) ninguém se aperceberia que a moda tinha passado e que estava fora de moda. É por isso que a moda é cíclica. À boca-de-sino segue a calça-à-campino, ao umbigo à mostra segue a "camisa-longa". Como na área, ao contrário do que parece, a criatividade e a imaginação não são infinitas, vão-se buscar ideias novas a velhas modas e maquilha-se com pós-do-tempo. Temos assim a nova moda e podemos ver gente moderna a usar uns trapinhos romanos ou góticos.
Por isso, quem está na moda está mais longe de vir a estar na moda. O tempo que vem é o mergulho nos tempos de antanho. Quando a moda passa, fruto da autofagia dos aderentes, os fazedores da moda, para baralhar e fazer pairar no tempo os carentes, atiram-nos para longínquos, aleatórios e anacrónicos buracos negros que os sugam até a densidade interior (a moda) se aproxime do exterior amodal da multidão.

(vgcardeira)
ANEXOS E COMENTÁRIOS

6. A pergunta de Clausewitz

Ver http://www.potomacbooksinc.com/images/covers/1574889842_cf150.jpg

C.E. Wood, Mud. A Military History sobre o "General Lama", uma variante do "General Inverno".

7. A pergunta do Coelho Branco na Alice no País das Maravilhas
Conversar s/ o tempo em tempo de Natal, não deixa de ser curioso, até porque as iconografia de Natal é se calhar também um bom marcador da aceleração do tempo. E pessoalmente dou-me mal com a “orgia” em que o Natal se tornou. Já não há tempo p/ o gozar. Quando o seu leitor diz que estamos mais libertos do relógio (e de facto há gente que já não usa relógio de pulso, ou seja já não usa um aparelho cuja exclusiva utilidade é medir o tempo) está a esquecer o factor “acelerador” que a dita liberdade traz. E por consequência uma nova forma de dependência. Já não há horas. As noticias são cada vez mais instantâneas, não só no sentido temporal como no sentido mousses Alsa. Basta ver alguns erros de Português nas noticias on-line ou de rodapé televisivo p/ perceber que o instantâneo ganhou ao produzido. Deixamos de ser escravos do relógio mas, qual atleta de uma qualquer corrida, mas passámos a ser escravos do cronometro. Antigamente éramos escravos das horas dos telejornais e das edições do jornais, hoje somos escravos permanentes dos cronómetros dos alertas de noticias on-line. Isto se quisermos estar a par do mundo. E no mundo do trabalho em geral esta “liberdade” está a destruir as fronteiras do tempo pessoal e do tempo profissional. E é este ultimo que está claramente a ganhar terreno. Claro que também existem vantagens ao nível pessoal, mas o resultado global não está a ser favorável à vida pessoal. Pegando no exemplo do seu leitor, “quando terá o professor tempo p/ a sua vida pessoal?”.

Durante quanto tempo aguentaremos este cerco e este ritmo é uma incógnita.
Basta lembrar que nenhum atleta vive toda a vida contra o cronometro. Em dada idade muda devida. Por isso estes tempos orgíacos (excesso de nformação, excesso de bens, excesso de coisas p/ serem vividas, etc.) terão de terminar, isso é uma certeza, e que não será uma “softlanding”, poucas duvidas restam, tirando alguns ingénuos que ainda acreditam no Pai Natal. Exceptuado a componente tecnológica dos dias que correm, o império romano caiu de forma idêntica. Pelos excesso internos que a riqueza arrasta e não pelos inimigos externos. Claro que o tempo na época era bem mais lento e o dito império durou 1000 anos, nestes tempos mais acelerados, o império tecnológico que estamos a viver iniciado na revolução industrial durará muito menos tempo...o que se lhe seguirá? Se alguém tiver alguma hipótese de resposta ficaria muito agradecido?

Mas o que se seguiu ao fim do império romano não augura nada de bom...ou pelo menos de soft...que tempos virão atrás do tempo que corre...

(Miguel Sebastião)

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Vinha um dia destes de Manhattan para New Jersey no PATH quando constatei ser cada vez menor o número de pessoas com relógio no pulso. Descobriu-o porque há anos que também no meu pulso não se vê relógio e nos túneis do PATH o telemóvel perde o sinal de rede.

A solução mais expediente nessas alturas é ver em volta se há alguém que ainda usa relógio e confirmar com uma espreitadela que estamos de facto atrasados. O relógio-objecto migrou para outros objectos (telemoveis, PDAs, computadores, etc). Segundo uma reportagem que vi na CNN sobre o futuro próximo, parece ser também esse o destino dos computadores: desaparecerem da vista e migrarem para outros objectos, como já estão nos automóveis pasarem a estar na roupa, nas paredes, nos passeios...

Se o tempo está sempre presente nas nossas vidas, o facto é que cada vez menos as escraviza. Já não é obrigatório os Telejornais terem que ser vistos religiosamente às 20 horas. Já ninguém está para isso... Todas as estações generalistas têm páginas na Internet, onde as imagens podem ser vistas antes de serem transmitidas nos Telejornais. As estações por cabo, como a CNN e a Fox, têm noticiários contínuos, que podem ser também vistos na Internet. Os próprios jornais têm reportagens de vídeo que podem ser vistas online sobre os principais acontecimentos.

As séries mais populares podem ser vistas a qualquer hora nos computadores e até nos iPod. É o espectador que decide a que horas vai ver o quê. O mesmo se passa já com o ensino. A aula está sempre disponível online, bem como o acesso ao professor, que por e-mail esclarece as dúvidas dos alunos e os avalia.

O tempo continua a reger as nossas vidas, mas somos cada vez menos escravos do relógio.

(Manuel Ricardo Ferreira)

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 26 de Dezembro de 2006


Dois "You" mais parecidos do que se pensa. Voltarei aqui.

http://media3.washingtonpost.com/wp-dyn/content/photo/2006/12/16/PH2006121601061.jpg http://www.firstworldwar.com/posters/images/pp_uk_31.jpg

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O outro lado das livrarias no Natal nesta nota do Indústrias Culturais:
"Na semana passada, quando apresentava o livro Televisão: das audiências aos públicos aos meus alunos, descobri que o livro ainda não estava nas livrarias. Manifestei o meu espanto, pois o livro tivera apresentação pública a 14 de Novembro. Inquiri editora e distribuidora. E conclui o seguinte: em Novembro e Dezembro as livrarias não querem livros deste tipo. Ou seja: a cadeia de valor do livro fica emperrada no final do ciclo, junto aos leitores. É que as livrarias reservam o seu espaço para livros-álbum ou romances de "sucesso", à espera das vendas de Natal. O que contrai ainda mais o ciclo de um livro de ciências sociais. Janeiro, Julho, Agosto, Novembro e Dezembro são meses para esquecer. Por o público não afluir às livrarias por férias (Julho e Agosto), ou esgotamento dos plafonds para a cultura (Janeiro) ou, ainda, por má vontade dos livreiros. "

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Mais "You":



(Enviados por José Carlos Santos e Nuno Cabeçadas.)

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O “delay” entre o anuncio da publicação de um livro, as respectivas criticas em publicações especializadas e a disponibilidade do mesmo nas livrarias é, não raro, de cerca de um mês. Por exemplo entre o anuncio de publicação do Animal Moribundo do Philip Roth e a colocação nos escaparates decorreram no mínimo três semanas.

(Fernando Frazão )

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JARDINS DE INVERNO




(José Manuel Fernandes)

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EARLY MORNING BLOGS

934 - Discurso ao Príncipe de Epaminondas, mancebo de grande futuro

Despe-te de verdades
das grandes primeiro que das pequenas
das tuas antes que de quaisquer outras
abre uma cova e enterra-as
a teu lado
primeiro as que te impuseram eras ainda imbele
e não possuías mácula senão a de um nome estranho
depois as que crescendo penosamente vestiste
a verdade do pão a verdade das lágrimas
pois não és flor nem luto nem acalanto nem estrela
depois as que ganhaste com o teu sémen
onde a manhã ergue um espelho vazio
e uma criança chora entre nuvens e abismos
depois as que hão-de pôr em cima do teu retrato
quando lhes forneceres a grande recordação
que todos esperam tanto porque a esperam de ti
Nada depois, só tu e o teu silêncio
e veias de coral rasgando-nos os pulsos
Então, meu senhor, poderemos passar
pela planície nua
o teu corpo com nuvens pelos ombros
as minhas mãos cheias de barbas brancas
Aí não haverá demora nem abrigo nem chegada
mas um quadrado de fogo sobre as nossas cabeças
e uma estrada de pedra até ao fim das luzes
e um silêncio de morte à nossa passagem

(Mário Cesariny)

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Bom dia!

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25.12.06


JARDINS DE INVERNO


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EARLY MORNING BLOGS

933 - De la confiance

Bien que la sincérité et la confiance aient du rapport, elles sont néanmoins différentes en plusieurs choses: la sincérité est une ouverture de coeur, qui nous montre tels que nous sommes; c'est un amour de la vérité, une répugnance à se déguiser, un désir de se dédommager de ses défauts, et de les diminuer même par le mérite de les avouer. La confiance ne nous laisse pas tant de liberté, ses règles sont plus étroites, elle demande plus de prudence et de retenue, et nous ne sommes pas toujours libres d'en disposer: il ne s'agit pas de nous uniquement, et nos intérêts sont mêlés d'ordinaire avec les intérêts des autres. Elle a besoin d'une grande justesse pour ne livrer pas nos amis en nous livrant nous-mêmes, et pour ne faire pas des présents de leur bien dans la vue d'augmenter le prix de ce que nous donnons.

La confiance plaît toujours à celui qui la reçoit: c'est un tribut que nous payons à son mérite; c'est un dépôt que l'on commet à sa foi; ce sont des gages qui lui donnent un droit sur nous, et une sorte de dépendance où nous nous assujettissons volontairement. Je ne prétends pas détruire par ce que je dis la confiance, si nécessaire entre les hommes puisqu'elle est le lien de la société et de l'amitié; je prétends seulement y mettre des bornes, et la rendre honnête et fidèle. Je veux qu'elle soit toujours vraie et toujours prudente, et qu'elle n'ait ni faiblesse ni intérêt; je sais bien qu'il est malaisé de donner de justes limites à la manière de recevoir toute sorte de confiance de nos amis, et de leur faire part de la nôtre.

(La Rochefoucault)

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Bom dia!

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JARDINS DE INVERNO


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