ABRUPTO

2.7.05


COISAS COMPLICADAS


Gabriel Orozco, Horses running endlessly (in 65 parts)

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EARLY MORNING BLOGS 532

Máquina Breve


O pequeno vaga-lume
com sua verde lanterna,
que passava pela sombra
inquietando a flor e a treva
— meteoro da noite, humilde,
dos horizontes da relva;
o pequeno vaga-lume,
queimada a sua lanterna,
jaz carbonizado e triste
e qualquer brisa o carrega:
mortalha de exíguas franjas
que foi seu corpo de festa.

Parecia uma esmeralda
e é um ponto negro na pedra.
Foi luz alada, pequena
estrela em rápida seta.
Quebrou-se a máquina breve
na precipitada queda.
E o maior sábio do mundo
sabe que não a conserta.


(Cecília Meireles)

*

Bom dia!

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1.7.05


COISAS COMPLICADAS


Nan Goldin, Suzanne with Mona Lisa, Mexico City

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EARLY MORNING BLOGS 531

Presença em Pompéia


Esta conta não pagarás:
— ficará sob uma cinza que não sabes.

Sob a cinza que ainda não sabes
ficará teu filho por nascer
e também os meninos que já sabiam desenhar nos muros.

Ficarão os figos que ontem puseste na cesta.
Ficarão as pinturas da tua sala
e as plantas do teu jardim, de estátuas felizes,
sob a cinza que não sabes.

Os gladiadores anunciados não lutarão
e amanhã não verás, próximo às termas,
a mulher que desejavas.

Tu ficarás com a chave da tua porta na mão;
tu, com o rosto da amada no peito;
amo e servo se unirão, no mesmo grito;
os cães se debaterão com mordaças de lava;
a mão não poderá encontrar a parede;
os olhos não poderão ver a rua.

As cinzas que não sabes voarão sobre Apolo e Ísis.
É uma noite ardente, a que se prepara,
enquanto a luz contorna a coluna e o jato d'água:
— a luz do sol que afaga pela última vez as roseiras verdes.


(Cecília Meireles)

*

Bom dia!

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30.6.05


INTENDÊNCIA

Actualizado o EARLY MORNING BLOGS 530.

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A LER

um dos "poemas da minha vida", Com a Usura de Pound, traduzido por Goulart Nogueira, e transcrito no Quartzo, Feldspato e Mica. Como com muitos outros, foi o Eugénio que mo deu a ler e também tinha a estrelinha (ou asterisco) aqui

COM A USURA
a lã não chega aos mercados
os carneiros não ganham lã com a usura
A usura é uma peste, a usura torna romba a agulha nas mãos da virgem
e embaraça os gestos da fiandeira.
Pietro Lombardo não veio pelo caminho da usura.
Duccio não veio pela usura
Nem Pier della Francesca; Zuan Bellin` também não foi pela usura
nem foi com ela que pintaram «La Calumnia».
Não foi pela usura que veio Angelico; nem Ambrogio Praedis,
Nem veio a igreja talhada em pedra assinada: Adamo me fecit.


e sempre pensei que tinha um verso que vejo agora que não tinha, sobre o ouro que faltaria a Duccio, por causa da usura. Estaria no original? Não sei, nem posso verificar. Seria noutro poema?

Só mais uma nota: penso, também não verifiquei, que este poema como muitos outros, foram publicados na melhor revista quase fascista portuguesa, o Tempo Presente.

*

Ver de Manuel Resende Usura dois, no mesmo Quartzo, Feldspato e Mica. Mas nalgum sítio li, num comentário talvez, a história do ouro. Para quem não saiba o ouro dos quadros de Duccio (e dos outros pintores da época) era mesmo ouro, em folhas finíssimas coladas , por exemplo, para fazer as auréolas dos santos.

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AR PURO


Ivan Shishkin

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EARLY MORNING BLOGS 530

Sing Me a Song with Social Significance

I'm tired of moon gons, of star and of June songs,
They simply make me nap.
And ditties romantic drive me nearly frantic,
I think they're all full of pap.
History's making, nations are quaking,
Why sing of stars above?
For while we are waiting, father time's creating
New things to be singing of...

Sing me a song with social significance,
All other tunes are taboo.
I want a ditty with heat in it,
Appealing with feeling and meat in it.
Sing me a song with social significance,
Or you can sing till you're blue,
Let meaning shine from every line
Or I won't love you.

Sing me of wars, sing me of breadlines,
Tell me of front page news,
Sing me of strikes and last minute headlines,
Dress your observations in syncopation.

Sing me a song with social significance,
There's nothing else that will do.
It must get hot with what is what
Or I won't love you.

Sing me a song with social significance,
All other tunes are taboo,
I want a song that's satirical,
And putting the mere into miracle.
Sing me a song with social significance,
Or you can sing till you're blue,
It must be packed with social fact
Or I won't love you.

Sing me of crime and conferences martial,
Tell me of mills and of mines,
Sing me of courts that aren't impartial,
What's to be done with 'em? Tell me in rhythm.

Sing me a song with social significance,
There's nothing else that will do.
It must be dense with common sense
Or I won't love you.


(Harold Rome)

*

Em 1937, Rome escreveu esta canção para um espectáculo musical na Broadway chamado Pins and Needles, representado por filiados no sindicato ILGWU (International Ladies Garment Workers Union). Foi um dos maiores sucessos da Broadway antes da guerra.

Bom dia, nestes tempos de "social significance" sem canções "with social significance"!

*
Nem de propósito, este poema quando pensava exactamente que um dos grandes problemas do nosso tempo é uma enorme ausência de outras metas, outros valores, outros objectivos, que não a satisfação do ego.

Fenómeno aliás bem visível na muito activa blogosfera, espelho do mundo, reflectindo-o em directo e a cores (muitas vezes apenas em diversos tons de cinzento), com implosões, irritações, trocas de insultos ou de apaixonados elogios e até lutas aparentemente fratricidas, evidentes sintomas da falta de outro valor que não o “eu”. Fazem-se grandes discursos, (vazios, se perdermos tempo a lê-los bem) onde começam por erguer um cartaz que diz: Eu sou … de direita, de esquerda, liberal … enfim, um qualquer estandarte. E, vai daí, toca a debitar citações de autores que não leram, ou se leram não perceberam, exibindo erudição e grandiloquência numa tentativa de esmagar o interlocutor e de levar mais um escalpe para a galeria de troféus.

Uns, sentam-se de cartola e charuto. Outros, de manga arregaçada e punho em riste. Envergam identidades alheias e reeditam lutas, batalhas e discussões que já se tiveram, já se perderam e já se ganharam. Já foram. O que não se vê é uma ideia própria, uma análise elaborada e sustentada, uma novidade, um contributo, uma mais valia.

Mas onde realmente se excitam muito (embora também ai inovem pouco) é no ataquezinho pessoal, nas minudências, no insulto fácil e histriónico que nada tem a ver com ideias ou projectos. Porque em tudo se vê um ataque pessoal, um interesse, uma vaidade. Estamos todos mortos por identificar intenções pessoais, pequeninas, direccionadas: ai que isto é para mim! Espera ai que já te digo!

Enfim, um mundo, cuja dimensão não ultrapassa a do nosso próprio ego.

(RM)

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29.6.05


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES
APRENDENDO COM IGNAZIO SILONE

"Se quer dizer que em cada época a política tem os seus mistérios, dou-lhe toda a razão. A literatura que tratava a arte da política como uma ciência oculta floresceu na época do absolutismo, quando, devido aos frequentes conflitos entre autoridade civil e religiosa e devido também à decadência da teologia, já não era útil nem cómodo insistir em fazer provir a soberania das mãos de Deus. Não podendo porém substituir a investidura divina por uma investidura popular (…) a autoridade foi levada a envolver-se em mistério.

(…) Gustav Freytag reproduz um dos manuais então em voga sobre os segredos da arte de governar, a Ratio Status, de 1666, e faz dele uma divertida paródia. O jovem considerado apto para as funções de conselheiro de príncipe é introduzido nos aposentos secretos em que são ciosamente conservados os Arcana Status inerentes à sua nova e altíssima função: uniformes de Estado, óculos de Estado, pó para os olhos, etc. Há uns mantos especiais de Estado que conferem a quem os enverga a devida autoridade e reverência e se chamam salus populi, bonum publicum, conservatio religionis, conforme servem para extorquir novos impostos aos súbditos ou para mandar para o exílio e expropriar os opositores, sob o pretexto sempre eficaz de que eles são difusores de doutrinas heréticas. Um outro manto, completamente coçado pelo uso quotidiano, chama-se intentio, boa intenção, e serve para justificar o que quer que seja. Com os óculos de Estado entra-se em pleno ilusionismo: permitem eles ver o que não existe e não ver o que existe, aumentam os factos sem importância e encolhem os acontecimentos graves. Mas actualmente obtêm-se idênticos resultados com encenações mais simples. »

Ignazio Silone, A Escola dos Ditadores. Lisboa, Morais Editora

(enviado por Cristiana Tourais)

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: TIRO NO NAVIO ALMIRANTE... ESPERA-SE



a 3 de Julho. Se tudo correr bem, se chegar lá o navio direito (com o cinematográfico nome de Deep Impact), se o canhão funcionar, se o alvo não se mexer de forma diferente da habitual, se .... Se tudo correr bem para nós e mal para o cometa que leva o tiro, honra seja feita a Ernst Wilhelm Leberecht Tempel que o descobriu, com um fogo de artifício especial.

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28.6.05


ADEUS

Artigo publicado no "Mil Folhas" do Público, dedicado a Eugénio de Andrade.

Conheci o Eugénio por volta de 1965, tinha ele acabado de escrever o Ostinato Rigore. Mais à frente voltarei a este livro, um marco na obra do Eugénio e, de algum modo, na sua vida. Tinha publicado sobre ele um texto ingénuo e juvenil no jornal do liceu, mas que não enganava no entusiasmo. O Eugénio quis conhecer-me e iniciamos uma longa amizade, entrecortada durante vários anos pelas minhas itinerâncias, e retomada por correspondência nos seus últimos anos de lucidez. A última vez que o encontrei foi depois do seu aniversário, pouco antes de morrer e entrava pelos olhos dentro que iria ser o último encontro. Eu sabia, ele não.

O Eugénio mudou a minha vida muito para além da amizade, porque me “educou”, dando-me a ler e discutindo (mais conversando do que discutindo) o que lia. Por mão dele li A Montanha Mágica, a Morte em Veneza, de Mann, Narciso e Goldmundo de Hesse, as Memórias de Adriano da Marguerite Yourcenar, os Cadernos de Malte de Rilke, muita poesia, Holderlin, Rilke, Novalis, Goethe, nas traduções de Quintela, Lorca, nas do próprio Eugénio, Walt Withman, Eliot, Pound, Apollinaire, Michaux, René Char, Perse, Valery, muitos na colecção dos “Poetes d’Aujourd’hui” da Seghers. Mas não eram só livros, eram também poemas isolados. Poemas individuais, de Cernuda, Vicente Aleixandre, Antonio Machado, as “Coplas por la muerte de su padre” de Jorge Manrique, muita da poesia espanhola que ele amava e o tinha “feito”, “La Complainte” de Rutebeuf, Villon, Shakespeare, enfim, quase tudo. Tudo certo e na altura certa, porque se há coisas que os amadores de palavras sabem é que há alturas certas para ler determinados livros e eles só são os “livros da nossa vida” quando são lidos nessa altura. Depois passa.



Já o contei. Não eram apenas os livros, eram os livros que o próprio Eugénio lera e que deixara marcados com as suas anotações pessoais, os sublinhados; o traço ao lado, umas vezes acrescentado ao sublinhado, aumentando o interesse, outras vezes sem o sublinhando, denotando um interesse menor; o clímax, para a prosa, dos dois traços ao lado como em partes do diálogo em francês de Hans Castorp com Cláudia Chauchat; o asterisco, ou dois ou três, marcando poemas ou linhas de poemas, às vezes, mais raras, um ponto de exclamação ou de interrogação. Os versos do asterisco ficavam sempre, como estes de Sá de Miranda

O sol é grande: caem coa calma as aves,
Do tempo em tal sazão, que sói ser fria.

ou o solitário

Que Farei Quando Tudo Arde?

ou o de Rimbaud

Oisive jeunesse
À tout asservie;
Par délicatesse
J' ai perdu ma vie.

e muitos outros asteriscos ao lado das palavras que ficam “nossas”.

Nesses primeiros anos de amizade, o Eugénio fez as suas antologias sobre o Porto, mais tarde sobre Coimbra, escreveu textos para catálogos dos amigos comuns, o José Rodrigues, o Ângelo, o Armando Alves, publicou pequenas edições quase confidenciais de meia dúzia de poemas, reviu as suas traduções de Lorca. Trabalhei com ele no volume sobre o Porto, o Daqui Houve Nome Portugal, e um pouco em todas as outras coisas, recolhendo a sua bibliografia para uma antologia de ensaios na qual reincidi com um outro texto marcado pelo mesmo entusiasmo juvenil, que não se repete. Mas, nesses anos, escreveu muito pouca poesia.

Quando o conheci, o Eugénio estava convencido de que a sua voz secara. Secara de uso, secara de sede, secara porque as palavras se tinham transformado em grãos de areia e já não fluíam. Mais: ele estava convencido que isso não se devia a uma crise da sua escrita, mas a uma consequência natural do modo como escrevia poesia. Tinha levado tão longe a contenção, o valor único de cada palavra, a perfeição formal do poema – a que Eugénio dava uma grande atenção, ele que era tudo menos repentista – que tinha encontrado a face do silêncio, tinha chegado naturalmente ao silêncio. A crise do Ostinato Rigore era isso, as palavras tinham-se de tal modo incrustado em si mesmas, que não corriam, não voavam, não fluíam como um rio, eram apenas seixos. Eugénio tinha levado tão longe quanto sabia e podia, o seu perfeccionismo formal, o seu “rigor”, nas palavras, que temia que elas só fossem perfeitas assim, sólidas. Encontrava, em Quasímodo e Montale, o mesmo processo, dois autores a que muito se referia quando falava da poética do Ostinato Rigore.

Depois recomeçou de novo a escrever poesia. A música teve nesse retomar da palavra um papel importante. Eugénio participava num ritual periódico de audição dos discos que Manuel Dias da Fonseca, amigo, poeta e melómano, fazia na sua casa de Matosinhos. Lembro-me da surpresa que teve a primeira vez que ouviu a voz de Alfred Deller, a cantar versos de Shakespeare e canções de Purcell, e do gosto por Bach, por Haydn, por Mozart, pelos quartetos de Beethoven. Várias vezes se referiu a Mozart, como seu émulo, mas se se sentia mais próximo de Mozart pelo gosto, reconhecia nos Quartetos uma dimensão trágica que sabia humana, mesmo que em grande parte alheia à sua poesia pagã. As viagens que fez, à Grécia em particular, também o levaram a esse retomar da poesia, assim como a consciência da experiência que se aproximava e que ele mais temia: a da idade.

Pouco a pouco, fomo-nos vendo menos. A política pura e dura dos anos setenta, a distância, alguma desatenção, mais minha do que dele, que várias vezes protestou, até em público, espaçou os nossos encontros. É a vida que é assim, e talvez lhe tenha faltado em momentos em que precisava. Não sei, talvez. Ele, pelo contrário, continuava perto e nunca a sua palavra se afastou de mim, do mesmo encantamento inicial, da surpresa que a grande poesia traz consigo – como é possível escrever assim, ver estas palavras assim, dizer isto assim? Ele sabia como.

Adeus.

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ERROS, PERIPÉCIAS, ASNEIRAS, DISTRACÇÕES



Alguns apoiantes ferrenhos do governo extinto dos doutores Lopes e Portas desenvolvem uma intensa indústria de caça às trapalhadas do governo actual, para mostrarem não só que há duplicidade nos media – evidência das evidências – mas também similitudes na governação de baixa qualidade. Terminam sempre com ar vingativo: e então o sr. Presidente a estes não dissolve? Para além do masoquismo inerente ao exercício, mostra uma forma muito particular de ressentimento.

Esta enumeração das trapalhadas é uma pura distracção que nunca levará o governo Sócrates a conhecer o mesmo destino do de Santana Lopes, pela simples razão que há uma diferença abissal que separa os dois. O de Sócrates tem uma forte legitimidade eleitoral, formal e real, e não a perdeu, pelo contrário a reforçou, com as medidas de política que tomou. E, por muitas voltas que se dê, erros, peripécias, asneiras, distracções, mesmo quando semelhantes, não vão dar ao mesmo resultado porque não têm a mesma dimensão nem são vistas pelas pessoas isentas como sendo da mesma natureza.

Os erros, peripécias, asneiras, distracções, do governo anterior iam ao coração do poder, directamente aos lugares cimeiros da governação e eram vistos como extensões da identidade e do estilo dos governantes. Mais: eram potenciados na primeira pessoa, por ditos e eventos, que punham em causa a competência do governo na sua condução central, e encontravam todos os dias novas justificações para que a suspeita de incompetência fosse mais do que isso, mas sim uma realidade.

Culminaram na campanha eleitoral negativa, cujos contornos ainda não se conhecem completamente, no culto de personalidade absurdo do “menino guerreiro”, e foram consolidados depois pelo modo como se soube ter sido tratada a questão dos “sobreiros” (refiro-me ao plano político) e matérias como o orçamento de estado. Tudo isto deixou os respectivos partidos mergulhados numa crise de credibilidade, de que só sairão com muita dificuldade, e para a qual a caça às trapalhadas simétricas não traz nenhuma contribuição. Esta atitude aponta mais para a continuidade das trapalhadas originais e mostra um entendimento da política como um jogo de pingue-pongue, infelizmente muito comum no Parlamento.

A crítica a este governo tem muito por onde se fazer, mas tem uma condição sine qua non para ser eficaz e merecer ser ouvida: a de se demarcar das trapalhadas do governo anterior sem ambiguidades, nem desculpas, nem simetrias.

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“ANTECIPAR” E GANHAR A BATALHA DA COMUNICAÇÃO

Um governo, um político habilidoso, “antecipa”. Antecipa o discurso, as medidas, antecipa o vazio como se estivesse cheio. Quando não se tem nada para “surpreender” ou para dizer de “novo” (outra obrigação comunicacional por cuja falta se é penalizado), ou se corre o risco de ter uma fuga que estrague a surpresa, mais vale “antecipar”.

“Antecipar” dá títulos melhores e dá os títulos que os autores da antecipação desejam. Incontrolados, incontroversos, porque não são confrontados com nenhuma realidade exterior, nenhuma opinião hostil, nenhuma crítica. Títulos bem independentes da realidade que se “antecipa”. Pode-se “antecipar" A e fazer Z, que a “antecipação” é mais poderosa. Um caso típico de “antecipação” foi a legislação sobre nomeações para os cargos políticos, que quando for aplicada já os tem todos nomeados.

Os jornalistas tendem cada vez mais a substituir a notícia pela antecipação, porque a “antecipação” foi só para eles, julgam, e para o seu jornal, julgam, enquanto a notícia pertence a todos. Logo, quando existe a notícia, a realidade daquilo que se antecipou, já tem muito menos interesse, nem “novidade”, nem “surpresa”. Já parece uma nuance e os jornais detestam nuances.

Com excepção de Deus, que pode antecipar o que quiser, e tem o melhor gabinete de relações públicas do universo, há uma regra muito humana que postula que entre o verbo e o acto, há o ruído. A “antecipação” faz parte do ruído.

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COISAS COMPLICADAS / SCRITTI VENETI


Canaletto

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EARLY MORNING BLOGS 529 / SCRITTI VENETI

I stood in Venice, on the Bridge of Sighs,
A palace and a prison on each hand:
I saw from out the wave her structures rise
As from the stroke of the enchanter's wand:
A thousand years their cloudy wings expand
Around me, and a dying Glory smiles
O'er the far times, when many a subject land
Looked to the wingéd Lion's marble piles,
Where Venice sate in state, throned on her hundred isles!

She looks a sea Cybele, fresh from ocean,
Rising with her tiara of proud towers
At airy distance, with majestic motion,
A ruler of the waters and their powers:
And such she was--her daughters had their dowers
From spoils of nations, and the exhaustless East
Poured in her lap all gems in sparkling showers:
In purple was she robed, and of her feast
Monarchs partook, and deemed their dignity increased.

In Venice Tasso's echoes are no more,
And silent rows the songless gondolier;
Her palaces are crumbling to the shore,
And music meets not always now the ear:
Those days are gone--but Beauty still is here;
States fall, arts fade--but Nature doth not die,
Nor yet forget how Venice once was dear,
The pleasant place of all festivity,
The revel of the earth, the masque of Italy!


(George Gordon, Lord Byron)

*

Bom dia!

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27.6.05


COISAS SIMPLES / SCRITTI VENETI


Whistler

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EARLY MORNING BLOGS 528

Smell!

Oh strong-ridged and deeply hollowed
nose of mine! what will you not be smelling?
What tactless asses we are, you and I, boney nose,
always indiscriminate, always unashamed,
and now it is the souring flowers of the bedraggled
poplars: a festering pulp on the wet earth
beneath them. With what deep thirst
we quicken our desires
to that rank odor of a passing springtime!
Can you not be decent? Can you not reserve your ardors
for something less unlovely? What girl will care
for us, do you think, if we continue in these ways?
Must you taste everything? Must you know everything?
Must you have a part in everything?


(William Carlos Williams)

*

Bom dia!

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26.6.05


INTENDÊNCIA

Publicada, por gentileza de Nuno Guerreiro, a sua tradução do poema de Ginsberg do EARLY MORNING BLOGS 526.

Actualizados os ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO, com novas ligações, e mais bibliografia.

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AR PURO


Aldro Thompson Hibbard

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EARLY MORNING BLOGS 527

Éloge et pouvoir de l'absence


Je ne prétends point être là, ni survenir à l'improviste, ni paraître en habits et chair, ni gouverner par le poids visible de ma personne,

Ni répondre aux censeurs, de ma voix ; aux rebelles, d'un oeil implacable ; aux ministres fautifs, d'un geste qui suspendrait les têtes à mes ongles.

Je règne par l'étonnant pouvoir de l'absence. Mes deux cent soixante-dix palais tramés entre eux de galeries opaques s'emplissent seulement de mes traces alternées.

Et des musiques jouent en l'honneur de mon ombre ; des officiers saluent mon siège vide ; mes femmes apprécient mieux l'honneur des nuits où je ne daigne pas.

Égal aux Génies qu'on ne peut récuser puisqu'invisibles, — nulle arme ni poison ne saura venir où m'atteindre.

(V. Segalen)

*

Bom dia!

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© José Pacheco Pereira
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