ABRUPTO

31.7.11


LATE MORNING BLOGS



2075

Men fear thought as they fear nothing else on earth -- more than ruin -- more even than death.... Thought is subversive and revolutionary, destructive and terrible, thought is merciless to privilege, established institutions, and comfortable habit. Thought looks into the pit of hell and is not afraid. Thought is great and swift and free, the light of the world, and the chief glory of man.

(Bertrand Russell)

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30.7.11


 ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE

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LATE  MORNING BLOGS


2074

"Freedom to differ is not limited to things that do not matter much. That would be a mere shadow of freedom. The test of freedom's substance is the right to differ as to things that touch the heart of the existing order. If there is any fixed star in our constitutional constellation, it is that no official, high or petty, can prescribe what shall be orthodox in politics, nationalism, religion, or other matters of opinion, or force citizens to confess by word or act their faith within."

(Juiz do Supremo Tribunal dos Estados Unidos  Robert Jackson)

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29.7.11


ÍNDICE DO SITUACIONISMO (133)

A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.
 
 

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COISAS DA SÁBADO: RAZÃO, INTELIGÊNCIA, CONVICÇÃO E CRIME

Há muitos anos escrevi que, atrás de uma metralhadora, são mais perigosas as ideias do que os interesses, porque as ideias encarnadas num humano disparam sempre. E também quem conheça a história sabe que a razão, a inteligência e a convicção convivem melhor do que se pensa com a violência e o crime. Pode vir a verificar-se que o autor do morticínio norueguês é louco, mas duvido muito que o seja. Presumo que seja até bastante normal, e até acima do normal, no sentido em que combina qualidades que noutro contexto seriam bastante apreciadas. Por exemplo, no mundo empresarial: é um bom organizador, é determinado, toma iniciativa, é bastante capaz na prossecução dos seus objectivos. Parece uma cópia de Timothy McVeigh, que fez uma coisa semelhante e caminhou para o cadafalso sem arrependimento. (Já me parece menos parecido com Theodore Kaczynski, o Unabomber, mais para o lado do génio perturbado, que estava mais à esquerda e que tinha alvos mais selectivos do que o norueguês.) Calmo, frio, calculista e respondendo à mesma pergunta completamente racional quanto incómoda sobre a natureza humana: quantas pessoas tenho que matar para “marcar o meu ponto”? Só há uma resposta para esta pergunta: muitas, o maior número possível. O mal é mais natural do que o bem.

O norueguês está mais perto de nós do que nos agrada pensar. A nossa obrigação é colocarmo-nos bem longe dele e só o podemos fazer usando armas da cultura e da civilização. O direito, o respeito pela dignidade humana, a democracia, o repúdio da violência política. Mas nada disto cresce nas árvores, não vem da natureza. Vem da cultura, da civilização, coisas raras e frágeis.

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE

Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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 EARLY  MORNING BLOGS



2073
Et nous crevons par la Blague, par l'ignorance, par l'outrecuidance, par le mépris de la grandeur, par l'amour de la banalité, et le bavardage imbécile.

(Gustave Flaubert numa carta a Georges Sand)

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28.7.11



ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE


Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)


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 EARLY  MORNING BLOGS


2072

All life is an experiment. The more experiments you make the better.”

( Emerson) 

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27.7.11


O CAMINHO PARA A IMPLOSÃO DA UNIÃO EUROPEIA (1)


O que aconteceu na última cimeira europeia foi mais uma medida conjuntural, tardia e muito provavelmente ineficaz, para salvar as economias europeias do contágio de uma bancarrota grega. No prazo curto em que se desenvolve a política europeia, não existe, não existiu, e não existirá, como avisou Merkel, qualquer solução que não seja conjuntural. Nem sequer foi qualquer "europeu" amor à Grécia, membro da UE, que justificou esta medida conjuntural: foi o medo de não ser possível conter os efeitos do alastramento à Europa de uma bancarrota grega. Se não existisse esse medo, seria com algum prazer que alguns países veriam a Grécia (e Portugal...) chegar à bancarrota, porque nas medidas que, há um ano, foram tomadas para "apoiar" a Grécia havia uma clara sanha punitiva contra os mentirosos, preguiçosos e corruptos gregos. Não houvesse medo de a crise chegar a Itália ou a Espanha, e os gregos iriam para a falência para servir de exemplo. O facto de a entrada da dracma no euro ser tão mentirosa como a contabilidade criativa dos anteriores governos gregos era reconhecido em qualquer conversa off the record, mas na altura tudo parecia pujante e a UE de vento em popa.

Por isso, as palavras festivas sobre os resultados da cimeira são mais uma das habituais fugas em frente que se tornaram endémicas no discurso europeísta dos últimos anos. É verdade que são tímidas, porque nem aos mais fiéis escapa a enorme crise da instituição. Mas, mesmo assim, estão longe de identificar qualquer problema de fundo daqueles que têm vindo a arrastar a UE para o abismo. É que o caminho da UE para a implosão parece inelutável e, com o fim da instituição, terminará um dos maiores sucessos de diplomacia pacífica numa parte do mundo particularmente belicosa, a Europa.

Como se chegou aqui é mal explicado pela corrente teórica de que não há grandes homens de Estado na actual geração de governantes europeus. Esta é uma evidência não só europeia, como americana, mas está longe de explicar o que se passou. Uma coisa é o facto de a mediatização das democracias levar ao poder os mais capazes no meio mediático e não necessariamente os que são mais capazes como homens de Estado, outra é que os erros na condução da Europa dos últimos anos foram cometidos quer por pequenos, quer por médios e grandes homens políticos.

Os erros são vários, mas podem ser resumidos num erro principal: o esquecimento, pela geração do pós-guerra, de que o impulso da "união" vinha da consciência e subsequente recusa dos factores endógenos de guerra na Europa; e de que nenhuma união na Europa pode ter sucesso sem ter em conta a identidade nacional dos seus estados. Ou seja, a Europa é propícia à guerra e a Europa não é os EUA. A conjugação destes factores, que em condições normais seriam contraditórios, só podia ser feita com muita "prudência", palavra-chave no pensamento de Jean Monnet, devagar, e sempre de modo a todos se sentirem defendidos nos seus interesses de forma igual. Depois da queda do Muro de Berlim caiu-se no "olimpianismo" fácil e os dirigentes políticos europeus começaram a esconder os problemas europeus debaixo do tapete através de sucessivos upgrades políticos que ninguém desejava, nem eles próprios, nem os povos. O nacionalismo voltou, como era inevitável, socavando a retórica europeísta.

E com esse retorno do nacional, o país que desequilibrava tudo era a Alemanha. Uma Alemanha que cada vez menos precisa da UE. Não é "culpa" dos alemães, é culpa dos portugueses, belgas, holandeses, franceses, etc. que cometeram todos os erros do catálogo do esquecimento da história. As ruínas da Constituição europeia, do Tratado de Nice e do inútil Tratado de Lisboa, estão aí à vista de toda a gente.

Comecemos pelo princípio, e o princípio da Europa de hoje é 1945 e não 1989, nem o euro. Os alemães pagaram reparações de guerra depois da sua derrota na I Grande Guerra, e os abusos que os vencedores cometeram foram um factor directo na crise que levou o nazismo ao poder. No final da II Grande Guerra, os russos impuseram à força, como num saque medieval, o mesmo tipo de reparações, e levaram toda a riqueza a que puderam pôr as mãos em cima, desde obras de arte e bibliotecas até fábricas inteiras desmontadas e trabalho escravo dos prisioneiros. A devastação que os alemães fizeram na URSS ocupada surgia como uma espécie de justificação histórica para o saque. Porém, os aliados ocidentais seguiram outro caminho e, em vez de exigir reparações, ajudaram a parte da Alemanha que controlavam a erguer-se economicamente. O Plano Marshall, de que agora se fala com tanta ignorância a propósito da Grécia, foi um dos instrumentos desse apoio, e o objectivo político desse apoio foi travar o avanço comunista na Europa. O outro instrumento para o mesmo objectivo, e para conseguir consolidar a paz na Europa, foi a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço e de um conjunto de "movimentos", como o Movimento Europeu, que estiveram na origem da actual UE. Na verdade, a UE, por muito que os europeus não gostem de ouvir dizer isto, foi parte de um plano americano anticomunista que se revelou ter enorme sucesso. Homens como Jean Monnet, uma das personagens-chave deste sucesso, trabalhou nos EUA, em Inglaterra, e depois em França, para garantir o impulso inicial da "união" como o único efectivo plano de paz que traria das cinzas da guerra uma Europa diferente daquilo que sempre tinha sido.

Voltando à Alemanha, esta rapidamente se tornou o gigante económico da Europa, embora politicamente a sua posição estivesse muito enfraquecida. Estava dividida em zonas de ocupação, em particular a zona de ocupação soviética, que se tornou um país artificial, a RDA. Não detinha verdadeiras forças armadas nem era "igual" diplomaticamente aos seus vizinhos, a começar pela França. A sua única possibilidade de ter um papel internacional activo era ser parte do chamado "motor franco-alemão" nas instituições europeias. E pagava uma outra forma de reparações de guerra como contribuinte líquido da UE. E pagava muito.

A sucessão de acontecimentos desde 1989, com a queda do Muro de Berlim, mudou radicalmente a relação de forças europeia. A unificação alemã foi o mais importante factor da história europeia desde 1945, com enormes repercussões históricas ainda não inteiramente percebidas. Aliás, a unificação foi vista com muito mais desconfiança do que parece nas declarações retóricas dos seus aliados europeus. Ingleses e franceses tinham receios reais do novo colosso que se estava a formar na Europa, já para não falar de muitos países europeus que, por razões históricas e geográficas, temem a Alemanha. Os polacos nunca se esquecem do seu ditado de que "mais vale uma boa geografia do que uma gloriosa história". Os dinamarqueses, os checos e, nos Balcãs, os aliados históricos da França versus os aliados históricos da Alemanha, "sentem" muito bem o peso da mudança. Um dos primeiros sinais de uma nova Alemanha na cena internacional foi o reconhecimento unilateral dos seus aliados, Croácia e Eslovénia, obrigando a UE a reconhecer o desmembramento da Jugoslávia. E a Rússia, convém não esquecer.

(Continua.)

(Versão do Público de 23 de Julho de 2011.)

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 EARLY  MORNING BLOGS


2071

"We acquire the strength we have overcome."

(Emerson)

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25.7.11


 EARLY  MORNING BLOGS


2070
 
Ce qui est hors des gonds de la coutume, on le croit hors des gonds de la raison.

(Montaigne)

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE

Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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24.7.11


 EARLY  MORNING BLOGS

2069 - Commune présence

Tu es pressé d'écrire,
Comme si tu étais en retard sur la vie.
S'il en est ainsi fais cortège à tes sources.
Hâte-toi.
Hâte-toi de transmettre
Ta part de merveilleux de rébellion de bienfaisance.
Effectivement tu es en retard sur la vie,
La vie inexprimable,
La seule en fin de compte à laquelle tu acceptes de t'unir,
Celle qui t'est refusée chaque jour par les êtres et par les choses,
Dont tu obtiens péniblement de-ci de-là quelques fragments décharnés
Au bout de combats sans merci.
Hors d'elle, tout n'est qu'agonie soumise, fin grossière.
Si tu rencontres la mort durant ton labeur,
Reçois-là comme la nuque en sueur trouve bon le mouchoir aride,
En t'inclinant.
Si tu veux rire,
Offre ta soumission,
Jamais tes armes.
Tu as été créé pour des moments peu communs.
Modifie-toi, disparais sans regret
Au gré de la rigueur suave.
Quartier suivant quartier la liquidation du monde se poursuit
Sans interruption,
Sans égarement.


Essaime la poussière
Nul ne décèlera votre union.

(René Char)

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23.7.11


ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE

Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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COISAS DA SÁBADO: SEMPRE É UM PALAVRA PERIGOSA

Custa-me ver muitas pessoas, incluindo numa afirmação recente o Presidente da República, dizer que Nelson Mandela foi “sempre” um homem de paz, "sempre" um partidário de métodos pacíficos de luta política, uma espécie de Gandhi moderno. Devemos imenso a Mandela no período a seguir à sua libertação, e aí sem dúvida ele fez muito por uma transição pacífica, onde as mortes que ocorreram (a maioria delas no conflito com o Inkhata de Buthelezi) não são de sua responsabilidade. Se há Prémio Nobel da Paz bem merecido é o seu. Porém, Mandela tem uma longa carreira política antes da sua prisão e mesmo como dirigente do ANC na prisão, teve especiais responsabilidades no Umkhonto we Sizwe, o braço armado do ANC, que conduziu uma luta violenta contra o regime do apartheid, tudo menos pacifista. “Sempre” partidário de métodos pacíficos, não é, pura e simplesmente, verdade.


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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (133)

A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

A minha defesa da privatização da RTP,- muito antiga, muito antiga,- nunca teve como argumento central o custo da televisão pública, embora este seja nos dias de hoje um factor relevante. A questão central é outra: não há nenhuma razão para, numa democracia aberta, o estado (o governo)  ter órgãos de comunicação social. Ponto. É por isso mesmo que não há verdadeira privatização da RTP, mesmo que alguns dos seus canais sejam vendidos, se, no fim, o estado (o governo) permanecer proprietário de um canal de informação pago pelos nossos impostos. O resultado final seria manter-se a "situação" (e o "situacionismo" trata da "situação")  como está: quem escolhe o director do canal, que escolhe os directores de informação, que escolhe quem serão os jornalistas à frente dos telejornais, que escolhem no seu conjunto quais as notícias a dar, qual o relevo de cada uma num noticiário, que reportagens se fazem e de que eventos, quem vai lá, quem é convidado para ir debater uma questão, e , mais importante ainda, quem não é convidado, etc., etc., é o ministro da tutela (antes Santos Silva, agora Relvas), e o Primeiro-ministro (antes Sócrates, hoje Passos Coelho).

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 EARLY  MORNING BLOGS


2068

L'homme a inventé le pouvoir des choses absentes. 

(Paul Valéry)

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22.7.11

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COISAS DA SÁBADO: 
O QUE ESTÁ A SER MUITO MAL FEITO, MAS MESMO MUITO MAL FEITO: DAR DE OFERTA MILHÕES DE EUROS AOS ACCIONISTAS DA PT, DA GALP. ETC.



A oferta das golden share sem qualquer contrapartida para o estado é o mesmo que dar de mão beijada muitos milhões de euros a vários fundos de pensões, bancos, seguradoras, accionistas individuais, grupos económicos, etc.. O ministro justificou essa oferta argumentando que nas empresas a privatizar isso melhoraria também o valor da parte do estado, logo não se perdia tudo. Pode-se aceitar em parte este argumento. Mas naquelas que foram privatizadas a preço mais baixo, exactamente porque havia a golden share? E naquelas que já estavam todas privatizadas menos a golden share? O caso da Portugal Telecom é o mais significativo. O estado ofereceu aos accionistas uma valorização real do seu património de muitos milhões de euros, sem qualquer contrapartida. Se não fossem as circunstâncias especiais em que tudo isto se passou, que apontam para uma mistura de pressa e preconceitos ideológicos (estar contra as golden shares é uma coisa, oferece-las sem contrapartidas é outra), seria um caso que alertaria para uma investigação ou de negligência no interesse público ou de corrupção.

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COISAS DA SÁBADO: 
O QUE ESTÁ A SER MAL FEITO: COMPARAR O NOVO IMPOSTO COM METADE DO SUBSÍDIO DE NATAL


Na verdade, para quem o vai pagar, é muito mais do que metade do subsídio de Natal. A comparação pega por preguiça dos media, mas é falsa.

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COISAS DA SÁBADO: 
O QUE ESTÁ A SER BEM FEITO:  UM MINISTRO DAS FINANÇAS SÓBRIO, DETERMINADO E SEM EFEITOS ESPECIAIS


O estilo do ministro das Finanças não me parece só “estilo”. Parece-me ser a postura normal, genuína, de um homem que está empenhado naquilo que está a fazer, sem subordinar o que tem a dizer aos efeitos especiais de fogo-de-vista e ocultação que nos dominaram nos últimos anos. Um ministro que espera que os jornalistas vejam a página com os dados que ele está a citar e que lhes dá o número da página, é totalmente ingénuo na arte da conferência de imprensa, mas isso é uma lufada de ar fresco. Um homem sabedor pode dar-se ao luxo de ser ingénuo sobre os jornalistas, desde que o não seja sobre as finanças.

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (132)

A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

Por que razão é que a lista de nomes que se vão sabendo de nomeações para os gabinetes governamentais e para cargos chave na economia e administração do Estado não me surpreende de todo? De todo, estava escrito nas estrelas. Jornais "amigos", jornalistas "amigos" dedicados e blogues de facção, foram nos últimos anos um instrumento fundamental na propaganda do "passismo" no PSD, atacando com virulência Manuela Ferreira Leite, promovendo os seus, fazendo o sale boulot. Não admira que agora pareçam mansos cordeiros: é que chegou o o payback time.

Já que não há o prometido site das nomeações aqui vai uma lista muito incompleta das informações que a Visão tem publicado sobre essas escolhas. Podem ser vistas por jornal ou por blogue, ou por ministério. Qualquer maneira de as ver é particularmente interessante: 


Diário de Notícias / Jornal de Notícias: Maria de Lurdes Vale, Carla Aguiar, Adelino Cunha, Paula Cordeiro, Pedro Correia entre outros.

RTP: Rui Lopes da Silva, Daniel Pessoa e Costa

Lusa: Rui Batista

Público: Anabela Mendes

31 da Armada: Afonso Azevedo Neves, Carlos Nunes Lopes, João Villalobos

Albergue Espanhol: Afonso Azevedo Neves, António Nogueira Leite, Pedro Correia

Cachimbo de Magritte: Miguel Morgado

Portugal dos Pequeninos: João Gonçalves

Ministério de Miguel Relvas, o mais interessante de analisar porque é daqui que virá o spin e o que mais se verá: João Gonçalves, Pedro Correia, Adelino Cunha.

Três observações: uma, é que por muito que se tente iludir este facto, as escolhas deste tipo pouco tem a ver com o mérito profissional, mas sim com a confiança política. Se no caso dos jornalistas não houvesse a transumância habitual entre redacções e assessorias governamentais, não haveria nenhum problema em se escolher na base da confiança política. Agora ver jornalistas, que até ontem eram o primor da objectividade e independência, irem ajudar ministros e secretários de estado na propaganda e nalguns casos na manipulação da informação, isto sim é um problema. O mesmo problema se coloca ao contrário: ver dedicados propagandistas (e nalguns casos mais do que isso) voltarem agora às redacções como impolutos e isentos jornalistas, também me parece um problema.


A segunda observação é que vale a pena reler o que estes jornalistas e autores de blogues escreveram nos últimos anos. Percebe-se muita coisa.


A terceira, é que estas listas não dizem tudo. Não nos dizem sobre outro tipo de relações envolvendo as mesma pessoas e com a ligação próxima que alguns blogues têm com agências de comunicação e empresas de marketing que trabalharam para personalidades partidárias ou partidos e agora se vão mudar para o governo. Esta é uma teia de interesses muito pouco escrutinada, mas muito importante para perceber alguns blogues como, por exemplo, o 31 da Armada.

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (131)

A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.
Não estará na altura de perguntar pelo site na Internet onde estarão todas as nomeações feitas pelo novo governo e que nos foi prometido como forma de sabermos até que ponto há ou não há jobs for the boys? É que é agora que estão a ser feitas as nomeações e o que se sabe até hoje não  mostra nenhuma diferença substancial nas escolhas de boys em relação a governos anteriores.

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COISAS DA SÁBADO: 
O QUE ESTÁ A SER BEM FEITO: IR MAIS LONGE DO QUE A TROIKA EM MATÉRIA DE CONSOLIDAÇÃO DAS FINANÇAS


O novo imposto extraordinário é sem dúvida uma violação das promessas eleitorais do PSD e de toda a argumentação que foi usada contra o PS sobre a prioridade das receitas sobre as despesas e, caso se necessitassem mais receitas, de que o esforço seria nos impostos sobre o consumo e não sobre o rendimento. Passos Coelho e o PSD falharam redondamente todas estas promessas… e fizeram bem. Não serão as únicas promessas que vão ser esquecidas e de novo… ainda bem. Como já tive ocasião de aqui escrever, espero que o melhor conhecimento da realidade nacional e a experiência de ter que governar a “coisa”, leve ao abandono de muitas promessas eleitorais, pela melhor das razões: o interesse nacional. A realidade é que o novo imposto mostrou uma determinação em pôr as finanças em ordem que impediu que o efeito da classificação da Moody's fosse maior e colocou do nosso lado os parceiros europeus, a começar pelo que conta, a Alemanha, e o FMI. Mérito do governo.

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE

Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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 EARLY  MORNING BLOGS

2067 - Vento a Tindari

Tindari, mite ti so
Fra larghi colli pensile sull’acque
Delle isole dolci del dio,
oggi m’assali
e ti chini in cuore.


Salgo vertici aerei precipizi,
assorto al vento dei pini,
e la brigata che lieve m’accompagna
s’allontana nell’aria,
onda di suoni e amore,
e tu mi prendi
da cui male mi trassi
e paure d’ombre e di silenzi,
rifugi di dolcezze un tempo assidue
e morte d’anima


A te ignota è la terra
Ove ogni giorno affondo
E segrete sillabe nutro:
altra luce ti sfoglia sopra i vetri
nella veste notturna,
e gioia non mia riposa
sul tuo grembo.


Aspro è l’esilio,
e la ricerca che chiudevo in te
d’armonia oggi si muta
in ansia precoce di morire;
e ogni amore è schermo alla tristezza,
tacito passo al buio
dove mi hai posto
amaro pane a rompere.


Tindari serena torna;
soave amico mi desta
che mi sporga nel cielo da una rupe
e io fingo timore a chi non sa
che vento profondo m’ha cercato.

(Salvatore Quasimodo)

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18.7.11


A COISA ESTÁ A ESBOROAR-SE


Há um ciclo de estertor no sistema político português que não parece incomodar ninguém dentro dos partidos. De fora, ele é visto como mais um sinal de que os partidos são uma espécie de "associações de malfeitores", e que os partidos não são precisos para nada com as novas formas de "democracia do Facebook". Entre os telefonemas para os fora das rádios e televisões, as acampadas e candidaturas como a de Nobre, a fronda contra os partidos em democracia está impante.

De dentro, do PS e do PSD, está tudo bem. Como não podia estar bem no PSD, agora que ganhou as eleições? Não os preocupa o facto de o Governo, cujos principais actores partidários vêm do mais íntimo do aparelho do PSD e da JSD, se veja aflito para tornear o conhecimento público das nomeações, que inevitavelmente fará, de gente do PSD? E tenha de estar a protestar isenção partidária todos os dias e a toda a hora? Será que o grau de pestífero público que hoje um militante partidário tem de suportar não lhes mostra que alguma coisa está muito mal? Pelos vistos não, até estamos no Governo...

No PS, então, o debate actual revela a completa inanidade de um pensamento sobre a crise partidária. Seguro diz que é preciso "refundar o PS", ecoando as palavras de Soares, mas não acha que isso tenha nada de dramático ou especial. "Refundar" um partido é coisa trivial, são duas palavras só e ficam bem no discurso. Não promete Seguro um "novo ciclo" quando chegar ao poder, de que não se percebe um átomo porque é novo, e mudar o nome de Gabinete de estudos para Laboratório de ideias? Já chega para "refundar" o partido, não é? Não ama Seguro os militantes socialistas e os proclama intangíveis à crítica em todas as frases com que tenta encravar Assis, suspeito de os não amar com tão acrisolada paixão?

De facto, Assis tem mais consciência do problema e introduz uma proposta que representa uma tentativa de alargar a base eleitoral do PS numa eleição interna, para combater os sindicatos de voto que estão quase todos com Seguro. Ele coloca bem o problema da "dimensão" necessária a qualquer democracia, para que não votem apenas os caciques e o povo miúdo cacicado, familiares, primos uns dos outros, e possa haver alguma abertura à opinião exterior aos arranjos do aparelho. Mas essa "dimensão" só funciona perante eleitorados muito mais vastos, o que significaria que apenas em Lisboa e no Porto, onde aliás Assis tem a maioria dos seus apoiantes, poderia o voto dos simpatizantes registados fazer a diferença. E um outro problema se levanta quando passamos para um universo mais vasto do que os militantes partidários: o facto de, então, o confronto passar a ser feito no sistema mediático e poder favorecer o protagonismo e o acesso aos media. Talvez também por isso, Assis quer mais debates abertos e Seguro impede-os.

O próprio facto de nenhum dos dois ser capaz de fazer qualquer reflexão crítica sobre os anos de Sócrates (como aliás Marques Mendes não fez de Santana Lopes e nunca se fez no PSD de Cavaco), mostra que nenhum debate é possível dentro dos partidos sem ser visto como acrimónia pessoal ou quase uma traição à camisola. Os partidos dão-se bem com a intriga e mal com o debate, dão-se bem com as fontes anónimas e mal com as declarações frontais. Ora, se não é possível, quer no PS quer no PSD, reflectir criticamente sobre a sua própria acção, sem isso ser visto como uma espécie de traição, mata-se a possibilidade de estes mudarem e contribuírem para a mudança.

O PS abandonou o marxismo frentista com que vinha de antes do 25 de Abril, "meteu o socialismo na gaveta", virou católico envergonhado e depois voltou à Maçonaria, passou dos militantes históricos de 1974-6 para os ex-MES, tentou tirar o socialismo da gaveta e logo a seguir meteu-o ainda mais fundo na gaveta e fechou-a à chave, que Sócrates engoliu num acesso de fúria. Criou uma central sindical e deixou-a ir a uma semivida própria, sem fulgor nem papel. Em todos estes casos, nem com Soares, nem Constâncio, nem Sampaio, nem Guterres, nem Sócrates, se discutiu nada sobre o que se passava dentro e fora de portas. Ficou-se preso, nos últimos anos, numa vulgata de "Estado" e "sector público" que permanecia como um retórica pobre e era contrariada em cada acção prática. O PS já nem tem socialismo nem social-democracia, nunca teve reformismo nem se sobressalta quando a liberdade é ameaçada, na maioria dos casos por si próprio. Permaneceu anticomunista, mas namorou o Bloco de Esquerda, como antes tinha namorado todas as esquerdas "independentes", dos pintassilguistas aos antigos MRPP e aos ex-comunistas. É hoje tão socialista como o PSD, que ainda há pouco tempo era mais socialista que o PS, mas agora já não é, sem por isso passar a ser liberal. O PS está numa confusão ideológica total, e ninguém quer saber disso para nada.

Por outro lado, mesmo algumas peculiaridades da sua composição social que o faziam distinto do PSD, a sua relação com as universidades, os intelectuais, o sector da cultura de esquerda, a sua base tradicional no professorado e nos funcionários, tudo isso se desvaneceu ou não funciona como factor identitário. Escolhendo Seguro, o PS fica irremediavelmente parecido com o PSD na escalada das escolhas internas aparelhísticas, de personalidades nascidas dentro, criadas dentro, aprendendo tudo o que sabem dentro e sabendo muito de dentro. Tiques, linguagem, o modus operandi de Seguro é exactamente o mesmo que se vê por todo o lado no PSD, como se os dois partidos tivessem como molde o estatal Instituto Português da Juventude, desde os tempos do ministro Couto dos Santos. Vai ter graça ver os intelectuais arrogantes do PS a irem ao beija-mão de Seguro...

O problema não está em que os partidos tenham aparelho, está em se substituírem os objectivos e as funções cívicas dos partidos em democracia pelos objectivos dos aparelhos e das carreiras dos seus membros. Há alguns dias alguém escrevia (cito de memória) que uma das carreiras com maior mobilidade vertical disponíveis para os jovens hoje, em Portugal, eram as juventudes partidárias. Tem toda a razão. Em que outra profissão um jovem pode ter acesso relativamente fácil a um vasto conjunto de lugares na administração, nas empresas públicas, nas autarquias, nas assessorias nos grupos parlamentares, nos gabinetes ministeriais, como deputados municipais, vereadores, deputados nacionais, etc., etc? E em que outra profissão isso é possível sem adequadas qualificações académicas, com cursos de plástico e sem qualquer experiência profissional? Em lado nenhum. E como a democracia em Portugal já tem mais de três décadas, esse acesso já começa a ser familiar, com os filhos de políticos a ingressarem na carreira política com promoções rápidas e "protagonismo" fácil e quase imediato. O poder dos pais abre caminho à carreira dos filhos e, como alguém disse a alguém há alguns anos, "o que custa é entrar, depois de estares lá dentro estás sempre garantido".

Esta forma de perversão do sistema democrático domina hoje os dois maiores partidos portugueses, fechando-os a qualquer mudança vinda de dentro e tornando-os um dos maiores problemas de sustentabilidade do regime. Isto está a esboroar-se e eles serão os últimos a saber.

(Versão do Público de 16 de Julho de 2011.)

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HOJE DE NOVO

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 EARLY  MORNING BLOGS

2066
 
The two offices of memory are collection and distribution.

(Samuel Johnson)

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17.7.11


 EARLY  MORNING BLOGS

2065 - Memory 

When I was young my heart and head were light,
And I was gay and feckless as a colt
Out in the fields, with morning in the may,
Wind on the grass, wings in the orchard bloom.
O thrilling sweet, my joy, when life was free
And all the paths led on from hawthorn-time
Across the carolling meadows into June.


But now my heart is heavy-laden. I sit
Burning my dreams away beside the fire:
For death has made me wise and bitter and strong;
And I am rich in all that I have lost.
O starshine on the fields of long-ago,
Bring me the darkness and the nightingale;
Dim wealds of vanished summer, peace of home,
And silence; and the faces of my friends.

(Siegfried Sassoon)

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16.7.11


MUNDO DOS LIVROS


Banco com livros numa livraria holandesa.

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COISAS DA SÁBADO: O TRABALHO DA CEIFEIRA

A ceifeira continua a trabalhar com eficácia, a matar gente. Vários amigos meus desapareceram e convém esclarecer que não eram amigos como aqueles que existem no Facebook, ou, como também é moda na blogosfera, amigos de ter trocado um email e passar-se a ser íntimo publicamente na hora da morte para ver se alguma sombra da fama alheia nos cai em cima por pressuposto contacto. Esta necrofilia é infelizmente muito portuguesa e uma variante do fishing for compliments, também muito habitual para esses lados. 

Da Maria José Nogueira Pinto já quase tudo foi dito com genuína emoção ou com muita hipocrisia. Que a mão do Pastor lhe dê a perpétua felicidade. Até porque ela fez mais pela fé em que acreditava do que uma Igreja inteira. O valor da propaganda pelo exemplo, uma expressão de origem anarquista, é o mais poderoso de todos. De Diogo Vasconcelos, basta apenas dizer que ele era uma dessas raridades na espécie humana, um homem genuinamente bom. Podia ser amanuense, trabalhador rural, electricista, ou génio da socialização das novas tecnologias, que o ser bom precede sobre tudo o resto. 

E falta aquele de que menos se fala, o Jorge Lima Barreto, um homem estranho e raro, solitário e tenaz na sua arte e ideias. Fiz com ele, numa semana de recepção aos novos alunos na Faculdade de Letras do Porto, um dos primeiros happenings que se fizeram em Portugal, num período em que a politização estava a vir por via da radicalização estética. Ângelo de Sousa também teve uma pequena participação no evento, de que resta apenas um cartaz, uma colagem e uns papéis manuscritos que guardo e nenhuma fotografia. O Jorge estava a tornar-se então uma raridade nos meios estudantis e intelectuais da época, no fim dos anos sessenta, à volta de 1968, pela maneira de ser e vestir. Lembro-me muito bem da mesa do Majestic que ocupava regularmente com um seu companheiro muito alto, mas que nunca abria a boca, um par absolutamente de filme até porque usava coisas tão estranhas como um fez na cabeça. O Jorge caminhava então para a mais árdua e solitária das artes em Portugal: ser músico experimental no limite de todas as vanguardas, algo de que “não se gosta” porque composto como “cosa mentale” e que não agrada aos sentidos, nossos senhores. Toda a vida experimentou e todas as vezes que nos falamos ele trazia esse entusiasmo da exploração, que fazia com os sons e com a vida. Uma vez disse-lhe que ele parecia o Santa-Rita Pintor. Ele gostou da comparação e eu disse-lhe “vê lá se vives um bocado mais do que ele”. Viveu.

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HOJE DE NOVO


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© José Pacheco Pereira
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