ABRUPTO

7.7.08


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CAÇA E RECOLECÇÃO (14)



Primeiro Natal da guerra.
Onde estará esta menina com um olhar sem mancha, então ainda pura de coração?

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POEIRA DE 7 DE JULHO



Hoje, há 146 anos, o oficial da Confederação James Blanchard, morreu de uma ferida contraída na batalha de Seven Pines, no princípio de Junho. Blanchard, que pertencia ao comando do Exército da Virginia do Norte, era de uma velha família do Sul, lutava na ala esquerda da batalha e, quando incitava os seus homens, foi ferido por uma bala Minié. Tratado num hospital de campanha insistiu em voltar ao combate aparentemente recuperado. Uma semana depois, desmaiou no cavalo e já era tarde de mais. Como muitos oficiais durante a guerra tinha o hábito de escrever cartas com frequência. Nos seus pertences foi encontrada uma última carta dirigida à sua noiva que terminava dizendo "I miss you so much". Não teve resposta.

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CAÇA E RECOLECÇÃO (13)



A princesa Gedeanov, no tempo em que havia princesas russas.

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EARLY MORNING BLOGS


1332 - The Plain Sense of Things

After the leaves have fallen, we return
To a plain sense of things. It is as if
We had come to an end of the imagination,
Inanimate in an inert savoir.

It is difficult even to choose the adjective
For this blank cold, this sadness without cause.
The great structure has become a minor house.
No turban walks across the lessened floors.

The greenhouse never so badly needed paint.
The chimney is fifty years old and slants to one side.
A fantastic effort has failed, a repetition
In a repetitiousness of men and flies.

Yet the absence of the imagination had
Itself to be imagined. The great pond,
The plain sense of it, without reflections, leaves,
Mud, water like dirty glass, expressing silence

Of a sort, silence of a rat come out to see,
The great pond and its waste of the lilies, all this
Had to be imagined as an inevitable knowledge,
Required, as a necessity requires.

(Wallace Stevens)

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6.7.08


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CAÇA E RECOLECÇÃO (12)



Em Nova Iorque.

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A EUROPA DO SILLY WALK E DA MARCHE FUTILE

Os Monthy Python conseguiram finalmente ensinar aos frogs e aos krauts a maneira de andar do silly walk , ou, na versão francesa, La Marche Futile. Hoje a Europa é um grande palco de silly walkers a segurar com dificuldade a sua taça de champanhe e a bater nas costas uns dos outros, em fundo convenientemente azul ao som da Nona Sinfonia de Beethoven. Até que o briguento irlandês, mais o canalizador polaco, mais o misterioso checo, que ainda não aprenderam o andar dos tontos, vêm estragar a festa. Pensam que os tontos passaram a andar direitos? Bem pelo contrário, resolveram ensaiar mais uns passos rebuscados do silly walk, continuando o glorioso espectáculo no esplendor da relva feita pelos subsídios da Política Agrícola Comum.

Desde a introdução do euro, o último grande adquirido da UE que teve origem na sua política fundadora, em que os "pequenos passos" dão origem a passos gigantescos, que os dirigentes europeus passaram a fazer ao contrário: a querer dar passos de gigante e a acabar por ficar tão enredados pelos pés, que não saem do sítio. Ou pior, andam para trás. Há mais de dez anos que os dirigentes europeus conduzem uma política desastrosa à frente da União Europeia, que tem somado fracassos sobre fracassos e que, mesmo perante as evidências do erro, continuam a persistir no mesmo erro. Não aprenderam, não aprendem e provavelmente não aprenderão e pelo caminho vão destruir uma ideia, uma força, uma organização, um acordo, um caminho comum que trouxe paz, prosperidade, e sentido comum à Europa.

A chave deste erro é simples: a uma dada altura, assustaram-se e deslumbraram-se. As duas coisas ao mesmo tempo. Assustaram-se porque perceberam que o fim do comunismo na Europa não ia ser tão fácil e tão olímpico como pensavam. Perceberam que, do mesmo modo que os alemães ocidentais pagaram um preço elevado pela reunificação alemã - o último rasgo político de dimensão histórica de um dirigente europeu, Helmut Khol -, se a UE quisesse "reunificar" a Europa, ou seja, fazer o alargamento aos países do antigo Pacto de Varsóvia, teria que pagar também muito. Teria que, por exemplo, alterar significativamente políticas como a PAC, teria que redistribuir poder pelos novos países e isso significava alterar a relação de forças que favorecia o chamado "motor", a França e a Alemanha.


Depois surgiu a guerra jugoslava, o atestado de impotência militar da UE, que não teve outro remédio senão chamar os americanos, que ainda estavam dispostos a vir. A seguir veio a divisão iraquiana, a mostrar que, em matérias estratégicas, a UE estava muito longe de se entender. Por fim, os chineses bateram à porta e a crise do chamado "modelo social europeu", que já tinha mostrado que não servia face à competição americana, ia ser posto em causa por esse novo fantasma que assola o mundo, a globalização.

O susto veio junto com o deslumbramento, pares indissociáveis do mesmo desnorte. O deslumbramento veio do gaullismo de Chirac, transformado em política externa da UE, e de uma Alemanha cada vez mais emancipada do seu complexo de derrotada da guerra, a propor-se transformar a Europa numa versão dos länder alemães. Havia várias consequências desejadas destas políticas: diminuir o papel da aliança transatlântica com os EUA, dar à Europa uma política externa de superpotência alternativa ao "império", competir com os americanos pela supremacia económica, e fazer um upgrade rápido da componente política da UE.

Para isso, essa direcção política tinha que ficar em boas mãos, as do "motor", e não nas daqueles países, como os do alargamento, que tinham o defeito de considerar que, para a sua sobrevivência, a OTAN e os EUA eram mais importantes do que uma UE sem armas, diminuindo os seus orçamentos de defesa e renitente em defrontar as suas opiniões públicas, com mortos em combate. Foi essa a essência do processo que se iniciou com a Constituição Europeia, manter nas condições da Europa a 27, o núcleo do poder político na França e na Alemanha e nos seus aliados menores europeus. Tinha que dar asneira e deu, porque era um desvio completo da Europa que tinha até então resultado: a prossecução do "plano americano" de Jean Monnet, Schumann, Gasperi, Adenauer.

Entrou-se no ciclo em que ainda estamos hoje e onde pelos vistos vamos continuar a estar: em Nice, foi a noite das facas curtas que se sabe, a gloriosa Constituição Europeia acabou às mãos do canalizador polaco, e o Tratado de Lisboa legalmente está morto, só que ainda há quem pense que o formol injectado nas veias faz de um morto, vivo. A Europa afastou-se, não sei se irremediavelmente, dos seus cidadãos, entrou numa política de logro e dolo, de que o Tratado de Lisboa com os seus truques e complots para não haver referendos é o mais degradado exemplo, e os seus dirigentes não sabem o que hão-de fazer, se um golpe de estado europeu contra os irlandeses, se continuar anos a tentar fazer o mesmo que já foi rejeitado duas vezes e mais seria se os europeus contassem para alguma coisa. Continua La Marche Futile.



A verdade pura e dura é que estes dirigentes perderam a vontade política de fazer uma Europa em comum, em negociar o que fosse preciso com vontade para se entenderem, e substituíram essa vontade que lhes faltava e que só dependia deles, pela tentativa de criar mecanismos de engenharia política que não passam em todos os sítios onde ainda houver traços de um debate e de uma consulta sobre a Europa.

E, no entanto, havia e há outro caminho, mas não é para andar ao modo tonto. Tudo aquilo que os actuais dirigentes da Europa dizem que é necessário fazer, pode ser feito com os mecanismos actuais dos tratados. Se o "consenso" que foi possível para o Tratado de Lisboa fosse obtido para corrigir essa aberração da Política Agrícola Comum, não estaria a Europa melhor? Se o "consenso" arrancado a ferros para o champanhe de Lisboa fosse obtido para uma política de defesa comum, não estaria a Europa melhor? E quem é capaz de garantir que o mesmo esforço de negociação e entendimento que deu o tratado não poderia dar políticas comuns na base dos tratados existentes? Ninguém.

É difícil? Certamente que é, mas a realidade mostra que mais difícil ainda é encontrar artifícios para substituir a vontade e o consenso pelos "motores", contrários ao espírito fundador da Europa que foi feita numa base de igualdade entre as nações. É fictícia essa ideia de igualdade? Talvez seja, mas tem funcionado melhor do que a tentativa de impor maiorias e minorias, cuja última racionalidade é demográfica, exactamente o que os fundadores da Europa não queriam porque sabiam que não funcionava. Como se vê.

(Versão do Público, de 5 de Julho de 2008.)

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EARLY MORNING BLOGS


1332 - Best Society

When I was a child, I thought,
Casually, that solitude
Never needed to be sought.
Something everybody had,
Like nakedness, it lay at hand,
Not specially right or specially wrong,
A plentiful and obvious thing
Not at all hard to understand.

Then, after twenty, it became
At once more difficult to get
And more desired - though all the same
More undesirable; for what
You are alone has, to achieve
The rank of fact, to be expressed
In terms of others, or it's just
A compensating make-believe.

Much better stay in company!
To love you must have someone else,
Giving requires a legatee,
Good neighbours need whole parishfuls
Of folk to do it on - in short,
Our virtues are all social; if,
Deprived of solitude, you chafe,
It's clear you're not the virtuous sort.

Viciously, then, I lock my door.
The gas-fire breathes. The wind outside
Ushers in evening rain. Once more
Uncontradicting solitude
Supports me on its giant palm;
And like a sea-anemone
Or simple snail, there cautiously
Unfolds, emerges, what I am.

(Philip Larkin)

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5.7.08


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CAÇA E RECOLECÇÃO (11)



Mater Dolorosa.

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O SORRISO DE INGRID

Mulher francesa, patriota colombiana. E ri de alegria, quando vê os filhos, ri em todos os momentos em que percebe que já está livre. Mas só é verdadeiramente bela quando sorri e a face se repousa num menor esforço, e mostra uma calma que não pode ter, por debaixo de uma estranha trança, ainda feita na selva. Alguém lhe deve ter dito: "ficas bonita assim". Mas há uma coisa no sorriso de Ingrid Betancourt que não é só alegria. Aquele sorriso já viu tudo.

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EARLY MORNING BLOGS


1331

Natsugusa ya
Tsuwamonodomo ga
Yume no ato

Erva de Verão
Grandes guerreiros
Restos de sonhos

(Basho)

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4.7.08


LÍNGUA SÁBIA



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EXTERIORES: CORES DO DIA DE HOJE



(MJ)

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 4 de Julho de 2008

Uma excelente notícia, para variar, vinda da Universidade de Aveiro: o Corpus Lexicográfico do Português.



Os primeiros dicionários da Língua Portuguesa, publicados nos séculos XVI, XVII e XVIII, podem ser consultados on-line, permitindo a leitura de testemunhos raros da evolução do Português e do significado das palavrasEste fundo documental, designado Corpus Lexicográfico do Português, resulta de um trabalho de edição iniciado em 2001 na Universidade de Aveiro, com a transcrição e tratamento informático de um conjunto de dicionários antigos, que não tiveram reedições modernas, e que por isso permaneciam inacessíveis para o grande público e até para a generalidade dos especialistas, que apenas os podiam consultar em algumas bibliotecas.
Actualmente é possível consultar 16 textos, efectuar pesquisa de palavras e obter concordâncias. Entre as principais obras destacam-se o primeiro dicionário de língua portuguesa e latina, de Jerónimo Cardoso, a Prosódia de Bento Pereira e o Vocabulário Português e Latino de Rafael Bluteau. Estão também disponíveis recolhas de provérbios e adágios antigos. A informação lexical com acesso a contextos e à identificação das fontes é destinada aos estudos literários, culturais e linguísticos mas apresenta motivos de interesse para o público em geral, que pode encontrar testemunhos da mudança de sentido de palavras como caramelo (gelo), drogas (especiarias), mecânico (artesão), pensar (alimentar), polícia (leis) ...
Pode ser acedido aqui.

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COISAS DA SÁBADO: COMO NOS PESADELOS


Há uns filmes de terror em que alguém está numa sala que vai começando a ser invadida por água. A água vai subindo e a pessoa vai lutando para manter a cabeça à tona. Até que o tecto da sala se aproxima inexoravelmente e fica apenas aquele movimento desesperado de encontrar a última película de ar que sobra. Umas vezes há salvação, aparece o herói, outras, se o filme de terror é a sério, a imagem seguinte é o corpo a boiar sem vida.

Os portugueses começam a perceber que estão num filme deste género. Qualquer noticiário lhes diz aquilo que verificaram no supermercado, na bomba de gasolina, no transporte, na conta do fim do mês, na prestação da casa: os preços estão a subir como a água do filme de terror. Com eles, as dívidas, porque a facilidade traiçoeira do crédito do consumo está presente na sala, como se acrescentássemos ao perigo do afundamento, o de um tubarão qualquer que dá voltas, ao lado. É overkill, mas é mesmo.

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1330 - Heráclito


El segundo crepúsculo.
La noche que se ahonda en el sueño.
La purificación y el olvido.
El primer crepúsculo
La mañana que ha sido el alba.
El día que fue la mañana.
El día numeroso que será la tarde gastada.
El segundo crepúsculo.
Ese otro hábito del tiempo la noche.
La purificación y el olvido.
El primer crepúsculo...
El alba sigilosa y en el alba
la zozobra del griego.
¿Qué trama es esta
del será, del es y del fue?
¿Qué río es éste
por el cual corre el Ganges?
¿Qué río es éste cuya fuente es inconcebible?
¿Qué río es éste
que arrastra mitologías y espadas?
Es inútil que duerma.
Corre en el sueño, en el desierto, en un sótano.
El río me arrebata y soy ese río.
De una materia deleznable fuí hecho, de misterioso tiempo.
Acaso el manantial está en mí.
Acaso de mi sombra
surgen, fatales e ilusorios, los días.

(Jorge Luis Borges)

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COISAS DA SÁBADO: COMEÇOU COM OS CÃES



A partir de hoje os novos cães portugueses passam a ter obrigatoriamente implantado um micro processador que os identifica. Os cães passam a ter bilhete de identidade escrito no corpo, e um número único, como se fosse um código de barras. Nada impede que o que se está a fazer aos cães se faça aos humanos e estou convencido que será apenas uma questão de tempo. No século XX muitos humanos estiveram já marcados, como o gado, nos campos de concentração.

Começará como é costume, por um princípio de necessidade, depois de facilidade. Começará por exemplo, para marcar os bebés numa maternidade para que não haja trocas, depois o estado convencer-nos-á que só há vantagens em andar de código de barras electrónico para se houver um acidente se saber qual é o código sanguíneo, ou que se pode assim seguir os pedófilos por GPS, etc., etc.. Depois será mais fácil atravessar as filas da segurança dos aeroportos, ser atendido numa repartição, etc., etc. É só uma questão de tempo.

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3.7.08


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 3 de Julho de 2008


Por que razão a afirmação de Joana Amaral Dias (na SICN) de que querem fazer a "chinesização" da Europa não é uma afirmação racista?

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1.7.08


INTENDÊNCIA



Os Estudos sobre o Comunismo estão em actualização com um pedido de ajuda.

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 1 de Julho de 2008


Insistir na ratificação do Tratado de Lisboa pelos países que ainda não o fizeram é inútil do ponto de vista jurídico, porque o Tratado foi morto no referendo irlandês. A insistência em prosseguir as ratificações só pode por isso ter um significado político: isolar os irlandeses e puni-los por terem dito que não. Foi este caminho que recusaram os Presidentes polaco e checo, que sempre desconfiaram da política de diktat que está por trás da deriva europeia dos últimos anos e que conduz a União Europeia de desastre em desastre.

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POEIRA DE 1 DE JULHO


Hoje, há noventa e três anos, Viriginia Woolf tinha deixado de escrever o diário que começara nesse ano e encontrava-se deprimida, violenta, agressiva. No meio da sua depressão deixou de dormir e perguntava aos seus amigos como é que faziam à noite. Um deles, talvez o seu cunhado Clive Bell, disse-lhe que todas as noites lia meia dúzia de páginas de Tucídides, descrevendo batalhas ou escaramuças da guerra do Peleponeso. Depois fechava a luz e imaginava-as com todos os precisos detalhes, o cheiro da urze, o barulho das espadas, a pedra onde se sentou um guerreiro de Esparta olhando para o por-do-sol enquanto morria, as azeitonas comidas à sombra depois de uma batalha, o pó levantado pelos caminhos, o silêncio. Muitas destas coisas não vinham em Tucídides, inventava-as e permanecia centrado naquilo em que queria pensar e não naquilo em que pensava e não o deixava dormir. Quando não conseguia, voltava a Tucídides.

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CAÇA E RECOLECÇÃO (10)



Cartazes chineses sobre livros.

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CAÇA E RECOLECÇÃO (9)



Esta semana num calendário alemão de 1944, distribuído em Portugal. Parecia que estavam a ganhar...

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1329 - On the Beach at Night Alone

On the beach at night alone,
As the old mother sways her to and fro singing her husky song,
As I watch the bright stars shining, I think a thought of the clef of the universes and of the future.

A vast similitude interlocks all,
All spheres, grown, ungrown, small, large, suns, moons, planets,
All distances of place however wide,
All distances of time, all inanimate forms,
All souls, all living bodies though they be ever so different, or in different worlds,
All gaseous, watery, vegetable, mineral processes, the fishes, the brutes,
All nations, colors, barbarisms, civilizations, languages,
All identities that have existed or may exist on this globe, or any globe,
All lives and deaths, all of the past, present, future,
This vast similitude spans them, and always has spann’d,
And shall forever span them and compactly hold and enclose them.

(Walt Whitman)

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© José Pacheco Pereira
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