ABRUPTO

8.7.08


JUDEU ERRANTE






Mais uma corrida, mais uma viagem.

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: UMA SOMBRA FRIA



(Clicar para aumentar.)

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EARLY MORNING BLOGS


1333 - Dolor

I have known the inexorable sadness of pencils,
Neat in their boxes, dolor of pad and paper-weight,

All the misery of manila folders and mucilage,

Desolation in immaculate public places,
Lonely reception room, lavatory, switchboard,

The unalterable pathos of basin and pitcher,

Ritual of multigraph, paper-clip, comma,

Endless duplication of lives and objects.

And I have seen dust from the walls of institutions,

Finer than flour, alive, more dangerous than silica,

Sift, almost invisible, through long afternoons of tedium,

Dropping a fine film on nails and delicate eyebrows,

Glazing the pale hair, the duplicate grey standard faces.


(Theodore Roethke)

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7.7.08


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CAÇA E RECOLECÇÃO (14)



Primeiro Natal da guerra.
Onde estará esta menina com um olhar sem mancha, então ainda pura de coração?

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POEIRA DE 7 DE JULHO



Hoje, há 146 anos, o oficial da Confederação James Blanchard, morreu de uma ferida contraída na batalha de Seven Pines, no princípio de Junho. Blanchard, que pertencia ao comando do Exército da Virginia do Norte, era de uma velha família do Sul, lutava na ala esquerda da batalha e, quando incitava os seus homens, foi ferido por uma bala Minié. Tratado num hospital de campanha insistiu em voltar ao combate aparentemente recuperado. Uma semana depois, desmaiou no cavalo e já era tarde de mais. Como muitos oficiais durante a guerra tinha o hábito de escrever cartas com frequência. Nos seus pertences foi encontrada uma última carta dirigida à sua noiva que terminava dizendo "I miss you so much". Não teve resposta.

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CAÇA E RECOLECÇÃO (13)



A princesa Gedeanov, no tempo em que havia princesas russas.

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EARLY MORNING BLOGS


1332 - The Plain Sense of Things

After the leaves have fallen, we return
To a plain sense of things. It is as if
We had come to an end of the imagination,
Inanimate in an inert savoir.

It is difficult even to choose the adjective
For this blank cold, this sadness without cause.
The great structure has become a minor house.
No turban walks across the lessened floors.

The greenhouse never so badly needed paint.
The chimney is fifty years old and slants to one side.
A fantastic effort has failed, a repetition
In a repetitiousness of men and flies.

Yet the absence of the imagination had
Itself to be imagined. The great pond,
The plain sense of it, without reflections, leaves,
Mud, water like dirty glass, expressing silence

Of a sort, silence of a rat come out to see,
The great pond and its waste of the lilies, all this
Had to be imagined as an inevitable knowledge,
Required, as a necessity requires.

(Wallace Stevens)

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6.7.08


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CAÇA E RECOLECÇÃO (12)



Em Nova Iorque.

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A EUROPA DO SILLY WALK E DA MARCHE FUTILE

Os Monthy Python conseguiram finalmente ensinar aos frogs e aos krauts a maneira de andar do silly walk , ou, na versão francesa, La Marche Futile. Hoje a Europa é um grande palco de silly walkers a segurar com dificuldade a sua taça de champanhe e a bater nas costas uns dos outros, em fundo convenientemente azul ao som da Nona Sinfonia de Beethoven. Até que o briguento irlandês, mais o canalizador polaco, mais o misterioso checo, que ainda não aprenderam o andar dos tontos, vêm estragar a festa. Pensam que os tontos passaram a andar direitos? Bem pelo contrário, resolveram ensaiar mais uns passos rebuscados do silly walk, continuando o glorioso espectáculo no esplendor da relva feita pelos subsídios da Política Agrícola Comum.

Desde a introdução do euro, o último grande adquirido da UE que teve origem na sua política fundadora, em que os "pequenos passos" dão origem a passos gigantescos, que os dirigentes europeus passaram a fazer ao contrário: a querer dar passos de gigante e a acabar por ficar tão enredados pelos pés, que não saem do sítio. Ou pior, andam para trás. Há mais de dez anos que os dirigentes europeus conduzem uma política desastrosa à frente da União Europeia, que tem somado fracassos sobre fracassos e que, mesmo perante as evidências do erro, continuam a persistir no mesmo erro. Não aprenderam, não aprendem e provavelmente não aprenderão e pelo caminho vão destruir uma ideia, uma força, uma organização, um acordo, um caminho comum que trouxe paz, prosperidade, e sentido comum à Europa.

A chave deste erro é simples: a uma dada altura, assustaram-se e deslumbraram-se. As duas coisas ao mesmo tempo. Assustaram-se porque perceberam que o fim do comunismo na Europa não ia ser tão fácil e tão olímpico como pensavam. Perceberam que, do mesmo modo que os alemães ocidentais pagaram um preço elevado pela reunificação alemã - o último rasgo político de dimensão histórica de um dirigente europeu, Helmut Khol -, se a UE quisesse "reunificar" a Europa, ou seja, fazer o alargamento aos países do antigo Pacto de Varsóvia, teria que pagar também muito. Teria que, por exemplo, alterar significativamente políticas como a PAC, teria que redistribuir poder pelos novos países e isso significava alterar a relação de forças que favorecia o chamado "motor", a França e a Alemanha.


Depois surgiu a guerra jugoslava, o atestado de impotência militar da UE, que não teve outro remédio senão chamar os americanos, que ainda estavam dispostos a vir. A seguir veio a divisão iraquiana, a mostrar que, em matérias estratégicas, a UE estava muito longe de se entender. Por fim, os chineses bateram à porta e a crise do chamado "modelo social europeu", que já tinha mostrado que não servia face à competição americana, ia ser posto em causa por esse novo fantasma que assola o mundo, a globalização.

O susto veio junto com o deslumbramento, pares indissociáveis do mesmo desnorte. O deslumbramento veio do gaullismo de Chirac, transformado em política externa da UE, e de uma Alemanha cada vez mais emancipada do seu complexo de derrotada da guerra, a propor-se transformar a Europa numa versão dos länder alemães. Havia várias consequências desejadas destas políticas: diminuir o papel da aliança transatlântica com os EUA, dar à Europa uma política externa de superpotência alternativa ao "império", competir com os americanos pela supremacia económica, e fazer um upgrade rápido da componente política da UE.

Para isso, essa direcção política tinha que ficar em boas mãos, as do "motor", e não nas daqueles países, como os do alargamento, que tinham o defeito de considerar que, para a sua sobrevivência, a OTAN e os EUA eram mais importantes do que uma UE sem armas, diminuindo os seus orçamentos de defesa e renitente em defrontar as suas opiniões públicas, com mortos em combate. Foi essa a essência do processo que se iniciou com a Constituição Europeia, manter nas condições da Europa a 27, o núcleo do poder político na França e na Alemanha e nos seus aliados menores europeus. Tinha que dar asneira e deu, porque era um desvio completo da Europa que tinha até então resultado: a prossecução do "plano americano" de Jean Monnet, Schumann, Gasperi, Adenauer.

Entrou-se no ciclo em que ainda estamos hoje e onde pelos vistos vamos continuar a estar: em Nice, foi a noite das facas curtas que se sabe, a gloriosa Constituição Europeia acabou às mãos do canalizador polaco, e o Tratado de Lisboa legalmente está morto, só que ainda há quem pense que o formol injectado nas veias faz de um morto, vivo. A Europa afastou-se, não sei se irremediavelmente, dos seus cidadãos, entrou numa política de logro e dolo, de que o Tratado de Lisboa com os seus truques e complots para não haver referendos é o mais degradado exemplo, e os seus dirigentes não sabem o que hão-de fazer, se um golpe de estado europeu contra os irlandeses, se continuar anos a tentar fazer o mesmo que já foi rejeitado duas vezes e mais seria se os europeus contassem para alguma coisa. Continua La Marche Futile.



A verdade pura e dura é que estes dirigentes perderam a vontade política de fazer uma Europa em comum, em negociar o que fosse preciso com vontade para se entenderem, e substituíram essa vontade que lhes faltava e que só dependia deles, pela tentativa de criar mecanismos de engenharia política que não passam em todos os sítios onde ainda houver traços de um debate e de uma consulta sobre a Europa.

E, no entanto, havia e há outro caminho, mas não é para andar ao modo tonto. Tudo aquilo que os actuais dirigentes da Europa dizem que é necessário fazer, pode ser feito com os mecanismos actuais dos tratados. Se o "consenso" que foi possível para o Tratado de Lisboa fosse obtido para corrigir essa aberração da Política Agrícola Comum, não estaria a Europa melhor? Se o "consenso" arrancado a ferros para o champanhe de Lisboa fosse obtido para uma política de defesa comum, não estaria a Europa melhor? E quem é capaz de garantir que o mesmo esforço de negociação e entendimento que deu o tratado não poderia dar políticas comuns na base dos tratados existentes? Ninguém.

É difícil? Certamente que é, mas a realidade mostra que mais difícil ainda é encontrar artifícios para substituir a vontade e o consenso pelos "motores", contrários ao espírito fundador da Europa que foi feita numa base de igualdade entre as nações. É fictícia essa ideia de igualdade? Talvez seja, mas tem funcionado melhor do que a tentativa de impor maiorias e minorias, cuja última racionalidade é demográfica, exactamente o que os fundadores da Europa não queriam porque sabiam que não funcionava. Como se vê.

(Versão do Público, de 5 de Julho de 2008.)

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EARLY MORNING BLOGS


1332 - Best Society

When I was a child, I thought,
Casually, that solitude
Never needed to be sought.
Something everybody had,
Like nakedness, it lay at hand,
Not specially right or specially wrong,
A plentiful and obvious thing
Not at all hard to understand.

Then, after twenty, it became
At once more difficult to get
And more desired - though all the same
More undesirable; for what
You are alone has, to achieve
The rank of fact, to be expressed
In terms of others, or it's just
A compensating make-believe.

Much better stay in company!
To love you must have someone else,
Giving requires a legatee,
Good neighbours need whole parishfuls
Of folk to do it on - in short,
Our virtues are all social; if,
Deprived of solitude, you chafe,
It's clear you're not the virtuous sort.

Viciously, then, I lock my door.
The gas-fire breathes. The wind outside
Ushers in evening rain. Once more
Uncontradicting solitude
Supports me on its giant palm;
And like a sea-anemone
Or simple snail, there cautiously
Unfolds, emerges, what I am.

(Philip Larkin)

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© José Pacheco Pereira
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