ABRUPTO

30.7.08




(António Leal)

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EARLY MORNING BLOGS


1345 - The Waking

I wake to sleep, and take my waking slow.
I feel my fate in what I cannot fear.
I learn by going where I have to go.

We think by feeling. What is there to know?
I hear my being dance from ear to ear.
I wake to sleep, and take my waking slow.

Of those so close beside me, which are you?
God bless the Ground! I shall walk softly there,
And learn by going where I have to go.

Light takes the Tree; but who can tell us how?
The lowly worm climbs up a winding stair;
I wake to sleep, and take my waking slow.

Great Nature has another thing to do
To you and me; so take the lively air,
And, lovely, learn by going where to go.

This shaking keeps me steady. I should know.
What falls away is always. And is near.
I wake to sleep, and take my waking slow.
I learn by going where I have to go.

(Theodore Roethke)

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OLD / PRESENT REFLECTIONS



(Edward Hopper)

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29.7.08


KARL MARX E O SEU DESTINO

Apresentação a Marx, Manifesto do Partido Comunista / Manuscritos Económico-Filosóficos de 1844 / O Capital (Edição Popular), 2008 (edição internacional distribuída pelo Diário de Notícias).

(...) Marx continua por todo o lado, mas está muito diferente daquilo que foi. A impregnação do marxismo em tudo, a começar pelo “texto escolar” e pelo discurso comunicacional, tornou-se tão normal, tão habitual que temos dificuldade em distingui-lo da “ideologia dominante” que ele esconjurava. É um marxismo deslavado, desprovido das suas intenções revolucionárias, longe dos seus actores históricos, transformado num mero discurso sobre a sociedade, sobre o conflito, sobre os “ricos e os pobres” já sem esse nome, perpassando no discurso da alter-globalização, nos debates sobre o preço do petróleo, mesmo nalguma vulgata ecológica, nas discussões esquerdistas sobre o Império. Deslavado, descaracterizado, mas também marxismo.

Marx continua forte nos livros de sociologia e de economia, menos forte nos de filosofia, menos nos de política. Na academia, o seu sucesso segue uma geografia bizarra, forte nos campus das universidades americanas, em França, na América Latina, mas esse marxismo universitário que ainda alimenta algumas revistas com o seu nome, já não é o mesmo Marx do “marxismo” que conhecíamos. Não é o mesmo Marx de Engels, de Lenine, de Staline, de Cunhal, mesmo de Lukács, Garaudy e Althusser, mas um Marx intelectualizado, transfigurado em mil teorias críticas que, do cinema ao feminismo, da antropologia bosquímana aos estudos de arquitectura apocalíptica, continuam a produzir centenas de livros e milhares de artigos por ano.

A Internet está também cheia de Marx, mas acompanhado agora pelos vários marxismos que o fim do comunismo deixou de considerar desviantes. Onde antes estava um Marx solitário, lido numa linha única por Engels, Lenine, e Staline, propriedade dos partidos comunistas que simbolicamente o tinham colocado numa estátua no centro de Berlim Leste e lhe publicavam a Marx-Engels-Gesamtausgabe (MEGA), a edição estandardizada dos textos, entre as academias de Moscovo e Berlim, há agora o Marx do Internet Marxist Archive, que inclui o caribenho C.L.R. James, o americano branco Hal Draper, o indiano Roy, os “esquerdistas” e conselhistas alemães e holandeses, os bordiguistas italianos, Gramsci, Guevara, Rosa Luxemburgo, mil e uma vozes que se digladiaram entre si, exactamente pela interpretação que faziam de Marx. Como deixou de haver uma legitimidade política da interpretação, primeiro em 1960 com o conflito entre o PC da China e o PC da União Soviética, quando Marx era único e tinha uma linha de interpretadores autorizados, passou-se para uma multidão de vozes, afro-caribenhas, indías, feministas, homossexuais, chinesas, anarco-comunistas, marxistas-libertárias, marxistas críticas, psico-marxistas, etc., etc., todas dele se reclamando

(Texto integral a ser colocado nos Estudos sobre o Comunismo em breve.)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: "NÃO PODEM LER A BUENA DICHA"
















SIGLAS:
A- – Alvará
AA. – Alvarás
Avis. - Aviso
C.R. – Carta Régia
D. – Decreto
D.D. - Decretos
L. – Lei
Provis.R. – Provisão Régia








(João Boaventura)

*

É muito interessante o seu post, com a reprodução de um repertório sobre as penas aplicáveis aos ciganos, que ilustra bem a discriminação jurídica de que eram alvo no séc. XIX. Nos nossos dias, essa discriminação não deixou de se manter, ainda que sob formas mais insidiosas. Recorde-se que há uns anos houve uma Câmara Municipal que solicitou à Polícia que expulsasse os ciganos da área do seu município. Lembrem-se ainda as dificuldades que noutra altura um Governador Civil, Pedro Bacelar de Vasconcelos, teve que enfrentar apenas para evitar a discriminação de uma família de ciganos.

A forma mais grave de discriminação é, no entanto, aquela que resulta da forma como a sociedade encara os ciganos. Essa discriminação, por vezes considerada invisível, é afinal facilmente descoberta a um olhar mais atento. Abra-se o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, e veja-se os sentidos pejorativos registados em relação à entrada "cigano", bem como as entradas "ciganada", "ciganagem", "ciganar" e "ciganice". A própria língua portuguesa pode ser factor de discriminação e xenofobia.

(Luís Menezes Leitão)

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EXTERIORES: CORES DESTES DIAS

Clicando na fotografia fica na boa dimensão. Para se ver







Mercado Municipal de Viseu. (Sandra Bernardo)



Berlinenses de regresso a casa após o discurso de Barack Obama diante da Siegessäule, no final da tarde de 24 de Julho. (Vítor Magalhães)



Trovoada. (Emil Andersen)



Campo de Golfe RTA, Louredo, Amarante. (Helder Barros)

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EARLY MORNING BLOGS


1344 - A Song On the End of the World

On the day the world ends
A bee circles a clover,
A fisherman mends a glimmering net.
Happy porpoises jump in the sea,
By the rainspout young sparrows are playing
And the snake is gold-skinned as it should always be.

On the day the world ends
Women walk through the fields under their umbrellas,
A drunkard grows sleepy at the edge of a lawn,
Vegetable peddlers shout in the street
And a yellow-sailed boat comes nearer the island,
The voice of a violin lasts in the air
And leads into a starry night.

And those who expected lightning and thunder
Are disappointed.
And those who expected signs and archangels’ trumps
Do not believe it is happening now.
As long as the sun and the moon are above,
As long as the bumblebee visits a rose,
As long as rosy infants are born
No one believes it is happening now.

Only a white-haired old man, who would be a prophet
Yet is not a prophet, for he’s much too busy,
Repeats while he binds his tomatoes:
No other end of the world will there be,
No other end of the world will there be.

(Czeslaw Milosz)

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28.7.08




(António Leal)

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CAÇA E RECOLECÇÃO (15)



Vindo de Jerusalém.

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KARL MARX E O SEU DESTINO

Apresentação a Marx, Manifesto do Partido Comunista / Manuscritos Económico-Filosóficos de 1844 / O Capital (Edição Popular), 2008 (edição internacional distribuída pelo Diário de Notícias).

Após mais de 150 anos a dominar o mundo, sim o mundo, como poucos, para onde foi Karl Marx depois de cair o último muro que defendia o “seu” território em 1989? O corpo maciço, peito, cabelo e barbas abundantes, sólido como um rochedo, pousado sobre a pedra com um centro de gravidade seguro, só parecido no bronze com o Balzac de Rodin, foi, em muitas terras do “socialismo real”, retirado da peanha e levada para esses “museus do comunismo” que atraem turistas americanos nas capitais do lado de lá do Muro. Como o seu túmulo verdadeiro estava escondido num cemitério suburbano de Londres, onde ocasionalmente delegações búlgaras ou mongóis deixavam um ramo de flores, eram essas estátuas a personificação do poder real da personagem, uma das que mais alto marca o século XIX e o século XX. Por onde anda hoje aquele que os maoístas peruanos chamavam a “primeira espada”?

(Texto integral a ser colocado nos Estudos sobre o Comunismo em breve.)

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EARLY MORNING BLOGS


1343 - Siren Song

This is the one song everyone
would like to learn: the song
that is irresistible:
the song that forces men
to leap overboard in squadrons
even though they see the beached skulls
the song nobody knows
because anyone who has heard it
is dead, and the others can’t remember
Shall I tell you the secret
and if I do, will you get me
out of this bird suit?
I don’t enjoy it here
squatting on this island
looking picturesque and mythical
with these two feathery maniacs,
I don’t enjoy singing
this trio, fatal and valuable.
I will tell the secret to you,
to you, only to you.
Come closer. This song
is a cry for help: Help me!
Only you, only you can,
you are unique

At last. Alas
it is a boring song
but it works every time.

(Margaret Atwood)

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27.7.08




(António Leal)

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EARLY MORNING BLOGS


1342 - Earth-Moon

Once upon a time there was a person
He was walking along
He met the full burning moon
Rolling slowly toward him
Crushing the stones and houses by the wayside.
He shut his eyes from the glare.
He drew his dagger
And stabbed and stabbed and stabbed.
The cry that quit the moon’s wounds
Circled the earth.
The moon shrank, like a punctured airship,
Shrank, shrank, smaller, smaller,
Till it was nothing
But a silk handkerchief, torn,
And wet as with tears.
The person picked it up. He walked on
Into moonless night
Carrying this strange trophy.

(Ted Hughes)

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26.7.08




(António Leal)

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NUNCA É TARDE PARA APRENDER: VIDAS COM LIVROS

A colecção "Vidas com Livros", correspondendo a exposições documentais, de iniciativa da Biblioteca Municipal Rocha Peixoto da Póvoa do Varzim, é um muito bom exemplo de acção cívica pela memória do trabalho e da obra de pessoas ligadas ao livro e ao gosto pelos livros. O primeiro volume foi dedicado a Domingos Lima, o livreiro da Lello, e o segundo a António Baptista de Lima, representante de uma família que trabalhou sempre na tipografia. Nele se retrata a biografia de uma tipografia, e o seu mundo próprio, máquinas, tipógrafos, livros, jornais, papel. Basta olhar as fotografias para se perceber o mundo dessas oficinas, o trabalho de mestres e aprendizes numa mesma sala, a relação muito especial que tinham estes operários de elite – sabiam ler e escrever e liam, liam os livros que compunham – com o mundo dos livros propriamente ditos. Os autores conheciam os seus tipógrafos e estes frequentavam os meios literários e jornalísticos, sendo muito sensíveis à dignidade da sua profissão, ou seja à qualidade do seu trabalho. Como se vê, o mundo mudou.

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(António Leal)

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COISAS DA SÁBADO: O FÁCIL NOME DE RACISTA

Num recente programa da TSF sobre o tiroteio de Loures, um ouvinte começou a barafustar contra as condições que eram oferecidas aos ciganos e aos pretos que não tinham que trabalhar como ele e os “portugueses”. Dizia o ouvinte, em tom indignado, que muitos deles vão aos correios buscar o “ordenado” que o estado lhes dá, e protestam com qualquer atraso. Não custa imaginar o ouvinte, um idoso ou reformado com idêntico purgatório nas estações do correio, a assistir à cena e a pensar que trabalhou ele toda a vida para ganhar uma magra reforma enquanto que aqueles “malandros” sem fazerem nada são sustentados pelo “governo”.

A TSF tirou-lhe a palavra porque não eram permitidos comentários racistas nem xenófobos. Não me parecia que fossem muito especialmente racistas, porque não era tanto a condição de serem “pretos” ou ciganos” (também era, como é inevitável) mas a de serem pessoas com idade para estarem no mercado de trabalho e viverem “à sua custa”. Não se pense que não há alguma razão nesta atitude. O assistencialismo do estado, com a sua panóplia de subsídios, gera exclusão e marginalidade, bolsas de pessoas que sobrevivem com os subsídios, e mais umas outras actividades na economia informal, mais ou menos ilegal, Não vivem bem, mas vivem tão mal como os seus congéneres, em condição e rendimentos, que trabalham. Daí que os pobres que trabalham sejam particularmente duros com os pobres que vivem de subsídios, em particular se partilham as mesmas comunidades, e podem ser comparados em idade e condição física e social.

O olhar de uma mãe jovem que trabalha como empregada num café é o mais cruel que há para a mãe jovem que vive do rendimento de inserção e passa as manhãs nesse café sem fazer nada, à conversa com as outras mães que também vivem do subsídio. O que muitas vezes as separa são estratégias para o subsídio: uma casou-se na Igreja, outra é mãe solteira, mesmo que as famílias por fora sejam exactamente iguais.

O problema com a nossa visão destas coisas é que não queremos ver estratégias onde achamos que há só cor e costumes, ser preto ou ser cigano. E por isso no programa da TSF, logo a seguir um à retirada da palavra, outro e outro dos ouvintes começavam a sua intervenção dizendo: “aquele senhor tem muita razão”.

*

Li o seu comentário de dia 26 relativo aos acontecimentos de Loures, e não posso deixar de estar de acordo. Não é preciso ser um português dito "pobre", basta, para entender o seu reparo, ser de classe média, ter três filhos jovens e recorrer aos serviços públicos de educação e saúde por motivos de uma apertada gestão financeira.

Relato-lhe um caso que pode, de algum modo, apresentar um olhar diferente sobre o celeuma causado pela Doutora Manuela Ferreira Leite quando se exprimiu sobre a relação entre famílias e procriação: Procurando colocar o meu filho do meio, de quatro anos, num jardim infantil público (porque entretanto estava na altura de colocar o mais novo, bébé, numa creche, privada claro, pois os equipamentos públicos para esta faixa etária são inexistentes na cidade em que habito e o meu orçamento não suporta dois filhos em instituições privadas), fui colocada diante de uma lista de prioridades nas quais o meu filho não se integrava, das quais faziam parte ser originário de família monoparental, filho de pais estudantes, desempregados, ou com dificuldades económicas manifestas.

Hoje, como sabemos, metade das crianças nasce dentro daquilo a que chamamos "famílias informais", isto é, em que, se os progenitores quiserem, não declaram viver em união de facto, ou não casam legalmente, aos quais devemos juntar os que são efectivamente criados por um só progenitor. Conheço muitos casos, precisamente de acompanhar as colocações dos meus filhos nas escolas públicas, de mães e de pais que preferem manter-se publicamente com o título de "família monoparental" para garantirem os apoios sociais e educativos que tal condição lhes garante. E não falo só de minorias étnicas e de pessoas socialmente desintegradas, falo de pessoas de classe média, jovens como eu, e que procuram fazer pelo menos a sua semaninha de férias por ano no Algarve.

Pergunto se o Estado, ao reconhecer a monoparentalidade como factor de prioridade para os apoios concedidos às crianças dela originárias não está precisamente a reconhecer que esta condição, ou a condição de famílias informais (as que não resultam de casamento ou união de facto) é fragilizante para as crianças, e por isso lhes concede prioridade numa coisa tão simples como a colocação em jardins de infância públicos, recurso escasso e inacessível em muitos locais neste país.
Desta forma, o Estado também reconhece que a família formalmente constituída tem condições que os outros modelos de família não têm para o cuidado e protecção das crianças, a ponto de os considerar "privilegiados" na distribuição dos parcos recursos do Estado. Ou seja, não é tão ínvia assim a relação entre casamento e procriação, mesmo aos olhos do legislador.

Desconfio que a classe média se está a borrifar para a acusação de "pré-modernismo" que o Eng. Sócrates lançou ao discurso de Manuela Ferreira Leite, nem leva o assunto, como a esquerda das causas desejaria, para o plano dos princípios, da reforma das mentalidades e das causas fracturantes. Mas esta classe média que paga impostos e créditos à habitação, trabalha, tem filhos, e entretanto se vê empobrecer, não fechará os olhos a estas distorções que o próprio Estado cria e que no princípio parecem redistribuir a riqueza gerada, princípio do Estado Social, mas que na realidade produzem distorções calamitosas, como a de vermos pessoas que mantêm, sem trabalhar, um rendimento semelhante ou mesmo superior ao daqueles que se levantam para trabalhar pelo ordenado mínimo, e que vêem os seus filhos impedidos de entrar nas creches e jardins de infância públicos porque beneficiam já do "privilégio" de ter nascido numa família formalmente constituída.

(Paula Dias)

*

Tanto quanto sei, o documento que define o que é o Rendimento Social de Inserção deixa bem claro que se trata de uma atribuição pecuniária TEMPORÁRIA e CONDICIONAL, estando os seus beneficiários obrigados a respeitar certas condições - como a inscrição num Centro de Emprego, a aceitação de trabalho, formação, etc.

A questão que se coloca é, pois, evidente: com que rigor é que o Estado faz a verificação do direito a esse rendimento (quer na sua atribuição, quer na sua - eventual - renovação periódica)?

(C. Medina Ribeiro)

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EARLY MORNING BLOGS


1341 - Beware of Ruins

Beware of ruins: they have a treacherous charm;
Insidious echoes lurk among their stones;
That scummy pool was where the fountain soared;
The seated figure, whose white arm
Beckons you, is a mock-up of dry bones
And not, as you believe, your love restored.

The moonlight lends her grace, but have a care:

Behind her waits the fairy Melusine.
The sun those beams refract died years ago.
The moat has a romantic air
But it is choked with nettles and obscene
And phallic fungi rot there as they grow.

Beware of ruins; the heart is apt to make
Monstrous assumptions on the unburied past;
Though cleverly restored, the Tudor tower
Is spurious, the facade a fake
Whose new face is a death-mask of the last
Despairing effort before it all went sour.

There are ruins, too, of a less obvious kind;
I go back; cannot believe my eyes; the place
Is just as I recall: the fire is lit,
The table laid, bed warmed; I find
My former world intact, but not, alas,
The man I was when I was part of it.

(A. D. Hope)

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25.7.08


COISAS DA SÁBADO: VENEZUELA, ANGOLA, LÍBIA



Estes interessantes países são agora os amigos de coração do nosso Primeiro-ministro. Todos eles têm dinheiro, coisa que falta cá, e governantes pouco escrupulosos em usar o poder que vem desse dinheiro para prosseguirem políticas internas pouco democráticas, para não lhes chamar outra coisa, e políticas externas agressivas. O nosso Primeiro-ministro, como puro pragmático que é, não se dispensa de fazer elogios esfuziantes, muito para além do que se espera de um governante da União Europeia de um pais democrático. Nesses países deixou de lado a roupagem de “esquerda” que usa na Assembleia, a de “progressista”, que usa para os encontros da JS, para assumir a do negociante que faz uma troca oferecendo a legitimação vinda de um governante da UE, em troca dos negócios com as elites politica e economicamente mais corruptas do planeta.

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NOTA INTRODUTÓRIA A STANLEY KUBRICK

(Edição Cahiers du Cinema / Público)


O que é que fica dos filmes na nossa cabeça? Os filmes? Quando os estamos a ver, são os filmes. Em particular, a primeira vez que os estamos a ver, esse momento único e irrepetível em que o cinema manda em nós no escuro e nos leva para onde não sabemos que vamos. Depois, começa o trabalho da memória, a grande recolectora das coisas que nos importam, boas, más e péssimas. Ficam momentos dos filmes, coisas dos filmes, imagens, cenas, canções, faces dos actores, cenários, efeitos especiais. Na nossa cabeça cada vez há menos narrativas, cada vez mais há fragmentos, vírus, slogans, “experiências”.


Kubrick deixou como poucos atrás de si dezenas e dezenas destas “lembranças”: o chupa-chupa, os óculos, as unhas da Lolita; o fabuloso Hotel por onde passa o fabuloso Jack Nicholson possesso, um dos melhores cenários de qualquer filme de sempre; o dr. Strangelove entusiasmado como as personagens de Sade pelo poder da destruição, e o cowboy da bomba, o reverso farsante do trágico-cómico Peter Sellers; o olhar daqueles olhos maquilhados debaixo de um improvável chapéu de coco, na Laranja Mecânica, o olhar que desejamos ardentemente nunca ver; e HAL, no 2001, Odisseia do Espaço.

Os diálogos de HAL 9000, o computador da nave, feito numa fábrica de Urbana, Illinois, em 12 de Janeiro de 1992, quando mata e quando morre, são um dos momentos mais dramáticos da história do cinema: de um lado uma voz que é ao mesmo tempo a mais próxima e a mais alheia. Uma voz que diz a mais humana das frases, a mesma que Cristo na cruz, “tenho medo” e depois delira:

HAL: (…) My instructor was Mr. Langley, and he taught me to sing a song. If you'd like to hear it I can sing it for you.

Dave Bowman: Yes, I'd like to hear it, HAL. Sing it for me.

HAL: It's called "Daisy."

HAL: Daisy, Daisy, give me your answer do.
I'm half crazy all for the love of you.
It won't be a stylish marriage,
I can't afford a carriage.
But you'll look sweet
upon the seat of a bicycle built for two.


Só no cinema. Só no cinema feito por Kubrick.

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23.7.08




(Jan de Heem)

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EARLY MORNING BLOGS


1340 - The Mind Is an Ancient and Famous Capital

The mind is a city like London,
Smoky and populous: it is a capital
Like Rome, ruined and eternal,
Marked by the monuments which no one
Now remembers. For the mind, like Rome, contains
Catacombs, aqueducts, amphitheatres, palaces,
Churches and equestrian statues, fallen, broken or soiled.
The mind possesses and is possessed by all the ruins
Of every haunted, hunted generation’s celebration.

“Call us what you will: we are made such by love.”
We are such studs as dreams are made on, and
Our little lives are ruled by the gods, by Pan,
Piping of all, seeking to grasp or grasping
All of the grapes; and by the bow-and-arrow god,
Cupid, piercing the heart through, suddenly and forever.

Dusk we are, to dusk returning, after the burbing,
After the gold fall, the fallen ash, the bronze,
Scattered and rotten, after the white null statues which
Are winter, sleep, and nothingness: when
Will the houselights of the universe
Light up and blaze?
-------------------For it is not the sea
Which murmurs in a shell,
And it is not only heart, at harp o’clock,
It is the dread terror of the uncontrollable
Horses of the apocalypse, running in wild dread
Toward Arcturus—and returning as suddenly…

(Delmore Schwartz)

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22.7.08




(Van Gogh)

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EARLY MORNING BLOGS


1339 - Hedgehog

The snail moves like a
Hovercraft, held up by a
Rubber cushion of itself,
Sharing its secret

With the hedgehog. The hedgehog
Shares its secret with no one.
We say, Hedgehog, come out
Of yourself and we will love you.

We mean no harm. We want
Only to listen to what
You have to say. We want
Your answers to our questions.

The hedgehog gives nothing
Away, keeping itself to itself.
We wonder what a hedgehog
Has to hide, why it so distrusts.

We forget the god
Under this crown of thorns.
We forget that never again
Will a god trust in the world.

(Paul Muldoon)

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21.7.08




(Jan Lievens)

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(Beatrix Potter)

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SOBRE O "FASCISMO HIGIÉNICO"

Fragmentos de uma intervenção no I Congresso Nacional sobre Estilos de Vida Promotores de Saúde realizado em Viana do Castelo (Junho 2008), numa reportagem do jornal Notícias Médicas.

(...) Representa uma sociedade marcadamente hedonista, caracterizada pela presentificação. Foi, por isso, com alguma perplexidade que (...) aceitou o convite para falar no I Congresso Nacional sobre Estilos de Vida Promotores de Saúde. Um título que, na sua opinião, contém a sugestão subliminar de que o nosso estado natural é estarmos doentes, pelo que precisamos de promover a saúde, assim como na fé católica nascemos pecadores, pelo que precisamos de um baptismo e de sucessivas confissões para ficarmos "puros e virginais".

A comparação entre a mensagem dos profissionais de saúde e a ideia de pecado original vai mesmo mais longe: "A doença é apresentada como uma espécie de culpa. Uma das características do discurso higienista contemporâneo a que nós somos culpados por estarmos doentes. Estamos doentes porque não promovemos a nossa saúde, porque não levamos a vida que devíamos levar, mas sim a vida que queremos".

(...) A culpa e o medo explicam o efeito poderoso de algumas campanhas [de saúde pública]. Sendo embora eficazes, não lhe parecem argumentos razoáveis. "Essa culpa não nos faz falta nenhuma. Vivemos numa sociedade em que a culpa transpira por todos os poros. Temos culpa da camada do ozono, do mau tempo, da fome no mundo, da SIDA, do preço dos combustíveis, da pedofilia, da pobreza, de praticamente todos os males que nos aparecem na televisão", lamentou. O problema, diz, é que a culpa nos torna "mais dóceis e menos respeitadores da nossa própria liberdade". E também da dos outros.
(...)
O grande problema da promoção dos estilos de vida saudáveis é conciliar os direitos colectivos com os direitos individuais, designadamente quando essa promoção passa a estar plasmada na lei, afectando os direitos dos indivíduos que livremente escolhem viver de forma diferente. "E se há característica dos dias de hoje é a continua erosão dos direitos individuais. Nos nem sequer nos apercebemos", realçou, falando numa "intromissão do Estado no modo de vida de cada um". (...) A tendencia para a punição e ainda mais perigosa. E o que acontece quando se entende que quem quer fumar, ser sedentário ou engordar está no seu direito de o fazer, mas não poderá aceder aos serviços de saúde em pé de igualdade com quem não fuma, faz dieta ou pratica exercício físico três a cinco vezes por semana.

(...) A propósito, (...) considerou que as considerações sobre a liberdade de escolha devem ser tidas em conta e que "a escolha individual deve ficar a margem da legislação", garantindo a diversificação de comportamentos e de modos de vida. Assim, embora deva existir uma "solidariedade comunitária", ela "não deve, em nenhuma circunstancia, por em causa o modo como cada um vive e em que cada um entende ser feliz" e que "não passa necessariamente por viver a vida toda culpado porque se é gordo" por muito que isso incomode uma industria florescente que se encarrega de "emagrecer as senhoras e os cavaleiros em vésperas do Verão". "Existe uma tensão entre um principio comunitário e uma liberdade individual. Se nós eliminarmos pela lei este tensão, estamos perante uma sociedade mais pobre em que se viva saudável, mas tenho muito contra que se viva infeliz. E não estou certo de as duas coisas vão ao lado uma da outra".

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EARLY MORNING BLOGS


1338 - Power

Living in the earth-deposits of our history

Today a backhoe divulged out of a crumbling flank of earth
one bottle amber perfect a hundred-year-old
cure for fever or melancholy a tonic
for living on this earth in the winters of this climate

Today I was reading about Marie Curie:
she must have known she suffered from radiation sickness
her body bombarded for years by the element
she had purified
It seems she denied to the end
the source of the cataracts on her eyes
the cracked and suppurating skin of her finger-ends
till she could no longer hold a test-tube or a pencil

She died a famous woman denying
her wounds
denying
her wounds came from the same source as her power

(Adrienne Rich)

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20.7.08




(Anónimo holandês cerca de 1628)

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1337 - Garden II

O wind, rend open the heat,
cut apart the heat,
rend it to tatters.

Fruit cannot drop
through this thick air—
fruit cannot fall into heat
that presses up and blunts
the points of pears
and rounds the grapes.

Cut the heat—
plough through it,
turning it on either side
of your path.

(H.D.)

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19.7.08




(Jan de Heem)

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EARLY MORNING BLOGS


1336 - Meridian

First daylight on the bittersweet-hung
sleeping porch at high summer : dew
all over the lawn, sowing diamond-
point-highlighted shadows :
the hired man’s shadow revolving
along the walk, a flash of milkpails
passing : no threat in sight, no hint
anywhere in the universe, of that

apathy at the meridian, the noon
of absolute boredom : flies
crooning black lullabies in the kitchen,
milk-soured crocks, cream separator
still unwashed : what is there to life
but chores and more chores, dishwater,
fatigue, unwanted children : nothing
to stir the longueur of afternoon

except possibly thunderheads :
climbing, livid, turreted alabaster
lit up from within by splendor and terror
—forked lightning’s
---------------------split- second disaster.

(Amy Clampitt)

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18.7.08




(Manuel Valdés)

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INTENDÊNCIA



Os Estudos sobre o Comunismo estão em actualização.

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16.7.08




(Arikha)

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EARLY MORNING BLOGS


1335 - A Study of Reading Habits

When getting my nose in a book
Cured most things short of school,
It was worth ruining my eyes
To know I could still keep cool,
And deal out the old right hook
To dirty dogs twice my size.

Later, with inch-thick specs,
Evil was just my lark:
Me and my coat and fangs
Had ripping times in the dark.
The women I clubbed with sex!
I broke them up like meringues.

Don't read much now: the dude
Who lets the girl down before
The hero arrives, the chap
Who's yellow and keeps the store
Seem far too familiar. Get stewed:
Books are a load of crap.

(Philip Larkin)

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15.7.08




(Arikha)

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COISAS DA SÁBADO: FICOU CARO O ERRO DA OTA

O erro da Ota vai custar mais 200 milhões de euros, a que se somam os muitos milhões que foram deitados para o lixo, de estudos, prospecção, promoções. Até os filmes de propaganda que acompanharam as várias sessões em que o Primeiro-ministro falava, com os aviões a levantar voo do aeroporto simulado, como nos jogos de vídeo, custaram dinheiro, bom dinheiro. Pode-se dizer que este “custar” dos 200 milhões não tem pleno sentido porque é o valor dos investimentos compensatórios à zona Oeste pelos prejuízos das expectativas frustradas e indemnizações pelo que não pode ser feito devido ao congelamento da construção na zona prevista para o aeroporto.

Esse valor vai ser pago “em novas acessibilidades”, um eufemismo para estradas, e fica sempre alguma coisa de útil. Mas há qualquer coisa de absurdo na rede estreita de estradas que vai passar a existir no Oeste, que tem mais a ver com reivindicações locais do que com o interesse nacional. Posso-me enganar, mas, todas as semanas, atravesso a região por uma nova auto-estrada que já lá está e serve muitas das áreas referidas e o trânsito é quase nulo. Agora vão ser feitos os estudos prévios do IC 2 entre o Carregado e Vendas das Raparigas, (variantes ao Carregado e a Vila Nova da Rainha e ligações à EN 366 em Aveiras de Cima, a Rio Maior e à Plataforma Logística de Castanheira do Ribatejo, onde se prevê a construção de um nó de ligação à A1), mais o do IC 11 entre o Carregado e a A8, em Pêro Negro (ligações e variantes a Arruda dos Vinhos e Sobral de Monte Agraço e a articulação ao IC2 e à A10), a beneficiação da EN3, entre o Carregado e a Azambuja, obras na EN9, entre Torres Vedras e Alenquer, lançamento das obras entre S. Pedro da Cadeira/Torres Vedras, e o troço Torres Vedras / Merceana está em fase de projecto, mais o estudo prévio de Merceana / Alenquer, requalificação do traçado, e novas variantes às localidades por ela atravessada e a ligação à A1.

O próprio facto de tudo isto ser considerado “compensatório” sugere a overdose e mais uma vez o excesso e o erro. Eu compreendo que os autarcas queiram uma auto-estrada à porta da sua aldeia, mas já não compreendo que o governo pague um erro por outro erro.

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© José Pacheco Pereira
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