ABRUPTO

9.9.06


RETRATOS DO TRABALHO EM S. PEDRO DO SUL, PORTUGAL



(...) um casal de agricultores "rogou" um tractorista para lhes transportar as abóboras, acabadas de colher, da "terra" para casa (em Sul - São Pedro do Sul).

(José Manuel de Figueiredo)

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CICLOS E MITOS (1)



Quem cá anda há mais tempo já percebeu os ciclos de sobe e desce, da fama e do esquecimento, o eterno retorno de ideias velhas apresentadas como ideias novas. Isto contraria a tentação adâmica de muitos, cuja memória é demasiado curta, ou a ignorância demasiado longa, e que acham que o mundo começou com eles, dedicando-se com estrépito a arrombar portas que muitos outros antes deles abriram com mais dificuldades. O espectáculo de os ver voar direitinhos à porta e passar sem dar por isso pelo imenso espaço aberto devia ser uma lição de humildade, mas normalmente não é.

Um destes ciclos recorrentes é a fortuna do par "esquerda-direita" como classificação dominante e moda identitária. Contrariamente ao que se pensa, o retorno actual do par é relativamente recente, data do período posterior ao fim do comunismo, que permitiu voltar a categorias maniqueístas, logo aparentemente mais simples, de análise. Onde antes era comunista-anticomunista, fascista-antifascista, democrata-antidemocrata, passou a ser esquerda-direita, uma classificação mais genérica e mais vasta, essencialmente histórica antes de ser política. Facilita a vida aos jornalistas e ao pensamento semijornalístico em que estamos mergulhados e por isso faz o seu caminho, embora cada vez menos sirva para classificar qualquer realidade contemporânea, num mundo complexo e com questões distintas do mundo pós-Revolução Francesa e pós-Revolução Industrial, onde a distinção foi gerada e sobreviveu com altos e baixos.

Ora, o que poucos vêem é que o retorno do debate "esquerda-direita", agora transvertido de "fundacional da direita" é mais um sintoma de crise da classificação do que da sua pujança. Sendo antes de mais um remake sem a frescura nem originalidade do debate original, cujo primeiro acto acompanhou a fundação do PP versus CDS, e a do BE, a discussão actual é, na verdade, um reflexo da crise política que se vive na pequena galáxia do CDS-PP, incluindo aí uma ala minoritária do PSD que cresceu nos anos Barroso-Lopes e tem como objectivo consertar um péssimo resultado eleitoral e os problemas de intervenção política do grupo ligado a Paulo Portas. São os impasses políticos desse grupo que estão na origem do actual debate, embora nalguns aspectos este os ultrapasse.

Voltemos atrás, à história ideológica, lexical e taxionómica pós-25 de Abril. Basta revermos os debates políticos na televisão, rádio e jornais, durante quase duas décadas depois do 25 de Abril para entender que mais do que no dualismo ideológico direita-esquerda, a identidade estava centrada nos nomes da identidade partidária: ser-se centrista, social-democrata, socialista ou comunista era a mais comum e suficiente forma de identidade. Se se caminhasse para o dualismo - e não se caminhava por regra -, as dificuldades de posicionamento apareciam de imediato. Nesses anos, apenas pequenos grupos ideológicos à direita se nomeavam como tal, embora preferissem classificar-se de "nacionalistas revolucionários" e alguns mesmo não desdenhassem assumir-se como tributários de várias tradições do pensamento autoritário incluindo o fascismo.

A pouca fluidez do nosso sistema partidário também não corria por esses canais duais: por exemplo, o PRD, os "renovadores" ligados ao General Eanes, não se colocavam no espectro dualista, mas demarcavam-se através de issues, através de linguagens e através de personalidades. O debate absurdo, mas que existiu, sobre se o PCP era de esquerda ou de direita, numa altura em que era vital a demarcação dos socialistas dos comunistas, é outro exemplo. Então os socialistas nem sequer permitiam a pertença à "casa comum" da esquerda dos comunistas e vice-versa, o que mostrava as dificuldades operacionais da nomenclatura. Com excepção do Movimento da Esquerda Socialista e da União da Esquerda para a Democracia Socialista, e a excepção precursora do Clube da Esquerda Liberal, que usava a "esquerda" para contrabalançar o "liberal", a palavra "esquerda" não entrou no sistema político desde a "Esquerda Democrática" na Primeira República. O mesmo acontecia à direita.

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Tal não significava que o dualismo esquerda-direita não fosse importante como factor de identidade política, em particular como manifestação de pertença afectiva, biográfica, geracional, histórica, nem que, se perguntados, os portugueses não se identificassem dentro dele e considerassem que cada lado definia um campo, um território. Só que, depois, na prática, usavam outros nomes para classificar as entidades políticas e tal lhes bastava. Necessitavam de tanta adjectivação ("esquerda socialista", "esquerda revolucionária", "esquerda liberal", "direita revolucionária", etc.) que se percebia que eram mais um ponto de partido do que de chegada. A classificação esquerda-direita era poderosa como posicionamento biográfico e factor de identidade, mas permanecia por nomear, permanecia sem explicitude, e, quando tal acontecia, remetia mais para os extremos do que para o mainstream. Quem se dizia de direita aparecia como sendo de extrema-direita e quem se afirmava de "esquerda-qualquer coisa" já se sabia que não era nem socialista soarista, nem comunista cunhalista. Com o tempo, à medida que o eleitorado se "soltava" e esbatia no seu comportamento a identidade partidária, alternando o voto "ao centro" entre o PS e o PSD, o fenómeno da demarcação ideológica também perdeu força.

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Foi neste contexto que a aparição desse outro par de gémeos, o PP e o BE, nos extremos do espectro político, ambos muito influentes na comunicação social, tornou de novo dominante a classificação direita-esquerda. A ambos interessava uma classificação identitária forte e que fizesse simultaneamente a ruptura e a integração. Vinham das margens, mas desejavam a integração no mainstream político em categorias reconhecidas, em que cada um parecesse como guardião da identidade do seu "lado" - o PP da direita, o BE da esquerda. Cada um se definia como sendo a encarnação da verdadeira identidade do seu lado: o PP como a verdadeira direita face ao CDS e o BE como a verdadeira esquerda face ao PS. Devido à história do sistema político português depois do 25 de Abril, a mecânica era diferente em cada um dos extremos: o PP radicalizava à direita e o BE desradicalizava à esquerda; o PP pretendia ocupar um espaço que considerava vazio, o da direita, o BE pretendia deslocar-se da extrema-esquerda, para se afirmar como a esquerda face ao PS. A novidade do BE em relação aos grupos de extrema-esquerda que o constituíam era essencialmente essa, a de se definir como a "esquerda" do PS e não a "esquerda" do PCP.

Um dos mitos a que hoje se atribui papel "fundacional" na versão actual da distinção "esquerda-direita" é ao jornal O Independente. É em grande parte uma reconstrução a posteriori, porque aquilo a que o jornal deu origem, mais do que a uma nova direita foi a um populismo agressivo, antiparlamentar, anti-sistémico que tanto serviu o PP como o PCP, tanto serviu o radicalismo do PP de Manuel Monteiro-Paulo Portas e a sua variante boçal do "Paulinho das Feiras" como o justicialismo esquerdizante dos que desejavam uma "república dos juízes" em Portugal. Ambos foram filhos de O Independente, irmanados no combate aos mesmos inimigos, aliados que se reconheciam mais do que se pensa e do que a história revisionista e mítica dos dias de hoje quer reconhecer. Do papel dos mitos de O Independente no ciclo destes ciclos, falaremos a seguir.

(Público, 7/9/2006)

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EARLY MORNING BLOGS

861 - What If a Much of a Which of a Wind

what if a much of a which of a wind
gives the truth to summer's lie;
bloodies with dizzying leaves the sun
and yanks immortal stars awry?
Blow king to beggar and queen to seem
(blow friend to fiend: blow space to time)
--when skies are hanged and oceans drowned,
the single secret will still be man

what if a keen of a lean wind flays
screaming hills with sleet and snow:
strangles valleys by ropes of thing
and stifles forests in white ago?
Blow hope to terror; blow seeing to blind
(blow pity to envy and soul to mind)
--whose hearts are mountains, roots are trees,
it's they shall cry hello to the spring

what if a dawn of a doom of a dream
bites this universe in two,
peels forever out of his grave
and sprinkles nowhere with me and you?
Blow soon to never and never to twice
(blow life to isn't: blow death to was)
--all nothing's only our hugest home;
the most who die, the more we live

(e.e. cummings)

*

Bom dia!

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8.9.06


EARLY MORNING BLOGS

860 - Sagesse I - I

Bon chevalier masqué qui chevauche en silence,
Le malheur a percé mon vieux coeur de sa lance.

Le sang de mon vieux coeur n'a fait qu'un jet vermeil
Puis s'est évaporé sur les fleurs, au soleil.

L'ombre éteignit mes yeux, un cri vint à ma bouche
Et mon vieux coeur est mort dans un frisson farouche.

Alors le chevalier Malheur s'est rapproché,
Il a mis pied à terre et sa main m'a touché.

Son doigt ganté de fer entra dans ma blessure
Tandis qu'il attestait sa loi d'une voix dure.

Et voici qu'au contact glacé du doigt de fer
Un coeur me renaissait, tout un coeur pur et fier.

Et voici que, fervent d'une candeur divine,
Tout un coeur jeune et bon battit dans ma poitrine.

Or, je restais tremblant, ivre, incrédule un peu,
Comme un homme qui voit des visions de Dieu.

Mais le bon chevalier, remonté sur sa bête,
En s'éloignant me fit un signe de la tête

Et me cria (j'entends encore cette voix) :
" Au moins, prudence ! Car c'est bon pour une fois. "

(Paul Verlaine)

*

Bom dia!

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7.9.06


RETRATOS DO TRABALHO NO FUNCHAL, PORTUGAL


Dois homens executam a arriscada tarefa de subsituição de cartazes publicitários no gigantesco balão de hélio que se encontra na baía do Funchal. Foto tirada há minutos (17h15). Este balão tem um cesto na base para levar os turistas aos céus da Madeira, de onde se contempla uma magnífica vista, pela módica quantia de 15 euros. A foto documenta o início dos trabalhos, altura em que nenhum sistema de segurança protegia os audazes trabalhadores.

(Tiago Botelho)

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FÉRIAS / FIM DE FÉRIAS
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Por todo o lado já se nota uma nova agitação. Temas e questões começam a aparecer todos os dias, o deserto comunicacional de Agosto dá lugar a uma crescente agitação nos blogues, nos jornais, na televisão. Está tudo mais que disponível para uma nova polémica, uma nova irritação, uma nova exigência, um novo protesto. A coisa é curiosa porque não há verdadeiramente nada de diferente entre Agosto e Setembro a não ser no número de pessoas que estão na praia ou nos seus empregos. O país é o mesmo, o mundo é o mesmo, os problemas são os mesmos. Já estamos é viciados pela excitação e, passado o mês terapêutico de abstinência, precisamos de barulho para meter nas veias. Rápido. Forte. De boa qualidade.

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INTENDÊNCIA

Actualizada a nota UM DIA DE COMÍCIO.

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RETRATOS DO TRABALHO EM BARCELONA, ESPANHA



(...) foto do tipo de trabalho que fiz em Barcelona. penso que seria interessante ter esta foto (...) , pois mostra um tipo de trabalho diferente dos trabalhos tradicionais. Para além de fazer um pouco de bricolage projectei a parte mecânica desse Robot humanoide que vê na imagem. A pessoa que está na foto não sou eu, mas sim o meu chefe (Davide Faconti).

(Alcides Strecht Monteiro)

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EARLY MORNING BLOGS

859 -The Fascination of What's Difficult

The fascination of what's difficult
Has dried the sap out of my veins, and rent
Spontaneous joy and natural content
Out of my heart. There's something ails our colt
That must, as if it had not holy blood
Nor on Olympus leaped from cloud to cloud,
Shiver under the lash, strain, sweat and jolt
As though it dragged road-metal. My curse on plays
That have to be set up in fifty ways,
On the day's war with every knave and dolt,
Theatre business, management of men.
I swear before the dawn comes round again
I'll find the stable and pull out the bolt.


(W.B. Yeats)

*

Bom dia!

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UM DIA DE COMÍCIO

Hoje, viveu-se um dia de permanente comício em muitos órgãos de comunicação social. Desde a TSF pela manhã, até à "Opinião Pública" da SIC Notícias de tarde, culminando no Clube dos Jornalistas na 2, sem qualquer esforço de "edição", sem sequer qualquer esboço de controvérsia, assistiu-se a uma diatribe propagandística completamente à solta, como se estivéssemos em Cuba ou na Venezuela de Chavez e fossem o PCP e o BE a mandar nas televisões. Corrijo: hoje mandaram nas televisões, diante do silêncio comprometido e das deserções de muitos. Todo o discurso, pesado e denso, de múltiplas proclamações, grandes indignações, grandes adjectivos, grandes diabolizações, foi desde o anti-americanismo obcecado, que não hesita nas maiores inverdades e mentiras, até à proclamação indignada contra as tenebrosas violações dos direitos humanos, por esse Novo Estado Fascista que são os EUA.

O Clube dos Jornalistas sintetizou tudo quando, a pretexto do 11 de Setembro de Nova Iorque e Washington, passou imagens do golpe chileno de Pinochet, "dizendo-nos" com as imagens que este é o facto original e puro, o resto são manipulações ímpias. Isto aconteceuThe image “http://redescolar.ilce.edu.mx/redescolar/act_permanentes/historia/html/11_sep_73/mone.gif” cannot be displayed, because it contains errors., isto não. Isto deve-se pensar, isto serve apenas para nos manipular, para cercear as nossas liberdades, para servir os obscuros interesses militares e económicos do Império. A realidade do terrorismo dissipa-se, o terrorismo torna-se invisivel, hipotético, "pretextual" como nas melhores teorias conspirativas. Num noticiário da SIC referia-se de passagem que, no Irão, milhares de voluntários se ofereceram, em resposta ao apelo de alguns parlamentares iranianos, para servir de suicidas. Mas como era possível sequer reparar nesta notícia, incorporá-la no discurso? Não era. O terrorismo, mesmo ali diante dos nossos olhos, desaparecia, esbatia-se, dissolvia-se, normalizava-se. Tornava-se impensável. Só o Monstro americano existe, o resto são também imagens espelhares do mesmo Monstro. Estamos feitos.

*

Como se indignou com programa do clube de jornalistas queria perguntar-lhe se viu a edição sobre o recente conflito Israel-Hezbollah. Não creio que tenha visto, caso contrário teria achado este bastante benigno.

Se não viu peça a cassete a alguém (infelizmente não gravei), acredito que não dará o seu tempo por perdido. Foi a maior acção de propaganda anti-sionista que alguma vez vi numa televisão, e falavam como se de justiceiros se tratassem face ao favorecimento de Israel por parte dos média. Foram feitas acusações graves ao jornal Público e ao seu director. E tudo isto sem qualquer contraditório: todos os convidados eram enviesadamente e fanaticamente anti-sionistas. A ver.

(paulo salvador)

*

São tantos os exemplos de informação tendenciosa e manipulação noticiosa que o tema começa a estar estafado. Mas nunca é demais denunciá-lo. No dia da paralisação dos aviões em Londres, a jornalista Alberta Fernandes apresentou a notícia repetindo várias vezes “a alegada ameaça terrorista” sempre com um trejeito nos lábios para que alguém mais distraído notasse o seu cepticismo esclarecido. No dia em que a televisão transmitiu a reportagem da CNN com o membro do Hezbollah histérico a mostrar os prédios de “civis” atacados em Beirute, José Alberto Carvalho também se revelou consternado e solidário para com o “civil”. São apenas alguns exemplos e muitos mais haverá que desconheço porque passei a exercer o “inalienável direito de carregar no OFF” ou de ver o canal Panda.

(Helena Mota)

*

Estes últimos comentários sobre os EUA e Israel fazem reaparecer na minha cabeça uma sensação que não posso deixar partilhar. Vou usar o exemplo dos EUA mas refiro-me a isto de uma forma geral em relação às suas posições publicas. Note-se então o exemplo: há hoje numa grande parte da sociedade um sentimento anti-americano. JPP opõe-se a ele. Tudo natural. Mas a sensação com que fico é que para se opor ao extremismo de um lado, JPP tende a tomar partido do outro. O facto de não estar de acordo com a perspectiva que muitos europeus têm dos EUA ou, de achar que a comunidade internacional não ajudou Israel como devia, não pode (não deve) fazer com se torne complacente para com o que há a criticar. Nunca o ouvi criticar de forma clara, o facto de terem morrido mais civeis inocentes do que "combatentes irregulares" (já o ouvi a usar a expressão e acho-a adequada). Eu não acho que JPP considere isso irrelevante, o que acho é que esteve demasiado ocupado a defender Israel das críticas que lhe eram feitas. Ficou tão mentalmente tão ocupado nisso que o resto não... surgiu. Imagine alguém acusa um seu conhecido por mentir em determinada situação em que sabe que ele não mentiu, é natural que o defenda. Não se pode é definir por oposição aos acusadores, perdoando futuras mentiras.
Os comentários e actos políticos Responsáveis não podem ser como o aquele jogo em que 2 grupos de pessoas puxam uma corda pelas suas pontas... tentando vencer o outro grupo ao extremar a sua posição. Se acha exageradas e irresponsáveis certas posições sobre os EUA, critique-as e exponha-as, mas não deixe que isso tolde o seu juízo. Eu também não gosto da onda de anti-americanismo de esquerda, mas julgo que o melhor é tentar não tomar partido de um lados só para me opor ao outro. Acho que compreende bem o que estou a dizer. "Não gosto do que este lado diz, por isso vou defender (quase) incondicionalmente o outro"...
Outra hipótese é que eu, talvez por "wishufull thinking", esteja enganado e que (por exemplo) JPP ache mesmo que os EUA têm muito pouco para se lhes criticar, e que a guerra recente, teve custos civis perfeitamente razoáveis. Tanto nisso como em outras situações em que define a sua posição como oposta à de outros.

(Filipe Grácio)

*

É uma verdadeira avalanche de propaganda. Da TSF já não se espera objectividade , ainda mais de um qualquer programa como “O Fórum TSF” cujos participantes parecem ser únicos em Portugal ( são sempre os mesmos…parece a Bancada Central nesse aspecto … e curiosamente todos baldeados á Soeiro P. Gomes) .Mas enfim só ouve quem quer e fala quem pode. Vale a denuncia e a indignação.
Quanto ao “ Clube de Jornalistas” da 2 de ontem , que falaria do 11 de Setembro , no âmbito de uma semana na 2 acerca desse acontecimento que mudou o Mundo, sinceramente quando soube que era este o programa sobre o 11 de Setembro e não outro qualquer , temi pela objectividade do mesmo até pelo facto de na apresentação do mesmo aparecia a sombra de um tal de José Goulão , “cidadão honorário” da Palestina , o que se não confirmou, quem lá estava era o Dr. Rui Pereira , e os jornalistas Luis Costa Ribas e Cesário Borga. Quando apurei que era sobre o papel do jornalista no 11 de Setembro e 11 de Março e sua cobertura, com aquele painel fiquei logo desconfiado ( tirando o Dr Rui Pereira ) …ainda mais quando o moderador se pôs inicialmente a fazer umas considerações tendenciosas. Acabei por ouvir cinco minutos…chegou.
Quando á cobertura do 11 de Setembro…do mais irónico que me lembro de cobertura jornalística e propagandistica no meio daquele terror todo é o Hissam Besseisso representante da AP em Portugal acolitado pelo Luís Fazenda e José Goulão, a dizer e a transpirar abundantemente que o 11 de Setembro era obra da Mossad ou dos judeus. Paralelamente ia-se apreciando a reacção da rua árabe, com aquela senhora de lenço na cabeça a dar á língua a gritar , ao estilo das mulheres sudanesas a cortar as partes intimas dos prisioneiros da força britânica do General Gordon nos idos dos sec XIX.

(António Carrilho)

*

Partilho inteiramente do seu ponto de vista. Também vi o Clube de Jornalistas, e fiquei arrepiado! Sob a coordenação do pivot, de cujo nome não me recordo, o programa foi um autêntico comício do PCP-BE (com a participação expecial da eurodeputada Ana Gomes, a nova Passionaria). A exaltação desse mesmo pivot quando, por exemplo, Costa Ribas se atreveu a dizer que a não existência de legislação específica ou carteira de jornalista nos EUA era uma boa coisa, fez lembrar as imagens do PREC. A deturpação da história atinge níveis preocupantes: qualquer dia dir-se-á que o 11 de Setembro aconteceu por causa da invasão do Iraque.


Poder-se ia, a propósito de terrorismo e de jornalismo, ter referido a presença de membros das FARC - organização reconhecida pela UE como terrorista - na festa do Avante, sem qualquer referência, que eu tenha visto, na televisão; ou também o facto de o presidente Bush ter admitido a existência de prisões "ilegais", prisões essas muito provavelmente criadas pelos seus antecessores, o que revelou um acto de grande coragem; ou a pura e simples "adivinhação" do que foram as missões supostamente da CIA, por parte de grande número de comentadores da nossa Esquerda, etc.

Para finalizar, como explicar as aspas na palavra "todos" no seguinte título de uma notícia do Diário Digital, que transcrevo de seguida?
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EUA: Pentágono proíbe tortura a «todos» os prisioneiros

O Pentágono publicou esta quarta-feira uma nova directiva determinando que os militares norte-americanos respeitem o artigo 3 das Convenções de Genebra, que proíbe a tortura, no tratamento de «todos» os prisioneiros.
«Todos os detidos devem ser tratados humanamente e de acordo com as leis norte-americanas, as leis da guerra», refere a directiva.

A directriz é publicada no mesmo dia em que o presidente George W. Bush vai propor uma nova legislação para julgar os prisioneiros de Guantanamo.

Segundo a directiva, os militares norte-americanos «devem aplicar, qualquer que seja o estatuto legal do prisioneiro, as regras contidas no artigo 3 das Convenções de Genebra de 1949».

O artigo 3 das Convenções de Genebra proíbe «os tratamentos cruéis e a tortura». Determina igualmente que os soldados capturados devem «em qualquer circunstância ser tratados humanamente sem distinção de raça, cor, religião, sexo, origem, rendimento ou qualquer outro critério».

Segundo responsáveis norte-americanos, o novo manual do exército proíbe algumas técnicas de interrogatório de prisioneiros utilizadas pelos Estados Unidos desde os atentados de 11 de Setembro e acrescenta algumas que o Departamento de Defesa considera necessárias.

As regras aplicam-se a todos ramos das forças armadas e não apenas ao exército, não incluindo a CIA, que também foi investigada por maus-tratos de prisioneiros no Iraque e no Afeganistão e por alegadamente manter suspeitos em prisões secretas em vários locais do mundo desde 11 de Setembro de 2001.

Desde pouco depois destes ataques que se têm registado protestos acerca dos direitos dos prisioneiros.

Organizações de direitos humanos e alguns países têm pressionado a administração Bush para fechar a prisão na base naval norte-americana em Guantanamo Bay, Cuba, quase desde que ela foi aberta em 2002 para prisioneiros da campanha contra a Al-Qaeda no Afeganistão.

O escrutínio ao tratamento dos prisioneiros pelos Estados Unidos aumentou em
2004 com a revelação de fotografias de soldados norte-americanos agredindo, intimidando e abusando sexualmente de detidos em Abu Ghraib no Iraque.

Em Julho, o secretário adjunto da Defesa norte-americano, Gordon England, publicou uma nota interna afirmando que o exército dos Estados Unidos trataria os prisioneiros da «guerra contra o terrorismo» de acordo com o artigo 3 das Convenções de Genebra.

A nota seguiu-se à decisão, no final de Junho, do Supremo Tribunal dos Estados Unidos de invalidar os tribunais de excepção de Guantanamo. O Supremo Tribunal considerou que o artigo 3 das Convenções de Genebra se aplicava ao conflito com a Al-Qaeda.

Guantanamo tem actualmente cerca de 450 prisioneiros da «guerra contra o terrorismo», mas apenas 10 foram até agora acusados.

A Casa Branca anunciou hoje que o presidente George W. Bush vai propor, num discurso previsto para as 13:45 (18:45 em Lisboa), uma nova legislação para julgar os prisioneiros de Guantanamo.

O presidente deverá enviar ao congresso o projecto de lei da sua administração ainda hoje, precisou o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow.

Segundo Snow, trata-se de reagir à decisão de 29 de Junho do Supremo Tribunal, mas a legislação não prevê a «mudança de estatuto de Guantanamo».

Diário Digital / Lusa

06-09-2006 19:17:17
(Ricardo Peres)

*

Esta leitora tem toda a razão. Lembra-me que nem todos vivem no mesmo contínuo comunicacional e, por isso, tudo o que se escreve pode parecer críptico, abstracto e alheio. Lembra também limitações da escrita nos blogues que têm a ver com as características do meio. Não é um problema facilmente resolúvel para quem escreve nos blogues que têm mecanismos de imediaticidade e referência que podem torná-los incompreensíveis fora do mesmo espaço de comunicação, mas pode e deve ser tido em conta. A carta da leitora vai publicada sem a habitual cor azul para que se percebam os seus comentários que vinham originalmente também em azul.

Para quem, como eu, não vive em Portugal e apenas tem acesso à RTP Internacional o que hoje conta no seu post não se percebe. Este é, em meu entender, um dos grandes problemas dos weblogs. Não existindo edição outra que a feita em causa própria, raramente se encontra a preocupação de contar uma "história" com cabeça, tronco e membros. Quem está de fora e, como é o meu caso, ainda mais de fora, os weblogs parecem um mundo estranho onde tudo o que é escrito parece começar a meio. Bem sei que o weblog funciona num registo que vai do diário confessional ao mero registo de uma impressão em modo de fragmento. No entanto, para quem, como o José Pacheco Pereira faz do weblog um espaço diverso do convencional, parece-me que muitas vezes as suas palavras mais se assemelham a recados internos, private jokes ou simplesmente estilhaços como é, afinal, a prática comum deste tipo de comunicação.

O exemplo do seu post de hoje é o paradigma do que acima descrevi e que me deixou e continua a deixar em branco. Junto lhe envio as suas palavras para que a minha opinião faça ainda mais sentido. Ora siga-me:

Hoje, viveu-se um dia de permanente comício em muitos órgãos de comunicação social. Desde a TSF pela manhã, até à "Opinião Pública" da SIC Notícias de tarde, culminando no Clube dos Jornalistas na 2, sem qualquer esforço de "edição", sem sequer qualquer esboço de controvérsia, assistiu-se a uma diatribe propagandística (até aqui não consegui ainda compreender de que diatribe nos fala) completamente à solta, como se estivéssemos em Cuba ou na Venezuela de Chavez e fossem o PCP e o BE a mandar nas televisões. (continuo na mesma. com a mesma pergunta: que diatribe?) Corrijo: hoje mandaram nas televisões, diante do silêncio comprometido e das deserções de muitos. (que muitos? que silêncio comprometido?) Todo o discurso, pesado e denso, de múltiplas proclamações, grandes indignações, grandes adjectivos, grandes diabolizações, foi desde o anti-americanismo obcecado, que não hesita nas maiores inverdades e mentiras, até à proclamação indignada contra as tenebrosas violações dos direitos humanos, por esse Novo Estado Fascista que são os EUA. (aqui percebo que devem, mas repare que é um devem, ter falado dos Estados Unidos da forma como descreve. O que terão dito? Um exemplo? Continuo a ler... querendo perceber do que nos fala mas sem nada que o sustente)

O Clube dos Jornalistas sintetizou tudo quando, a pretexto do 11 de Setembro de Nova Iorque e Washington, passou imagens do golpe chileno de Pinochet, "dizendo-nos" com as imagens que este é o facto original e puro, o resto são manipulações ímpias. (compreendo aqui que se passou alguma coisa num programa da RTP2 mas, em concreto, continuo na mesma. Foram, eventualmente?! passadas duas imagens, estas? e relacionadas da forma como... mas qual forma? o que foi dito? Eram realmentes estas as duas imagens passadas??) Isto aconteceu The image , isto não http://www.reformation.org/evil-twin-towers.jpg. Isto deve-se pensar, isto serve apenas para nos manipular, para cercear as nossas liberdades, para servir os obscuros interesses militares e económicos do Império. A realidade do terrorismo dissipa-se, o terrorismo torna-se invisivel, hipotético, "pretextual" como nas melhores teorias conspirativas. (o que disseram nesse programa foi, penso estar a perceber mas o texto é tão falho de informação que não garanto nada, penso que nesse programa terão dito que não houve 11 de Setembro ou que um acontecimento decorreu do outro ou ainda que, o quê?) Num noticiário da SIC(uma vez aqui chegada julgo compreender que fez zapping. da RTP2 passou para a SIC.) Referia-se de passagem que, no Irão, milhares de voluntários se ofereceram, em resposta ao apelo de alguns parlamentares iranianos, para servir de suicidas. Mas como era possível sequer reparar nesta notícia, incorporá-la no discurso? (era impossível incorporar esta notícia da SIC em que discurso? No da RTP2? no seu? no da SIC? Ainda não percebi, até aqui, o que sucedeu ao certo) Não era. O terrorismo, mesmo ali diante dos nossos olhos, desaparecia, esbatia-se, dissolvia-se, normalizava-se. (Aqui está a falar da SIC ou da RTP2?) Tornava-se impensável. Só o Monstro americano existe, o resto são também imagens espelhares do mesmo Monstro. Estamos feitos.

Para mim torna-se cada vez mais insustentavel ler jornais ou weblogs. Sobretudo os portugueses, é destes que falo. Parecem-me saídos do mesmo caldeirão de equívocos e enganos e/ou dificuldades de comunicação. Uns, creio, de causa prosaica e outros nem por isso. Uma coisa é certa, para quem se dedica apenas a ler o que outros escrevem a vida não está nada fácil. Enfim, para ser menos dura... e para o citar: "estamos feitos!"

(Teresa Santos)

*
Sobre o comentário da Srª D. Teresa Santos, devo dizer-lhe que contráriamente não acho que ela tenha alguma razão, nem mesmo atenuante, já que vivendo no estrangeiro (vago), tem acesso a notícias, como confessa através da RTP-I que apesar dos muitos eventuais defeitos deve relatar minimamente o que se passa em Portugal, além do mais vivendo no estrangeiro e dando de barato ao tempo a que isso dura, deverá falar a língua de acolhimento, acedendo assim a uma generalidade de fontes noticiosas através dos meios de comunicação local (a menos que estejamos a falar de um estrangeiro algures saariano, amazónico ou quejando).

Não vi o programa citado, nem mesmo televisão nesse dia e contudo entendi perfeitamente todo o seu post, bem como as intenções e intencionalidades que se percebem do texto.

Quanto à Srª D. Teresa Santos……..alô Marte !

(Castello Branco)

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6.9.06


BIBLIOFILIA: LIVROS SOBRE LIVROS




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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 6 de Setembro de 2006


Na SIC Notícias no "opinião pública" está em pleno um comício do PCP e do BE (mais do PCP do que do BE) a pretexto dos "voos da CIA".

*

De manhã, ao pequeno almoço, muita gente a ler jornais. Os jornais eram o Metro e o Destak, dois gratuitos. O problema bem grave para a imprensa que custa dinheiro, é que a leitura dos dois gratuitos, que também fiz, me dá o essencial das notícias com mais do que um mínimo de qualidade. Leio o Destak e o Metro e posso dizer que li os jornais.

Partilho a sua opinião acerca do jornal Metro. No meu café matinal costumo encontrar os jornais "comuns" ocupados, pelo que me habituei a ler o Metro que, por ser distribuido gratuitamente, encontram-se sempre bastantes exemplares disponiveis. A qualidade das notícias nacionais, internacionais e até de algumas colunas de opinião, ultrapassam, não poucas vezes, a dos nossos jornais comerciais.
A quem nunca leu, aconselho.

(Luis Vaz de Carvalho)

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RETRATOS DO TRABALHO EM S. MARTINHO DO PORTO, PORTUGAL



Vendedora de bolos.

Desconfio que há por aí gente que quando vir esta fotografia não deixará certamente de sorrir. Há-de lembrar-se das bolas de Berlim, dos pastéis de nata, das tranças e de tantos outros bolos que terá comido em muitos Verões de S. Martinho.
Noutros tempos, a vendedora (quase todos a tratam pelo nome) trazia a caixa branca à cabeça. Com o peso dos anos veio o peso da caixa e há uns anos apareceu com este carrinho. A bola de Berlim não precisa da buzina para se fazer anunciar. A roupa branca e as crianças a correr para o carro chegam muito bem para ver a lata ao longe. A muitas conhece-lhes o nome, como já conheceu o dos pais. Pacientemente, vai puxando os tabuleiros e mostrando os bolos: "Areia não, meninos!". Despedimo-nos dela no final da praia, quase sempre "até para o ano".

(Isabel Goulão)

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5.9.06


EARLY MORNING BLOGS

858 - Poema manuscrito nas folhas brancas de um livro e lá esquecido

Não teimes, não insistas, não repitas,
mas vive como quem, teimando, insiste,
e, porque insiste, como que repete.
Esse das sombras o silêncio fluido
escoando-se por ti quando não passas,
parado que ouves, não mais é que o tempo
de hoje em que vives só alheias vidas,
de ti alheadas qual de ti vividas.

Por outro tempo te criaste impuro,
difuso e firme, no clamor de versos
que os tempos de hoje reconstroem como
delidas cartas um fogacho acendem.
Outro que seja, é teu, pois o escutaste
na dor de apenas ser, na dor de ouvir
quão desatentos menos homens são
os homens todos. Teu, sem que teu seja,
que destes e dos outros se fará
serena ciência de possuírem tudo
o que juntares para ser roubado,
quando, parado no silêncio fluido,
se escoava nele o próprio estar na vida,
atento como estavas, poeta como eras
daquele ser não-sendo que eram todos
em ti, dentro de ti, à tua volta.

(Jorge de Sena)

*

Bom dia!

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4.9.06


INTENDÊNCIA

Actualização em curso dos ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO.

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TRABALHO DE LOUCOS


Há coisas que ninguém com bom senso faz, e uma delas é escrever uma enciclopédia ou um dicionário. É, pela sua natureza, um trabalho colectivo e mesmo o célebre Dr. Johnson tinha uns "negros" para o ajudar. Eu, que estou a escrever um dicionário que na prática é uma enciclopédia, sei bem até que ponto é do domínio da loucura meter-me nisto. Acho que não vai acabar bem, as "entradas" ganham vida própria e um dia assaltam-me à esquina de qualquer estante. Nenhum software comercial para mortais comuns verdadeiramente suporta o tamanho, a conjugação entre dados formatados e texto livre e o hardware, de centenas de gigabites (não, ainda está longe dos terabites, mas lá chegará...) que sai da caixa electrónica e passa para livros e fichas colocados por ordem alfabética (das entradas) , serpenteia das estantes para caixas e livros e pilhas de artigos e jornais. Distantes patronos para quem olho com reverência e humildade? Lineu, Humboldt, o dr. Johnson, os enciclopedistas...

Há pelo menos um dilema que não tenho: não tenho que escolher nada, é suposto que lá esteja tudo, nomes, organizações, jornais, eventos, factos e factóides, palavras, jargão, cruzando-se entre si numa rede quase infinita. A rede dá-me quase tanto trabalho como as entradas. Cada uma faz o milagre da multiplicação dos pães e gera muitas outras, logo tudo cresce exponencialmente. É biológico, não é químico, nem mecânico. Quanto mais se sabe, mais falta saber, como naquelas histórias borgeanas sobre o mapa perfeito, que tem o tamanho do território a representar ou o olhar dos fractais para a linha da costa, do conforto da fotografia aérea, com a costa talhada a rigor, para passar para a terra, rocha a rocha, e depois duna a duna, areia a areia...



(Pequena parte da letra M, entre Maio 68, Marcuse e Música.)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: NADA DE NOVO SOBRE A TERRA

-Mire vuestra merced -respondió Sancho- que aquellos que allí se parecen no son gigantes, sino molinos de viento, y lo que en ellos parecen brazos son las aspas, que, volteadas del viento, hacen andar la piedra del molino.

-Bien parece -respondió don Quijote- que no estás cursado en esto de las
aventuras: ellos son gigantes; y si tienes miedo, quítate de ahí, y ponte
en oración en el espacio que yo voy a entrar con ellos en fiera y desigual
batalla.
(...)

-¿Cómo dices eso? -respondió don Quijote-. ¿No oyes el relinchar de los caballos, el tocar de los clarines, el ruido de los atambores?

-No oigo otra cosa -respondió Sancho- sino muchos balidos de ovejas y carneros.
(...)

Y, diciendo esto, puso las espuelas a Rocinante, y, puesta la lanza en el ristre, bajó de la costezuela como un rayo. Diole voces Sancho, diciéndole:

-¡Vuélvase vuestra merced, señor don Quijote, que voto a Dios que son carneros y ovejas las que va a embestir! ¡Vuélvase, desdichado del padre que me engendró! ¿Qué locura es ésta? Mire que no hay gigante ni caballero alguno, ni gatos, ni armas, ni escudos partidos ni enteros, ni veros azules ni endiablados. ¿Qué es lo que hace? ¡Pecador soy yo a Dios!

(foto e transcrição do Quixote por Fernando Igreja.)

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RETRATOS DO TRABALHO EM CABANES - VILA POUCA DE AGUIAR, PORTUGAL



Desfolhada,2 de Setembro de 2006.

(Fernando Igreja)

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EARLY MORNING BLOGS

857 - Reading Moby-Dick at 30,000 Feet

At this height, Kansas
is just a concept,
a checkerboard design of wheat and corn

no larger than the foldout section
of my neighbor's travel magazine.
At this stage of the journey

I would estimate the distance
between myself and my own feelings
is roughly the same as the mileage

from Seattle to New York,
so I can lean back into the upholstered interval
between Muzak and lunch,

a little bored, a little old and strange.
I remember, as a dreamy
backyard kind of kid,

tilting up my head to watch
those planes engrave the sky
in lines so steady and so straight

they implied the enormous concentration
of good men,
but now my eyes flicker

from the in-flight movie
to the stewardess's pantyline,
then back into my book,

where men throw harpoons at something
much bigger and probably
better than themselves,

wanting to kill it,
wanting to see great clouds of blood erupt
to prove that they exist.

Imagine being born and growing up,
rushing through the world for sixty years
at unimaginable speeds.

Imagine a century like a room so large,
a corridor so long
you could travel for a lifetime

and never find the door,
until you had forgotten
that such a thing as doors exist.

Better to be on board the Pequod,
with a mad one-legged captain
living for revenge.

Better to feel the salt wind
spitting in your face,
to hold your sharpened weapon high,

to see the glisten
of the beast beneath the waves.
What a relief it would be

to hear someone in the crew
cry out like a gull,

Oh Captain, Captain!
Where are we going now?

(Tony Hoagland)

*

Bom dia!

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3.9.06


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 3 de Setembro de 2006


http://z.about.com/d/hartford/1/0/q/cow11.jpgA julgar por uma "acção" do BE em Pevidém, a propósito do desemprego, percebe-se como o BE conhece mal o país, os operários e os desempregados. Um dos desempregados de Pevidem quando viu uns meninos a saltarem dentro de umas vacas de cartão, numa "cow parade" de "vacas magras", sentiu-se ridicularizado e protestava alto e bom som contra as "fantochadas". Para ele, que não vivia em Lisboa nem em Bruxelas, que não fazia ideia do que seja uma "cow parade", o bailado das vacas só podia ser "gozo" com a sua condição e dificuldades. O BE, urbano e, na propaganda, infanto-juvenil, está bem para a actual era dos engraçadinhos, mas não sabe nada do país real. A não ser que o objectivo tenha sido umas imagens garantidas para o telejornal, para competir com o futebol e a Festa do Avante!, com os desempregados como pano de fundo, cenário, massa de manobra, rebanho.

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EARLY MORNING BLOGS

856 - L' éternité

Elle est retrouvée!
Quoi? L' éternité.
C est la mer mêlée
Au soleil

Mon âme éternelle,
Observe ton voeu
Malgré la nuit seule
Et le jour en feu.

Donc tu te dégages
Des humains suffrages,
Des communs élans!
Tu voles selon...

— Jamais l' ésperance.
Pas d' orietur
Science et patience,
Le suplice est sur.

Plus de lendemain,
Braises de satin,
Votre ardeur
C' ést le devoir.

Elle est retrouvée!
— Quoi? — L' éternité.
C' est la mer mêlée
Au soleil.

(Arthur Rimbaud)

*


Bom dia!

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© José Pacheco Pereira
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