ABRUPTO

1.1.05


LENHA


Madeira a arder. Lenha. Um tronco de oliveira que arde por dentro, crepitando no ar frio, que arde sempre até desaparecer num monte de cinza. Lenha, feita de velhas traves de madeira de uma casa. Nas cinzas aparecem pregos antigos. Há quantos anos foram pregados? Por volta de mil oitocentos e noventa e três. Mais de cem anos dentro da madeira rija. Ferro quase sem ferrugem. Grosso, rugoso ao tacto. Traços negros no interior do vermelho vivo, quando a madeira fica quase transparente, antes do momento da desagregação em que se torna em brasas e depois em cinzas. Por fim, os pregos tombam no chão. Não há estrutura. Acabou.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES


Uma praia, ontem, ao fim do dia.

(R.)

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APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA: O ANACORETA DO AR

"De alguns se escreve que de noite mediam as horas da oração com um novo e admirável relógio do sol, porque começavam a orar quando se punha, e acabavam quando nascia. Mais fazia Simeão Estilita, a quem com razão podemos chamar Anacoreta do Ar, e não da terra. Vivia sobre uma coluna de trinta e cinco côvados de alto, onde perseverou oitenta anos ao sol, ao frio, à neve, aos ventos, comendo uma só vez na semana, e orando de dia e de noite, quase sem dormir. Umas vezes orava de joelhos e prostrado, outras em pé e com os braços abertos, e nesta postura estava reverenciando continuamente a Deus com tão profundas inclinações, que dobrava a cabeça até os artelhos. Teodoreto, testemunha de vista, quis saber o número a estas inclinações, e tendo contado mil duzentas e quarenta e quatro, cansado de contar, não foi por diante. Oh! assombro! Oh! prodígio! Oh! exemplo singularíssimo do que pode a fraqueza do nosso barro fortalecida da graça! Um tal gênero de vida, mais foi admirável que imitável. Mas o que mais admira, é que lhe não faltaram imitadores. Estilita quer dizer o habitador da coluna, e houve outro estilita, também Simeão, e outro estilita, Daniel, e outros. Tanto preço tem, nos que o sabem avaliar, o ser santo. "

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31.12.04


BOM ANO



To leave the old with a burst of song;
To recall the right and forgive the wrong;
To forget the things that bind you fast
To the vain regrets of the year that's past.


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INTENDÊNCIA

Os Estudos sobre o Comunismo estão em actualização, em particular, a bibliografia de 2004.

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COISAS SIMPLES


Paula Moderschon-Becker

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PELA MANHÃ

O frio aperta. O sol brilha. Os montes têm o recorte habitual. À faca. Primeira série de colinas, segunda série de montes. Depois o mar. Uma sirene toca ao longe. Aqui é um som raríssimo no Inverno. Uma segunda sirene. Silêncio. O som de alguém que varre o chão. Alguma coisa de muito errado aconteceu. Ao longe.

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EARLY MORNING BLOGS 397

In the Park


You have forty-nine days between
death and rebirth if you're a Buddhist.
Even the smallest soul could swim
the English Channel in that time
or climb, like a ten-month-old child,
every step of the Washington Monument
to travel across, up, down, over or through
--you won't know till you get there which to do.

He laid on me for a few seconds
said Roscoe Black, who lived to tell
about his skirmish with a grizzly bear
in Glacier Park. He laid on me not doing anything. I could feel his heart
beating against my heart.
Never mind lie and lay, the whole world
confuses them. For Roscoe Black you might say
all forty-nine days flew by.

I was raised on the Old Testament.
In it God talks to Moses, Noah,
Samuel, and they answer.
People confer with angels. Certain
animals converse with humans.
It's a simple world, full of crossovers.
Heaven's an airy Somewhere, and God
has a nasty temper when provoked,
but if there's a Hell, little is made of it.
No longtailed Devil, no eternal fire,

and no choosing what to come back as.
When the grizzly bear appears, he lies/lays down
on atheist and zealot. In the pitch-dark
each of us waits for him in Glacier Park.

(Maxine Kumin)

*

Bom dia!

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30.12.04


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: "SÓ O TEMPO É MESMO NOSSO"

"Nada nos pertence (...), só o tempo é mesmo nosso.A natureza concedeu-nos a posse desta coisa transitória e evanescente da qual quem quer que seja nos pode expulsar. É tão grande a insensatez dos homens que aceitam prestar contas de tudo quanto - mau grado o seu valor mínimo, ou nulo, e pelo menos certamente recuperável - lhes é emprestado, mas ninguém se julga na obrigação de justificar o tempo que recebeu, apesar de este ser o único bem que, por maior que seja a nossa gratidão, nunca podemos restituir."

Lúcio Aneu Séneca , Cartas a Lucílio (Carta 1), enviado por João Costa

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APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA: DESEJAR SER

"A mais poderosa inclinação e o mais poderoso apetite do homem é desejar ser. Bem nos conhecia este natural o demônio, quando esta foi a primeira pedra sobre que fundou a ruína a nossos primeiros pais. A primeira coisa que lhe disse e que lhe prometeu foi que seriam: Eritis (Gên. 3,5), e este eritis, este sereis foi o que destruiu o mundo. Não está o erro em desejarem os homens ser, mas está em não desejarem ser o que importa. Uns desejam ser ricos, outros desejam ser nobres, outros desejam ser sábios, outros desejam ser poderosos, outros desejam ser conhecidos e afamados, e quase todos desejam tudo isto, e todos erram. Só uma coisa devem os homens desejar ser, que é ser santos. Assim emendou Deus o sereis do demônio com outro sereis, dizendo: Sancti eritis, quia Ego sanctus sum . O demônio disse: Sereis como Deus, sendo sábios; e Deus disse: Sereis como Deus, sendo santos. E vai tanto de um sereis a outro sereis, que o sereis do demônio não só nos tirou o ser como Deus, mas tirou-nos também o ser, porque nos tirou o ser santos, e o sereis de Deus, exortando-nos a ser santos, como ele é, não só nos restitui o ser como Deus, senão também o ser. Quando Moisés perguntou a Deus o que era, respondeu Deus definindo-se: Ego sum qui sum (Êx. 3,14): Eu sou o que sou — porque só Deus tem por essência o ser. Agora diz a todos os homens por boca do mesmo Moisés: Se sois tão amigos e tão ambiciosos de ser, sede santos, e sereis, porque tudo o que não é ser santo, é não ser. Sede rei, sede imperador, sede papa: se não sois santo, não sois nada. Pelo contrário, ainda que sejais a mais vil e mais desprezada criatura do mundo, se sois santo, sois tudo o que pode chegar a ser o maior e mais bem afortunado homem, porque sois como aquele que só é e só tem ser, que é Deus. Todo o outro ser, por maior que pareça, não é, porque vem a parar em não ser. Só o ser santo é o verdadeiro ser, porque é o que só é, e o que há de permanecer por toda a eternidade."

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O MELHOR LIVRO DE DIVULGAÇÃO CULTURAL DE 2004



Felipe Fernandez Armesto, Ideas that changed the world, Londres, DK, 2004.

A traduzir absolutamente.

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A MINHA LISTA DE NÃO-FICÇÃO NACIONAL DE 2004

(Por ordem alfabética)

Paulo Ventura Araújo / Maria Pires de Carvalho / Manuela Delgado Leão Ramos, À Sombra de Árvores com História, Porto, Campo Aberto, 2004

(Um livro de amadores, no grande sentido da palavra, dos autores do blogue Dias com Árvores, para vermos as árvores e o Porto.)

Maria João Avillez, Conversas com Álvaro Cunhal e Outras Lembranças, Lisboa, Temas e Debates, 2004

(As melhores entrevistas de Cunhal num jogo de sedução mútua muito interessante de perceber.)

José Gil, Portugal Hoje. O Medo de Existir, Lisboa, Relógio de Água, 2004

(Nota no Abrupto.)

Fernando Lima, O Meu Tempo com Cavaco Silva, Lisboa, Bertrand Editora, 2004

(Podia ter sido escolhido o original, o segundo volume da autobiografia de Cavaco, mas sendo ambos, o de Lima e o de Cavaco muito stiff, o de Lima tem muita informação mesmo que tratada de forma oficiosa e “autorizada”.)

Eduardo Lourenço, Destroços. O Gibão de Mestre Gil e Outros Ensaios, Lisboa, Gradiva, 2004

(Nota no Abrupto.)

Frederico Lourenço, Grécia Revisitada, Livros Cotovia, 2004

(O autor tem sido, depois de Maria Helena Rocha Pereira, o grande portador do amor perplexo que todos temos com a Grécia.)

Dalila Cabrita Mateus, A PIDE/DGS na Guerra Colonial 1961-1974, Lisboa, Terramar, 2004

(Sobre como os nossos brandos costumes eram ainda “mais” brandos nas colónias, e como era a PIDE de lá, em guerra.)

Rui Vieira Nery, Para uma História do Fado, Público, 2004

(Obra revista e aumentada fundamental para nos conhecermos, o país onde é fácil fazer chorar as paredes e as pedras da calçada.)

Leonor Curado Neves (Edição), António José Saraiva e Óscar Lopes: Correspondência , Lisboa, Gradiva, 2004

(Nota no Abrupto.)

Alexandre Pomar, com a colaboração de Natália Vital e de Rosa Pomar, Júlio Pomar - Catalogue raisonné I (1942-1968), Paris, Editions de la Différence, 2004

(Nota nos Estudos sobre Comunismo.)

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AR PURO


P.Balke

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EARLY MORNING BLOGS 396

The Dover Bitch


A Criticism of Life: for Andrews Wanning

So there stood Matthew Arnold and this girl
With the cliffs of England crumbling away behind them,
And he said to her, 'Try to be true to me,
And I'll do the same for you, for things are bad
All over, etc., etc.'
Well now, I knew this girl. It's true she had read
Sophocles in a fairly good translation
And caught that bitter allusion to the sea,
But all the time he was talking she had in mind
The notion of what his whiskers would feel like
On the back of her neck. She told me later on
That after a while she got to looking out
At the lights across the channel, and really felt sad,
Thinking of all the wine and enormous beds
And blandishments in French and the perfumes.
And then she got really angry. To have been brought
All the way down from London, and then be addressed
As a sort of mournful cosmic last resort
Is really tough on a girl, and she was pretty.
Anyway, she watched him pace the room
And finger his watch-chain and seem to sweat a bit,
And then she said one or two unprintable things.
But you mustn't judge her by that. What I mean to say is,
She's really all right. I still see her once in a while
And she always treats me right. We have a drink
And I give her a good time, and perhaps it's a year
Before I see her again, but there she is,
Running to fat, but dependable as they come.
And sometimes I bring her a bottle of Nuit d' Amour.


(Anthony Hecht)

*

Bom dia!

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29.12.04


BIBLIOFILIA: ALGUNS RAY BRADBURY DA COLECÇÃO



"Last week I turned 82. 82! When I look in the mirror, the person staring back at me is a young boy, with a head and heart filled with dreams and excitement and unquenchable enthusiasm for life. Sure, he's got white hair -- so what! People often ask me how I stay so young, how I've kept such a "youthful" outlook. The answer is simple: Live a life in which you cram yourself with all kinds of metaphors, all kinds of activities, and all kinds of love. And take time to laugh -- find something that makes you truly happy -- every day of your life. That is what I have done, from my earliest days." (Ray Bradbury, "Happy Birthday to Me!")

Em breve acrescentarei Autumn People, a primeira edição em quadradinhos da E.C. Comics, com o fabuloso "Touch and Go", uma história metafísica sobre a totalidade e a perfeição.

Etiquetas:


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A LER

este balanço dos progressos científicos mais significativos de 2004, para se perceber como em quase tudo o que é importante estamos num limiar, na porta, no momento de saltar para novos saberes e novas perguntas. As novas perguntas são mais importantes.

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INTENDÊNCIA

Colocados no VERITAS FILIA TEMPORIS a Lagartixa e o Jacaré 16 e 17, originalmente publicados na Sábado. Tratam da estratégia da coligação, do retorno do "Paulinho das Feiras", do Google e do prémio do Ponto Média. A número 17 inclui a lista dos dez mais e menos nacionais de 2004.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: SOBRE JUDAS

A hipótese política: Longe de ser um traidor, Judas ter-se-ia revelado o único que verdadeiramente cria no poder de Jesus Cristo.

Anunciado como messias libertador e rei dos judeus, Jesus Cristo tardava em tomar a iniciativa de enfrentar o poderio romano e libertar o seu povo do jugo imperial. Perante a hesitação de Jesus, Judas quis forçá-Lo a agir, criando aquilo a que hoje chamaríamos um facto político. Vendo-se obrigado a enfrentar a autoridade romana, Jesus Cristo teria, por fim, que fazer apelo aos seus poderes sobrenaturais e expulsar o invasor, deixando os judeus tornarem-se senhores dos seus destinos. Teria, por fim, que se revelar como o Messias Libertador, como Judas acreditava que o era e o desejeva.
O erro de Judas é o erro na análise da economia da redenção; não é o erro da traição.
De resto, a hipótese da traição encaixa mal no relato bíblico. Com efeito, como explicar, que uma figura pública como Jesus, que era seguido nas ruas por um largo número de devotos, que não estava escondido, precisasse de ser denunciado? Como explicar que, possuído por Satanás, recebidos os trinta dinheiros, Judas não os fosse gozar, mas, em vez disso, tivesse corrido a enforcar-se?
Repito: o pecado de Judas não foi a traição; foi o ter querido conhecer e influenciar os insondáveis desígnios da Providência.


Fonte: Jorge Luis Borges - Três versões de Judas.


(António Cardoso da Conceição)

*

António Cardoso da Conceição deu-nos a conhecer o texto de Jorge Luís Borges - "Três versões de Judas" mas não fez a ligação que se impunha com o "Dilema do Prisioneiro". Pressinto que a exploração deste tema por esse caminho pode trazer conclusões interessantes. Haverá alguém aí que queira fazer essa exploração ?

(Manuel Galvão)

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28.12.04


COISAS SIMPLES


Boucher

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EARLY MORNING BLOGS 395

A Happy Birthday


This evening, I sat by an open window
and read till the light was gone and the book
was no more than a part of the darkness.
I could easily have switched on a lamp,
but I wanted to ride this day down into night,
to sit alone and smooth the unreadable page
with the pale gray ghost of my hand.


(Ted Kooser)

*

Bom dia!

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27.12.04


DETALHES

Os que sabem, sabem que é nos detalhes que o demónio está.

Keats é um exemplo dessa atenção. Descrevia-se a si próprio com detalhe – “The fire is at its last click - I am sitting here with my back to it with one foot rather askew upon the rug and the other with the heel a little elevated upon the carpet...” – e pedia aos amigos e familiares que, nas suas cartas, descrevessem com total rigor como estavam naquele preciso momento: estás sentado(a), de pé, em que parte da sala, em que posição, etc. Keats vai mais longe e acredita que o conhecimento dos detalhes do momento concreto da criação são reveladores para a compreender:

“Could I see the same thing done of any great Man long since dead it would be a great delight: as to know in what position Shakespeare sat when he began "To be or not to be".

A materialidade da descrição se levada longe – e os detalhes são insaciáveis - conduz a fala ou a escrita a tornarem-se quase inevitavelmente eróticos. Vox de Nicholson Baker começa assim “What are you wearing?" he asked.”, uma pergunta do mesmo tipo das de Keats, mesmo quando não parece.

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APRENDENDO COM DIDEROT SOBRE O AMOR, AS CINZAS E A LEI DA AFINIDADE

"Le reste de la soirée s'est passé à me plaisanter sur mon paradoxe. On m'offrait de belles poires qui vivaient, des raisins qui pensaient. Et moi, je disais : ceux qui se sont aimés pendant leur vie et qui se font inhumer l'un à côté de l'autre ne sont peut-être pas si fous qu'on pense. Peut-être leurs cendres se pressent, se mêlent et s'unissent. Que sais-je ? Peut-être n'ont-elles pas perdu tout sentiment, toute mémoire de leur premier état. Peut-être ont-elles un reste de chaleur et de vie dont elles jouissent à leur manière au fond de l'urne froide qui les renferme. Nous jugeons de la vie des éléments par la vie des masses grossières. Peut-être sont-ce des choses bien diverses. On croit qu'il n'y a qu'un polype ; et pourquoi la nature entière ne serait-elle pas du même ordre ? Lorsque le polype est divisé en cent mille parties, l'animal primitif n'est plus, mais tous ses principes sont vivants.


O ma Sophie, il me resterait donc un espoir de vous toucher, de vous sentir, de vous aimer, de vous chercher, de m'unir, de me confondre avec vous, quand nous ne serions plus. S'il y avait dans nos principes une loi d'affinité, s'il nous était réservé de composer un être commun ; si je devais dans la suite des siècles refaire un tout avec vous ; si les molécules de votre amant dissous venaient à s'agiter, à se mouvoir et à rechercher les vôtres éparses dans la nature ! Laissez-moi cette chimère. Elle m'est douce. Elle m'assurerait l'éternité en vous et avec vous."

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APRENDENDO COM S. TIAGO SOBRE A LÍNGUA

1
Meus irmãos, não sejam muitos de vocês mestres, pois vocês sabem que nós, os que ensinamos, seremos julgados com maior rigor.
2
Todos tropeçamos de muitas maneiras. Se alguém não tropeça no falar, tal homem é perfeito, sendo também capaz de dominar todo o seu corpo.
3
Quando colocamos freios na boca dos cavalos para que eles nos obedeçam, podemos controlar o animal todo.
4
Tomem também como exemplo os navios; embora sejam tão grandes e impelidos por fortes ventos, são dirigidos por um leme muito pequeno, conforme a vontade do piloto.
5
Semelhantemente, a língua é um pequeno órgão do corpo, mas se vangloria de grandes coisas. Vejam como um grande bosque é incendiado por uma pequena fagulha.
6
Assim também, a língua é um fogo; é um mundo de iniquidade. Colocada entre os membros do nosso corpo, contamina a pessoa por inteiro, incendeia todo o curso de sua vida, sendo ela mesma incendiada pelo inferno.
7
Toda espécie de animais, aves, répteis e criaturas do mar doma-se e é domada pela espécie humana;
8
a língua, porém, ninguém consegue domar. Ela é um mal incontrolável, cheio de veneno mortífero.
9
Com a língua bendizemos ao Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus.
10
Da mesma boca procedem bênção e maldição. Meus irmãos, isto não pode ser assim!
11
Acaso pode de uma mesma fonte sair água doce e água amarga?
12
Meus irmãos, pode uma figueira produzir azeitonas ou uma videira, figos? Da mesma forma, uma fonte de água salgada não pode produzir água doce.
13
Quem é sábio e tem entendimento entre vocês? Que o demonstre por seu bom procedimento, mediante obras feitas com a humildade que provém da sabedoria.
14
Contudo, se vocês abrigam no coração inveja amarga e ambição egoísta, não se gloriem disso, nem neguem a verdade.
15
Esta "sabedoria" não vem do céu, mas é terrena, não é espiritual e é demoníaca.
16
Pois onde há inveja e ambição egoísta, aí há confusão e toda espécie de males.
17
Mas a sabedoria que vem do alto é antes de tudo pura; depois, pacífica, amável, compreensiva, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial e sincera.
18
O fruto da justiça semeia-se em paz para os pacificadores.

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AR PURO


P. Balke

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EARLY MORNING BLOGS 394

C'était sur un chemin crayeux


C'était sur un chemin crayeux
Trois châtes de Provence
Qui s'en allaient d'un pas qui danse
Le soleil dans les yeux.

Une enseigne, au bord de la route,
- Azur et jaune d'oeuf, -
Annonçait : Vin de Châteauneuf,
Tonnelles, Casse-croûte.

Et, tandis que les suit trois fois
Leur ombre violette,
Noir pastou, sous la gloriette,
Toi, tu t'en fous : tu bois...

C'était trois châtes de Provence,
Des oliviers poudreux,
Et le mistral brûlant aux yeux
Dans un azur immense.


(Paul-Jean Toulet)

*

Bom dia!

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26.12.04


APRENDENDO COM O PADRE ANTÓNIO VIEIRA: DOCILIDADE

"Quem não é dócil, senhores, não pode ser douto; antes, a mesma docilidade é um sinónimo da ciência. Disse Deus a Salomão que pedisse o que quisesse, porque tudo lhe concederia. O que pediu foi docilidade: Dabis servo tuo cor docile ; e o que o Senhor lhe concedeu foi a maior sabedoria que nunca teve, nem terá outro homem: Dedi tibi cor sapiens, et intelligens in tantum, ut nullus ante te similis tui fuerit nec posto te surrecturus sit . Pois, se Deus tinha prometido a Salomão que lhe daria o que pedisse, e ele pediu docilidade, como lhe deu ciência? Por isso mesmo. Porque docilidade e ciência são a mesma coisa, e não podia Deus, segundo a sua promessa, deixar de lhe dar ciência, tendo ele pedido docilidade. Assim lho disse o mesmo Deus: Ecce leci tibi secundum sermones tuos . A ciência nenhuma outra coisa é que o conhecimento claro de muitas verdades, umas em si, que são os princípios, e outras que delas se seguem, que são as conclusões. E aqueles que não têm docilidade, — como são os tenazes do próprio juízo, e ferrados à sua opinião — ainda que a verdade se lhes represente, não são capazes de a receber. Por isso estes tais cada vez sabem menos, e todas as vezes que a opinião passa a erro, perseveram nele. "

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: O GRÃO DE AREIA QUE TE ATIREI



Esta fotografia é a menos pretensiosa das fotografias. Não tem vaidade, não tem soberba, não tem tumulto, não é clássica, não é moderna, não tem cores. É o retrato de uma coisa com valor imenso: o retrato do grão de areia que se atirou para Titã. Ele está lá, brilhante, na parte de cima da fotografia, um ponto de nada, no meio do nada, uma pequena sonda errante, embrulhada em papel de prata dourado, parecendo vagamente um chapéu. Lá vai, sem saber muito bem a quê. Lançado pela esperança de saber, lançado pela nossa qualidade mais humana: curiosidade, curiosidade, perturbante curiosidade. Como é? De que é feito? Como respira? Pertencem-nos aqueles gases, aquele solo, aquela atmosfera, e, talvez, aquela vida? O meu grão de areia paga para ver. Sofrerá no caminho, pode destruir-se, pode durar pouco, mas não procura o conforto, nem a segurança, nem um pouso certo. Procura uma verdade mais pura que as outras, mais primitiva, menos poluída. Valente ponto de luz, duro grão de areia, sinal da mão que o deitou, tão longe para o que não se conhece. O teu caminho é o meu. Nenhum outro.

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OUVINDO



Nat King Cole e Rachmaninov tocado por Stephen Hough.

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AR PURO


Peder Balke

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EARLY MORNING BLOGS 393

Dark Matter


Scientists at the University of Rome, according to the New York Times, may have finally detected dark matter, the stuff that roughly eighty percent of the universe may be made of.

Like certain superheroes, particles
of dark matter pass through other matter
unimpeded. But anti-gravity, scientists
explain, "still cannot be expected

to reverse the course of a falling apple,
or drive an inflating wedge of nothingness
between lovers." Which may be why
the hero works best alone.

Pals and sidekicks can be helpful,
but women are too curious, too quick
to believe the men they're with
must be, at heart, different men.

Of course they're right. And the hero
is in trouble if he doesn't
keep his other self a secret.
He wants to be in love, to offer

all the confidences a lover should.
But he has to save the world,
again and again. Thus it seems true
that a wedge of nothingness

divides the man and the woman,
but also that the falling of an apple
is irreversible.
The hero must expect evil

to continue. He cannot afford
to be surprised by strangeness.
Or ever expect a life in which
he could only be himself.


(Lawrence Raab)

*

Bom dia!

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NUMA MENSAGEM DE NATAL

esta frase, «Não é fácil perdoar, não é fácil compreender quem tenha atitudes que nós não tomaríamos, mas o Natal é isso mesmo tentar fazer o que não fazemos normalmente todos os dias», mostra uma obsessão. Nem numa mensagem, que é suposto ser proferida na maior das neutralidades e distância face à luta política, deixam de vir ao de cima a incubadora e as facadas. Não há em S. Bento um espelho que fale a verdade?

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© José Pacheco Pereira
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