ABRUPTO

29.12.04


O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: SOBRE JUDAS

A hipótese política: Longe de ser um traidor, Judas ter-se-ia revelado o único que verdadeiramente cria no poder de Jesus Cristo.

Anunciado como messias libertador e rei dos judeus, Jesus Cristo tardava em tomar a iniciativa de enfrentar o poderio romano e libertar o seu povo do jugo imperial. Perante a hesitação de Jesus, Judas quis forçá-Lo a agir, criando aquilo a que hoje chamaríamos um facto político. Vendo-se obrigado a enfrentar a autoridade romana, Jesus Cristo teria, por fim, que fazer apelo aos seus poderes sobrenaturais e expulsar o invasor, deixando os judeus tornarem-se senhores dos seus destinos. Teria, por fim, que se revelar como o Messias Libertador, como Judas acreditava que o era e o desejeva.
O erro de Judas é o erro na análise da economia da redenção; não é o erro da traição.
De resto, a hipótese da traição encaixa mal no relato bíblico. Com efeito, como explicar, que uma figura pública como Jesus, que era seguido nas ruas por um largo número de devotos, que não estava escondido, precisasse de ser denunciado? Como explicar que, possuído por Satanás, recebidos os trinta dinheiros, Judas não os fosse gozar, mas, em vez disso, tivesse corrido a enforcar-se?
Repito: o pecado de Judas não foi a traição; foi o ter querido conhecer e influenciar os insondáveis desígnios da Providência.


Fonte: Jorge Luis Borges - Três versões de Judas.


(António Cardoso da Conceição)

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António Cardoso da Conceição deu-nos a conhecer o texto de Jorge Luís Borges - "Três versões de Judas" mas não fez a ligação que se impunha com o "Dilema do Prisioneiro". Pressinto que a exploração deste tema por esse caminho pode trazer conclusões interessantes. Haverá alguém aí que queira fazer essa exploração ?

(Manuel Galvão)

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