ABRUPTO

7.5.03


Para que não se perca muito tempo com as dúvidas de autoria , isto saí amanhã no Público :

"Ataturk foi capaz de criar um estado laico, de abolir os véus nos serviços públicos , de acabar com o fez , de mudar a forma da escrita , com punho de ferro , construindo como instrumento dessa mudança o exército turco e dando-lhe poderes constitucionais incompatíveis com a nossa noção de democracia . O nosso dilema na UE com a entrada da Turquia é mesmo este : o que gostamos na Turquia – a laicidade do estado – teve sempre o preço do que não gostamos , os poderes e o seu uso , do e pelo exército turco ."

Agora as hipoteses estão reduzidas a três : eu , um jornalista do Público , o revisor do dito . A não ser que o Minority Report exista . Aí já é bem mais complicado.

Saudações a todos que saudaram o Abrupto . Os agradecimentos particulares seguirão nos próximos dias .

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Hoje é o dia dos agradecimentos

Repito o haikai desta vez para a Liberdade de Expressão , para a A Causa Foi Modificada , para o Espigas e para a Memória Inventada .

A Memória , fiel ao seu tema , tem receio de que haja invento na “persona” . Não há . É o mesmo , ele próprio , o outro . E nunca , jamais , em tempo algum , teria um peixe e muito menos com aquele nome , nem um gato com nome socrático . E , por favor , deixem lá o Vangelis para o engenheiro .Já serve para identificar ?


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HAIKAI DOS AGRADECIMENTOS

Mais agradecimentos ,
qual japonês ,
dobrando-me .



Do Abrupto ao Intermitente , e ao Fora da Lei .



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SONETO

Dezarrezoado amor, dentro em meu peito
tem guerra com a razão. Amor, que jaz
i já de muitos dias, manda e faz
tudo o que quer, a torto e a direito.
Não espera razões, tudo é despeito,
tudo soberba e força, faz, desfaz,
sem respeito nenhum, e quando em paz
cuidais que sois, então tudo é desfeito.
Doutra parte a razão tempos espia,
espia ocasiões de tarde em tarde,
que ajunta o tempo: em fim vem o seu dia.
Então não tem lugar certo onde aguarde
amor; trata treições, que não confia
nem dos seus. Que farei quando tudo arde?



Já que este blog é de inspiração mirandina ( acho que é assim que se diz) fica aqui outro belíssimo soneto de Sá de Miranda . Aquele último verso “Que farei quando tudo arde?” , quando o digo aos meus amigos modernos , ninguém o identifica como antigo. Esteve para ser o título do blog mas depois achei que essas things of beauty não devem ser trivializadas .

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Novos agradecimentos

Do Abrupto ao Valete Frates! ao De Direita , ao Gato Fedorento , e ao Fumaças pela gentileza das referências . Ao Gato Fedorento , meu amável corrector ortográfico , introduzidas estão as correcções . Nunca tive nada contra a perfeição .


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INDIFERENÇA FACE À CORRUPÇÃO

È verdade que o nosso sistema político contem em si mesmo uma grande indiferença face à corrupção . Na maioria dos casos ele não precisa de nenhuma lei a mais "sistematica" , nem da endémica "reforma do sistema político" , precisa de actos e de gerar dentro de si escolhas de pessoas que tenham uma simples , epidérmica e normal recusa da corrupção . Normal , insisto , porque a vozearia alta e justiceira sobre a corrupção é quase sempre populista e enganadora em política , como aliás se viu e se vê .
Mas a verdade é que esta atitude nos políticos tem uma fundada base popular . Basta olhar para o que se passa em Felgueiras , independentemente de se estar já a falar de culpados e inocentes , para ver que a atitude normal da maioria dos portugueses é também de grande indiferença face à corrupção . Basta alguém se colocar na posição da vítima ou falar alto e grosso e já tem quem a defenda e minimize os actos . É verdade que outra coisa não seria de esperar em quem tem que viver mergulhado (e em muitos casos praticar) na pequena corrupção das cunhas e favores e subornos e gorjetas . É verdade que os que assim vivem - e nunca conheceram outro mundo - tendem a falar alto contra a "corrupção" dos outros , mas pouco passa de conversas de café , telefonemas para o Forum da TSF ou cartas anónimas aos jornais . É mais ressentimento social do que genuína recusa da corrupção .
Num sociedade como a nossa isto é um dos sinais do nosso atraso .

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Obrigado

Aos companheiros deste éter que saudaram o Abrupto com palavras amáveis , ao Bloque dos Marretas , Complot e a Voz do deserto , que eu saiba.
Vamos ver se com a vida de judeu errante que levo consigo manter alguma regularidade . On va voir ...

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6.5.03


Rio , o Porto e o futebol.

Percebo bem demais as dificuldades que tem Rui Rio em manter uma posição de princípio face à continuada tradição de promiscuidade entre a política e o futebol . O futebol tem um papel excessivo e pernicioso na nossa vida pública e esse papel é hoje ainda mais reforçado pela quase obsessiva presença que tem nos órgãos de comunicação social . As pressões sobre quem tenha as posições como as de Rio são imensas e os “conselhos” são cómodos de dar à distância , difíceis de seguir quando se sente interiormente que segui-los é muitas vezes trair uma voz íntima que as pessoas integras nunca devem perder .
Mas que deve ser muito difícil nalguns momentos , é-o certamente e admito que às vezes não se saiba bem o que fazer . No entanto entre ser rígido e mole nestas ocasiões prefiro ser rígido , porque moles há que basta , e a moleza é mais do nosso desgraçado carácter .
Eu sou do Porto , da cidade e , se clube tenho , é aquele . Também estou contente pelos resultados . Mas o que está em causa tem pouco a ver com o futebol e a alegria dos portuenses pelo seu clube , tem a ver com o lugar da política em democracia , com o lugar da política em Portugal , onde tudo puxa para baixo , para relações de alarvidade e de força , de trocas de favor e influência , de grosseria e emoções colectivas excitadas .

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Conspiração dos Pazzi

Para os que leram ou viram (no filme) o dr. Hannibal Lecter em Florença a recriar a conspiração dos Pazzi , antes de comer a cabeça a um distinto membro do FBI , saiu agora um livro de Lauro Martines , April Blood . Florence and the Plot Against the Medici , da Jonathan Cape , sobre o evento florentino .

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LEITURAS

Vale a pena ler Diane Ravitch THE LANGUAGE POLICE How Pressure Groups Restrict What Students Learn . Há uma crítica no NYT

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SONETO 49

Quando eu, senhora, em vós os olhos ponho,
e vejo o que não vi nunca, nem cri
que houvesse cá, recolhe-se a alma a si
e vou tresvaliando, como em sonho.

Isto passado, quando me desponho,
e me quero afirmar se foi assi,
pasmado e duvidoso do que vi,
m'espanto às vezes, outras m'avergonho.

Que, tornando ante vós, senhora, tal,
Quando m'era mister tant' outr' ajuda, d
de que me valerei, se alma não val?

Esperando por ela que me acuda,
e não me acode, e está cuidando em al,
afronta o coração, a língua é muda.

Sá de Miranda

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Porque razão tem os contribuintes e os ouvintes que ser sistemáticamente martelados com frases ideológicas sobre o "serviço público" na RTP nos reclames sobre a emissão ?
Porque razão tenho que aceitar que um canal de televisão pago pelo OE me diga que o futebol que passa na televisão é "futebol de serviço público" , uma bem bizarra categoria ? A ideologia tem os seus locais , os seus sujeitos e as suas normas de circulação numa democracia . A ideologia , traduzida em opções políticas , naturalmente divide . Porque razão os responsáveis pela RTP (em ultima instância o governo ) entendem que o estado português deve impor ou permitir que se imponha um conceito de "serviço publico" , completamente imerso em ideologia , a todos os portugueses que ligam para a RTP .
Já de há muito que esses reclames da "televisão de serviço público" deveriam ter acabado .

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RTP2

5 de Maio de 2003 - Noticiário das 22 horas - apresentação de um livro de poemas contra a guerra no Iraque . Música e imagens de fundo propagandísticas de responsabilidade dos autores do noticiário . Soldados americanos , bombas , sofrimento nos hospitais . Será que os nossos jornalistas não percebem que inserir estas peças num noticiário é pura propaganda e nada tem a ver com jornalismo ?

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