ABRUPTO

29.5.10


AQUI

... tão longe, só um pequeno rumor me chega.

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25.5.10


EARLY MORNING BLOGS

1810

"La raison a beau crier ; elle ne peut mettre le prix aux choses."

(Pascal)

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24.5.10


ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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EARLY MORNING BLOGS

1809

Diego : Mentir est toujours une sottise.

Nada : Non, c'est une politique.

(Albert Camus)

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23.5.10


ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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O DEMÓNIO DE EVAGRIUS


"Com Lutero um relâmpago chegou para mudar o curso da sua vida para sempre. Onde está esta "memória" hoje? Não é a perda desta "memória moral" responsável pela ruína de todas as obrigações, de amor, do casamento, da amizade. da lealdade? Nada se mantém por muito tempo, nada é firme, tudo está aqui hoje e desaparece amanhã. Mas, todas as coisas boas da vida - a verdade, a justiça, a beleza - todos os grandes feitos, necessitam tempo, constância e "memória", ou degeneram. "

(Dietrich Bonhoeffer, pastor luterano executado no Campo de Concentração de Flossenburg em 1945 e que considerava que a acédia era a perda da "memória moral".)
Acédia. A palavra persegue-me como as palavras perseguem alguém, de forma viral. Já a usei algumas vezes para descrever o mesmo "estado" em que hoje, mais do que nunca, Portugal e os portugueses se encontram. "Acédia" existe no dicionário do Houaiss como "enfraquecimento da vontade", "inércia", "tibieza", "preguiça", como significados primeiros e depois como "melancolia profunda", "abulia espiritual", como significados secundários. A palavra tem uma longa história no pensamento ocidental, incorporando conceitos correntes na "filosofia de vida" greco-latina na tradição cristã, ganhando aí um sentido pejorativo que materializava o pecado mortal da "preguiça".

A acédia era também um demónio. Nenhuma história da "acédia" pode existir sem a descrição clássica desse demónio particular feita por Evagrius de Pontus. Este considerou-o o "mais preocupante de todos", o comandante dos oito géneros de demónios que assaltavam o monge solitário. Na Summa Theologica de Tomás de Aquino "acédia" aparece como o contrário da "alegria espiritual" e, depois dele, ininterruptamente, o conceito, nas suas relações com o "ennui" francês e com o "spleen" (foi para fugir à "cisma" que o nosso Henrique de Souselas foge para casa da tia Doroteia no reino da Morgadinha dos Canaviais), sempre interessou aos "modernos". Thomas Merton escreveu sobre a acédia, Milosz, num ensaio sobre os "sete pecados mortais", também.

Pois vivemos dias de intensa acédia, de "enfraquecimento da vontade", "inércia", "tibieza", "preguiça", de indiferença moral a tudo. E, pior ainda, atacamos com veemência todos os que denunciam a acédia, como se a mera presença de alguém que não aceita a resignação abúlica fosse um maior mal, um irritante impossível de aceitar, uma fonte de mal-estar que precisa de ser extirpado para se poder voltar à normalidade da "abulia espiritual". Tenho tido nos últimos tempos uma aguda experiência da devastação que a acédia pode fazer na mal amada comissão de inquérito ao chamado "caso TVI", à possibilidade de ter havido uma manobra governamental em 2009, em período eleitoral, para controlar órgãos de comunicação social. Escrevo aqui possibilidade, ou hipótese, de forma académica, porque é sabido que poucas ou nenhumas dúvidas tenho sobre o que se passou, mas isso não é essencial para o que quero dizer. Chega-me a mera possibilidade, para já haver um problema.

Tenho tido aí toda a experiência canónica da falsidade, desde a mentira pura e dura até à omissão da verdade e a sugestão de falsidade. Como é óbvio, abundam mais as duas últimas do que a primeira, porque homens prevenidos têm sempre lapsos de memória nos momentos cruciais, acompanhados noutros momentos de uma memória vivíssima, às vezes exercendo-se sobre acontecimentos do mesmo dia, da mesma hora. Devem ser os misteriosos caminhos da memória. Mas nessa experiência de falsidade há também a soberba que vem ou da impunidade, ou do desprezo pelos interlocutores que são tratados como capazes de engolir as mais implausíveis histórias da Carochinha, apenas porque se está a falar de actos sem rastro material, sem actas, sem correspondência, sem testemunho que não seja o dos cúmplices na falsidade. É penoso, muito penoso, mas é um verdadeiro curso intensivo sobre alguma natureza humana, vinda de pessoas que são poderosas e estão habituadas a mandar sem quaisquer limites. Nem da decência, nem da lei.

É uma tarefa muito solitária e sem recompensa. Para a comunicação social é uma espécie de diversão tratada numa sucessão de comentários snobes e derrogatórios por causa dos "incidentes", que é matéria que mais lhes satisfaz relatar. Apetece pegar nos jornalistas pelas orelhas e dizer-lhes: imaginem que no vosso jornal não têm uma redacção, mas cinco, competindo entre si. Que cada redacção tem uma visão diferente do jornal que quer fazer. Que em cada redacção há jornalistas bons e maus, mais competentes ou mais incompetentes, mais ambiciosos ou mais passivos, uns sérios e honestos e outros comprados por interesses, que à porta da redacção e dentro dela há várias agências de comunicação cada uma tentando "colocar" uma notícia para satisfazer um cliente. Que numa reunião geral todos os dias toda a gente se junta para discutir, propor, criticar, de modo a condicionar o jornal que sai no dia seguinte. Não deve ser bonito de se ver, deve ter incidentes, interpelações, discussões que, de repente, sem ninguém o desejar, ou mesmo desejando-o, se afastam do "essencial" e vão para pormenores, intrigas, coisas acessórias, secundárias. E que tudo isto é presenciado por uma outra redacção, noutro jornal, única, cheia de jornalistas que se consideram superiores à turba das cinco redacções, com amigos nessas redacções, simpatias e antipatias, e imaginem que toda aquela confusão tem que ser relatada. Podem ter a certeza que o relato destila superioridade, nojo pela balbúrdia, comiseração, exploração dos incidentes. Podem ter a certeza que, se houver argumentos um pouco mais complicados, matérias que têm que ser seguidas com cuidado, confrontando documentos e versões, coisas que dêem trabalho, anti-soundbites, análises ou apreciações que não vão na onda da maioria, eles não terão nenhum lugar, se houver uma frase divertida ou uma gaffe azarada. É a vida. Não faria mal a todos esses superiores seres experimentar a sua própria medicina.

Mas, se neste incidentalismo há muita "preguiça", há muita mais pura e dura acédia. Também a indignação moral se tornou "incidental", e onde é mais necessária existe apenas "abulia espiritual". Vamos admitir, apenas admitir, que em 2009 ocorreu total ou parcialmente aquilo que a comissão investiga e que, verdadeiro exemplo de acédia, a maioria dos nefelibatas afirma pelos bares ter a certeza que existiu. Justifica-se tanta indiferença? Pode-se dizer que "todos os governos fazem o mesmo", para neste caso nada fazer? Pode-se encolher os ombros e dizer, como se fosse a coisa mais natural do mundo, "toda a gente sabe que ele mentiu", e depois? Não mentem todos? Pode-se dizer que foi uma tentativa que não passou de uma tentativa que acabou por não se concretizar (não é bem verdade...)? Pode-se dizer que isso são águas passadas e que hoje temos tantas coisa importantes para tratar, que isso é uma distracção ou uma vendetta? Pode-se de facto dizer muitas coisas destas, mas esta enorme indiferença de jornalistas e, mais do que de jornalistas, de muita da nossa elite, é o terreno privilegiado da acédia, que depois se transmite como uma doença para todo o lado. É como a corrupção, um mal cuja aceitação social tem mecanismos muito semelhantes.

O demónio de Evagrius adormecia os monges, a acédia adormece o carácter cívico da sociedade sem o qual a democracia não sobrevive. Cria poltrões habilidosos em esconder que estão a dormir em vez de ler, porque dá muito trabalho. Cria um país ao qual se pode fazer tudo, desde que não se seja descoberto. Ou melhor, desde que não se seja descoberto de modo muito descarado, porque, se for disfarçado, passa. Passa tudo, passa mesmo tudo.

(Versão do Público de 23 de Maio de 2010.)

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GRANDES CAPAS: O DITADOR DAS FINANÇAS E OS SINAIS DA REVELAÇÃO



Também no Notícias Ilustrado de 1932.

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EARLY MORNING BLOGS

1808

Πάνυ τὸ μῖσος τὸ κατὰ δαιμόνων ἡμιν πρὸς σωτηρίαν συμβάλλεται καὶ πρὸς τὴν ἐργασίαν τῆς ἀρετῆς ἐστιν ἐπιτήδειον· καὶ̀ τοῦτο ἐκτρέφειν ἐν ἑαυτοῖς, ὥσπερ τι γέννημα ἀγαθον οὐκ ἰσχύομεν, τῶν φιληδόνων πνευμάτων διαφθειρόντων ἀυτὸ, κὰι πρὸς φιλίαν, καὶ συνήθειαν πάλιν τὴν ψυχὴν εκκαλουμένων· ἀλλὰ ταύτην τὴν φιλ́ιαν, μᾶλλον δὲ την δυσίατον γάγραιναν ὁ ἰατρὸς τῶν ψυχῶν δι' ἐγκαταλείψεως θεραπεύει· συγχωρεῖ γάρ τι φοβερὸν παθεῖν ἡμᾶς ὑπ' αὐτῶν νύκτωρ ἢ μεθ' ἡμέραν, καὶ πάλιν ἡ ψυχὴ πρὸς τὸ ἀρχέτυπον μῖσος ἐπανατρέχει διδασκομένη πρὸς τὸν Κύριον λέγειν, κατὰ τὸν Δαβ̀ιδ, το ̧ Τέλειον μῖσος ἐμίσουν αὐτοὺς, εἰς ἐχθροὺς ἐγενοντό μοι. ς Οὗτος γὰρ τέλειον μῖσος μισεῖ τοὺς ἐχθροὺς, ὁ μήτε κατ' ἐνέργειαν, μήτε κατὰ διάνοιαν ἁμαρτάνων· ὅπερ τῆς πρώτης, καὶ τῆς μεγίστης ἐστὶν ἀπαθείας τεκμήριον.

O ódio contra os demónios contribui muito para a nossa salvação e ajuda o nosso caminho para a santidade. Mas nós não temos em nós próprios o poder para alimentar este ódio transformando-o numa densa árvore, porque o prazer - os espíritos do amor restringem-no e encorajam a alma a tombar nos seus velhos hábitos. Mas esta indulgência - ou melhor, esta gangrena que é tão difícil de curar - o Médico das almas cura-a ao nos abandonar. Porque Ele permite-nos passar por tal sofrimento noite e dia, que a alma volta ao seu ódio original, e aprende, como David, a dizer ao Senhor: "Eu odeio-os com ódio perfeito: eles são meus inimigos". Porque um homem que odeia os seus inimigos com ódio perfeito não peca por falta de acção nem de pensamento - que é o primeiro e o grande sinal de apatia.

(Evagrius de Pontus, Peri Logismon)

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22.5.10


GRANDES CAPAS: E FOI ASSIM QUE COMEÇOU A DITADURA DAS FINANÇAS...



...com novas tecnologias, boys expectantes e uma garrafa de vinho do Porto para publicidade, no Notícias Ilustrado de 27 de Novembro de 1932.

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EARLY MORNING BLOGS

1807

"L'indifférence où nous sommes pour la vérité dans la morale, vient de ce que nous sommes décidés à suivre nos passions, quoiqu'il en puisse être. Et c'est ce qui fait que nous n'hésitons pas lorsqu'il faut agir, malgré l'incertitude de nos opinions. Peu m'importe, disent les hommes, de savoir où est la vérité, sachant où est le plaisir."

(Vauvenargues)

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21.5.10


ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Rateiras. (MJ)







Avenida dos Trabalhadores da Indústria Naval (Monte da Caparica). (Luís Boavida)

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20.5.10


EARLY MORNING BLOGS

1806

"Nous courons sans soucis dans le précipice, après que nous avons mis quelque chose devant nous pour nous empêcher de le voir."

(Blaise Pascal)

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19.5.10


ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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(NOT SO) EARLY MORNING BLOGS

1805

Ainda tenho muito que vos dizer; mas vós não o podeis suportar agora.

Quando vier, porém, aquele, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas vindouras.

(João 16:12-13)

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17.5.10

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NÃO TÊM PÃO, COMAM BRIOCHE



A frase do título é atribuída a Maria Antonieta, ouvindo os protestos do povo por não ter pão e aconselhando-os a comerem brioche. Foi o que imediatamente comentei quando ouvi o primeiro-ministro a falar sobre o aumento do IVA do pão, do leite e da água, lembrando-nos que esse aumento também se aplicava à Coca Cola e à Pepsi Cola e que por isso os ricos, que também beneficiavam injustamente da taxa do IVA reduzida, iam ser punidos. A medida, como todas as que ele propõe, é sempre em benefício dos pobres e destina-se a rectificar injustiças sociais. Algumas das medidas são, aliás, muito favoráveis às pessoas, e às pequenas e médias empresas, que lhe deviam agradecer os aumentos do IVA, do IRC e do IRS, os cortes dos salários e dos benefícios fiscais, que Portugal só faz pelo corajoso apoio que os portugueses, liderados pelo mais sábio Governo europeu, que como sabemos é o que menos foi atingido pela crise, dão à necessidade de ajudar a salvar o euro. Quais alemães, quais franceses, quais holandeses, é Portugal que assume a linha da frente na defesa do euro, aplicando medidas que só afectam os ricos e que ajudam ao "crescimento económico". É preciso ouvir para crer, é preciso acreditar nesta reencarnação de Maria Antonieta, a dizer-nos sempre com o mesmo ar triunfante e optimista que tudo está pelo melhor dos mundos, frente às manobras dos "especuladores" que querem tirar o euro aos europeus, que conspiram a partir de algum arranha-céus americano, que escaparam ao fascínio de Obama, para obrigarem os portuguesinhos valentes a irem salvar o euro. É já tudo, tudo, um pouco tresloucado, mas é o que temos.

Deixemos Maria Antonieta e os ínvios caminhos da metempsicose, para voltar a ter os pés na terra, na terra movediça em que estamos pousados. Entre as muitas coisas que falta dizer aos portugueses - e tantas faltam! - está a que, neste momento, Portugal não é um país independente. Os cépticos dirão que já era assim antes, mas até eles admitirão que, pelo menos, ainda tínhamos intacta a nossa capacidade para fazer grandes asneiras. Agora continuamos a manter alguma capacidade para fazer asneiras, mas levamos logo com a palmatória. Ao que chegámos! Hoje o ministro das Finanças vai a Bruxelas, aflito porque tem que daqui a dias pedir emprestados mais uns milhões para pagar uns outros milhões aos credores, que se vencem também daqui a dias. E dizem-lhe pura e simplesmente que ninguém lhes empresta mais nada, a não ser que coloque as finanças em ordem já. E, já é mesmo já. Ele regressa e prepara um "pacote", como agora se diz, mais ou menos a meio gás. E telefonam-lhe de novo a dizer que não chega. Tem que ser muito mais, muito mais duro, e a um prazo curtíssimo, senão não há dinheiro. E, corrigido o Orçamento (quem se lembra?), corrigido o PEC (quem se lembra?), vem mais um plano de austeridade. "Chega?", pergunta o ministro, em desespero de causa. Não sabemos, pode não chegar.

E cá dentro acaba a política, ou melhor, a política desloca-se para sítios mais perigosos e mais escondidos, porque a política verdadeiramente nunca acaba. Apertados por uma margem de manobra nula, desprovidos de autonomia, que é o que significa ter o país conduzido por estrangeiros, podemos ter raiva e morder a língua, mas fomos nós e só nós que nos colocámos em tal servidão. Duas pessoas na política preveniram em tempo que caminhávamos para este desastre: Manuela Ferreira Leite e Cavaco Silva. Ninguém os quis ouvir, nem Sócrates, nem Passos Coelho, nem Portas, nem a miríade de comentadores que com desprezo e comiseração diziam que eles eram os bota-abaixistas, os pessimistas, os miserabilistas, que não davam esperança aos portugueses, que tinham preconceitos contra o progresso, que eram os émulos modernos dos adversários do fontismo. É possível fazer toda uma antologia de epítetos, bem datados, sobre a ferocidade e a irresponsabilidade das reacções a quem prevenia do caminho suicidário para que o Governo caminhava e que acabou num país que não tem outro remédio senão fazer o que lhe pedem, sem cuidar de outra coisa que não sejam os resultados a muito curto prazo. O que ainda restava da nossa soberania foi-se porque os vícios nos fragilizaram tanto que tiveram que nos pôr na ordem. E, por muito que se queira meter mais gente no mesmo saco, José Sócrates foi o primeiro responsável por nos entregar a outrem, o nosso destino de servidão. Não me admira, por isso, que hajáa já quem queira um "governo europeu", ou seja, ter sem disfarce "nacional" aquilo que já existe. Governo que é bem pouco europeu porque quem manda nele é a Alemanha. Alemanha, a formiga, Portugal, a cigarra, a estação, o Inverno.

Mais cedo ou mais tarde, os portugueses vão ter que saber o que se passa. Não é certo que queiram ouvir o que é necessário dizer-lhes, e só o Presidente tem autoridade e mesmo a obrigação de o fazer. E tem a obrigação de o fazer porque, se não podemos deixar de apresentar resultados, e não tendo qualquer margem para não o fazer, sempre podemos escolher como lá chegamos, desde que cheguemos. Não é líquido que o caminho seguido pelo Governo seja o melhor, até porque o Governo tende a fazer o que sempre fez, o que é mais fácil. Ou seja: aumentar impostos já, e prometer diminuir despesas, para depois. É verdade que estamos de tal modo condicionados pela descrença internacional que sejamos capazes de convencer os nossos tutores de que a promessa de diminuir despesas seja mais do que uma promessa. Ninguém acredita e por isso querem coisas palpáveis, imediatas, que não possam ser mais um adiamento fictício.

Mas, perante a grave crise que atravessamos, sempre podíamos encontrar aí uma oportunidade para tomar medidas que, em tempos normais, nunca poderiam ser tomadas. Medidas de fundo, estruturais, como seja dar transparência aos preços dos transportes, da electricidade, dos serviços, acabar com as indemnizações compensatórias, o que é uma forma de austeridade mais sadia do que cortar salários, alterar de imediato a Constituição para acabar com a gratuitidade na saúde e na educação e concentrar os benefícios em quem realmente precisa, acabar com as centenas de milhões que pagam a máquina de propaganda do Estado, a começar pela RTP. E, a aumentar os impostos, fazê-lo com prazos definidos e associando-os à redução de despesa, tudo quantificado e com prazos. Impostos de emergência deveriam ter prazos claramente definidos associados a metas definidas que obriguem o Estado a encolher e a mudar. Aqui ainda há margem de manobra, mas tudo indica que, a continuar assim, defrontaremos a crise de modo conjuntural e de modo errado.

E, claro, subsiste um problema político: pode um Governo como o actual, um primeiro-ministro como o actual, desgastado, arrastando-se numa selva de contradições e más vontades, ter legitimidade e autoridade para estar à frente de um país que transformou num protectorado de Bruxelas? A resposta é não. Mas também aqui nos defrontamos com a nossa ineficácia. Pudéssemos nós fazer eleições como os ingleses e num mês, sem hiatos governativos, ter um novo governo em funções e isso seria imperativo. Agora, nem isso é possível. É beber o cálice até ao fim.

(Versão do Público de 17 de Maio de 2010.)

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NUNCA É TARDE PARA APRENDER: O HOMEM QUE É PRECISO CONHECER PARA PERCEBER O PAPA













Maria Manuela Dias de Carvalho / Isabel Maria Alçada Cardoso (Coord.), Amor História Eternidade, Universidade Católica Editora, 2010.

«Para H.U. v. Balthasar, a teologia não vivia do fruto do pensamento, mas do que se recebe como dom. Assim, foi, no mais profundo sentido do termo, um homem de Igreja». (Joseph Ratzinger, Homilia na Missa exequial por H. U. v. Balthasar)

(Em breve. Eu sei que alguns "em breve" anteriores ainda estão por completar... Mas farei um esforço para que não fique nenhum em branco.)


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EARLY MORNING BLOGS

1804

"How many legs does a dog have if you call the tail a leg? Four; calling a tail a leg doesn't make it a leg."

(Lincoln)

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16.5.10


ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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EARLY MORNING BLOGS

1803

If you tell the truth you don't have to remember anything.

(Mark Twain)

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15.5.10

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ESPÍRITO DO TEMPO: ESTES DIAS



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)





Papa no Porto. (José Carlos Santos)



Papa em Lisboa. (A.)



Papa em Lisboa. (A.L.)



Funchal. (Carlos Oliveira)

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COISAS DA SÁBADO: O CIRCO E OS DIRECTOS (1)

O Benfica ganhou. Muito bem, parabéns. Os benfiquistas, que, dizem-me, ser a maior tribo portuguesa, festejaram aos milhares de forma rija. Muito bem, têm razões para festejar. Alguns dos seus adversários tentaram estragar a festa. É mau perder e à polícia espera-se que reponha a ordem e puna os que a violam, o que já duvido mais que aconteça. Tudo isto é notícia. Sem dúvida. Notícia de prime time? Sem dúvida, longa detalhada, correspondendo ao interesse dos portugueses pelo futebol e ao gosto dos benfiquistas em verem a sua vitória espelhada nos media. Razão para as longas catadupas de conversa em tudo o que é programa desportivo? Como só vê quem quer e quem gosta, nenhum mal vem ao mundo em dezenas de horas de conversa à volta de nada.

Só o que é mais complicado e um verdadeiro retrato do nosso subdesenvolvimento é de um momento para o outro tudo parar nas rádios e televisões e durante quase dois dias não haver país, não haver Portugal, nem a sua crise, não haver nada que não sejam directos lentos e intermináveis sem conteúdo noticioso e depois repetição infinita desses mesmos directos, sem sequer o trabalho de selecção que é suposto fazer o jornalismo. Isso é puro circo, o mesmo circo que os poderosos davam em Roma aos pobres para que se distraíssem da sua vida dura e miserável. A mesma vida que espera muitos portugueses inclusive por acontecimentos e decisões tomadas no exacto momento em que os órgãos de comunicação traiam a sua função de informar, para serem o principal veículo do espectáculo em curso. A começar pelo célebre “serviço público” da RTP tão igual a tudo o resto, mas pago regiamente com os nossos impostos. Dias como estes, de preenchimento do espaço público com nada, são aqueles que os governos mais gostam. São excelentes para aumentar impostos.

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1802 - Who Am I?

My head knocks against the stars.
My feet are on the hilltops.
My finger-tips are in the valleys and shores of universal life.
Down in the sounding foam of primal things I reach my hands and play with pebbles of destiny.
I have been to hell and back many times.
I know all about heaven, for I have talked with God.
I dabble in the blood and guts of the terrible.
I know the passionate seizure of beauty
And the marvelous rebellion of man at all signs reading "Keep Off."

My name is Truth and I am the most elusive captive in the universe.

(Carl Sandburg)

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14.5.10


ÍNDICE DO SITUACIONISMO (121) : BATER NOS QUE ESTÃO NA MÓ DE BAIXO


A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

Vai começar uma nova forma de situacionismo: bater em quem está na mó de baixo. Sócrates, por exemplo, vai ser tratado com desprezo e comiseração por muitos que até agora lhe faziam favores e tinham perante ele um temor reverencial. Sempre foi assim. Quando o rei começa a morrer, a corte vai a correr dar vivas ao novo rei. O situacionismo é assim.

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COISAS DA SÁBADO: O QUE É QUE SE PODE DIZER DE DIFERENTE, DE SEMANA PARA SEMANA, SOBRE UM PAÍS ENCALHADO?



Nada. Que Portugal está encalhado já todos perceberam. Que o governo arrasta-se penosamente na sua inutilidade, também não escapa a ninguém. Que o Primeiro-Ministro é, numa parte da semana, sempre depois de mais uma crise financeira, o ministro das Finanças, é uma evidência. Que o primeiro-ministro e meia dúzia de ministros ligados às “obras” detém o recorde triste de numa mesma semana dizerem coisas completamente diferentes, já é do domínio do livro dos recordes do Guinness. Nada. Encalhados e bem encalhados, com a quilha na areia, o leme preso e os motores a rodar no vazio. Para a semana continua, até ao momento em que o comandante e a tripulação fugirão, atrás dos ratos (que já começam a sair), e os passageiros se se querem salvar, tem que, com todos os riscos, sair para a água e levantar o navio à força de braços.

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ÍNDICE DO SITUACIONISMO (120) : ESQUECIMENTO


A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.



Esta é a capa do Diário de Notícias de hoje. Bizarra, pelo menos... Não se esqueceu o jornal de colocar na sua capa algum título sobre essa pequena coisa que ocorreu ontem, uns aumentos de uns impostos, uns cortes nos salários, uns milhões de portugueses a ficarem mais pobres, a começar pelos mais pobres de todos eles? Esquecimento certamente.

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1801 - Truth

"Truth," said a traveller,
"Is a rock, a mighty fortress;
Often have I been to it,
Even to its highest tower,
From whence the world looks black."

"Truth," said a traveller,
"Is a breath, a wind,
A shadow, a phantom;
Long have I pursued it,
But never have I touched
The hem of its garment."

And I believed the second traveller;
For Truth was to me
A breath, a wind,
A shadow, a phantom,
And never had I touched
The hem of its garment.

(Stephen Crane)

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11.5.10

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© José Pacheco Pereira
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