ABRUPTO

2.12.06


EARLY MORNING BLOGS

918 - Ajedrez

I

En su grave rincón, los jugadores
rigen las lentas piezas. El tablero
los demora hasta el alba en su severo
ámbito en que se odian dos colores.

Adentro irradian mágicos rigores
las formas: torre homérica, ligero
caballo, armada reina, rey postrero,
oblicuo alfil y peones agresores.

Cuando los jugadores se hayan ido,
cuando el tiempo los haya consumido,
ciertamente no habrá cesado el rito.

En el oriente se encendió esta guerra
cuyo anfiteatro es hoy toda la tierra.
Como el otro, este juego es infinito.

(Jorge Luis Borges)

*

Bom dia!

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1.12.06


IMAGENS POLITICAMENTE INCORRECTAS 9



Alentejo? Não. Angola.Nazaré? Não. Mossâmedes.



Lisboa dos prémios Valmor? Não. Nova Lisboa. Leixões? Não. Lobito.

A capa e as gravuras fazem parte de uma brochura publicada pela Agência Geral das Colónias em 1930. É difícil ser mais claro no engano e no auto-engano

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SENTIMENTOS MISTURADOS

Uma das entrevistas da série que Rui Ramos fez para a RTP teve como "personagem" Jorge Silva Melo. Para além do interesse geral da entrevista, tudo nela me é demasiado próximo para não me sentir muitas vezes a falar pela sua voz, nós que somos da mesma geração e vivemos muito tempo, muita história, muita gente em comum. Pode-se dizer que somos velhos amigos, amigos "antigos" daqueles cujas amizades especiais não necessitam de muita fala (ou se calhar necessitam). Mesmo quando discordamos com veemência e com picardias mútuas, sabemos até que ponto fomos feitos pela mesma massa, pelo mesmo desgraçado país que é tão completamente o nosso.

Na entrevista, Jorge Silva Melo fala do mundo que ambos conhecemos nos últimos anos da década de 60 em Lisboa, no movimento estudantil, na oposição, na Kulturkampf entre o neo-realismo e a pop, entre a Sylvie e os Beatles. Ainda havia "cidade", dizia Jorge Silva Melo, ainda havia bairros, ainda havia cafés, teatros, cinemas. http://jpn.icicom.up.pt/imagens/cidade/cafeopiolho.jpgNos cafés, o lugar emblemático do convívio permitido no tardo-salazarismo, descreve-se o ambiente do Monte Carlo, da Grã-fina, do Vavá, com os seus grupos diferenciados e as suas hierarquias, a que podia somar nos mesmos precisos termos no Porto o Piolho, o Ceuta e o Majestic. Tudo me era familiar naquela conversa, a mesma nostalgia, os mesmos mixed feelings, os sentimentos misturados de um mundo ao mesmo tempo perdido na nossa juventude e tenebroso, porque era o mundo da ditadura, da censura e da PIDE. Nesses mesmos cafés estava a PIDE, como todos nos lembramos, numa mesa próxima, da qual ninguém se queria aproximar, mas que se aproximava de nós pelos ouvidos, e pelo ar improvável dos disfarces do agente em funções, meio amanuense, meio rufia, gente que o próprio salazarismo fino não queria por perto, mas que lhe fazia a sale besogne. Havia muita paranóia, mas, descontada toda a obsessão pela perseguição, sobrava um grão imenso de realidade violenta, bafienta, claustrofóbica, mesquinha e provinciana, que contaminava tudo. Quem o vive, não o esquece nunca.

Jorge Silva Melo falou também desse momento único da experiência estudantil militante dos anos 60 que foi a tragédia das inundações, quando centenas de estudantes organizados pela Igreja e pelo movimento associativo foram ajudar as vítimas ainda a desgraça estava em curso, nas operações de salvamento, de recolha dos mortos, da ajuda aos vivos, de salvamento do pouco que sobrava entre a lama. Nessa intempérie, não muito diferente da que caiu a semana passada, morreu um número desconhecido de pessoas. A censura nunca permitiu que se soubesse o número exacto e muita gente desapareceu desde então.

Os estudantes associativos, a elite política das universidades, comunistas, católicos progressistas, esquerdistas, e muitos voluntários atraídos por uma solidariedade que não sabiam ser proibida, iam pela primeira vez conhecer o Portugal sobre o qual falavam em abstracto nos panfletos. Os mundos do salazarismo eram tão socialmente estanques que se podia viver sem contactar com os traços mais revoltantes da miséria, que grassava nos arredores de Lisboa, e no interior do país, onde por essa altura centenas de milhares de portugueses faziam a valise para irem para França.

Jorge Silva Melo fala da descoberta deste mundo de pobreza suburbana, que se acentuava no reverso do "milagre económico português" que estava em curso, levando milhares de portugueses a viver em bairros da lata e em habitações degradadas na faixa ribeirinha. As chuvas atiraram-nos para a morte e os estudantes que viam os bairros da lata e os esteiros pela primeira vez encontravam um mundo que não estava em nenhum manual. Sem conhecerem as fábricas, que eram uma reserva do PCP, os esquerdistas que nasciam como cogumelos daquela chuva voltavam-se para aquelas margens, como no exílio, encontravam na emigração nos bidonvilles.Uma nova massa, um novo campo de manobra.

Mas Jorge Silva Melo está (como eu) entre dois mundos: o que gostamos é o que desgostamos. Nas suas memórias entrevistadas está uma contradição que não se sabe resolver. Ele gosta da "plebe", da "canalha" de Gomes Leal, da malta suburbana que fala o português do Kuduro, e queixa-se ao mesmo tempo de que ninguém vai ao teatro nesta "não-cidade" em que vivemos.

“Eu vejo-a vir ao longe perseguida
como de um vento lívido varrida
cheia de febre, rota, muito além…
- pelos caminhos ásperos da História –
enquanto os reis e os deuses entre a glória
não ouvem a ninguém.

Ela vem triste, só, silenciosa,
Tinta de sangue, pálida, orgulhosa,
Em farrapos na fria escuridão…
Buscando o grande dia da batalha.
É ela! É ela! A lívida Canalha!
Caim é vosso irmão.

Eles lá vêm famintos e sombrios,
Rotos, selvagens, abanando aos frios,
Sem leite e pão, descalços, semi-nus…
(…)
São os tristes, os vis, os oprimidos
(…)
São os párias, os servos, os ilotas
Vivem nas covas húmidas, ignotas
(…)
Eles vêm de muito longe, vêm da História.
Frios, sinistros, maus como a memória
Dos pesadelos trágicos e maus.

(Gomes Leal, A Canalha)


Claro que ninguém vai ao teatro, claro que acabaram os cafés (pelo menos em Lisboa), claro que se desertificaram os bairros, claro que acabou a Lisboa dos anos 60, tão íntima como provinciana, onde éramos os absolutos cosmopolitas, exactamente porque os filhos dos deserdados das cheias, os filhos dos operários do Barreiro, os filhos das criadas de servir, os filhos dos emigrantes de Champigny, os filhos da "canalha" anarco-sindicalista e faquista de Alcântara mandam no consumo e o mundo que eles querem é muito diferente. Eles entraram pelos cafés dentro e transformaram-nos em snackbars e em lanchonetes, entraram pelas televisões e querem os reality shows, entraram pela "cultura" e pela política e não querem o que nós queremos, ou melhor, o que nós queríamos por eles. O acesso das "massas" ao consumo material e "espiritual" faz o mundo de hoje, aquele que é dominado pela publicidade, pelo marketing, pelas audiências, pelas sondagens. É um mundo infinitamente mais democrático, mas menos "cultural" no sentido antigo, quando a elite, que éramos nós, decidia em questões de bom senso e bom gosto.

E agora? Queríamos que "eles" tivessem voz e agora que a têm não gostamos de os ouvir quando o enriquecimento revelado por todos os indicadores económicos e sociais dos últimos 30 anos transformou muitos pobres na actual classe média, "baixa" como se diz na publicidade, nos grupos B e C das audiências. Nós queríamos que eles desejassem Shakespeare e eles querem a Floribella, os Morangos e o Paulo Coelho. E depois? Ou ficamos revoltados ou pedagogos tristes e ineficazes, ou uma mistura das duas coisas. Nós ajudámos a fazer este mundo de mais liberdade e mais democracia, que o é de facto. O 25 de Abril foi o que foi porque a geração de 60 o fez assim. Se os militares tivessem derrubado Salazar nos anos 40 ou Delgado o tivesse feito em 1958, o país seria certamente muito diferente.

O Jorge Silva Melo acha que permanece fiel aos idos de 1968 no seu trabalho teatral, nos Artistas Unidos, no PREC, no Abril em Maio. Eu também. Só que eu penso que não é nem a nostalgia, nem a pedagogia, nem a "animação cultural" para as "massas" que resolvem o dilema. Deixo de bom grado a "animação cultural" filha de Malraux-Lang para os ministérios da indústria e comércio, e se calhar ele também deixa. O que sobra? Uma nova forma de elitismo, a única que salva, no sentido bíblico: a criação. Mas isso é toda uma outra conversa a ter. Entretanto, lá que estamos enredados nas mesmas linhas estamos.

(No Público, de 30 de Novembro de 2006, corrigidas umas gralhas resultantes de uma certa forma de vontade própria que os erros acabam por ter ; onde estava (pensado) "as chuvas atiraram-nos para a morte", eu enganei-me e escrevi "as chuvas atiraram-nos para a norte" e a máquina final escreveu "as chuvas atiraram-nos para o Norte". Na verdade foi para o Sudoeste, para a foz do rio.)

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 1 de Dezembro de 2006



Esadof! Como é grande o poder do capitalismo para fazer dissolver os bons velhos costumes, tementes à Obra, do Millenium BCP, fazendo-o, esadof!, falar assim para vender uns servicinhos à malta do dito...

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INTENDÊNCIA

Actualizada a nota LENDO / VENDO / OUVINDO / ÁTOMOS E BITS de 28 de Novembro de 2006.

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COISAS DA SÁBADO: MÁRIO CESARINY DE VASCONCELOS

http://semanal.expresso.clix.pt/imagens/ed1673/fotos/capa/fcap-a261.jpgHá gente que se deve lembrar mais alto quando morre. Para justiça e ilustração alheia. Há gente que o melhor que se pode fazer é ficar silencioso perante a enxurrada de vozes adventícias que falam por obrigação da vénia, a quem nunca a teve e acima de tudo nunca a desejava. Cesariny escreveu e viveu em uníssono, mesma vida, mesma voz. Ter-se-ia rido imenso do que agora está para aí a ser dito. Convém não o levarem para o Panteão porque o seu fantasma ainda se vai deitar noutro túmulo qualquer. E a gente que lá está é muito respeitável e ele não.

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EARLY MORNING BLOGS

917 - Seaside

Swiftly out from the friendly lilt of the band,
The crowd's good laughter, the loved eyes of men,
I am drawn nightward; I must turn again
Where, down beyond the low untrodden strand,
There curves and glimmers outward to the unknown
The old unquiet ocean. All the shade
Is rife with magic and movement. I stray alone
Here on the edge of silence, half afraid,

Waiting a sign. In the deep heart of me
The sullen waters swell towards the moon,
And all my tides set seaward.
From inland
Leaps a gay fragment of some mocking tune,
That tinkles and laughs and fades along the sand,
And dies between the seawall and the sea.

(Rupert Brooke)

*

Bom dia!

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30.11.06


IMAGENS POLITICAMENTE INCORRECTAS 8


Um malvado turco ferido assassina um enfermeiro grego que o cuidava. No Le Petit Journal, o tablóide da época, em 17 de Novembro de 1912.

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: A NECESSIDADE DA MEMÓRIA


Relembrando...

«(...) o cenário de ruptura (...) da Segurança Social não se coloca de todo, e mesmo as dificuldades de financiamento (...) apenas deverão surgir em meados da década de 30 (...)»

Saborosa proclamação proferida pelo actual ministro Vieira da Silva na Assembleia da República, em 11 de Julho de 2002 - como pode ser confirmado, p.ex., nesta página.
-
(C. Medina Ribeiro)

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28.11.06


MAU TEMPO NA QUARTEIRA


Depois do mau tempo, amanhecer.

(Valentina Neto)

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CAÇA E RECOLECÇÃO 2


(...)


Lá longe, há muito tempo, numa galáxia distante, Camilo escrevia assim...

(Recortes de um folhetim de Camilo de 1858, encontrados dentro de um maço de escrituras de terrenos. Clique sobre a imagem para a aumentar.)

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MAU TEMPO NA FOZ DO DOURO, PORTO


(Gil Coelho)

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 28 de Novembro de 2006


O melhor que se pode dizer da série mais recente dos Prós e Contras é verificar que alguns dos mais importantes debates sobre a nossa vida pública só aconteceram ali. Várias coisas se conjugam para os debates terem sido um sucesso: em primeiro lugar, a escolha dos interlocutores certos, seja pelos seus lugares, seja pelo seu saber, seja pela frontalidade com que exprimem a sua opinião. E depois, porque há tempo, esse bem precioso para deixar que a racionalidade, mesmo envolvida ne emotividade e no empenho, se desenvolva.

Foi o caso do debate de ontem sobre o ensino superior: estando-se atento percebia-se tudo, percebia-se todo um grupo de fracturas, essencialmente políticas no sentido de envolverem políticas, que nunca antes tinham estado presentes no debate público, a começar pelo sítio onde já podiam e deviam ter sido discutidas como é o caso do Parlamento. Houve momentos decisivos, como quando Mariano Gago, numa rara intervenção emotiva, falou como nenhum ministro até hoje tinha falado da resistência da nossa universidade à inovação e competição, o seu desdém pela formação académica no estrangeiro, o seu corporativismo no favorecimento de carreiras interiores, sem avaliação e competição, o bloqueio à investigação. Para combater estes males percebe-se que Mariano Gago actua ao modo jacobino, centraliza e manda, como dava para ver pelas queixas dos reitores a propósito da forma como foram feitos os acordos com o MIT. Mas há que reconhecer que o ministro ao usar uma linguagem dura e directa foi mortífero para os seus críticos. Isso não significa que muitas das críticas feitas à actual política governamental não devam ser ouvidas com muita atenção porque elas revelam riscos reais e erros, mas foram quase sempre feitas a partir de uma posição encurralada, defensiva, de quem perante a enorme tempestade que lhe caiu em casa descobrisse que não cuidou dela como devia.

Ser preciso que seja um debate televisivo a mostrar as fracturas de interesses e posições institucionais numa área central das políticas públicas, mostra o desfasamento dos partidos da oposição, em particular o PSD, do conhecimento de realidades para além do poder local, da macroeconomia, da justiça, da política institucional. Áreas inteiras da acção pública, como a cultura, a educação, a universidade, a investigação, só são entendidas pelas notícias da comunicação social e não por um conhecimento interior, permanente, atento e cuidado, o que exige que se fale com quem sabe e estude os problemas. Como seriam diferentes os debates políticos e parlamentares, sobre questões como os acordos com o MIT ou o subfinanciamento das universidades, se se soubesse mais e melhor...

*
Prós e Contras/Ensino Superior- sindicatos excluídos & etc. João Cunha Serra, da Fenprof/Ensino Superior escreve que "os sindicatos foram excluídos do debate dos Prós e Contras de ontem (segunda-feira), na RTP, sobre o Futuro de Ensino Superior – os reitores não representam os docentes e o Prof. Moniz Pereira apenas se representa a si próprio". Aqui fica registado.

Registe-se também que o importante debate da passada segunda-feira começou mais uma vez após as 22h30 e acabou pelas duas da manhã! E que os principais serviços noriciosos da RTP1 no dia seguinte nem se dignaram fazer um breve resumo do que ali se passou. Isto apesar de muito longos minutos, uma vez mais, terem sido dedicados ao futebol - até o secretário técnico do Atlético teve tempo de antena no Jornal da Tarde, mas os reitores das universidades portuguesas, o ministro da Ciência, etc., etc., a RTP1 calou-os pelas duas da manhã... É o serviço público que temos. Pactuar com isto é pactuar com o pior deste país.

(F. RUI CÁDIMA)

*

De facto o programa Pros e Contras proporciona vários debates importantes e com tempo, na televisão pública - é até a sua obrigação. Sou estudante do ensino superior e segui o programa de ontem com particular interesse, mas - não obstante o mérito de haver algum debate - não posso deixar de lamentar a maneira como o programa é gerido. Todo o aparato de Arena em que o público bate palmas indiscriminadamente cada vez que algum dos intervenientes diz algo de mais polémico. Ontem então houve um momento em que a Sra Fátima deve ter achado que a discussão ia demasiado ordenada e interrompeu o Presidente do Conselho de Reitores para lhe dizer: "Ponha o dedo na ferida. Onde dói, onde dói". O Presidente tentou dizer algo que dava a entender que queria continuar o seu raciocínio, e foi de novo interrompido, "Vá Dr, vá onde dói! Onde dói..."

Obviamente que não se deve evitar a polémica, mas não cabe à moderadora fomenta-la, nem lhe cabe criar um ambiente hostil como cria quando interrompe o Ministro para dizer: "Ah então está a chamar subdesenvolvido ao Sr Reitor?"
Não me parece certo que, sobretudo a RTP, pegue em temas importantes e os transforme em espetáculo.

(Filipe Grácio)

*

Isso não significa que muitas das críticas feitas à actual política governamental não devam ser ouvidas com muita atenção porque elas revelam riscos reais e erros, mas foram quase sempre feitas a partir de uma posição encurralada, defensiva, de quem perante a enorme tempestade que lhe caiu em casa descobrisse que não cuidou dela como devia.


No contexto ou fora dele esta sua frase resume a actuação deste governo.

Se muita da sua acção é passível de critica séria, sob o ponto de vista da discrepância entre objectivos e resultados (incluo a sua critica nesta categoria), a maioria da crítica é feita de posições encurraladas, diria eu, na sua própria argumentação, uma vez que a consequência lógica da mesma é quase sempre a manutenção do status-quo que na maioria dos casos os próprios criticam.

Se por um lado esta critica é sempre apresentada como protesto, insatisfação, revolta, indignação "dos Portugueses", por outro lado, a mesma surge também como defesa corporativa de interesses, os quais o governo tenta "pôr na ordem" em nome do superior interesse público. Este double-talk dos media e por arrasto do mainstream da opinião pública, é um jogo de equilibrismo que acabará por cair para um dos lados, ditando a sorte deste governo.

Se assim não fôr, acho que este se arrisca a ficar numa situação ainda pior que a anterior. De um lado estarão aqueles que acham que a sua acção é cosmética, que as reformas não vão longe ou não vão no sentido certo, ou não vão sequer para lado nenhum e são mero chavão politico tal qual a planificação económica pós-PREC sustentado em propaganda. Do outro aqueles que acham que o governo reforma demais, que aquilo que está é que está bem, não funciona, mas a culpa não é dos que deviam fazer funcionar, é sempre dos políticos, dos ministros, dos governos, das maiorias, dos critérios de convergência, das políticas economicistas, da globalização... E todos eles terão o seu voto de protesto concentrado na altura certa.

Este governo socialista começa pois a criar o seu próprio "Iraque" do qual vai ser dificil sair incólume e no qual vai ser dificil ficar sem baixas pesadas. O que vai acontecer dependerá sempre dos "Iraquianos" por mais culpas que estes deitem ao governo.

(Mário Almeida)

*

A propósito da intervenção de Mariano Gago (ministro que tenho em muitíssima

conta) sobre a já tristemente célebre "resistência da nossa universidade à inovação e competição", gostaria de tecer alguns comentários. Desde já há duas coisas que saltarão à vista de muita gente: que este é um mal que já foi diagnosticado há muitos anos; e que o foi ainda antes de Mariano Gago ter sido ministro de 3 governos (2 de Guterres, 1 de Socrates) durante quase 8 anos. Voltarei já a este ponto.

Este "mal" de que estamos a falar tem vários aspectos que já referiu: uma certa alergia à investigação por uma parte considerável do corpo docente universitário; a continuação da escandalosa prática de contratação preferencial de gente incompetente, numa aparente tentativa de prolongar este estado de coisas por mais 1 ou 2 gerações; o facto de a maneira mais eficaz de se por pé numa carreira na universidade portuguesa ser a entrada como assistente, ou seja ainda antes de se ter qualquer currículo, em contraste com a dificuldade que encontram aqueles que (portugueses ou não) tentam saltar dalgumas das melhores instituições científicas internacionais para uma universidade portuguesa.

Ora, acontece que este estado de coisas seria bem diferente se o estatuto que rege a carreira docente fosse outro, se p.ex. deixasse de haver assistentes "do quadro", se houvesse concursos públicos e um dos critérios fosse o mérito, se todo e qualquer docente tivesse de ser doutorado. Até seria "engraçado" se fosse ilegal, como o é na Alemanha, que alguém fosse docente na universidade em que se doutorou, mas isto já é sonhar alto! E se o estatuto não é outro devêmo-lo também ao Ministro Mariano Gago, que já teve mais de 7 anos para fazer alguma coisa... Há um ano atrás prometeu em entrevista no "Diga lá Excelência" que em Janeiro de 2006 veríamos finalmente a proposta deste governo de alteração da carreira docente. Ontem prometeu que no decorrer de 2007 algo acontecerá...

Para mim tenho que o Ministro receia a berraria que se espera para o dia em que certa "malta" docente vir a sua vida catita terminada. Senão, alguém que me explique este "fenómeno": a FCT (a fundação que financia a investigação científica em Portugal) abriu um concurso especial de bolsas de doutoramento e pós-doutoramento para ex-docentes do ensino superior. Para ex-docentes!
Reconhecendo que estes representam um contingente especial, incapaz de concorrer com o resto dos portugueses nos concursos ordinários para bolsas da FCT sem alguma discriminação positiva, o estado mais uma vez decidiu acolher no seu colo os mais pobres e necessitados... Haja paciência! Esperemos que 2007 de facto traga algo de novo.

(Filipe Paccetti CorreiA)
*

Até agora, em vários noticiários, a RTP tem gasto bem o dinheiro de todos nós na sua cobertura da viagem do Papa à Turquia. Os seus jornalistas no local têm procurado informar-se com correcção, têm visitado os locais certos com os comentários certos, feito entrevistas elucidativas mesmo quando são entrevistas de rua, têm evitado generalizações superficiais e politizadas, em suma, um caso exemplar de utilização dos recursos públicos para fazer bom jornalismo.

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EARLY MORNING BLOGS

916 - Mobilier scolaire

L'école était charmante au temps des hannetons,
Quand, par la vitre ouverte aux brises printanières,
Pénétraient, nous parlant d'écoles buissonnières
Et mettant la folie en nos jeunes cerveaux,
Des cris d'oiseaux dans les senteurs des foins nouveaux ;
Alors, pour laid qu'il fût, certes ! il savait nous plaire
Notre cher mobilier si pauvrement scolaire.
A grands coups de canif, travaillant au travers
Du vieux bois poussiéreux et tout rongé des vers,
Nous creusions en tous sens des cavernes suspectes,
Où logeaient, surveillés par nous, des tas d'insectes :
Le noir rhinocéros, qui porte des fardeaux,
Le taupin, clown doué d'un ressort dans le dos,
Le lucane sournois, mais aimable du reste,
Le charançon, vêtu d'or vert, et le bupreste...
J'oubliais l'hydrophile avec le gribouri.

(Paul Arène)

*

Bom dia!

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INTENDÊNCIA

Em actualização, bem necessária, os ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO.

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27.11.06


CAÇA E RECOLECÇÃO


(Telegrama de Baldur von Schirach, dirigente da Juventude Hitleriana)

Não é todas as semanas que, na actividade habitual de caça e recolecção se volta com presas como autógrafos de Sidónio Paes, Bernardino Machado, Rei D. Luís, Teófilo Braga, Cardeal Cerejeira, folhetins originais de Camilo, correspondência de Brito Camacho, Egas Moniz e Júlio Dantas, núcleos documentais sobre as comemorações do centenário de Alexandre Herculano, reparações da guerra de 1914-18, movimentos de leigos ligados à Igreja em Angola, manuscritos e originais relativos ao MUD, panfletos clandestinos do PCP, CGT, republicanos, FPLN, etc., etc. Este etc. é grande porque ainda não vi tudo com olhos de ver, distraído com o que já entrevi.


(Plano de intercâmbio entre a M.P. e a H.J. no ano de 1938, com notas manuscritas)

Um núcleo documental é particularmente interessante. Oriundo de Virgílio Canas Martins (1909-1973), professor de agronomia, que esteve como bolseiro na Alemanha na segunda metade da década de trinta e que foi representante da Mocidade Portuguesa junto da Juventude Hitleriana. Numa primeira análise, não só a série de correspondência entre Canas Martins, a MP em Lisboa e a Juventude Hitleriana é uma fonte decisiva para o estudo dessas relações, como são muito interessantes alguns documentos em anexo, relacionados com o seu trabalho em instituições científicas alemãs, ligadas à genética e à biologia, na altura bem pouco pacíficas.

Há semanas assim, em que a fada madrinha de quem quer salvar papéis velhos, nos coloca a mão em cima, ou a varinha, ou seja lá o que for.

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RETRATOS DO TRABALHO EM SANTA CRUZ DE TENERIFE, ILHAS CANÁRIAS, ESPANHA


Enviamos uma foto da fabulosa "Artesania", feira internacional do artesanato que abriu ontem à tarde em Santa Cruz de Tenerife. Entre os 300 representantes, escolhemos este latoeiro que, orgulhosamente, nos dizia "adoro a globalização, com ela tenho a oportunidade de promover o meu trabalho junto de Portugueses como vocês ou junto dos Ingleses que acabaram de me pagar 50 euros por peça"

(António Marques)

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 27 de Novembro de 2006



Será interessante acompanhar o nascimento, evolução (e, se se mantiver a tendência do passado, a morte por inanição) de blogues políticos que, pelos seus meios profissionais, se percebe terem financiamentos próprios cuja origem é desconhecida. É um fenómeno novo que mostra a importância crescente da blogosfera e do qual não vem nenhum mal, se existir um pouco mais de transparência. No fundo, trata-se de política pura e dura e não de qualquer actividade amadora e lúdica pelo que saber quem paga é relevante. Relevante e instrutivo.

*

Chega ao Natal e começa a troca de presentes na blogosfera na forma muito portuguesa do fishing for cumpliments . É um costume do "respeitinho" lá fora, é um costume do "respeitinho" cá dentro. Todos nomeiam na esperança de serem nomeados. Dá uma lei da blogosfera.

*


A ler os elementos sobre o "andar", para cima, para baixo, para o lado e... para a frente da blogosfera portuguesa nas sínteses cronológicas anuais da Memória Virtual.

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EARLY MORNING BLOGS

915 - Ordem social, hierarquia e progresso

http://www.der.org/films/images/flatland.jpg

The greatest length or breadth of a full grown inhabitant of Flatland may be estimated at about eleven of your inches. Twelve inches may be regarded as a maximum.


Our Women are Straight Lines.

Our Soldiers and Lowest Class of Workmen are Triangles with two equal sides, each about eleven inches long, and a base or third side so short (often not exceeding half an inch) that they form at their vertices a very sharp and formidable angle. Indeed when their bases are of the most degraded type (not more than the eighth part of an inch in size), they can hardly be distinguished from Straight lines or Women; so extremely pointed are their vertices. With us, as with you, these Triangles are distinguished from others by being called Isosceles; and by this name I shall refer to them in the following pages.

Our Middle Class consists of Equilateral or Equal-Sided Triangles.

Our Professional Men and Gentlemen are Squares (to which class I myself belong) and Five-Sided Figures or Pentagons.

Next above these come the Nobility, of whom there are several degrees, beginning at Six-Sided Figures, or Hexagons, and from thence rising in the number of their sides till they receive the honourable title of Polygonal, or many-Sided. Finally when the number of the sides becomes so numerous, and the sides themselve so small, that the figure cannot be distinguished from a circle, he is included in the Circular or Priestly order; and this is the highest class of all.

It is a Law of Nature with us that a male child shall have one more side than his father, so that each generation shall rise (as a rule) one step in the scale of development and nobility. Thus the son of a Square is a Pentagon; the son of a Pentagon, a Hexagon; and so on.

(Edwin A. Abbott, Flatland. A romance of many dimensions )

*

Bom dia!

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26.11.06


MAU TEMPO NO PORTO VISTO DE UMA JANELA ALTA




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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 26 de Novembro de 2006






"O notário não defende os interesses de uma parte: a sua função é a de conciliar todas as partes. " diz-se no texto. Tivessem eles notários...

Tanta ignorância, tanta auto-ilusão, tanta confusão, tanta mistura de coisas muito diferentes (Staline e Hitler juntos com Churchill como se todos tivessem o mesmo papel no fomentar da guerra). Será que alguém explica à Ordem dos Notários e aos seus publicitários que este anúncio é uma pedrada à história, à política, ao bom senso, e ... aos notários? Notários e gente muito próxima de notários, não faltaram nem a Hitler, nem a Churchill, nem a Staline (à moda dele). Alguns deles foram excelentes executores do aparelho de extermínio do Holocausto, ao modelo do pacífico burocrata Eichmann.

O anúncio é de facto despropositado e assenta em incorrecções de vária ordem. Não só pelas razões já apontadas, mas também pelo que me parece ser uma imprecisão na definição das funções notariais. A principal função do Notário é a de conferir fé pública a documentos. Ao Notário compete ainda informar as partes do alcance legal dos documentos que outorgam.

Ou seja, a intervenção notarial confere ao acto praticado uma especial certeza de verdade e legalidade (exemplos: assegura que o vendedor é o verdadeiro proprietário do imóvel que está a vender ou que o outorgante de uma procuração tem poderes para o fazer, confirma a identidade de uma determinada pessoa, assegura-nos que um determinado negócio é legal). Mas, tanto quanto sei, ao Notário não cabe conciliar partes ou fazer acordos. Não é da sua competência legal, tal como definida no próprio estatuto.

Acresce que a intervenção do Notário num acto ou contrato, em nada previne a existência de litígios ou conflitos no futuro. Como ressalta ao mais elementar senso comum, não é porque reconheci a minha assinatura ou fiz um contrato por escritura pública que cumpro as minhas obrigações. (Se assim, fosse, tinhamos uma boa parte dos problemas da Justiça resolvidos substituíndo Tribunais por Cartórios ...) Nesta matéria o anúncio é, no mínimo, falacioso. O que surpreende, vindo da Ordem dos Notários.

(RM)

*

«Se eles tivessem tido um notário, talvez não tivesse havido guerra»

Se vós (notários e publicitários) tivessem lido, talvez (de certeza absoluta) não tivesse havido este anúncio. A ignorância da História preocupa-me. Aflige-me pensar que, provavelmente, a culpa será nossa (dos historiadores). Temos que nos organizar, levar a História aos notários, aos publicitários... espalhar a palavra.

(José Pedro de Oliveira S.)
*

Anteontem, no Telejornal das 20h, o correspondente da RTP1, no Porto, informou-nos: «...estamos na preia-mar». Mas logo de seguida receando, porventura, que o vulgo não percebesse terminologia tão erudita, explicou: «... ou seja: na maré-baixa».

(C. Medina Ribeiro)

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MAU TEMPO NO PORTO

O Douro na sua força máxima, ontem à tarde.

(Gil Coelho)

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914 - To Autumn

Season of mists and mellow fruitfulness,
Close bosom-friend of the maturing sun;
Conspiring with him how to load and bless
With fruit the vines that round the thatch-eves run
To bend with apples the moss'd cottage-trees,
And fill all fruit with ripeness to the core;
To swell the gourd, and plump the hazel shells
With a sweet kernel; to set budding more,
And still more, later flowers for the bees,
Until they think warm days will never cease,
For summer has o'er-brimm'd their clammy cells.

Who hath not seen thee oft amid thy store?
Sometimes whoever seeks abroad may find
Thee sitting careless on a granary floor,
Thy hair soft-lifted by the winnowing wind;
Or on a half-reap'd furrow sound asleep,
Drowsed with the fume of poppies, while thy hook
Spares the next swath and all its twined flowers:
And sometimes like a gleaner thou dost keep
Steady thy laden head across a brook;
Or by a cider-press, with patient look,
Thou watchest the last oozings, hours by hours.

Where are the songs of Spring? Ay, where are they?
Think not of them, thou hast thy music too,--
While barred clouds bloom the soft-dying day,
And touch the stubble-plains with rosy hue;
Then in a wailful choir the small gnats mourn

Among the river sallows, borne aloft
Or sinking as the light wind lives or dies;
And full-grown lambs loud bleat from hilly bourn;
Hedge-crickets sing; and now with treble soft
The redbreast whistles from a garden-croft,
And gathering swallows twitter in the skies.

(John Keats)

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Bom dia!

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© José Pacheco Pereira
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