ABRUPTO

1.7.06


RETRATOS DO TRABALHO NO MONTIJO, PORTUGAL



(Madalena Santos)

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MINISTROS REDONDOS E MINISTROS QUADRADOS



Freitas do Amaral era um ministro quadrado, Luís Amado e Nuno Severiano Teixeira são ministros redondos. O anterior Ministro das Finanças era um ministro quadrado, o actual é um ministro redondo. A Ministra da Educação é uma ministra quadrada, vamos ver quanto tempo dura até ser substituída por um(a) ministro(a) redonda. Idem para o Ministro da Agricultura. O Ministro António Costa é um ministro habilmente redondo, que tem a melhor máquina para alisar os terrenos por onde passa de modo a nunca parecer quadrado. Todos os ministros querem ser redondos e, quando são redondos, sonham em ser quadrados de vez em quando, um dia, à aventura. O Ministro do Ambiente é redondíssimo. Alguns ministros redondos são eficazes, alguns ministros quadrados são eficazes. Há pastas em que se se é redondo e não se faz nada e vice-versa. O mais eficaz dos ministros quadrados é o Primeiro-ministro que só quer ministros redondos. Saindo Freitas do Amaral e entrando mais ministros redondos, o governo está cada mais redondo e as características de Sócrates como ministro quadrado aparecerão mais visíveis.

*

Embora não esteja alinhada com o espírito do seu texto, gostava de lhe referir uma velha rábula a propósito dos políticos que passam a vida a destruir o que os anteriores fizeram. Nela, relata-se uma reunião de maluquinhos que se juntaram para reinventar a roda. A certa altura, depois de um deles apresentar a «roda quadrada», outro aparece com um melhoramento nada despiciendo: A «roda triangular», que poupa um solavanco.

(C. Medina Ribeiro)

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 1 de Julho de 2006


O Diário de Notícias em linha considera esta a notícia mais importante de ontem, onde, por acaso, houve uma importante remodelação do Governo. É um critério jornalístico bizarro, para não dizer outra coisa.
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Actualidade
Figo lidera estratégia e Scolari esconde Ronaldo
Num jogo que deverá ser "decidido nos detalhes", como o seleccionador Luiz Felipe Scolari referiu na antevisão do Portugal-Inglaterra, Luís Figo tem o papel central na estratégia da selecção.

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No Diário de Notícias em papel o futebol divide a meio a primeira página com Freitas do Amaral



, o que apesar de tudo é mais equilibrado do que o Público que esmaga com Scolari as mudanças do Governo. O Correio da Manhã é o único a dar importância à demissão, talvez porque não precise de competir pela popularidade.

Sócrates tem sorte ou a sorte cada um a faz escolhendo o dia de ontem para garantir que não houvesse ondas com a saída de Freitas do Amaral?

Lá vamos, pois, cantando e rindo...

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NUNCA É TARDE PARA APRENDER: LUGARES ONDE SE ESCREVE

http://www.tchekhov.com.br/livraria/images/capalugar.jpg (Em breve.)

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RETRATOS DO TRABALHO EM BUENOS AIRES, ARGENTINA



Distribuindo carne de vaca pelos talhos de Buenos Aires.

(Francisco F.Teixeira)

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EARLY MORNING BLOGS

807 - " Apologize"

Once upon a time and a very good time it was there was a moocow coming down along the road and this moocow that was coming down along the road met a nicens little boy named baby tuckoo

His father told him that story: his father looked at him through a glass: he had a hairy face.

He was baby tuckoo. The moocow came down the road where Betty Byrne lived: she sold lemon platt.

O, the wild rose blossoms
On the little green place.

He sang that song. That was his song.

O, the green wothe botheth.

When you wet the bed first it is warm then it gets cold. His mother put on the oilsheet. That had the queer smell.

His mother had a nicer smell than his father. She played on the piano the sailor's hornpipe for him to dance. He danced:

Tralala lala,
Tralala tralaladdy,
Tralala lala,
Tralala lala.

Uncle Charles and Dante clapped. They were older than his father and mother but uncle Charles was older than Dante.

Dante had two brushes in her press. The brush with the maroon velvet back was for Michael Davitt and the brush with the green velvet back was for Parnell. Dante gave him a cachou every time he brought her a piece of tissue paper.

The Vances lived in number seven. They had a different father and mother. They were Eileen's father and mother. When they were grown up he was going to marry Eileen. He hid under the table. His mother said:

-- O, Stephen will apologize.

Dante said:

-- O, if not, the eagles will come and pull out his eyes.--

Pull out his eyes,
Apologize,
Apologize,
Pull out his eyes.

Apologize,
Pull out his eyes,
Pull out his eyes,
Apologize.

(James Joyce, A Portrait of the Artist as a Young Man)

*

Bom dia!

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30.6.06


INTENDÊNCIA



Parece, sublinho, parece, que os problemas de migração dos computadores vão ser resolvidos, sem qualquer recurso à ajuda e assistência da HP. A solução veio-me dos leitores do Abrupto que já tinham tido que resolver problemas idênticos, também sem qualquer ajuda da HP, revelando sérias incompatibilidades da instalação original do software feita pelo fabricante. É uma solução trabalhosa e com outro tipo de dificuldades, mas que me parecem (talvez) mais fáceis de resolver. Seja como for, se acabar por ficar com o computador, este será o último HP que compro.

Em breve darei pormenores.

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EARLY MORNING BLOGS

806 -"I bear a burden that might well try / Men that do all by rule"

Two Songs Of A Fool (I)

A speckled cat and a tame hare
Eat at my hearthstone
And sleep there;
And both look up to me alone
For learning and defence
As I look up to Providence.

I start out of my sleep to think
Some day I may forget
Their food and drink;
Or, the house door left unshut,
The hare may run till it's found
The horn's sweet note and the tooth of the hound.

I bear a burden that might well try
Men that do all by rule,
And what can I
That am a wandering-witted fool
But pray to God that He ease
My great responsibilities?

(William Butler Yeats)

*

Bom dia!

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29.6.06


A ÚNICA OPOSIÇÃO POSSÍVEL É A LIBERAL



Estamos num desses momentos em que mais é necessária política no espaço público, e o que acontece é o contrário, ela praticamente não existe, obscurecida por uma mistura anestesiante de circo, de conveniências, falsos consensos e maus hábitos do poder. Não havendo crítica nem alternância, gera-se um feito de obscuridade, não havendo ânimo crítico, o espaço público mirra.
Os tempos que vivemos recordam-me, e a memória é uma maldição, de outro tempo recente muito semelhante: os primeiros anos do engenheiro Guterres. Nesses anos de glória, quando o engenheiro apesar de não ter maioria absoluta governava como se a tivesse, era um escândalo suscitar dúvidas, interrogações, críticas ao seu magnífico desempenho. Lembro-me de ter escrito então que me sentia uma espécie de ET quando mesmo os meus mais próximos me diziam que era impossível criticar Guterres. Havia dinheiro por todo o lado, a bolsa dava, a cada pequena esquina uma pequena fortuna, todos estavam felizes.

Hoje sabemos que muitos dos erros trágicos, que se estão a pagar caro uma década depois, foram cometidos nessa altura, quando uma excepcional conjuntura favorável nos dava a última oportunidade de arrancar e a malbaratamos sem resultados. O governo de Guterres é hoje visto como a grande "oportunidade perdida", mas quem o percebeu e disse na altura? Contavam-se pelos dedos de uma só mão os críticos do engenheiro, isolados e ignorados, pelo mesmo "consenso" que hoje considera o seu governo um desastre. É assim e continuará a ser - em Portugal quando um consenso de rebanho, entre elites, políticos e jornalistas, se instala, tem muita força, abafa quase tudo.

Hoje passa-se o mesmo, com a grande diferença que estamos em tempo de vacas magras e o Governo, em vez de nos prometer abundância, promete-nos dificuldades. É interessante verificar que é exactamente esta diferença que alicerça o consenso de hoje, com a mesma força acrítica do consenso do passado. O consenso assenta na ideia de que o país está mal e de que o Governo defronta esses males com coragem, pelo que merece o abater de todos os pendões. Muito pouca gente se pergunta se não era possível não apenas fazer melhor, mas fazer muito diferente e se essa diferença faz, afinal, toda a diferença. Banhados em milhares horas de circo e gladiadores, na anomia generalizada de todos a fazerem a sua vidinha como se nada fosse, e no escapismo, who cares?

Como é que se chegou aqui? Pela combinação da vitória de duas pessoas, Manuela Ferreira Leite e José Sócrates. Num certo sentido, Manuel Ferreira Leite é a grande vencedora política da actualidade. Com a ironia habitual da história, para se ver a sua razão, foi necessária a sua queda e a do governo que se preparava para a afastar do cargo, por pensar que queria mais vida para além do défice. Também o governo que se lhe seguiu queria dar mais folga aos portugueses e descobriu uma "retoma" que nunca houve. Ambos, Durão Barroso e Santana Lopes, com o PSD profundo às palmas, queriam ver-se livre da "antipática" ministra que lhes dava cabo das sondagens. Mas Manuela Ferreira Leite tinha convencido os portugueses a aceitar sacrifícios para pôr a casa em ordem e, como estes desconfiavam das facilidades e da competência que Santana Lopes lhes prometia, foi procurar no outro lado, no PS.

Sócrates apanhou a boleia desta ideia da necessidade de austeridade que o PS e ele próprio tanto tinham criticado. Ele começou a falar a linguagem apropriada ao sentimento da opinião pública que Manuela Ferreira Leite lhe tinha deixado. Como se apercebeu de imediato, isso tinha sucesso e ele conseguiu um consenso legitimador que se estende muito para além do PS. Com condições políticas excepcionais, maioria absoluta de um só partido, fragilidade extrema da oposição e agora um Presidente "cooperador", aproveitou com perfeição o "ar do tempo", revelando o seu estilo desde o primeiro minuto. O seu governo tem feito algumas coisas bem, mas não é o governo que serve para defrontar os problemas com que Portugal se defronta. Esta percepção reforça-se todos os dias e só a acefalia actual do espaço público tem deixado sem discussão medidas sobre medidas, sempre apresentadas, inclusive pela comunicação social, como inevitáveis. Eu, como já vi muitas coisas "inevitáveis" serem evitadas, como por exemplo a Constituição europeia, pouco me conformo com este ambiente de inevitabilidade.

Pode-se, sobre o governo Sócrates, fazer dois tipos de críticas: ou dizer que faz bem mas faz pouco (que é a linha que de alguma maneira a própria Manuela Ferreira Leite sugeriu no congresso do PSD); ou entender que o que é necessário é fazer de outro modo, muito diferente. Só haverá verdadeira oposição quando se combinarem os dois termos, com preponderância do segundo.

Os não socialistas esquecem-se muitas vezes de que Sócrates é socialista, ou seja, acredita no Estado como protector e corrector social, não concebe vida fora de um jacobinismo económico, social e cultural deslavado e modernizado, que é o socialismo dos dias de hoje. Acrescenta a isso um remake de positivismo cientista, crendo com deslumbramento que as tecnologias mudam a sociedade e não vice-versa, como se percebe no chamado "choque tecnológico", investindo-se em tecnologias de ponta sem se cuidar das literacias necessárias ao seu uso.

O que Sócrates tem feito é defrontar a crise do Estado-providência propondo remédios que atrasam o seu colapso. Não o põe em causa, nem contesta a sua forma, concorda com ele por razões ideológicas. Várias vezes afirmou que essas medidas de austeridade têm como objectivo último garantir a "segurança social" para os portugueses e, com uma oposição que não contesta o essencial da sua atitude, faz o mal e a caramunha, ou seja, governa como governaram Barroso e Lopes e, mesmo aos olhos de muitos opositores do PS, com a vantagem de o fazer melhor do que os seus imediatos antecessores sociais-democratas.

Ora, que eu saiba, não foi Deus que fez o Estado-providência, nem a História chegou ao fim com ele. Foram os homens, numa época, numa circunstância, em determinadas partes do mundo. Resultou, como todas as coisas na sociedade, de uma complexa interacção entre interesses e vontades, entre conflitos sociais e decisões políticas. Adequou-se às sociedades europeias do pós-guerra, geradas pelo Plano Marshall e pela integração europeia e beneficiando das circunstâncias excepcionais de não terem de fazer avultadas despesas militares, porque estavam cobertas pelo guarda-chuva nuclear americano. Só que esse mundo acabou e acabou de vez e poucas dúvidas me sobram de que, mantendo os seus fundamentos iniciais e programáticos, não se fará outra coisa do que gerir nas próximas décadas o empobrecimento e as tensões sociais em Portugal e na Europa, sempre presos nas mesmas políticas de esticar até ao limite o "modelo social", deixando para as gerações futuras uma herança cada vez mais ingerível.

Há alternativas a esta política dos socialistas e elas podem ser socialmente muito mais justas do que as políticas actuais. As medidas de austeridade que o Governo está a tentar implementar, tímidas mas mesmo assim passos de gigante em relação aos governos anteriores, apenas adiam a crise estrutural do Estado-providência e têm custos muito mais gravosos para os mais pobres do que para os ricos. Mais: a seguir-se esta política, a crise tornar-se-á endémica e, com intervalos de pequenos surtos de prosperidade, continuar-se-á a ter de pedir novos sacrifícios e o problema de fundo permanecerá na mesma. Por isso, a prazo, o Estado-providência está condenado, pelas mesmas razões que lhe deram o sucesso. Não sobreviverá nem à globalização nem ao bem-estar adquirido, que não é reproduzível de geração para geração com a composição etária das sociedades ocidentais.

Este é o custo de querer manter sistemas de segurança social universais que não têm outra razão de ser que não seja a ideologia do "modelo social europeu", que os socialistas consideram ser o último reduto do seu "socialismo". A reconfiguração do modelo do nosso Estado devia apenas garantir uma protecção social mínima para quem realmente a exige, limitar a esse mínimo de solidariedade social básica o carácter distributivo dos impostos, assim libertando para cada um a gestão da parte da sua "segurança" que está para além do mínimo garantido e para a economia recursos de que o Estado tem vindo a apropriar-se numa espiral cada vez maior.
O que significa que a única oposição possível é a liberal. Sem este tipo de oposição, não há oposição a não ser a comunista e a do BE, que é uma variante da comunista. Só uma oposição liberal reformista e moderada pode mudar este estado de coisas. O consenso acéfalo dos dias de hoje é favorecido pela inexistência ou debilidade desta oposição.

(No Público de hoje.)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES:
ANUNCIA-SE, LEGISLA-SE, ...QUANDO SE PUDER FAZ-SE




Hoje, o Diário da República, presenteia-nos com mais um choque tecnológico:

Portaria n.º 657-A/2006 de 29 de Junho - Aprova o Regulamento do Registo Comercial

Preâmbulo:

“O Decreto-Lei n.º 76-A/2006, de 29 de Março, procedeu a uma profunda alteração do Código do Registo Comercial, designadamente com (…) a criação de condições para a plena utilização dos sistemas informáticos e a reformulação de actos e procedimentos internos.

Simultaneamente, procedeu à revogação do Regulamento do Registo Comercial, pelo que se torna necessário aprovar uma nova regulamentação daquele Código, desenvolvendo as novas soluções nele previstas.

Artigo 2.º

Disposições transitórias

1 - Enquanto não se verificar a informatização do serviço de registo, são aplicáveis a este as disposições do Regulamento do Registo Comercial, aprovado pela Portaria n.º 883/89, de 13 de Outubro, que respeitem a livros, fichas e verbetes ou que pressuponham a sua existência.”

Ou seja, a nova lei entrou em vigor, salvo nos seus aspectos principais, em que se aplica a legislação anterior.

Continua-se a fazer tudo como dantes, porque não há condições materiais para implementar a lei. Primeiro anuncia-se e legisla-se. Se e quando se puder, faz-se. Dito, mas não feito. (Estamos a criar condições, dizem no preâmbulo ….)

Valia a pena contabilizar os casos como este. Suspeito que íamos ter uma surpresa.

(RM)

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RETRATOS DO TRABALHO EM MONTREAL, CANADÁ


(Ricardo Prata)

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ÁTOMOS E BITS

de 29 de Junho de 2006


Continuam as palavras a revelar as posições. No noticiário da RTP1 sobre a manifestação da FRETILIN em Dili, várias interessantes distinções entre "nós" e "eles", inscritas na escolha das palavras. A favor de Xanana e contra o Governo são os "timorenses", a favor do Governo são "os apoiantes da FRETILIN". De um lado os "jovens", do outro os "manifestantes". Uns são contados para sugerir que são poucos e finitos; outros, nunca são contados para serem os "timorenses", a nação, o povo.

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INTENDÊNCIA



O caminho para a devolução à origem (a FNAC) do HP Pavilion Dual core continua a passo acelerado. Pelo meio, ficam muitas horas de trabalho perdidas. A assistência da HP após uma longa navegação entre "prima 1 e "prima 2", remete-me para outro número de telefone. No segundo número, um técnico informa-me que é "normal" que não se possa instalar o Windows XP Professional, sobre o Home de origem, devido á configuração especial do software feita na fábrica. Excelente! Depois quando lhe digo que o computador bloqueia sempre que acede à Internet em banda larga, apesar de fazer a ligação, - que o seu irmão HP mais velho ao lado faz na perfeição -, diz que nunca soube da existência desse problema e que deve ser um problema com o modem da Telepac, o mesmo modem que deve existir em milhares de casas. Excelente! O computador liga, não liga? Liga, com alguma dificuldade depois dos bloqueios, mas liga. O software arranca normalmente, não arranca? Arranca, depois de ser reconfigurado de raiz n vezes. O computador liga à Internet não liga? Liga, e funciona entre trinta segundos e um minuto antes de bloquear exigindo ser desligado. Então o problema não é com a HP.

PS. - Agradeço aos meus amigos leitores que me aconselham... a mudar para um Macintosh.

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EARLY MORNING BLOGS

805 -
"La vieille crut qu'on la méprisait, et grommela quelques menaces entre ses dents."


Il était une fois un Roi et une Reine, qui étaient si fâchés de n'avoir point d'enfants, si fâchés qu'on ne saurait dire. Ils allèrent à toutes les eaux du monde; voeux, pèlerinages, menues dévotions, tout fut mis en oeuvre, et rien n'y faisait. Enfin pourtant la Reine devint grosse, et accoucha d'une fille: on fit un beau Baptême; on donna pour Marraines à la petite Princesse toutes les Fées qu'on pût trouver dans le Pays (il s'en trouva sept), afin que chacune d'elles lui faisant un don, comme c'était la coutume des Fées en ce temps-là, la Princesse eût par ce moyen toutes les perfections imaginables. Après les cérémonies du Baptême toute la compagnie revint au Palais du Roi, où il y avait un grand festin pour les Fées. On mit devant chacune d'elles un couvert magnifique, avec un étui d'or massif, où il y avait une cuiller, une fourchette, et un couteau de fin or, garni de diamants et de rubis. Mais comme chacun prenait sa place à table, on vit entrer une vieille Fée qu'on n'avait point priée parce qu'il y avait plus de cinquante ans qu'elle n'était sortie d'une Tour et qu'on la croyait morte, ou enchantée. Le Roi lui fit donner un couvert, mais il n'y eut pas moyen de lui donner un étui d'or massif, comme aux autres, parce que l'on n'en avait fait faire que sept pour les sept Fées. La vieille crut qu'on la méprisait, et grommela quelques menaces entre ses dents.

(Charles Perrault, La belle au bois dormant)

*

Bom dia!

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28.6.06


COISAS SIMPLES



Jean-Léon Gérôme, Les pigeons

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INTENDÊNCIA



Continuo enredado na tarefa, que devia ser simples e se torna cada vez mais complicada, de mudar de um computador para outro, ambos da mesma marca, HP. O meu primeiro encontro com a assistência técnica da HP foi prometedor: tudo o que funciona mal é, pelos vistos, suposto funcionar mal e eu devo resignar-me a essa realidade. Para um computador de topo de gama, é meio caminho andado para ser devolvido à procedência. Vamos ver se consigo evitar o outro meio do caminho, pelos meus meios. Darei notícias para prevenir os incautos.

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804 - IT SURE WAS PLEASANT TO SPEND A DAY IN THE COUNTRY

Farm Implements and Rutabagas in a Landscape

The first of the undecoded messages read: "Popeye sits
in thunder,
Unthought of. From that shoebox of an apartment,
From livid curtain's hue, a tangram emerges: a country."
Meanwhile the Sea Hag was relaxing on a green couch: "How
pleasant
To spend one's vacation en la casa de Popeye," she
scratched
Her cleft chin's solitary hair. She remembered spinach

And was going to ask Wimpy if he had bought any spinach.
"M'love," he intercepted, "the plains are decked out
in thunder
Today, and it shall be as you wish." He scratched
The part of his head under his hat. The apartment
Seemed to grow smaller. "But what if no pleasant
Inspiration plunge us now to the stars? For this is my
country."

Suddenly they remembered how it was cheaper in the country.
Wimpy was thoughtfully cutting open a number 2 can of spinach
When the door opened and Swee'pea crept in. "How pleasant!"
But Swee'pea looked morose. A note was pinned to his bib.
"Thunder
And tears are unavailing," it read. "Henceforth shall
Popeye's apartment
Be but remembered space, toxic or salubrious, whole or
scratched."

Olive came hurtling through the window; its geraniums scratched
Her long thigh. "I have news!" she gasped. "Popeye, forced as
you know to flee the country
One musty gusty evening, by the schemes of his wizened,
duplicate father, jealous of the apartment
And all that it contains, myself and spinach
In particular, heaves bolts of loving thunder
At his own astonished becoming, rupturing the pleasant

Arpeggio of our years. No more shall pleasant
Rays of the sun refresh your sense of growing old, nor the
scratched
Tree-trunks and mossy foliage, only immaculate darkness and
thunder."
She grabbed Swee'pea. "I'm taking the brat to the country."
"But you can't do that--he hasn't even finished his spinach,"
Urged the Sea Hag, looking fearfully around at the apartment.

But Olive was already out of earshot. Now the apartment
Succumbed to a strange new hush. "Actually it's quite pleasant
Here," thought the Sea Hag. "If this is all we need fear from
spinach
Then I don't mind so much. Perhaps we could invite Alice the Goon
over"--she scratched
One dug pensively--"but Wimpy is such a country
Bumpkin, always burping like that." Minute at first, the thunder

Soon filled the apartment. It was domestic thunder,
The color of spinach. Popeye chuckled and scratched
His balls: it sure was pleasant to spend a day in the country.

(John Ashbery)

*

Bom dia!

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27.6.06


CORREIO / INTENDÊNCIA

Uma mudança de computador, com as habituais complicações, tem afectado o correio mais do que ele já estava com um infinito e irrecuperável atraso nas respostas. As minhas desculpas.

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 27 de Junho de 2006


Os defensores do nosso omnipresente Estado devem estar contentes: conforme declarações do Secretário de Estado do Desporto à TSF uma das coisas de que cuida com desvelo o nosso Governo é escolher (neste caso manter) o selecionador nacional do futebol. É certamente uma questão de Estado...

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26.6.06


COISAS DA SÁBADO: A FRAGMENTAÇÃO DE ESPANHA

http://www.meg.org.br/images/flags/large/sp-lgflag.gif The image “http://www.duplipensar.net/principal/images/catalunha-bandeira.jpg” cannot be displayed, because it contains errors. http://www.libreria.com.br/artigos/004/bb.jpg

Existe uma velha máxima da nossa política externa que considera sempre positivas as dificuldades do poder central de Castela face às suas periferias bascas, catalãs e galegas. Qualquer reforço da unidade do estado espanhol é visto como perigoso para Portugal, a única “região” que ficaria de fora da pulsão centralizadora de Madrid e do seu olhar capcioso para um Portugal independente. Desde 1640 agradecemos à Catalunha o puro facto desta existir e assim nos ajudar também a existir. De Espanha, como todos sabemos, não vem nem bom vento, nem bom casamento.

Sei tudo isto e … no entanto, não deixo de ver com preocupação a tendência para a fragmentação do estado espanhol que deu a semana passada outro passo com a aprovação referendária do novo estatuto da Catalunha. É um caminho perigoso, trilhado por Zapatero também no País Basco, abrindo as portas à negociação com a ETA terrorista. É daquelas coisas que hoje parecem pacíficas e benignas, mas que começam a revelar um caminho sem retorno para a independência da Catalunha e do Pais Basco, sob o olhar apaziguador, mas bem pouco espanhol, de Zapatero. Não será nos dias mais próximos, mas língua, impostos, polícias, órgãos de comunicação regionais e proximidades a outros lugares centrais que não Madrid, darão à Espanha dias quentes e isso não é bom para Portugal.

*
Lembro-me de ter lido no Abrupto, aquando duma visita a Budapeste,o seguinte comentário: "A descentração étnica, linguística, cultural e religiosa significa toda uma «história» por resolver (por exemplo, a importante população que fala húngaro e que ficou na Roménia, como se vê no mapa [...])" (Abrupto, 15.5.06) Tenho dificuldade em compreender a posição do Abrupto: por um lado, a aprovação referendária do novo estatuto da Catalunha é considerada "um caminho perigoso", por outro lado, os conflictos étnicos latentes na longínqua Transilvania representam "uma história por resolver". Tentar resolver essa história não seria um caminho perigoso ? Por quê ? Só porque a Espanha está mais perto ? Só porque eventuais "dias quentes" na Hungria e na Roménia não chegariam a ter influência em Portugal ?

(Cristian Barbarosie)

*

Não posso deixar de considerar o seu texto uma manifestação de conservadorismo, no mau sentido do termo. Um medo de mudar nem que seja para se sair de uma situação de injustiça, neste caso a opressão secular de várias nações por um estado imperialista administrativa, culturalmente, etc. Dá-lhe medo que se cumpra um dos princípios consagrado pelas Nações

Unidas, o direito à autodeterminação dos povos. E parece ser um sentimento tão forte e irracional que lhe chega para tirar a conclusão ilógica de que essa independência é prejudicial a um terceiro país, neste caso a nós, Portugal; a conclusão absurda de que quanto maior e mais forte for o vizinho de um pequeno país, melhor será para este último. Isto já não se trata de um julgamento de valor, do direito à autodeterminação dos povos, mas um julgamento de conveniência prática que a ser verdadeira teria levado durante a história a todos os pequenos países desejarem que os seus vizinhos fossem grandes e poderosos.

(Henrique Oliveira)

*

Já em tempos tinha tomado a liberdade de lhe escrever focando o problema que constituía a ausência de qualquer debate estratégico (pelo menos público), em Portugal, sobre a questão das nacionalidades e autonomias de Espanha (e da Península, já agora). Infelizmente, penso o assunto tem sido quase sempre tratado como uma mera questão interna de Espanha e da luta contra o terrorismo da ETA e, mesmo assim, de um modo demasiado emocional: à direita, a sua ala mais radical é quem tem liderado o debate, decalcando as suas posições, de forma imediatista, das posições dos sectores mais conservadores, e também mais emocionais, do PP de Espanha, influenciados pela "Associação de Vítimas da ETA"; à esquerda, demasiado ausente na análise, a emoção ainda remete para a associação da unidade do estado espanhol ao império castelhano, à ditadura franquista e à monarquia do início do século XX. Tudo isto influenciado, por um lado, por uma certa frustração latente no centro-direita em Portugal pelos fracassos dos governos Barroso e Santana Lopes, tentando cavalgar os indiscutíveis sucessos do PP de Espanha durante o governo Aznar; por outro, pelo peso que o pensamento republicano tradicional e as memórias da guerra civil ainda têm em alguns sectores da esquerda e pela associação que sempre se fez das burguesia basca e catalã ao desenvolvimento e ao "progressismo". Em ambos os casos, a ausência de qualquer visão estratégica para Portugal está infelizmente ausente, esquecendo-se que a luta pela unidade/fragmentação da península tem sido uma constante em toda a sua história e que muito pouco distingue um português de um castelhano (muito menos de um galego). Muito menos, certamente, do que o que distingue um basco de um castelhano ou de um catalão... Filho de um madrileno, embora sem sangue espanhol mas com fortes ligações culturais e sentimentais a Espanha, devo ter sido dos poucos portugueses que não foi educado no "ódio a Castela". Por isso, sempre acompanhei a questão das nacionalidades e autonomias peninsulares com um interesse redobrado, mais tarde ainda mais acentuado por contactos profissionais e por um dos meus filhos ter feito parte do seu curso na Universidade Politécnica da Catalunha e uma filha viver e trabalhar actualmente em Madrid. Devo dizer, do ponto de vista estratégico para Portugal, que tenho tudo menos certezas, sendo bem necessário lançar a discussão ignorando o "politicamente correcto" e as emoções. Tenho, contudo, uma certeza: a necessidade de tornar obrigatório o ensino do castelhano na escola portuguesa como segunda língua estrangeira. Sem "ódio a Castela" e sem medo de "perder a pátria" - e antes que se acorde tarde como aconteceu com o Inglês. Quanto a Espanha, o caminho das "nacionalidades" trilhado por Zapatero parece-me inelutável, e só a História dirá até onde. Até porque a direita espanhola não me parece alguma vez ter tido para a questão uma estratégia sustentável, que, com maior ou menor grau de centralismo, fosse muito para além, no limite, da "España Una, Grande Y Libre".

(João Cilia)

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COISAS DA SÁBADO: XADREZ



Nestas alturas de futebolite aguda, volto ao xadrez. Ouço os berros habituais ao longe, muito ao longe, com o “intelectualismo livresco” deste pobre autor que cometeu o crime de lesa-pátria de não saber quem era o Quaresma… Pois eu respondo aos berros anti-livrescos com o xadrez, venham cá pedir meças, num jogo onde nada se esconde, tudo se vê e não é possível fazer batota. Em poucos jogos é mais evidente o carácter, a psicologia do jogador, a sua agressividade ou calma, a sua racionalidade ou criatividade, a sua teimosia ou ousadia. Mas cuidado, porque o xadrez é, num certo sentido, o mais violento dos jogos. No tabuleiro, o que se passa é uma batalha e quem lá está são soldados, cavaleiros, oficiais, fortalezas e uma tenebrosa rainha, O rei é o penhor da soberania mas, por si, pode pouco.

Está lá tudo, no silêncio, naquela aparente suspensão do mundo que torna os jogadores de xadrez figuras míticas, travando uma batalha épica, isolados no meio de um mundo que lhes passa ao lado. Introspectivo e sem a grande teatralização do espectáculo moderno de massas, o xadrez é ainda um dos pináculos das virtudes da inteligência matemática, posicional, territorial, táctica e estratégica.

Valia a pena haver mais xadrez e muito menos futebol. Por um átomo do que estão a gastar no futebol, estado e privados, podiam colocar centenas de escolas a jogar xadrez, milhares de jovens e crianças a pensar com a cabeça e não com os pés. Fica o país melhor? Fica, fica. Não faz mal nenhum usar os neurónios.

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Sem colocar em causa o ponto capital do seu artigo "Xadrez", devo dizer que não concordo consigo quando defende que o desporto a que o mesmo se refere é "um jogo onde nada se esconde, tudo se vê e não é possível fazer batota." De facto, já no tempo da União Soviética, Bobby Fisher - histórico jogador norte-americano - se queixava de que os soviéticos combinavam resultados entre si, de forma a terem maior disponibilidade mental para o derrotar. Tal facto levou-o mesmo a afirmar, em 1963, que não voltaria a participar em
torneios da FIDE.

Por outro lado, o "doping" também existe no xadrez. A título meramente indicativo chamaria atenção para o artigo "O 'doping' inteligente para jogadores de xadrez" publicado no Diário de Notícias a vinte e quatro de Janeiro do presente ano.

(Frederico dos Santos Silva)

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Então V. acredita que estas pobres gentes, mesmo 36 anos depois de Abril, iriam promover o jogo nacional dos patifes dos bolchevistas? E ainda por cima um jogo que estimula o intelecto? Claro que concordo consigo e que me aflijo com um país que vai desbaratando alegrementeo o bem mais precioso de qualquer sociedade: a INSTRUÇÃO.

(José Manuel Calazans)

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Tem razão quando refere que seria mais útil colocar xadrez nas escolas e daí, gastar efectivamente dinheiro nas escolas (a isso chama-se investimento, não?). Mas sabe, isso é pouco mediático, não dá o show do qual o nosso ministro revela dependência, não é imediato. Moldar uma sociedade leva muito tempo, é um trabalho “silencioso” feito nas escolas, e com efeitos para outros tantos mais anos. O continuar a apostar na bola é continuar a adiar o trabalho dos neurónios (como disse). Como fica bem o povo entretido com a bola; assim não pensa! Esta estratégia qual muleta de regimes passados autoritários, continua preocupantemente actual. Parece-me que afinal, desde que partimos do 25 de Abril, o nosso percurso tem sido um círculo, que está prestes, prestes a fechar-se. Se é que me faço entender.

(Sofia Ávila da Silveira)

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RETRATOS DO TRABALHO



P. S. Kroyer, Três Pescadores

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803 - THE BOND OF THE SEA

The Nellie, a cruising yawl, swung to her anchor without a flutter of the sails, and was at rest. The flood had made, the wind was nearly calm, and being bound down the river, the only thing for it was to come to and wait for the turn of the tide.

The sea-reach of the Thames stretched before us like the beginning of an interminable waterway. In the offing the sea and the sky were welded together without a joint, and in the luminous space the tanned sails of the barges drifting up with the tide seemed to stand still in red clusters of canvas sharply peaked, with gleams of varnished sprits. A haze rested on the low shores that ran out to sea in vanishing flatness. The air was dark above Gravesend, and farther back still seemed condensed into a mournful gloom, brooding motionless over the biggest, and the greatest, town on earth.

The Director of Companies was our captain and our host. We four affectionately watched his back as he stood in the bows looking to seaward. On the whole river there was nothing that looked half so nautical. He resembled a pilot, which to a seaman is trustworthiness personified. It was difficult to realize his work was not out there in the luminous estuary, but behind him, within the brooding gloom.

Between us there was, as I have already said somewhere, the bond of the sea.

(Joseph Conrad, Heart of Darkness)

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Bom dia!

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25.6.06


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 25 de Junho de 2006


Solidariedade na Futebolândia: estamos sempre muito preocupados com Timor, muito solidários, mas é só depois do futebol. Hoje, que há notícias importantes sobre Timor, em todos os noticiários dos canais de televisão, esperaram vinte minutos (na Sic a mais rápida), para aparecer. Antes disso havia a não-notícia: o espectáculo da bola antes da bola. É assim, prioridades. E a televisão pública deu o exemplo, continuou com o futebol já a SIC dava notícias.

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802 - "O HOMEM SÓ É SUPERIORMENTE FELIZ QUANDO É SUPERIORMENTE CIVILIZADO"

Ora nesse tempo Jacinto concebera uma idéia... Este Príncipe concebera a idéia de que o “homem só é superiormente feliz quando é superiormente civilizado”. E pôr homem civilizado o meu camarada entendia aquele que, robustecendo a sua força pensante com todas as noções adquiridas desde Aristóteles, e multiplicando a potência corporal dos seus órgãos com todos os mecanismos inventados desde Terâmenes, criador da roda, se torna um magnífico Adão, quase onipotente, quase onisciente, e apto portanto a recolher dentro duma sociedade, e nos limites do Progresso (tal) como ele se comportava em 1875) todos os gozos e todos os proveitos que resultam de Saber e Poder... Pelo menos assim Jacinto formulava copiosamente a sua idéia, quando conversávamos de fins e destinos humanos, sorvendo bocks poeirentos, sob o toldo das cervejarias filosóficas, no Boulevard Saint-Michel.

Este conceito de Jacinto impressionara os nossos camaradas de cenáculo, que tendo surgido para a vida intelectual, de 1866 a 1875, entre a batalha de Sadova e a batalha de Sedan e ouvindo constantemente, desde então, aos técnicos e aos filósofos, que fora a Espingarda-de-agulha que vencera em Sadova e fora o Mestre-de-escola quem vencera em Sedan, estavam largamente preparados a acreditar que a felicidade dos indivíduos, como a das nações, se realiza pelo ilimitado desenvolvimento da Mecânica e da erudição. Um desses moços mesmo, o nosso inventivo Jorge Carlande, reduzira a teoria de Jacinto, para lhe facilitar a circulação e lhe condensar o brilho, a uma forma algébrica:

Suma ciência X Suma potência= Suma felicidade

E durante dias, do Odeon à Sorbona, foi louvada pela mocidade positiva a Equação Metafísica de Jacinto.

Para Jacinto, porém, o seu conceito não era meramente metafísico e lançado pelo gozo elegante de exercer a razão especulativa: - mas constituía uma regra, toda de realidade e de utilidade, determinando a conduta, modalizando a vida. E já a esse tempo, em concordância com o seu preceito – ele se surtira da Pequena Enciclopédia dos Conhecimentos Universais em setenta e cinco volumes e instalara, sobre os telhados do 202, num mirante envidraçado, um telescópio. Justamente com esse telescópio me tornou ele palpável a sua idéia, numa noite de Agosto, de mole e dormente calor. Nos céus remotos lampejavam relâmpagos lânguidos. Pela Avenida dos Campos Elísios, os fiacres rolavam para as frescuras do Bosque, lentos, abertos, cansados, transbordando de vestidos claros.

- Aqui tens tu, Zé Fernandes (começou Jacinto, encostado à janela do mirante), a teoria que me governa, bem comprovada.


(Eça de Queirós)

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Bom dia!

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© José Pacheco Pereira
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