ABRUPTO

26.6.06


COISAS DA SÁBADO: XADREZ



Nestas alturas de futebolite aguda, volto ao xadrez. Ouço os berros habituais ao longe, muito ao longe, com o “intelectualismo livresco” deste pobre autor que cometeu o crime de lesa-pátria de não saber quem era o Quaresma… Pois eu respondo aos berros anti-livrescos com o xadrez, venham cá pedir meças, num jogo onde nada se esconde, tudo se vê e não é possível fazer batota. Em poucos jogos é mais evidente o carácter, a psicologia do jogador, a sua agressividade ou calma, a sua racionalidade ou criatividade, a sua teimosia ou ousadia. Mas cuidado, porque o xadrez é, num certo sentido, o mais violento dos jogos. No tabuleiro, o que se passa é uma batalha e quem lá está são soldados, cavaleiros, oficiais, fortalezas e uma tenebrosa rainha, O rei é o penhor da soberania mas, por si, pode pouco.

Está lá tudo, no silêncio, naquela aparente suspensão do mundo que torna os jogadores de xadrez figuras míticas, travando uma batalha épica, isolados no meio de um mundo que lhes passa ao lado. Introspectivo e sem a grande teatralização do espectáculo moderno de massas, o xadrez é ainda um dos pináculos das virtudes da inteligência matemática, posicional, territorial, táctica e estratégica.

Valia a pena haver mais xadrez e muito menos futebol. Por um átomo do que estão a gastar no futebol, estado e privados, podiam colocar centenas de escolas a jogar xadrez, milhares de jovens e crianças a pensar com a cabeça e não com os pés. Fica o país melhor? Fica, fica. Não faz mal nenhum usar os neurónios.

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Sem colocar em causa o ponto capital do seu artigo "Xadrez", devo dizer que não concordo consigo quando defende que o desporto a que o mesmo se refere é "um jogo onde nada se esconde, tudo se vê e não é possível fazer batota." De facto, já no tempo da União Soviética, Bobby Fisher - histórico jogador norte-americano - se queixava de que os soviéticos combinavam resultados entre si, de forma a terem maior disponibilidade mental para o derrotar. Tal facto levou-o mesmo a afirmar, em 1963, que não voltaria a participar em
torneios da FIDE.

Por outro lado, o "doping" também existe no xadrez. A título meramente indicativo chamaria atenção para o artigo "O 'doping' inteligente para jogadores de xadrez" publicado no Diário de Notícias a vinte e quatro de Janeiro do presente ano.

(Frederico dos Santos Silva)

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Então V. acredita que estas pobres gentes, mesmo 36 anos depois de Abril, iriam promover o jogo nacional dos patifes dos bolchevistas? E ainda por cima um jogo que estimula o intelecto? Claro que concordo consigo e que me aflijo com um país que vai desbaratando alegrementeo o bem mais precioso de qualquer sociedade: a INSTRUÇÃO.

(José Manuel Calazans)

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Tem razão quando refere que seria mais útil colocar xadrez nas escolas e daí, gastar efectivamente dinheiro nas escolas (a isso chama-se investimento, não?). Mas sabe, isso é pouco mediático, não dá o show do qual o nosso ministro revela dependência, não é imediato. Moldar uma sociedade leva muito tempo, é um trabalho “silencioso” feito nas escolas, e com efeitos para outros tantos mais anos. O continuar a apostar na bola é continuar a adiar o trabalho dos neurónios (como disse). Como fica bem o povo entretido com a bola; assim não pensa! Esta estratégia qual muleta de regimes passados autoritários, continua preocupantemente actual. Parece-me que afinal, desde que partimos do 25 de Abril, o nosso percurso tem sido um círculo, que está prestes, prestes a fechar-se. Se é que me faço entender.

(Sofia Ávila da Silveira)

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