ABRUPTO

4.3.06


(Escritos numa terra sem acentos.)
DIFERENÇAS

Mais mesquitas, mais mesquitas em construção.

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(Escritos numa terra sem acentos.)
AO LONGO DE TUDO

Quilómetros de grafiti, ao longo de tudo. Quantas mãos os escrevem, quem passeia por estes locais de difícil acesso, estaleiros, fabricas abandonadas, vedações a cair, locais de lama, aguas suspeitas, bidões amassados. traseiras de tudo, para vir aqui pintar este contínuo de cor, de palavras sem sentido, de desenhos sem curvas, só feitos de ângulos?

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(Escrito numa terra sem acentos.)
A CAMINHO

Neve, corvos, frio, fios, linhas. Campos de neve, névoa, comboios.

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2.3.06


O "HOMEM SECRETO" QUE TINHA UMA "GARGANTA FUNDA"

cover.woodward.jpgUma das grandes histórias do jornalismo do século XX é a da sucessão de notícias que dois jornalistas do Washington Post, Bob Woodward e Carl Bernstein, fizeram sobre o caso Watergate e que levou à demissão do Presidente Nixon. Essa cobertura jornalística de investigação, que chegou a ter tratamento hollywoodesco num filme de sucesso, assentava numa personagem-chave conhecida como "Garganta Funda". A "Garganta Funda", que passava informações a Bob Woodward, tornou-se a mais conhecida das fontes do jornalismo contemporâneo, por um lado pela relevância do caso e, por outro, por ter sido um segredo durante mais de trinta anos, que suscitou muita discussão e inspirou toda uma literatura especulativa, "revelando" nomes e propondo teorias que vieram a revelar-se quase todas falsas. Prefigurada na "Garganta Funda" está a relação ambígua e complexa do jornalismo com as suas fontes, que desde os anos setenta assumiu uma centralidade, mesmo uma "dignidade", que não tivera até então.

A história encerrou-se como notícia em 2005 quando se soube, trinta e três anos depois, quem era a "Garganta Funda". O livro de Bob Woodward The Secret Man, de que está anunciada uma tradução para português, faz um balanço das relações atribuladas do jornalista com a fonte que lhe deu prestígio e glória, e é um interessante relato para compreender a muito especial relação que está no centro de muito jornalismo político.

O "Garganta Funda" era Mark Felt, à data o número dois do FBI, e era difícil encontrar no contexto da época quem estivesse melhor colocado para saber o que se estava a passar na investigação sobre o grupo que fora apanhado a espiar o comité de campanha dos Democratas por conta da Casa Branca de Nixon. Tudo indica que os motivos de Felt para as suas inconfidências jornalísticas eram tudo menos nobres: descontentamento com a sua carreira no FBI, conflitos com o chefe que foi colocado no lugar que entendia ser seu por direito próprio e dificuldade de adaptação à evolução do FBI. Felt é uma personagem antipática, que começa por manter uma relação com Woodward típica de um espião clandestino seguindo as famosas "regras de Moscovo" dos livros de Le Carré, incluindo os célebres encontros nocturnos numa garagem deserta. Woodward, que não percebe nem vê necessidade em tais cuidados, comporta-se como um amador, notando com razão que se sentia como mais um agente de Felt. Este acabou enredado num processo típico do pós-Vietname e do pós-Watergate, que ia levando o alto quadro do FBI à prisão. Felt foi acusado e condenado por ter feito buscas ilegais a cidadãos americanos, no âmbito da investigação do grupo terrorista conhecido como os Weatherman, e só foi salvo in extremis pela evolução política conservadora na Presidência, sendo perdoado por Reagan.

O livro revela vários pormenores interessantes para corrigir alguns mitos correntes. Primeiro, como já se tinha percebido nas análises ao conteúdo das notícias, "Garganta Funda" poucas informações primárias forneceu, apenas indicou pistas para a investigação. Woodward quebrou várias regras tradicionais do jornalismo indo mais longe do que aquilo que sabia de forma fundamentada ou que lhe tinha sido sugerido. É verdade que as indicações de Felt, algumas erradas, acabavam por ser elas próprias informações relevantes dada a credibilidade da sua origem, mas Woodward e Bernstein foram "criativos" com aquilo que sabiam e que não sabiam.
Segundo, mais gente do que se pensava conhecia a identidade da fonte, a começar pelo próprio Nixon e os seus co-conspiradores no caso Watergate, que tinham a certeza de que era Felt que passava informações, e que inclusive tinham eles próprios uma "Garganta Funda" no Washington Post. As gravações secretas que vieram a ser conhecidas das conversas na Casa Branca são conclusivas quanto à identificação de Felt e à impotência que Nixon e os seus sentiam. Eles achavam que fazer qualquer coisa contra Felt poderia provocar uma avalanche de revelações ainda mais perigosa, embora as fugas pudessem ser um crime em si mesmas. Por outro lado, vários artigos, durante os mais de 30 anos de segredo, tinham indicado Felt como sendo o "Garganta Funda", alguns baseados em inconfidências do pequeno núcleo de pessoas que tinham tido acesso à informação genuína (um deles um filho de Bernstein). O próprio Felt jogava um jogo perigoso, sugerindo e negando o seu papel nas fugas. A identidade da "Garganta Funda" só não foi conhecida mais cedo porque a dupla negação de Woodward e Felt fazia hesitar os autores de teorias sobre a identidade do informador do jornal, que quando publicavam se ficavam por generalidades, mesmo quando estavam perto da verdade.

A revelação da identidade da "Garganta Funda" também não é uma história desprovida de ambiguidades. Tudo indica que a uma dada altura Woodward queria encontrar um pretexto para que Felt o autorizasse a revelar quem era "Garganta Funda", mas as suas relações com ele tinham azedado pela cobertura hostil que o Washington Post fizera ao processo das buscas ilegais no caso dos terroristas dos Weatherman. Quando se encontraram de novo, Felt, nos seus oitenta e muitos anos, tinha demência senil e mostrava-se incapaz de dar o seu consentimento para acabar com o segredo. O relato das conversas entre ambos mostra que Felt não tinha verdadeira consciência do que se passava e Woodward hesitou sobre se o facto "de este ser outro homem" justificava a quebra do acordo de manter a sua identidade escondida até à morte.

É notório que apesar de o jornalista querer revelar a sua fonte, acabou por ser ultrapassado pela Vanity Fair, que obteve uma confirmação da família e do advogado da família. Este livro é o resultado de uma corrida contra o tempo para Woodward "agarrar" de novo uma "história" de que tinha acabado por perder o controlo final. A revelação do nome da "Garganta Funda" acabou por ser feita sem o consentimento explícito de Felt, incapacitado de o dar com plena consciência, e com Woodward e Bernstein como personagens secundárias enquanto jornalistas da sua própria história.

Mao Zedong dizia num texto que, numa guerra civil, pouco importava saber os motivos por que um homem estava numa barricada desde que disparasse para o lado certo. Podia ser por amores não correspondidos, por ser suicida, por ser louco ou por ser um revolucionário dedicado, pouco importava. A ideia com que vamos ficar da "Garganta Funda" é parecida com a deste pragmatismo brutal de Mao: ele disparou para o lado certo e ajudou a acabar com uma presidência que não hesitava em cometer as mais flagrantes ilegalidades para sobreviver, não sendo os seus motivos relevantes para avaliar o resultado. Mas nós sabemos que, na relação ambígua entre fontes e jornalistas, os motivos são mesmo importantes e mantêm-se intactos na utilização dada pelo jornalista - ou seja, falar aos jornalistas compensa para quem fala. E, sobre todo este processo, sabemos outra coisa que nos mostra a ironia da história: a presidência Nixon é hoje considerada uma das melhores da história americana recente...

( No Público de hoje)

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DEZ LEIS DO ABRUPTO SOBRE OS DEBATES NA BLOGOSFERA
(Versão 2.0)

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NOTA INICIAL: As Leis aqui transcritas não são nem Mandamentos, nem Regras, nem Instruções Morais, nem Ordens de Serviço, são Constatações, descrevem o modo como os debates na blogosfera se desenrolam. São genéricas e universais. Como todas as Leis dão origem a Excepções, que são elas próprias outras Leis que regulam as Excepções.

Todas as Leis da blogosfera, dada a natureza do meio, só podem ser formuladas de forma irónica, ou seja, absolutamente verdadeira.

Todas as Leis da blogosfera, dada a natureza do meio, serão compreendidas exactamente ao contrário.

Nenhuma destas leis se aplica ao Abrupto, por razões de ordem transcendental ou metafísica.


PRIMEIRA LEI DO ABRUPTO : Evitar discutir a Posição, procurar atacar a Contradição.

NOTA 1 : Ao se passar da Posição à Contradição o debate ganha uma dimensão ad hominem. A maioria dos debates na blogosfera são ad hominem, na tradição da polémica à portuguesa.

NOTA 2: A Contradição é sempre apresentada como uma fraqueza moral. A Contradição é sempre do outro.

NOTA3: Se houvesse só Posições na blogosfera esta tinha um tamanho diminuto. A exposição das Contradições é o grosso da actividade da blogosfera. Os Insultos são outra parte importante. Sem Contradições e sem Insultos quase não haveria comentários.

NOTA 4: O número de comentários num blogue têm relação directa com a natureza da nota se esta for sobre uma Contradição (ad hominem) e inversa se for uma Posição. Num mesmo blogue, as notas que não atacam ninguém não têm comentários e as que atacam alguém estão cheias.

NOTA 5:
Os Ódios de Estimação têm grande representação na blogosfera.



SEGUNDA LEI DO ABRUPTO : A blogosfera é um lugar de fronteira, onde impera a "lei da selva" e o darwinismo social, logo a intensidade da zanga e da irritação na blogosfera é muito superior à da atmosfera.

NOTA 1: A blogosfera não é um local aprazível para os espíritos amáveis.

NOTA 2: A ferocidade dos comentários está em relação directa com o seu anonimato mais o número de comentários produzidos por metro quadrado de ecrã / dia.

NOTA 3: Os comentadores anónimos na blogosfera são na sua maioria Trolls, na sua minoria Curiosos-sérios. A maioria dentro da maioria são Trolls com nick name, profissionais das caixas de comentários. O equilíbrio na blogosfera é mantido pelo número de Trolls que entram e dos Curiosos-sérios que se vão embora, e aproxima-se do ácido das baterias. Todos os blogues podem ser classificados pela escala do pH.

NOTA 4: O genuíno comentador anónimo da blogosfera desejaria não ser anónimo, mas muito conhecido. No entanto, tem medo de pôr o nome e, se o assinasse com ele, não teria coragem de escrever o que habitualmente escreve. O nick name é a solução para ter nome não o tendo. O comentador com nick name, deseja ao mesmo tempo ser anónimo e ter uma identidade como comentador, reconhecida inter-pares nas caixas de comentários.

NOTA 5: O comentador anónimo com nick name escreve compulsivamente em todas as caixas de comentários abertas que encontra, escolhendo de preferência as dos blogues com mais leitores. A actividade do comentador anónimo nas caixas de blogues com mais leitores é idêntica à das rémoras.

NOTA 6: Os comentadores anónimos seguem em absoluto a PRIMEIRA e a SEXTA LEI DO ABRUPTO .

NOTA 7: Os Trolls nas suas várias incarnações são o proletariado da blogosfera e os principais garantes da QUINTA LEI DO ABRUPTO.

NOTA 8: Os comentadores Curiosos-sérios têm uma vida curtíssima na blogosfera. São os "inocentes-utéis". Se continuarem inocentes acabam por fugir a sete pés. Os que não fogem perdem a inocência e ou abrem blogues ou tornam-se Trolls por impregnação do meio .




TERCEIRA LEI DO ABRUPTO : A esmagadora maioria dos temas, comentários, reacções, alinhamentos, posições é absolutamente previsível.


NOTA 1: Na blogosfera não há surpresas.

NOTA 2: A falta de previsibilidade é punida na blogosfera como Contradição (ver PRIMEIRA LEI DO ABRUPTO), ou como "deslealdade orgânica".



QUARTA LEI DO ABRUPTO : A blogosfera tem horror ao vazio.

NOTA 1: Na blogosfera está sempre a maior parte de cada um, o seu ego, que costuma ocupar um grande espaço. Ainda cabe o Super Ego e o Id. Logo, não há espaço para mais nada.

NOTA 2: A blogosfera é compulsiva. A blogosfera é obsessiva. Pode-se ficar doente de uma longa exposição à blogosfera.

NOTA 3: Os blogues colectivos morrem por implosão, os individuais por cansaço.

NOTA 4: A nota anterior é enganadora. Os blogues nunca morrem, são fechados e abertos logo a seguir com outro nome. Um lugar de um blogue é sempre preenchido por outro do mesmo autor, quando é individual, ou do mesmo tipo quando é colectivo.

NOTA 5: Quando um blogue deixou de ter sucesso na opinião do seu autor, é morto por ele e aberto outro logo a seguir. O objectivo da morte anunciada é dar oportunidade ao seu autor de ler as necrologias em vida e saber a falta que faz. As necrologias em vida funcionam como massagem do ego.

NOTA 6: Separações, zangas, divórcios, saídas intempestivas, infidelidades, traições, violações da "lealdade orgânica", seguem nos blogues as mesmas regras das bandas de música rock. Faz-se fama em conjunto, quer-se logo fazer um disco a solo.



QUINTA LEI DO ABRUPTO : A blogosfera é a Aldeia dentro da Aldeia Global, todos são vizinhos, todos sabem tudo de todos, todos zelam activamente o cumprimento da regra principal da Aldeia: o igualitarismo tem que ser absoluto.


NOTA 1: Se eu faço também tu tens que fazer. Se tenho comentários também tu tens que ter. Se faço muitas ligações, também tu tens que fazer. Se eu tenho contadores também tu tens que os ter.

NOTA 2: A patrulha da igualdade é uma das actividades mais generalizadas na blogosfera.

NOTA 3: Na blogosfera há luta de classes.

NOTA 4: Os contadores são um instrumento da luta de classes. Uns são colocados em cima, outros no meio, outros no fim. Há mil e um truques disponíveis para quem sabe, e todos são usados.

NOTA 5: O mundo ideal seria estar no Blogger.com e ter o contador do Weblog.pt.



SEXTA LEI DO ABRUPTO : Na blogosfera o lixo atrai o lixo.



SÉTIMA LEI DO ABRUPTO : O tribalismo é a doença infantil da blogosfera.

NOTA 1: Os blogues são grupais, precisam imenso de companhia.

NOTA 2: A blogosfera tem evoluído do amiguismo para o grupismo e deste para o tribalismo. Permanecem, no entanto, leis de desenvolvimento desigual.

NOTA 3: Os blogues atacam em grupo.

NOTA 4: As afinidades são muito frágeis na blogosfera devido ao ambiente ácido que corrói os elos normalmente muito débeis entre blogues e dentro dos blogues colectivos entre os seus autores. (Veja-se a NOTA 6 à QUARTA LEI DO ABRUPTO)



OITAVA LEI DO ABRUPTO : O que vale na blogosfera tem que valer na atmosfera.

NOTA 1: Não basta ser capaz de respirar - no ciclo completo da respiração (inalação e exalação) - ácido, é preciso ser capaz de respirar ar.

NOTA 2: Na atmosfera a parte que mais se parece com a composição química do ar da blogosfera é o jornalismo. A maioria da comunicação entre a blogosfera e a atmosfera faz-se por esse micro-clima.

NOTA 3: No corredor que une a blogosfera à atmosfera há, em ambos os lados das portas, Guardiões. Os Guardiões combatem com textos, notas e artigos e o ocasional inquérito.

NOTA 4: Uma vez por mês, pelo menos, um dos Guardiões do lado do jornalismo publica um artigo explicando por que razão a blogosfera não tem importância nenhuma para ninguém.

NOTA 5: Os Guardiões do lado da blogosfera afirmam que esta é o centro do mundo civilizado, em relação directa com o número de vezes que o seu blogue é citado na atmosfera.

NOTA 6: Há um pequeno grupo de Guardiões Insatisfeitos que acham que a atmosfera só dá importância aos blogues seus "inimigos" (veja-se NOTA 5 da PRIMEIRA LEI DO ABRUPTO), e por isso passam-se para o outro lado e também escrevem, pelo menos uma vez por mês, que a blogosfera é irrelevante. A SEXTA LEI DO ABRUPTO explica as sinergias.



NONA LEI DO ABRUPTO : O carácter lúdico dos blogues diminui à medida que a importância da blogosfera aumenta na atmosfera.

NOTA 1: O carácter lúdico dos blogues é cada vez mais afectado pela imposição de etiquetas e por uma crescente normatividade na blogosfera.

NOTA 2: Os blogues colectivos são mais propensos à normatividade do que os individuais, pela necessidade de se auto-gerirem.

NOTA 3: O carácter lúdico dos blogues diminui à medida que as agendas mediáticas se tornam dominantes. Na formulação dessas agendas há hoje um contínuo blogosfera-atmosfera.



DÉCIMA LEI DO ABRUPTO SOBRE OS DEBATES NA BLOGOSFERA: A blogosfera não se consegue ver ao espelho.

OUTRA FORMULAÇÃO: A blogosfera tem em comum com os vampiros não se conseguir ver ao espelho.

NOTA 1: Os blogues que representam a Excepção a esta regra seguem Alice e entram pelo espelho dentro. Esses blogues jogam xadrez com a atmosfera. Nem sempre ganham.


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LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES)
(2 de Março de 2006)


___________________________

Detail from a Rembrandt self-portrait
Artigo do Guardian sobre as faces de Rembrandt, sobre Rembrandt como "topographer of the human clay".

*

Para a história dos sempre presentes fantasmas da cultura francesa, às contas com o seu passado "colaboracionista", esta nota "Corneille en chemise noire" de Assouline no La République des Livres:
"Je ne suis pas de ceux qui jettent un voile prétendument pudique sur l'oeuvre littéraire (Drieu La Rochelle) ou historique (Jacques Benoist-Méchin) des collaborateurs de l'occupant, livres que je n'ai jamais cessé de lire et de relire -dans leur édition d'origine si possible afin d'éviter tout trucage pauvertien. La dégueullasserie de ses Décombres ne m'a jamais empêché d'apprécier le Rebatet des Deux étendards ou de l'Histoire de la musique ; l'ignominie de certains textes de Brasillach ne m'a pas écarté de Notre avant-guerre, non plus que de son Histoire du cinéma écrite avec Maurice Bardèche ; pour ne rien dire de l'oeuvre de Céline que je place au plus haut malgré Céline ; que ceux que cela intéresse se reportent au Fleuve Combelle, petit livre écrit autrefois pour tenter d'y voir clair en moi à ce sujet, ou à L'épuration des intellectuels. Mais quelle urgence absolue, quelle nécessité impérieuse, ont-elles commandé de rééditer en 2006 ce Corneille très daté, au moment même où l'on publie, de surcroît sous la même marque, une biographie complète s'appuyant sur les travaux les plus récents ?"

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SCRITTI VENETI


Canaletto, O Grande Canal visto do Palazzo Balbi

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EARLY MORNING BLOGS 731

XXV


Quantos em ti lagos e rios
Quantos em ti os oceanos

Água vermelha que aos ouvidos
traz o aviso
de nenhuns campos

É bom sondarmos os abismos
que nunca vão cicatrizando

E ao som da água pressentirmos
de onde provimos
aonde vamos


(David Mourão Ferreira)

*

Bom dia!

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1.3.06


RETRATOS DO TRABALHO NO MÉXICO



A foto que lhe envio foi efectuada no ultimo domingo ao fazer um passeio a umas Lagoas situadas a 25 Km a Sul de Tulum-México, o "Don Vicente" trabalha como guia, toda a vida trabalhou na Selva, guiando turistas aos lugares mais escondidos da selva mostrando Cenotes que sao cavernas de Água doce onde o Povo Maya efectuava rituais e sacrificios, desde há 5 anos para cá conseguiu que o governo lhe desse uma licença oficial para guiar o seu pequeno barco e fazer passeios turisticos pelas lagoas junto à Selva onde nos conta um pouco da história do Povo Maya. Durante todo o passeio fotografei-o várias vezes, claro que com o seu consentimento, mas em nenhumas das várias fotos ele olhou directamente para mim, talvez seja uma defesa de nós os "turistas".

(Miguel Lopes)

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28.2.06


LENDO / VENDO /OUVINDO
(BLOGUES, JORNAIS, TELEVISÕES, IMAGENS, SONS, PAPÉIS, PAREDES)
(28 de Fevereiro de 2006)


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Novos descobrimentos: na noite, Mimas passa em frente de Saturno. Percebe-se o frio.


*

No Guardian as guerras de livros e autores à beira dos prémios.

*

Bom retrato de Sócrates feito por Valupi no Aspirina B:
"Sócrates é muito irritante. Tem uma pose sempre no limite da arrogância possidónia, tendência que se tem agravado com a idade e os papéis do poder. Mas Sócrates torna-se simpático quando se irrita; o que lhe acontece com facilidade, de resto. Aí, o seu temperamento sanguíneo tem uma genuinidade que se distingue dos artificialismos da circundante pandilha. Sente-se-lhe o gosto em passar responsos paternalistas, exercício que atinge o auge quando a vítima é Marques Mendes. A sua voz também se modula de acordo com a bancada do interlocutor: o CDS é tratado com indiferença fria, o PSD com agressividade cúmplice, o PCP com petulância agastada e o Bloco com bonomia agreste.
*
O que Valupi diz de Sócrates é apenas a confirmação do que diz o nosso clássico Vieira: "Se olharmos para as coisas com simpatia, até um cisne preto nos parece branco; se olharmos, com antipatia, até uma rato branco nos parece preto."

(João Boaventura)

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EARLY MORNING BLOGS 730

Henri quatre

Henri quatre
Voulait se battre
Henri trois
Ne voulait pas
Henri deux
Se moquait d'eux
Henri un
Ne disait rien.

("Comptine" anónima)

*

Bom dia!

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27.2.06


RETRATOS DO TRABALHO NOS OLIVAIS - LISBOA, PORTUGAL



Envio-lhe uma foto do trabalho duro de dois imigrantes de leste de Sábado à tarde, dia 25 de Fevereiro de 2006, enquanto a maioria da população de Lisboa se fazia à estrada para comemorar o Entrudo ou andava em roda viva para comprar os fatos de Carnaval a preços chorudos em centros comercais. Chovia torrencialmente a rua estava deserta e esses dois homens colocavam pedra a pedra a calçada da minha rua um. Um deles não tinha mesmo impermeável e estava encharcado. Envio-lhe a foto para que seja um pequeno tributo aos imigrantes que ajudam a desenvolver o meu país com trabalho muito duro e em condições muito difíceis. O grau de desenvolvimento de um país também se vê na forma como reconhece e integra aqueles que por aqui quiseram procurar uma vida melhor.

(Renato Gonçalves)

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EARLY MORNING BLOGS 729

Coccinelle vole

Coccinelle vole
Va-t'en à l'école
Prends donc tes matines
Va à la doctrine.

("Comptine" anónima)

*

Bom dia!

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26.2.06


RETRATOS DO TRABALHO EM TIMOR-LESTE



Um grupo de alunas da Universidade Nacional de Timor-Leste depois de uma aula, falando sobre o futuro de Timor. No quadro negro pode ver-se uma frase com que eu havia intrigado os alunos, solicitando-lhes que descobrissem o que queria dizer em português. Quando descobriram, fizeram questão de a escrever naquele quadro que estava na minha sala de trabalho, gabinete frequentado pelos estudantes, onde tínhamos grandes conversas sobre as suas dificuldades, sobre as suas ansiedades, medos, esperanças, e ali ficou durante um ano. Carpe diem. Aproveitem o dia. Era assim que nos cumprimentavamos, Carpe Diem. No meio de tanta ambiguidade, de tanta dificuldade, era necessário aproveitar o dia, estudar, trabalhar, lutar, mas também criar amizades, solidariedades, fortalecer a paz. Esta farse ganhava ali mais sentido do que uma mera cópia romântica e paternalista do Clube dos Poetas Mortos.

(Ângelo Eduardo Ferreira)

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RETRATOS DO TRABALHO NO SUL DE PORTUGAL


Obras.

(António Filipe Meira)

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O ABRUPTO FEITO PELOS SEUS LEITORES: LIÇÃO DE POPULISMO



No dia do primeiro aniversário da vitória com maioria absoluta pelo PS (20.02.2006) assistimos nas televisões a uma exibição de populismo de cátedra pelo Eng.º José Sócrates e governantes da educação:

1) Anunciou o primeiro-ministro o alargamento das aulas de substituição ao ensino secundário (10º-12º anos) num dia em que se iniciava uma semana greve de professores às mesmas, depois de numa greve anterior (18.11.2005) a ministra da educação ter publicado um texto «coincidente» com a data no PÚBLICO e no DIÁRIO DE NOTÍCIAS ser levantada, também nesse dia «oportuno», a questão das faltas dos professores. Começa a ser uma estratégia doentia ou então são coincidências a mais. Não vejo diferenças de fundo entre isso e a intervenção do primeiro-ministro sobreposta à de um candidato na noite eleitoral das presidenciais. No último caso admito que pode ter sido acidental, mas também não se podem deixar de assinalar outras atitudes comparáveis que revelam a estratégia de afirmação de um governo do qual o Eng.º José Sócrates é o primeiro responsável. Nada de novo nesta forma de atropelar a dignidade dos outros. Em democracia os processos valem tanto quanto os resultados. Não sou sindicalizado, concordo com as aulas de substituição, dou com prazer aulas de substituição, não fiz greve e, no entanto, não compreendo certas práticas.

2) Anunciam-se avanços sem se fazer uma ponderação minimamente séria de como decorrem as aulas de substituição no básico. Isso tem uma designação: fuga em frente, um vício de longa duração nas políticas educativas. Qualquer correlação entre melhorias substantivas na qualidade do ensino e a generalidade das medidas que o governo tem implementado, em especial as aulas de substituição, só mesmo se andássemos distraídos. A não ser que se considere que o problema do ensino é essencialmente orçamental. Mas se assim for preferiria viver numa república de contabilistas-governantes. Enquanto o centro da questão, a sala de aula, se mantiver como está (e não se prevê que mude com o rumo que as políticas tomaram), o que se «reformar» terá efeitos meramente laterais ou circunstanciais. Cá estarei daqui a meia dúzia de anos, se estiver vivo, para tentar explicar porque, uma vez mais, se falhou.

3) O governo tem-se mexido muito (reorganização da rede escolar, aulas de substituição, revisão da progressão nas carreiras, etc. – medidas que têm de ser tomadas, sem dúvida), mas foge dos problemas estruturais: indisciplina (não se vislumbra que o problema tenha sido assumido, tal como se teve de assumir o défice público, e que exista uma estratégia, boa ou má, para enfrentá-lo e, se calhar, teremos de esperar largos anos para, outra vez, se actuar tarde e mal), facilitismo das avaliações (enquanto o país insiste na incapacidade de discutir de modo sustentado e plural a questão dos exames nacionais no básico e no secundário porque uns quantos «especialistas» os desvalorizam, o governo reproduz medidas de promoção do facilitismo como o Despacho Normativo 50/2005), estruturas curriculares ineficazes (só não vê quem não quer).

4) Tal qual os populistas que falam «por cima» e atropelam as elites alegando que os interesses do «povo» estão em primeiro lugar, este governo insiste em falar «por cima» dos professores, encarnando a «vontade» dos alunos, dos encarregados de educação (com se não houvesse professores-progenitores-encarregados-de-educação nos mais de 100.000 profissionais) e da escola (cuidadosamente, ao menos, nessa palavra os governantes não ousam incluir os professores). Depois de marginalizados pelos discursos dos líderes sindicais, os professores de sala de aula são confrontados com uma nova versão: um governo que refinou e monopolizou o autismo estrutural do sistema. Nunca dei por um verdadeiro pluralismo na educação. Ora uns, ora outros.

5) Directa ou indirectamente, este discurso governamental ao referir apenas «os sindicatos» (e mesmo esses convinha discriminá-los) e ao omitir os professores, não estabelecendo uma distinção entre uns e outros (talvez porque, honestamente, não sinta legitimidade para tal), permite que socialmente se instale uma percepção pública que mete tudo no mesmo saco, numa área tão complexa quanto a do ensino (veja-se o artigo primário da autoria de Filomena Martins na SÁBADO de 23.02.2006, p.67). Além disso, a negação sistemática e mesmo obsessiva do papel social dos sindicatos (concorde-se ou não com eles), representados no simplismo retórico do primeiro-ministro (e de alguma imprensa) como «os maus da fita», em prol de um omni-representativo governo na área da educação, constitui uma óbvia deriva populista inimaginável num governo dito de esquerda se recuássemos um ano. A «burguesia, os ricos, os poderosos» foram finalmente descodificados: os sindicatos. Já nem sei se a esquerda que governa tem alguma coisa a ver com Marx.

6) Todavia, a sobranceria do primeiro-ministro e do governo tem muito a ver com uma oposição que, dia-a-dia, vai justificando o contrário daquilo para que existe: apesar de tudo, com esta oposição (não generalizo, mas refiro-me em concreto à área da educação), justifica-se a maioria absoluta do Eng.º Sócrates e a acção «notável» da ministra da educação.

(Gabriel Mithá Ribeiro)

*
Toda a gente ligada à educação sabe que a decisão do Governo relativamente às aulas de substituição está ligada a um número que recentemente surgiu nos media: o de que a taxa de abstencionismo dos professores do ensino básico orça os 10%. Ora, sendo sobejamente evidentes os prejuízos que tal prática acarreta sobre a educação das crianças, das duas uma: ou o Governo, entidade abstracta que para o efeito teria de tomar a forma concreta de uma qualquer entidade inquisitorial e disciplinar, a puniria, ou criava mecanismos, similares aos já institucionalizados pelo costume em muitas Universidades, para que sejam os próprios pares dos abstencionistas a criarem uma moral menos transigente para com esse relaxe. Fazendo-os ocupar os tempos lectivos que os colegas abstencionistas abandonam. No fundo, trata-se de afirmar uma coisa muito simples e justíssima aos docentes: “faltem se quiserem, mas as crianças não podem ficar abandonadas e alguém tem de tomar o lugar dos faltosos”!
Evidentemente que as aulas de substituição não são a melhor solução para o abstencionismo de alguns docentes. A melhor solução seriam medidas punitivas fortemente dissuasoras de tal prática. Mas e o seu custo político? E a sua implementabilidade prática? Enquanto o relaxe for uma cultura dominante ou pelo menos tolerada, é difícil imaginar melhores soluções!
Misturar este problema com o da qualidade das salas de aulas ou com o facilitismo não ajuda nada. Cada problema de sua vez. Até por que se não começar por instaurar uma cultura de auto-exigência entre os docentes, nada se conseguirá realizar com eles.
A maioria dos portugueses apoia esta política. Por que é populista? Não, por que é cristalinamente necessária. Ou qual é a alternativa?
Pessoalmente, gostaria de acrescentar o seguinte: não pertenço ao clube do 1º Ministro nem a clube nenhum. E tanto se me dá que seja o Engº Sócrates como o Dr Marques Mendes a fazer o que é necessário na educação. Mas como nas últimas décadas ainda ningém se interessara em fazer coisa alguma nesta matéria, por mim, apoio! E comigo, segundo as sondagens, a maioria dos portugueses!

(José Luís Pinto de Sá)
*
Por outro lado, quero fazer uma observação relativa ao excelente texto do seu leitor Gabriel Mithá Ribeiro, que faz referência «facilitismo das avaliações». Quero apenas acrescentar que uma das causas desse facilitismo consiste em querer-se diminuir o insucesso escolar. Mas se analisarmos o conceito subjacente de «insucesso», o que se torna óbvio é que ter sucesso é passar de ano e não, como se poderia pensar, ter-se aprendido novos factos ou desenvolvido novas competências. Considero obscena esta noção de sucesso. E se a aplicássemos a outras áreas? Vamos medir o sucesso de um político unicamente pelo número de eleições que ganha, independentemente do modo como o fez e de como exerceu o cargo para que foi eleito? Vamos medir o sucesso de um presidente de um clube de futebol unicamente pelo número de campeonatos ganhos, sem pensar em eventuais subornos e outras falcatruas? Já agora, porque não medir o sucesso de um professor pelo número de alunos que não reprova? Parece-me que faria perfeitamente sentido, pela mentalidade em vigor.

(José Carlos Santos)

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RETRATOS DO TRABALHO NA SERRRA DA ESTRELA, PORTUGAL


Pastores conduzindo um rebanho - Vila Soeiro / Guarda - região da Serra da Estrela, 2006.

(António Ruivo)

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EARLY MORNING BLOGS 728

The Limerick Packs Laughs Anatomical

The limerick packs laughs anatomical
Into space that is quite economical.
But the good ones I’ve seen
So seldom are clean
And the clean ones so seldom are comical.

(Anónimo)

*

Bom dia!

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