2221 - The Tragic Condition of the Statue of Liberty
A collaboration with Emma Lazarus
Give me your tired, your poor,
Your huddled masses yearning to breathe free,
The wretched refuse of your teeming shore.
Send these, the homeless, tempest-tost to me,
I lift my lamp beside the golden door!
Give me your
gentrificatees of the Lower East Side including all the well-heeled
young Europeans who’ll take apartments without leases
Give me your landlords, give me your cooperators
Give me the guys who sell the food and the computers to the public schools in District One
Give me the IRS-FBI-CIA men who don’t take election day off
Give me the certain members of the school board & give me the district superintendent
Give me all the greedy members of both american & foreign capitalist religious sects
Give me the parents of the punk people
Give me the guy who puts those stickers in the Rice Krispies
Give me the doctor
who thinks his time is more valuable than mine and my daughter’s &
the time of all the other non-doctors in this world
Give me the mayor, his mansion, and the president & his white house
Give me the cops who
laugh and sneer at meetings where they demonstrate the new uses of mace
and robots instead of the old murder against people who are being
evicted
Give me the landlord’s sleazy lawyers and the deal-making judges in housing court & give me the landlord’s arsonist
Give me the known & unknown big important rich guys who now bank on our quaint neighborhood
Give me, forgive me, the writers who have already or want to write bestsellers in this country
Together we will go to restore Ellis Island, ravaged for years by wind, weather and vandals
I was surprised and
saddened when I heard that the Statue of Liberty was in such a serious
state of disrepair & I want to help
This is the most generous contribution I can afford.
O QUE SE VAI SABENDO, MESMO QUANDO JÁ SE SABIA (4)
O que é que move isto tudo? A resposta é a mais estandardizada que há: o dinheiro. Nem sequer é o poder, porque os poderes em Portugal, fora das vantagens que deles podem vir, são fraquinhos.
Nesta altura em que estou a escrever e na altura em que me estiverem a ler, coisas semelhantes estão a ser feitas por todo o lado. É como se fosse uma respiração tão habitual, que quem assim respira não dá por ela, nem se apercebe bem do que está a fazer. Só quando subitamente se dá um desastre, como seja tudo isto aparecer num computador ou telefone errado, então é que cai o Carmo e a Trindade.
Mas cai por pouco tempo, porque será sol de pouca dura. Nem há forte condenação social, nem institucional, pelo que, passados os apertos destes dias, tudo voltará à normalidade. A qualidade dos mandantes e dos mandados, a nossa claustrofobia social, o amadorismo e facilitismo de uma sociedade sem exigência, as carreiras feitas de favores e obediência aos poderosos, a escassez de bens e empregos para muita fome e ambição, criam um sólido cimento que ninguém quebra.
O QUE SE VAI SABENDO, MESMO QUANDO JÁ SE SABIA (3)
O que é que os vemos fazer nessa respiração quotidiana? Telefonarem-se, trocarem mensagens e SMS a cada minuto que passa, num fluxo de pedidos, favores, trocas de informações, negociação de notícias, ou bloqueamento de notícias. Trocam entre si “bons ofícios”, pedidos de favores para si ou para a família, espionagem de fraca qualidade, indiscrições e intrigas. Agências de comunicação e marketing feitas da mesma massa e das mesmas pessoas, aliás as mesmas que recorrentemente aparecem (agências de comunicação e grandes escritórios de advogados são dois dos “serviços” obrigatórios deste “middle power” ), e obscuras empresas de “informação reputacional”, com acesso a dados de polícia e serviços de informação, associados em operações de manipulação da Internet com centenas e centenas de falsas mensagens de Twitter ou comentários falsos colocados em blogues ou artigos de jornais que não são moderados. Não é novidade nenhuma, mas fica aqui uma confirmação de como é feita uma guerra tóxica na Internet em Portugal, insisto em Portugal. Alguns ingénuos que acham que comentários não moderados são uma forma de democracia ou que acham que as redes sociais servem para “medir” a opinião, deveriam ler tudo isto com atenção. Não há aqui inocência nenhuma, e não me surpreende ver alguns dos propugnadores da Internet selvagem participar com empresas fantasmas em campanhas pagas para manipular a opinião.
O QUE SE VAI SABENDO, MESMO QUANDO JÁ SE SABIA (2)
Os círculos são os habituais: os lugares de estado capturados pela ganância, os círculos políticos movidos pela influência e pelo acesso a informações, gabinetes e pessoas; sociedades discretas e secretas que funcionam como locais de concentração e distribuição de poderes, cargos e dinheiros; empresas que prosperam numa zona obscura entre Angola, Cabo Verde, Portugal, onde generais e familiares dos governantes corruptos africanos se tornam “grandes empresários” e enviam param Portugal milhões para lavagem, coisa que prestimosos bancos de famílias com nome, se prestam sem pestanejar a fazer; ou então empresas que vivem da decisão política, seja de governantes seja de autarcas, e que por singular coincidência são as empresas onde trabalham mais políticos, ex-políticos e futuros políticos. Ambiente, resíduos, energias renováveis, obras públicas, etc., etc., E os jornalistas, que de há muito tempo chamo a atenção de que são, - salvo honrosas excepções, mas excepções, - parte deste contínuo de poder “médio”, quer através da promiscuidade com políticos que os chamam como assessores, os devolvem depois às redacções e os nomeiam para cargos na comunicação social do estado ou em entidades reguladoras, quer através de serviços prestados a agências de comunicação social, cuja relação com os profissionais da comunicação social é tudo menos transparente. No meio disto tudo, abundam políticos, assessores, jornalistas, “consultores”, com acesso aos nossos frágeis corredores do poder, ocupados por gente igual, quando não circulante entre funções que fazem parte do mesmo contínuo.
A tempestade perfeita do futebol atingiu a SICN e todas as outras emissoras (a começar pela RTP que é suposto ser um "serviço público" e ter uma programação distinta, mas que é a primeira a passar horas e horas de logomaquia futebolística...) . Por isso, os horários de todos os programas estão generosamente subvertidos. A Quadratura do Círculo passa às quintas-feiras, às 20 horas, e o Ponto Contraponto, às 9.30 de domingo. As repetições de madrugada no horário do galo não foram afectadas. Passada a tempestade, as coisas voltarão ao normal.
Os factos referidos nos artigos da Visão e da Sábado da semana passada sobre o “caso Silva Carvalho” deveriam merecer mais atenção do que apenas a controvérsia sobre a implicação de Miguel Relvas no assunto. Deixo de parte a muito significativa paixão que a opinião ilustrada tem agora pelos eufemismos, chamando “contradições” e “inverdades” à mentira, e o correlativo medo das palavras simples, para analisar essa slice of life que as mensagens, SMS, encontros, revelam.
Revelam em primeiro lugar como funciona habitualmente uma parte da nossa elite de poder. Não estamos a falar dos bas fonds, pela simples razão que não há outros fonds que não sejam esses. A relação entre os de cima e os de baixo é mais correctamente dada pela metáfora inglesa do upstairs e do downstairs. Trata-se não de toda a elite, mas sim do funcionalismo político-partidário-jornalístico da elite, visto que a elite que assim se considera, - sem nunca se designar como tal, - não mete as mãos na lama, manda meter. O que nós pudemos ler nessas revistas, foi o sucessivo toque de campainhas e de telefones internos que transmitem as ordens e os pedidos, entre os andares médios e os de baixo se houver cave e os de cima se houver mansarda. Os andares médios aparecem noutros processos e noutras “operações” como a “Furacão”, ou a actual de fuga de capitais para a Suíça.
Disse “habitualmente” para que não se pense que tudo o que lá vem retratado é excepcional, bem pelo contrário, é o dia-a-dia. Num certo sentido é um remake das conversas dos “socráticos” de há dois ou três anos, que estão no processo das sucatas, no Freeport, no Taguspark, e nas manigâncias à volta da TVI. É tudo a mesma coisa, o mesmo tipo de personagens, quando não são as mesmas, o mesmo trade off, a mesma corrupção de mentes e corpos, a mesma promiscuidade, o mesmo soberano desprezo por leis, regras, procedimentos, a mesma cupidez, pequenez e mesquinhez. E há mais palavras terminadas em “ez” para usar aqui.
When I was home de
Sunshine seemed like gold.
When I was home de
Sunshine seemed like gold.
Since I come up North de
Whole damn world's turned cold.
I was a good boy,
Never done no wrong.
Yes, I was a good boy,
Never done no wrong,
But this world is weary
An' de road is hard an' long.
I fell in love with
A gal I thought was kind.
Fell in love with
A gal I thought was kind.
She made me lose ma money
An' almost lose ma mind.
Weary, weary,
Weary early in de morn.
Weary, weary,
Early, early in de morn.
I's so weary
I wish I'd never been born.
Um
dos argumentos que circulam para legitimar a política dos nossos dias é
o de que temos que actuar no sentido de não onerar as gerações futuras
com os encargos do presente. Em si é um truísmo, que vale o mesmo que
todos os truísmos, ou seja, pouco. A verdade deste truísmo é
auto-evidente: cada geração, a seu modo, "hipoteca" o futuro para viver o
presente. Pode depois discutir-se o grau dessa "hipoteca", e considerar
que ela é demasiado onerosa e desequilibrada, a favor das gerações do
presente, destruindo as possibilidades de gerações futuras terem uma
vida decente. O problema existe e é real, mas em democracia não pode ser
colocado assim: o modo como se actua no presente tem um conjunto de
regras e condicionantes. O "futuro" não entra deste modo no presente,
nem a ideia de que o presente deixa "heranças" para o futuro pode ser
vista de forma linear, porque não só há muitas "heranças" ao mesmo
tempo, como também o "futuro" escolhe muitas vezes desenvolver-se por
vias muito diferentes das que nós pensamos no presente ele ir ter.
O
dilema destas coisas é que em democracia nunca há "futuro" no presente,
como também não há qualquer garantia de que as escolhas eleitorais
sejam as "melhores", nem que sejam necessariamente corrigidas no próximo
acto eleitoral. O sistema político que entrega aos cidadãos as decisões
fundamentais pelo voto, que subordina os resultados eleitorais a uma
lei e a um direito que teve ele próprio uma origem no voto, e que se
sustenta por um conjunto de princípios ideológicos, aceites livremente
pelos homens, como é o caso dos chamados "direitos do homem", não vive
no futuro, mas no presente. Pode tomar decisões com um enorme impacto no
futuro, mas não as toma em nome desse "futuro", a não ser pela mediação
da ideologia ou da religião.
Numa democracia não há teleologias
da história, não há utopias do futuro, não há "paraísos celestes", onde
o homem pode alcançar o que não conseguiu nesta terra, mas apenas a
"ideia nova" que a Revolução Francesa trouxe, a da "felicidade". E a
felicidade não se vive no futuro, nem o "bem comum" dos presentes pode
ser moldado ao hipotético "bem comum" do futuro. Nem, aliás, os
eleitores deixam, porque nunca votam em sacrifícios do presente, em nome
do bem-estar hipotético do futuro. Pode ser uma das grandes
imperfeições da democracia, mas é assim que as coisas funcionam e o modo
como se pretende "corrigir" esse defeito leva a sistemas totalitários e
a uma destruição do "futuro" muito mais acentuada do que a imperfeição
do presente.
Em democracia, não há política que não seja feita
para os homens do presente, para a vida que eles têm e não para a que os
seus filhos irão hipoteticamente ter. E digo sempre "hipoteticamente"
porque o modo como escolhemos o futuro e as suas condicionantes tem
muito a ver também com as opções do presente, para as pessoas do
presente. Como, insisto, não há "paraísos celestes" em democracia, tudo é
terrestre, decidido e feito para hoje. Aliás, é mesmo assim que actuam
os que nos falam das "gerações do futuro". O argumento circulante é por
isso ideológico, implica alguns pressupostos que são pouco democráticos,
e é traduzido por políticas para o presente e só para o presente. É por
isso que o argumento da "herança" é instrumental na política do
presente e pouco tem a ver com o futuro, muito menos com os nossos
"herdeiros". A realidade é que ninguém sabe o que vai moldar o futuro,
muito menos se são essas opções feitas em seu nome que serão as
determinantes.
Vamos à questão da "herança", que aparece no
discurso político actual apenas associada à dívida e aos seus encargos,
assim como a rendas e pagamentos futuros, como é o caso dos que decorrem
das PPP. Este é um facto impossível de negar e tem todo o sentido
trazê-lo à discussão do presente. Porém, convém fazer essa discussão de
modo diferente da que se faz nos dias de hoje. O modo como este
argumento é usado pelos propagandistas do Governo é, como disse antes,
justificar as medidas do presente, e no caso actual todas as medidas do
presente, em nome das "gerações futuras". É um discurso político de
legitimação que instrumentaliza uma parte dos factos para justificar
políticas concretas, mas, quando analisado, usa a "herança" como
"argumento único", esquecendo que das mesmas políticas haverá "heranças"
muito contraditórias, muitas das quais são bem perniciosas para as
"gerações futuras".
Por exemplo, um dos problemas estruturais de
Portugal, decisivo para a nossa competitividade, que não depende apenas
de salários baixos e da erosão dos direitos laborais, é o da baixa
qualificação da mão-de-obra. Este problema é conhecido, identificado e
apontado como um dos principais impeditivos ao desenvolvimento
português. O Governo Sócrates usou-o como argumento para as Novas Oportunidades,
um programa que tinha virtualidades, mas que foi rapidamente
abastardado e transformado num "programa de bandeira" do PS, oferecendo
diplomas desqualificados e alimentando estatísticas artificiais de
adesão e sucesso. Saliente-se, aliás, que quer neste caso das Novas Oportunidades, quer no programa Magalhães,
o PSD na oposição procedeu sempre por omissão, criticando os custos e
os estratagemas de financiamento, mas evitando sempre fazer críticas de
fundo. Os programas eram "populares" e por isso o PSD não lhes tocou.
Sei muito bem disso, porque nestas colunas fiz a seu tempo críticas de
fundo aos dois programas e o PSD nunca as assumiu, com a sua equipa da
educação a preferir o silêncio. Hoje a história é reconstruída
retrospectivamente.
Ora, quer o fim das Novas Oportunidades
e a sua substituição por coisa nenhuma, quer toda uma série de medidas
no sector de educação, enroupadas num discurso legitimador mas que são,
na verdade, medidas de contenção de gastos - o número de alunos por
turma é um caso -, vai ter o efeito de não só prolongar a baixa
qualificação da mão-de-obra nacional, como de agravá-la. Eis uma
"herança para as gerações futuras" de que ninguém fala. O mesmo se pode
dizer sobre a depauperação da classe média, que destrói o potencial de
dinamismo social no "futuro" e da destruição do tecido produtivo, que
nos vai fazer arrancar do quase zero, se arrancarmos, do aumento da
exclusão social, do desequilíbrio das relações laborais, da crescente
desertificação do interior. Em suma, não sabemos que papel vai ter no
futuro o empobrecimento do presente, mas presumo que não vai ser
positivo.
Claro que tudo isto tem causas no presente e algumas
dessas causas têm a ver com a política do passado imediato. Hoje isso é
evidente, e tem todo o sentido a punição política, sempre imperfeita,
mas existente, sobre esses responsáveis. Mas ainda estamos a mover-nos
no terreno sólido, o da política do presente. Porque se aplicarmos, com o
insight de sabermos o que aconteceu, para o passado, o argumento
da "herança", então temos que ignorar que muitas opções tomadas, em
particular com o recuo de pelo menos duas décadas, eram opções
inteiramente racionais à época e pareciam ser aquelas que mais
acautelavam o futuro. E não foram.
Há um dado essencial na vida política democrática: no futuro estamos todos mortos. Do futuro não sabemos nada. Ponto.