ABRUPTO

7.6.12


COISAS DA SÁBADO:
O QUE SE VAI SABENDO, MESMO QUANDO JÁ SE SABIA 
Os factos referidos nos artigos da Visão e da Sábado da semana passada sobre o “caso Silva Carvalho” deveriam merecer mais atenção do que apenas a controvérsia sobre a implicação de Miguel Relvas no assunto. Deixo de parte a muito significativa paixão que a opinião ilustrada tem agora pelos eufemismos, chamando “contradições” e “inverdades” à mentira, e o correlativo medo das palavras simples, para analisar essa slice of life que as mensagens, SMS, encontros, revelam. 

Revelam em primeiro lugar como funciona habitualmente uma parte da nossa elite de poder. Não estamos a falar dos bas fonds, pela simples razão que não há outros fonds que não sejam esses. A relação entre os de cima e os de baixo é mais correctamente dada pela metáfora inglesa do upstairs e do downstairs. Trata-se não de toda a elite, mas sim do funcionalismo político-partidário-jornalístico da elite, visto que a elite que assim se considera, - sem nunca se designar como tal, - não mete as mãos na lama, manda meter. O que nós pudemos ler nessas revistas, foi o sucessivo toque de campainhas e de telefones internos que transmitem as ordens e os pedidos, entre os andares médios e os de baixo se houver cave e os de cima se houver mansarda. Os andares médios aparecem noutros processos e noutras “operações” como a “Furacão”, ou a actual de fuga de capitais para a Suíça. 

Disse “habitualmente” para que não se pense que tudo o que lá vem retratado é excepcional, bem pelo contrário, é o dia-a-dia. Num certo sentido é um remake das conversas dos “socráticos” de há dois ou três anos, que estão no processo das sucatas, no Freeport, no Taguspark, e nas manigâncias à volta da TVI. É tudo a mesma coisa, o mesmo tipo de personagens, quando não são as mesmas, o mesmo trade off, a mesma corrupção de mentes e corpos, a mesma promiscuidade, o mesmo soberano desprezo por leis, regras, procedimentos, a mesma cupidez, pequenez e mesquinhez. E há mais palavras terminadas em “ez” para usar aqui. 

(Continua.)

(url)

© José Pacheco Pereira
Site Meter [Powered by Blogger]