ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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30.4.12
COISAS DA SÁBADO: COMO É QUE VAMOS FICAR SE HOLLANDE QUISER ALTERAR O PACTO ORÇAMENTAL?
No limbo dos que querem mostrar excesso de zelo, assinando solitários um Pacto que cada dia tem menos probabilidade de vir a existir. Se Hollande ganhar as eleições, vai lá querer acrescentar uma adenda que, ou não serve para nada (na boa tradição europeia) e os alemães podem permiti-lo, ou se é para tomar a sério é contraditória com o conteúdo do documento Sarkozy-Merkel, e dividirá os seus originais signatários. Portugal ficará com a Alemanha, já sabemos, mas no meio de um considerável imbróglio legal e constitucional. Como é, vamos aprovar a adenda Seguro proposta neste caso por Hollande? Vamos recusar essa adenda, o que seria coerente com o discurso de Passos e Gaspar, que contesta os seus pressupostos? Ah! E ainda falta um referendo na Irlanda.
(url) (url) 29.4.12
OS DONOS DO 25 DE ABRIL
Já o disse e repito: o 25 de Abril foi o dia mais importante da minha vida. Conhecendo na primeira pessoa a perseguição antes do 25 de Abril, estou longe de pensar que só “oposicionistas” ou “resistentes” podem compreender o sabor desse dia. Mais importante do que as circunstâncias pessoais, conhecendo a indignidade do medo colectivo que a PIDE, em particular, gerava na sociedade portuguesa, política (uma pequena minoria) e apolítica (uma enorme maioria), sei muito bem o que significou esse dia sem qualquer ambiguidade.
O mundo que a minha geração foi a última a viver pode ser personificada nesta história vulgar. Um dia, nos idos de setenta (ou ainda nos de sessenta, já não sei), fui com um grupo de amigos – quatro num Renault 4L – numa viagem para levar um deles ao Colégio de Bragança, onde ia dar aulas. Este era o pretexto, mas na realidade havia outra intenção: reconhecer uma zona de passagem na fronteira livre de PIDE e da Guardia Civil para a usar para fugas, deserções e passagens ilegais. Pelo caminho gozava-se Trás-os-Montes, onde sempre me senti muito em casa. Terra brava, terra fria, terra quente, terra nossa.
Era uma viagem nesses anos muito complicada, demorada, trabalhosa, que durava um dia por estradas tão más quanto belas, na dura paisagem dessa parte de Portugal.
Até Chaves não houve problema, a não ser uma arriscada subida pela parede de uma barragem de que restam umas fotografias que mostram até que ponto havia bravado e irresponsabilidade adolescente em colocar-se numa situação de enorme risco dependurados no precipício. Também as barragens no Norte são bem pouco meigas no seu enorme declive sobre o vazio.
Com estas distracções pelo caminho, chegámos a Chaves tarde e cheios de fome. Estava tudo fechado menos um pequeno tasco, onde comemos sopa e broa. De repente, entraram dois homens e o ambiente jocoso da tasca, silenciou-se. Comecei a achar estranha a reacção e ainda mais estranho quando um miúdo, filho do dono do tasco, perguntou ao pai: “o que é que eles querem?” O pai deu-lhe uma bofetada mandou-o calar e sair dali. A violência da cena, de puro medo, ensinou-me mais sobre a ditadura do que qualquer livro.
Disse aos meus companheiros para pagarmos e irmos embora e logo a seguir fomos presos pelos dois agentes da PIDE, que era o que o miúdo e pai sabiam quem eles eram.
Os pides, como mais tarde um deles explicou, “estranhou” que gente da nossa condição social estivesse a comer num tasco e concluiu que devíamos estar a preparar-nos para dar o “salto”. Chaves era a poucos quilómetros da fronteira.
Ser preso, nestas circunstâncias, fazia parte dos riscos da função, não me “revoltou” especialmente e acabou por não ter nenhumas consequências. Acabámos por encontrar em Guadramil e no trajecto do Rio Manzanas, um excelente local de passagem que mais tarde utilizei, e o nosso colega foi entregue no Colégio onde, já tarde muito escura, um padre tirado a papel químico dos livros de Aquilino nos ofereceu vinho e um queijo curado tão duro que voava pela mesa e pela sala fora. Era um mundo triste e pícaro, o de Bragança, perdido nos limites de Portugal pobre, rude, violento.
Mas, a violência desses breves segundos, e mais algumas cenas a que assisti como espectador nesses anos, ensinou-me muito, para perceber que a política não chega para perceber a devastação dos 48 anos seguidos, sem um dia de liberdade e sem medo. Era esse Portugal que deu aquela bofetada do pai ao filho, ambos aterrorizados pela mera presença dos Pides, e que diz muito do que era uma violência inscrita na normalidade, que, felizmente, hoje quem não a viveu, não a compreende.
Isso acabou de vez logo na tarde do 25 de Abril, e tudo o resto já não dependeu apenas da liberdade, que passou a haver, mas de outros anjos e demónios demasiado humanos. Mas este medo acabou de vez. É também por isso que me inspira repulsa, repulsa mesmo, a transformação do 25 de Abril no “25 de Abril” programático e ideológico, corporativo até dizer chega para certos militares e de que, há muito, uma certa esquerda vive e que agora dá origem a esse gesto absurdo de faltar às cerimónias onde iam sempre, verdade seja dita, comportando-se sempre como “donos” da coisa. Talvez Mário Soares, que levou Passos Coelho nas palminhas e agora considera-o suficiente demónio para fazer aquilo que aliás já fez de outra vez (contra Cavaco), se lembre que, ano após ano, este mesmo “25 de Abril” era feito contra ele, porque também ele tinha “traído os ideais da revolução”.
(url) 25.4.12
HOJE NO
em directo vários eventos do 25 de Abril.
Estes
dias do 25 de Abril ao 1º de Maio vão conhecer um momento excepcional de
eventos públicos de todo o tipo: concentrações, manifestações, acções
de protesto, “arruadas”, debates, “assembleias”, etc. Quando, com a
distância do tempo, alguém quiser compreender o modo destes dias, terá
que vir aqui, ver as paredes, os panfletos, os cartazes, as T-shirts. os
autocolantes, as pessoas, “manifestando-se” pelas suas causas. Vai
haver sindicatos, partidos políticos, juventudes, grupos anarquistas,
radicais, esquerdistas, comunistas, “indignados” na rua, com todas as
causas e todas as razões. O trabalho de recolha do maior e mais
diversificado número de imagens, papéis, autocolantes, pins, t-shirts,
bandeiras, etc., torna-se impossível de fazer apenas pelos dois ou três
amigos do EPHEMERA que o fazem habitualmente. Por isso, apelo a todos
os que queiram contribuir para esta fixação na memória de todos destes
dias, que participem neste trabalho, em particular cobrindo os eventos
fora de Lisboa, mas também os pequenos (e os grandes) acontecimentos
que se sobrepõe uns aos outros. No dia 25, o EPHEMERA começará a
cobertura em directo que desta vez incluirá Lisboa e Porto, pelo menos.
Mas a experiência mostra que quanto mais gente estiver a “ver” o que se
passa, ou a participar “vendo”, mais e mais interessante é a memória que
se pode construir. Depois do “directo”, nos dias seguintes mais
informação continuará a ser recolhida e publicada.
(url) (url)
EARLY MORNING BLOGS
2198 - Of Old Sat Freedom on the Heights
Of old sat Freedom on the heights,
The thunders breaking at her feet: Above her shook the starry lights: She heard the torrents meet. There in her place she did rejoice, Self-gather'd in her prophet-mind, But fragments of her mighty voice Came rolling on the wind. Then stept she down thro' town and field To mingle with the human race, And part by part to men reveal'd The fulness of her face-- Grave mother of majestic works, From her isle-altar gazing down, Who, God-like, grasps the triple forks, And, King-like, wears the crown: Her open eyes desire the truth. The wisdom of a thousand years Is in them. May perpetual youth Keep dry their light from tears; That her fair form may stand and shine, Make bright our days and light our dreams, Turning to scorn with lips divine The falsehood of extremes!
(Lord Alfred Tennyson)
(url) 24.4.12
QUINZE FRASES ACTUAIS E UMA CONCLUSÃO
1. UM ERRO É UM ERRO, NÃO É UM ERRO DE COMUNICAÇÃO
Chamar a um erro um "erro de comunicação" é ocultar o erro. Depois é aumentar os custos da "comunicação" governamental, seja em assessores, ou em agências de comunicação. 2. CHAMAR AOS ERROS "ERROS DE COMUNICAÇÃO" TEM COMO EFEITO AUMENTAR A LOGOMAQUIA DOS GOVERNANTES... ... que falam pelos cotovelos, até que o seu excesso de fala é apontado como sendo um outro "erro de comunicação". Então ficam de novo silenciosos. Dura normalmente uma semana entre um ciclo e outro e depende dos jornais do fim-de-semana e da conversa televisiva de Marcelo Rebelo de Sousa. 3. É SUPOSTO ESTUDAR-SE ANTES DE FALAR Uma classe dirigente que introduziu no vocabulário político a expressão infanto-juvenil do "trabalho de casa" conhece mal o país, estudou e estuda pouco, tem, salvo raras excepções, cursos de plástico, e teve pouca vida fora dos partidos que lhe tenha dado experiência. Sobram os "trabalhos de casa", os TPC, mas não chegam. 4. EM 24, 48, 72 HORAS, UMA SEMANA, É SUPOSTO DIZER-SE O MESMO SOBRE A MESMA COISA É o mínimo que se espera de alguém responsável, mas é pouco aplicado. Exemplo: o 13.º e o 14.º mês e a data do seu retorno, retorno "gradual", ou "recuperação intensa". Ninguém disse coisa com coisa durante uma semana ou no mesmo dia. Não foi lapso, foi resistência em dizer a verdade. Foi dolo. 5. O TRIBUNAL CONSTITUCIONAL SERVE PARA DEFENDER E APLICAR A CONSTITUIÇÃO Por isso é suposto que ministros, a começar pela ministra da Justiça, não pressionem o tribunal quanto às suas decisões. Mais vale mudar a Constituição do que assistir a um Tribunal Constitucional que aceita o argumento de "emergência nacional" como regra, em vez de ser como excepção. O Tribunal Constitucional não tem estado à altura da sua missão, e tem permitido que tudo se faça como se não houvesse Constituição. Insisto, era mais saudável mudar a Constituição, porque ela não foi feita para sistemáticas "emergências" que institucionalizam as excepções como regra. 6. A PARTIDARIZAÇÃO DEVERIA TER LIMITES MAS NÃO TEM O Tribunal Constitucional deve emanar do consenso político da Assembleia, e isso deve ser uma marca de origem indelével. Mas uma coisa é a sua génese política, outra é a redução dessa génese aos partidos políticos. Duas coisas são péssimas nos dias de hoje: acentuam-se as escolhas de estrita confiança partidária; e as opções a essas escolhas são feitas de forma cada vez mais degradada, reflectindo a situação do sistema partidário. Para constituir este tribunal, o modo como os partidos se entendem para as "suas" escolhas mútuas é cada vez mais pela mediocridade e pela obediência. E como a linguagem é comum e os interesses comuns, PS e PSD fazem escolhas semelhantes. 7. MAIS MAÇONARIA NOS ALTOS CARGOS DO ESTADO É PERIGOSO... ... porque há muitos aspectos do escrutínio da coisa pública que ficam limitados pela segredo e "obediência" maçónica. Já chega. O topo do Estado, hoje, é maçónico. 8. O MÉTODO DOS BALÕES DE ENSAIO É POUCO DEMOCRÁTICO E MUITO POUCO TRANSPARENTE O método dos balões de ensaio, ou seja, aquilo que em linguagem popular se diz "atirar o barro à parede" a ver se cola, tornou-se um método habitual de governação. Legislação laboral, reformas, reestruturação do Estado, despedimentos na função pública, não é por acaso que em todos estes casos se assiste todos os dias ao "atirar do barro à parede" a ver se cola. A discussão que assim se suscita é deformada e pouco clara, as intenções dos governantes só são transparentes no dolo. O método tem dois resultados: instila medo, medo das soluções máximas, para depois fazer passar variantes apresentadas como mais moderadas; ou gera o ridículo. O medo é o efeito mais poderoso, agora que tudo é fonte de fragilidade para as pessoas. 9.QUEM ESTÁ NO PODER NÃO É JOSÉ SÓCRATES Esta frase deveria ser escrita com fogo na noite escura, porque parece que muita gente discute como se Sócrates ainda estivesse a governar e não consegue falar criticamente dos que o sucederam. Ora a análise crítica do poder não pode ser só do passado. Há presente, meus amigos, mesmo que lhes seja incómodo. Sócrates tem enorme responsabilidade em tudo o que nos aconteceu e em muito do que acontece, mas não em tudo que acontece. E cada dia menos. 10. QUEM ESTÁ NO PODER NÃO É JOSÉ SÓCRATES, NEM SEQUER NO PS, EMBORA POSSA PARECER O CONTRÁRIO António José Seguro suscita o fantasma de Sócrates porque nunca o exorcizou, como sugeriu que fez na sua oposição silenciosa nos anos "socráticos". Por isso, ficou preso de uma ambiguidade estrutural, que o PSD acentua de cada vez que fala. Mas, mesmo assim, Sócrates é apenas um fantasma que "anda por aí". Não voltará tão cedo, não vale a pena viver obcecado com a sombra do homem. A não ser que se tenha medo dele. 11. QUEM ESTÁ NO PODER É O TRIUNVIRATO PASSOS COELHO-VÍTOR GASPAR-MIGUEL RELVAS... ... que tem todo o interesse em manter Sócrates vivo, no país, no PS e nos jornais. Um dia, isto esgota-se e o feitiço volta-se contra o feiticeiro porque a memória é complicada. E irónica. 12. CONVÉM A COMUNICAÇÃO SOCIAL NÃO VOLTAR À PRÁTICA DE ENGOLIR TUDO O QUE SE LHE PÕE NO PRATO Como no passado fez com os "aviõezinhos" da Ota, ou com os grandes projectos rodoviários, ferroviários, eólicos, de energia das marés, de tudo que é hoje o monte de destroços que estão por todo o lado, nalguns casos visíveis logo de seguida como o "moinho de ondas". E, no entanto, esta era a "notícia": "Portugal é, a partir desta terça-feira, o único país do mundo com um parque de aproveitamento de energia das ondas. A cerimónia de inauguração - uma viagem desde o porto de Leixões até ao largo da costa da Póvoa de Varzim - contou com a presença do ministro da Economia e da Inovação, que salientou a importância deste projecto e referiu os empregos que serão criados." Quantas destas "notícias" são dadas hoje todos os dias? 13. FOI COLOCADA MUITA PAPINHA NO PRATO DA COMUNICAÇÃO E FOI TODA ENGOLIDA O tom é diferente, mas o princípio da papinha é o mesmo: foi um "buraco" vindo do PS que exigiu a violação de promessas eleitorais, sendo que o "buraco" nunca foi identificado; foi a verificação dos custos da integração dos fundos da banca que exigiu o Orçamento rectificativo e não a execução orçamental; foi o custo da antecipação das reformas que motivou o congelamento dessas reformas e não a crise suscitada na Segurança Social pelo aumento exponencial do desemprego; o ampliar a data do retorno dos subsídios para 2015 não é uma nova medida de austeridade, mas apenas o resultado de 2015 ser a seguir a 2014... 14. CONVÉM NÃO EMBANDEIRAR EM ARCO COM TODA A PAPINHA COLOCADA NO PRATO ATÉ PORQUE A PAPINHA ÀS VEZES É DE MUITO CURTA DURAÇÃO Foi o caso da Taxa Social Única, da meia hora de trabalho a mais, das promessas de que era apenas necessário meio subsídio de Natal, depois que bastava 2012 e 2013 de cortes nos subsídios, etc., etc. Em todos estes casos, uma multidão de jornalistas e comentadores económicos "sensibilizados" pelo mérito das medidas do Governo afirmou a sua indispensabilidade e correcção. Tinham que ser estas medidas e nenhumas outras. Não foram. Na próxima vão fazer o mesmo: vem do Governo, é bom, é "inevitável", não se pode discutir. O poder tem muita força. 15. UM SINDICATO PODE SER INSTRUMENTO DE UM PROGRAMA DE AUSTERIDADE PACTADO, NÃO PODE SER INSTRUMENTO DE UMA FRAGILIZAÇÃO DOS TRABALHADORES NA RELAÇÃO LABORAL... ... sob pena de pôr em causa a sua própria função. É mais compreensível e aceitável que um sindicato assine um acordo de emergência para baixar salários, do que assine um acordo para "flexibilizar" os despedimentos. São coisas de natureza diferente, envolvendo consequências diferentes. A UGT cometeu esse erro e agora, quando pretende timidamente minimizá-lo, recebe como resposta uma frase jocosa que a insulta e minimiza. É o que dá pôr-se a jeito. CONCLUSÃO: sindicatos, tribunais, associações, pessoas podem aceitar muitos sacrifícios, mas não se podem pôr a jeito. Se se põem a jeito, aceitam ser abusadas. Acontece todos os dias e nada tem a ver com crise. Podia ser diferente, mas esta diferença só se enuncia quando se critica quem tem poder, quem está no poder. Antes e agora.
(Versão do Público de 21 de Abril de 2012.)
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2197 - ...the great man, just because of his greatness, is much more intelligible than his modern commentator...
There is a strange idea abroad that in every subject the ancient books should be read only by the professionals, and that the amateur should content himself with the modern books. Thus I have found as a tutor in English Literature that if the average student wants to find out something about Platonism, the very last thing he thinks of doing is to take a translation of Plato off the library shelf and read the Symposium. He would rather read some dreary modern book ten times as long, all about "isms" and influences and only once in twelve pages telling him what Plato actually said. The error is rather an amiable one, for it springs from humility. The student is half afraid to meet one of the great philosophers face to face. He feels himself inadequate and thinks he will not understand him. But if he only knew, the great man, just because of his greatness, is much more intelligible than his modern commentator. The simplest student will be able to understand, if not all, yet a very great deal of what Plato said; but hardly anyone can understand some modern books on Platonism. It has always therefore been one of my main endeavours as a teacher to persuade the young that firsthand knowledge is not only more worth acquiring than secondhand knowledge, but is usually much easier and more delightful to acquire.
(C.S. Lewis) (url) 23.4.12
EARLY MORNING BLOGS
2196 - The only palliative is to
keep the clean sea breeze of the centuries blowing through our minds ...
All contemporary writers share to some extent the contemporary outlook—even those, like myself, who seem most opposed to it. Nothing strikes me more when I read the controversies of past ages than the fact that both sides were usually assuming without question a good deal which we should now absolutely deny. They thought that they were as completely opposed as two sides could be, but in fact they were all the time secretly united -- united with each other and against earlier and later ages -- by a great mass of common assumptions. We may be sure that the characteristic blindness of the twentieth century -- the blindness about which posterity will ask, "But how could they have thought that?" -- lies where we have never suspected it, and concerns something about which there is untroubled agreement between Hitler and President Roosevelt or between Mr. H. G. Wells and Karl Barth. None of us can fully escape this blindness, but we shall certainly increase it, and weaken our guard against it, if we read only modern books. Where they are true they will give us truths which we half knew already. Where they are false they will aggravate the error with which we are already dangerously ill. The only palliative is to keep the clean sea breeze of the centuries blowing through our minds, and this can be done only by reading old books. Not, of course, that there is any magic about the past. People were no cleverer then than they are now; they made as many mistakes as we. But not the same mistakes. They will not flatter us in the errors we are already committing; and their own errors, being now open and palpable, will not endanger us. Two heads are better than one, not because either is infallible, but because they are unlikely to go wrong in the same direction. To be sure, the books of the future would be just as good a corrective as the books of the past, but unfortunately we cannot get at them.
(C. S. Lewis)
(url) 22.4.12
DA SÁBADO: NOVILÍNGUA” ORWELLIANA
"temporário","restituição intensa","ajustamento estrutural excepcional"
Todos os dias novas palavras e expressões revelam como Orwell foi um verdadeiro precursor em perceber como o poder usa as palavras para mandar. Entre as novas aquisições da “novilíngua” encontra-se o “temporário” que passou a significar definitivo e o “ajustamento estrutural excepcional”, signé Vitor Gaspar, uma contradição nos seus termos porque se é “estrutural” não pode ser “excepcional”. Outra é a “restituição intensa” dos subsídios de Natal e férias, expressão utilizada pelo Primeiro-ministro. “Intensa” é o quê? Metade, três quartos, nada? Presume-se que signifique que em vez de ser “gradual”, passe a ser pouco “intensa”.
Iluda-se quem pense que isto são jogos florais. Bem pelo contrário, são jogos do poder, destinados a não dizer nada, dizendo, ou a dizer tudo, não dizendo.
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DA SÁBADO: COISAS QUE FUNCIONAM EM PORTUGAL
PERTENCER À ELITE POLÍTICO-ECONÓMICA
Fazer parte da classe certa, do grupo certo, da família certa, dos comensais certos, dos círculos certos, é muito mais do que uma mais-valia, é uma certeza de sucesso. A democratização da elite político-económica, que se esboçou desde o 25 de Abril, acabou. A elite encolheu para uma posição fetal, e está num período tão cheio de possibilidades, que sabe serem quase únicas, que não brinca em serviço. Bem pelo contrário, acantonou-se a arregimentou-se como nunca desde o 25 de Abril. Ficou ferida pela crise, mas sabe que pode dar o salto até há bem pouco tempo inimaginável. Reduziu, também como nunca, a independência e autonomia do poder político, manda no PSD e no PS, usa o CDS quando convém, e fecha e blinda o sistema de “inevitabilidades” para todos menos para eles. Esteve com Sócrates pelas oportunidades, está com Passos Coelho pelas “inevitabilidades”. Só estas lhes permitem moldar o estado como há muito desejavam. E estão a fazê-lo. Tem riscos, e muitos, mas a história destas elites é tanto feita de cegueira, como de “hábitos naturais de mando”.
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DA SÁBADO: COISAS QUE FUNCIONAM EM PORTUGAL
PARTIDOS POLÍTICOS
Os partidos políticos, em particular os da área do poder, continuam a ser a máquina mais poderosa para a ascensão de carreiras baseadas na dependência, na confiança política, e na troca de favores. Do Tribunal Constitucional às “comissões” destinadas ao “aconselhamento” (que podem ser grátis, mas que são o degrau para cargos bem pouco gratuitos), dos gabinetes às encomendas de serviços de marketing, publicidade, “influência”, mil e uma oportunidades continuam a existir nos partidos e na sua “zona de conforto.”
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EARLY MORNING BLOGS
2195 - ... and that means the old books
It is a good rule, after reading a new book, never to allow yourself another new one till you have read an old one in between. If that is too much for you, you should at least read one old one to every three new ones. Every age has its own outlook. It is specially good at seeing certain truths and specially liable to make certain mistakes. We all, therefore, need the books that will correct the characteristic mistakes of our own period. And that means the old books.
(C. S. Lewis) (url) (url) 21.4.12
DA SÁBADO: COISAS QUE NÃO FUNCIONAM EM PORTUGAL
CONTRATOS
A máxima latina do direito que diz que Pacta sunt servanda, os contratos são para ser respeitados, é de aplicação flexível, ou seja não é aplicada. Enquanto todos os contratos envolvendo trabalhadores, funcionários, cidadãos, passaram ao estado líquido, alguns contratos envolvendo interesses poderosos tornaram-se ainda mais sólidos. O Tribunal Constitucional que deveria ser o último garante da lei e da Constituição, faz de conta que tudo é permitido em nome da “emergência nacional”. A duplicidade de critérios e de “direitos” é um dos factores de maior perturbação social a curto prazo.
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NESTES DIAS
ACTIVAR CIDADANIAS PARA O SÉCULO XXI (LISBOA, 21-22 DE ABRIL DE 2012)
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DA SÁBADO: COISAS QUE NÃO FUNCIONAM EM PORTUGAL
OPINIÃO PÚBLICA
A opinião pública é um elemento fundamental do sistema democrático, mas é muito sensível a um factor social: o peso, importância e dinamismo da chamada “classe média”. A crise da classe média, o epicentro do actual processo de empobrecimento, fragiliza a opinião pública e reforça os poderes fácticos.
JORNALISMO
A fragilização da opinião pública implica uma diminuição do consumo de informação qualificada e a sua progressiva substituição por pseudo-informações. Com a crise da imprensa escrita, com a espectacularização da televisão, crescem os ersatz do jornalismo: o “jornalismo do cidadão”, que se caracteriza por não ser jornalismo, a pseudo-informação que circula nas redes sociais, no Twitter, comentários não moderados, correio electrónico pejado de mensagens falsas, populistas e de denúncias muitas vezes caluniosas. A comunicação social que deveria ser uma barreira a esta perversão da informação, cede perante ela e deixa-se infectar, ou porque é barato, ou porque está na moda, ou porque a qualidade do trabalho de muitos jornalistas não faz a diferença. Isto associado ao pack journalism, à subserviência face ao poder, à corrupção das agências de comunicação e à crise das mediações e do editing, faz passar o jornalismo ao lado de um escrutínio do poder mais que necessário em tempo de crise.
(Continua.)
(url) (url) 18.4.12
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© José Pacheco Pereira
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