É tanto mais grave quanto a desresponsabilização é ostensiva e quase insultuosa. Pela primeira vez desde que há democracia as eleições correram mal, muito mal. Não podemos saber exactamente quantos eleitores deixaram de votar, mas podemos saber que o “problema” do número do eleitor atingiu dezenas de milhares de pessoas, a julgar apenas pelas mais de 20.000 que telefonaram num pequeno período de tempo de uma hora para saberem onde deviam votar, o motivo dado para o colapso do sistema informático e telefónico do MAI.
(2)
A verdade é que não só tudo correu mal, como é grave que tal aconteça em eleições em que se temia muita abstenção. E o modo como os serviços dependentes do MAI trataram as pessoas ainda é pior. O modo como alguns eleitores de idade e condição social para nunca terem usado um computador, foram corridos com desprezo – o “senhor vá à Net procurar” – é indigno de uma democracia. E se fossem e-educados, também não lhes serviria de muito, porque os sistemas tinham ido abaixo.
(3)
É suposto que tenha existido uma carta, mas não conheço ninguém que a tenha recebido (eu tenho cartão único, o meu cartão de eleitor antigo foi destruído junto com outros cartões quando o recebi, e também não recebi carta nenhuma). Vi aliás notícias contraditórias sobre a existência da carta. Vi também, quando tudo já corria mal por todo o lado, a CNE vir dizer que estava tudo bem e que, se algo não corria bem, a culpa é dos eleitores que não usavam o SIMPLEX, assim tendo mais trabalho e mais burocracia… E, no dia seguinte, vi o desplante dos responsáveis do MAI virem dizer que não tinham culpa nenhuma e iria haver um inquérito. Não, assim não, esta é uma responsabilidade que não pode ficar abafada, e quando as desculpas começam no Ministro, as culpas começam também aí.
Se qualquer outro político que não fosse Louçã fizesse a figura que ele fez na noite das eleições, teria sido crucificado em vida. Então não é que a impoluta “esquerda dos valores” também “ganha” quando perde? Pelos vistos, sim. A denegação enganadora do significado dos resultados do seu candidato, o papel do Bloco em encolhê-lo e isolá-lo num acantonamento da esquerda em que muito do PS não se revê e uma esmagadora maioria dos portugueses detesta, o papel de discursos insultuosos inflamados, que Alegre permitiu ao seu lado nos comícios, até os eleitores de Alegre de há cinco anos assustou.
Na verdade, o Bloco de Esquerda fez tudo errado. Não teve presença própria na campanha, nem apresentou candidato, numa altura em que o voto estava particularmente solto, e a mera sombra da sua existência na candidatura de Alegre, afastou eleitores a grande velocidade. E, como tem mau perder, “ganhou” e pôs-se de forcado diante do touro do dia seguinte.
O Ministro Silva Pereira disse que espera que o Presidente da República esteja à altura das suas responsabilidades. Também eu espero que sim, até porque sei que o Governo certamente não está, nem estará.
Foi perfeita a campanha eleitoral de Cavaco Silva, ou mesmo a sua participação pessoal na campanha? Não foi. Porém o que conseguiu nestes tempos difíceis para qualquer político, e por isso também para ele, foi um capital único que ninguém tem na vida pública portuguesa, uma forte legitimidade pessoal para o exercício das suas funções. Ainda bem, o Presidente bem vai necessitar dessa autoridade acrescida, e o país também. E ter um ou dois por cento a mais ou a menos, é bem pouca coisa para o pequeno milagre de ter conseguido mais de metade dos votos dos portugueses numa altura destas. Pensando bem, em tempos de fúria contra os políticos, Cavaco Silva permanece desejado, muito desejado. E, por isso, bem podem maçar-se, destilar fúria e nojo, irritação e fastio, que o homem aí está para valer.
COISAS DA SÁBADO: MAS QUE HORROR, QUE MAÇADA, QUE FASTIO, QUE NOJO, QUE IRRITAÇÃO, QUE FÚRIA, AQUELE HOMEM GANHOU AS ELEIÇÕES!
Ganhou, ganhou. À primeira e por todo o lado. E ganhou deixando a uma distância infinita o candidato do primeiro partido português e do partido da esquerda chic. Mas, no dia seguinte, apesar de ter ganho, parece que não ganhou, perdeu. E as habilidades estatísticas e as comparações dúplices, tornadas moda pelo actual Primeiro-ministro, tomaram os títulos, por coincidência dos mesmos meios de comunicação que mostraram uma mesma hostilidade com o candidato Cavaco Silva. Os que o atacaram durante a campanha, atacam-no agora porque ganhou. Não me surpreende: para a esquerda portuguesa, - com excepção do PCP que genuinamente entende as eleições como uma continuação da luta de classes, - os lugares electivos são por direito natural sua pertença e qualquer perturbação nesta ordem natural é tida como uma violação das leis da física.
ÍNDICE DO SITUACIONISMO (126) :AO QUE LEVA O ÓDIO A JARDIM
A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.
Este título "Jardim nunca teve tantos votos como Coelho" num texto de Rosa Pedroso de Lima no Expresso online merecia um prémio ou de incompetência ou de desinformação, pela sua evidente sugestão de falsidade. É verdade que Jardim nunca teve tantos votos como Coelho pela simples razão que Coelho concorreu num universo de votos nacionais e Jardim apenas nos votos regionais da Madeira. O pior de tudo é que a jornalista anota a diferença de passagem, mas todo o artigo se baseia em comparações impossíveis de fazer com seriedade e que se destinam a "justificar" a falsidade do título.
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Como era previsível, estamos a ser encharcados com leads que têm vários objectivos, tendo os mais mediáticos como objectivo diminuir a vitória de Cavaco Silva. Com algumas excepções, os comentaristas de serviço tocaram repetidamente nas teclas " Cavaco teve menos votos que as abstenções", " foi o presidente eleito com menos votos de sempre" e, com a assinatura de Mário Soares, " Cavaco não foi magnânimo no discurso de vitória ".
Claro que, para contrapor, se poderia dizer : " Cavaco, sozinho, teve mais votos do que os outros candidatos todos juntos ", " da primeira eleição para a segunda perdeu 500 mil votos, Sampaio nas mesmas condições perdeu 600 mil ", " Cavaco nestas eleições teve mais votos sozinho do que todo o PS de Sócrates em 2009 " e, como grande tour de force, " Cavaco é o único português que, em democracia, e para os dois mais elevados cargos da Nação, se candidatou seis vezes e ganhou . . . .cinco ".
É isto sério, como análise política ?
Claro que não.
Em estatística chamamos a isto "isolar dois elementos sem análise de contexto ". É tentar diminuir a observação da realidade a uma correlação primária para tentar influenciar essa mesma realidade. São artifícios básicos de distorção que servem para jornalistas impreparados e comentaristas engagés. Também servem para chumbar na faculdade.
(Maurício Barra)
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Foi no futebol e pelo futebol que começou a degradação moral do país. Foi no futebol que se viu pela primeira vez a manipulação da linguagem destinada a justificar os meios justificados pelos fins.
Foi no futebol que se viu pela primeira vez a simulação de um penalti na jornada 1 ser punida com não sei quantos jogos de suspensão e a mesma simulação na jornada 2 não merecer punição alguma.
Foi no futebol que se viu pela primeira vez o empurrão a um jogador pelo treinador “A” ser qualificado como “bárbara agressão”, punível com irradiação, e o mesmo empurrão pelo treinador “B” não passar de um "gesto" numa “confusão”, disciplinarmente irrelevante e normal num desafio de futebol.
Foi no futebol que se viu pela primeira vez um prevaricador ser premiado com um castigo que o obriga a ficar de fora num jogo sem importância, para poder jogar na semana seguinte a partida do título.
Depois, a prática deletéria da lei interpretada à medida das conveniências do caso concreto, da regra criada depois do fim do jogo para alterar o seu resultado estendeu-se a toda a sociedade e tornou-se um dos indicadores mais seguros da crise de regime que vivemos e que Pacheco Pereira analisou na sua última crónica no “Público”.
Não há hoje quem, a propósito de tudo e de nada, não se dedique com entusiasmo ao exercício da má fé como forma de governo e de justiça.
Desde domingo passado, assistimos aqui e ali, na imprensa, na televisão, nos partidos políticos e nos blogs, a mais um desses exercícios: desta vez, o pretexto são as eleições presidenciais.
Aníbal Cavaco Silva ganhou as presidenciais. Concorreu com outros cinco candidatos. As regras eram claras para todos. Ganhava à primeira volta o candidato que obtivesse metade dos votos expressos mais um. Ninguém pôs em causa esta regra. Todos a aceitaram e foram a jogo com ela. Cavaco ganhou.
Agora, de má fé, andam por aí a tentar desvalorizar a vitória. Que houve muitas abstenções, que foi uma maioria risível, que foi uma maioria que não chega aos 25% dos eleitores e que, como tal, não pode ser considerada maioria, que não sei quê, que não sei que mais…
MÁ FÉ!
Cavaco tem todos os defeitos do mundo e eu não sou suspeito de o admirar. Não votei nele, não aprecio o seu estilo rancoroso de político que se julga acima dos políticos e não penso que o país tenha ganho absolutamente nada com a sua reeleição.
Contudo, uma coisa são os sentimentos pouco estimáveis que nutro por Aníbal Silva, outra, a honestidade intelectual com que se enfrentam os adversários. Não é admissível, não é tolerável, não é suportável que aqueles que se dizem democratas, que aceitaram as regras do jogo, que jogaram com essas regras, venham agora diminuir a vitória de quem ganhou, invocando outras regras que não eram as regiam a partida, só porque não ganhou quem se queria que ganhasse.
Não devia ser necessário dizer o óbvio, mas num país que parece ter perdido o sentido dos valores, o óbvio tem que ser constantemente repetido. E eu repito: não é legítimo alterar as regras de um jogo depois do jogo terminado, só porque o resultado que não nos agradou. Isso acontece, de facto, no futebol profissional. Mas, porque acontece, é que que o futebol profissional é uma actividade que deve ser remetida para as trevas exteriores, para o foro estritamente privado, sem um segundo de cobertura pelos órgãos de comunicação social públicos, sem um cêntimo de apoio autárquico ou do Estado e carregada de impostos, como os casinos, o tabaco, o álcool e todas as actividades nas margens do vício e da ilicitude.
Foi no futebol que a degradação moral do país começou. Hoje, por força da força do futebol, disseminou-se por toda a sociedade. E já nos parece a todos normal. Como se vê pela tentativa de diminuição da vitória de Aníbal Silva.
He was found by the Bureau of Statistics to be One against whom there was no official complaint, And all the reports on his conduct agree That, in the modern sense of an old-fashioned word, he was a saint, For in everything he did he served the Greater Community. Except for the War till the day he retired He worked in a factory and never got fired, But satisfied his employers, Fudge Motors Inc. Yet he wasn't a scab or odd in his views, For his Union reports that he paid his dues, (Our report on his Union shows it was sound) And our Social Psychology workers found That he was popular with his mates and liked a drink. The Press are convinced that he bought a paper every day And that his reactions to advertisements were normal in every way. Policies taken out in his name prove that he was fully insured, And his Health-card shows he was once in a hospital but left it cured. Both Producers Research and High-Grade Living declare He was fully sensible to the advantages of the Instalment Plan And had everything necessary to the Modern Man, A phonograph, a radio, a car and a frigidaire. Our researchers into Public Opinion are content That he held the proper opinions for the time of year; When there was peace, he was for peace: when there was war, he went. He was married and added five children to the population, Which our Eugenist says was the right number for a parent of his generation. And our teachers report that he never interfered with their education. Was he free? Was he happy? The question is absurd: Had anything been wrong, we should certainly have heard.
Foi profundamente divulgado nos jornais,TV e blogues o caso de dificuldade de acesso ao numero de eleitor.
Eu enviei um Email ao MAI indicando que, caso não recebesse o numero em tempo útil, iria apresentar queixa ao Tribunal Constitucional por impedimento de exercer o meu direito de votar. Cerca de 5 minutos depois recebi o numero.
No entanto, poucos estão familiarizados com os meandros informáticos. Eu vi filas muito longas na escola Delfim dos Santos, em S Domingos de Benfica/Lisboa. Pessoas idosas aguentaram o frio cortante que se fez e não houve tumulto nenhum: esta atitude revela um civismo muito invulgar pelo mundo fora, que deve ser salientado e motivo de orgulho.
Passados 2 dias, a unica reacção foi ... informar que vai ser realizado um inquérito!
Em todas as noites eleitorais os políticos manifestam preocupação pela abstenção. A incompetência e a mera produção de um relatório destinado a amarelecer num armário qualquer são um enorme contributo para essa mesma abstenção.
Peco que exiga no Parlamento ao responsável máximo (ministro da Adm Interna ou o próprio primeiro-ministro) apresentar de forma simples e clara um pedido de desculpas.
Ja' se viu a incompetência e a ma'-educação grassam. Ao menos, respeitem as pessoas idosas que sofreram desnecessariamente para poder exercer um dos direitos sagrados das sociedades livres e evoluídas.
DO QUE FALAMOS, QUANDO FALAMOS DE "CRISE DO REGIME"
Tornou-se muito comum falar de "crise de regime", ou de "crise do sistema", em ambos os casos frases dotadas de muita ambiguidade, mas que a sensação de fim dos tempos torna cada vez mais comuns. De que é que falamos, quando falamos de "crise do regime"? Há várias hipóteses.
Falamos de crise da democracia? Sim e não. Falamos de crise da democracia enquanto regime, no sentido em que esta pode vir a ser substituída por uma ditadura pessoal ou um regime autoritário? E existe um perigo real e imediato de isso acontecer? Parece-me pouco provável que seja esse o sentido, tanto mais que não se antevê qualquer movimentação que possa impulsionar um ditador, partido ou movimento, e não se vê qual seja o putativo ditador. Se formos ao século XX, nenhum ditador chegou de surpresa e quer Mussolini, Hitler, Primo de Rivera ou Salazar "fizeram-se" durante um período de tempo considerável e a sua ascensão podia ser detectada com antecedência. Mesmo na América Latina, homens como Péron, Batista, ou Pinochet não apareceram ao dobrar da esquina e quando apareceram emanaram de instituições, como as forças armadas, com tradição putschista conhecida. Mesmo no caso de Pinochet, ele emergiu num contexto próximo de uma guerra civil, e se o homem podia ter sido uma surpresa, o comportamento da instituição militar já o é menos. Na verdade, em Portugal, quando se fala de "crise do regime", a última coisa que se imagina é um golpe militar (de que emanou o civil Salazar, e quase todos os ditadores latino-americanos), o que a actual atitude civilista das forças armadas afasta de todo. No Portugal de 2011, mesmo no meio de uma grave crise económica e social, é implausível ver uma ameaça de golpe de Estado por parte das forças armadas.
Então, em que sentido se pode falar de crise de democracia entendida como a "crise de regime"? Pode-se falar de crise das instituições democráticas, de per se, aqui já com muita mais razão de ser. Na verdade, o sistema de poder constitucional, quer a Presidência, o Governo, o Parlamento e os tribunais encontram-se numa enorme crise, quer do ponto de vista da sua legitimação, quer do ponto de vista da representatividade, no caso dos órgãos eleitos. Se deixarmos de lado a Presidência, a instituição menos atingida por esta crise, quer o Governo, quer o Parlamento, quer os tribunais conhecem uma crise com factores comuns, embora com raízes distintas. Essa crise é grave e é essa crise que justifica que se fale de "crise de regime".
Os tribunais, o sistema de justiça, não é percebido pela esmagadora maioria dos cidadãos como garantia de justiça. É entendido como mais uma burocracia do Estado que não funciona bem, ou melhor, que funciona muito mal, e onde os cidadãos não recorrem para se fazer justiça, nem confiam como instrumentos do Estado de direito. Bem pelo contrário, consideram-no um obstáculo à existência dessa mesma justiça, e juízes, magistrados do Ministério Público e advogados aparecem como uma burocracia hostil, muitas vezes perigosa e corrupta, incapaz de perseguir os criminosos e que usa os seus privilégios para perseguir os fracos e proteger os ricos. O funcionamento da justiça, lento, ineficaz, muitas vezes incompetente e discricionário, corporativo, é a prova dos nove para esta percepção pública, que tem vindo a agravar-se de forma exponencial nos últimos anos. O jogo de culpas e ambições entre juízes, magistrados, advogados e políticos, cada um usando sindicatos, órgãos de Estado, ordens, e fazendo uma utilização intensa da comunicação social, ainda mais agrava esta percepção, que encontra na realidade de todos os dias muitos casos para se consolidar.
O Governo aparece como uma entidade igualmente hostil, mais ao serviço dos seus membros e dos partidos do que da governação do país. Ou é visto como uma sucessão de sinecuras entregues por cunha, favor ou dinheiro, ou como um lugar onde se não manda nada, e nada se faz. A crescente incompetência de ministros e secretários de Estado, a preponderância de gabinetes e assessores envolvidos numa teia obscura de negociações e interesses e que não é escrutinada pelo voto, dá do poder executivo a pior das imagens e, infelizmente, a imagem não está longe da realidade.
A suicidária criação de sucessivos órgãos de "peritos" e "sumidades" que, não indo a votos, se pronunciam sobre a governação, tudo isto ainda esfarela mais o poder executivo, tornando-o mais um centro de gestão de interesses desirmanados do que um órgão coerente de poder. Com medo dos jornais do dia seguinte, vivendo de manobras mediáticas, para que são mobilizadas agências de comunicação e recursos vultuosos em publicidade, a governação tornou-se uma arte de "aparecer" mais do que de fazer, praticada por políticos fracos, muitas vezes incompetentes, produzidos pela fábrica partidária, ou trazidos por adorno das universidades e dos grupos económicos, actuando num limbo onde a crise económica e financeira faz desaparecer qualquer dinheiro e onde o que existe se esvai num mar de areia que parece sugar recursos sem resultados. Nos últimos anos, mesmo sentada em cima de milhares de milhões de euros, pedidos emprestados ou vindos da Europa, a governação parece (e é) mais uma sucessão de anúncios publicitários do que de realizações. É por isso que, quando se pergunta quem manda em Portugal, a resposta seja um banqueiro "do regime" e não um governante.
O Parlamento, e a representação que ele deveria garantir, é visto como um corpo inútil, igualmente corrupto, e cujas despesas são sempre entendidas como sumptuárias e desnecessárias. Se se perguntasse aos portugueses se deveria haver Parlamento, ou se pelo contrário bastava existir um governo de técnicos, legitimados apenas pelo seu presumido saber, duvido muito que a resposta pudesse ser outra não fosse "não", não é preciso um Parlamento. Nenhuma instituição mostra mais a "crise do regime", até porque o Parlamento é a instituição mais próxima do comum dos cidadãos, aquela que retrata melhor as forças e fraquezas da sociedade civil, mas também a única que em democracia representa a diferença de opiniões. Em períodos de "crise do regime", a diferença de opiniões tem pouco valor, e, na cultura "consensual" que 48 anos de ditadura deixaram em Portugal, muita gente pensa que um governo tecnocrático de "competentes" substituiria bem o Parlamento.
Por detrás de muita da crise do Estado está o modo como os partidos políticos evoluíram nos últimos anos e o modo como "se movem" entre o poder local e o poder nacional. Nos grandes partidos políticos de poder, PS e PSD, o aparelhismo é hoje a regra do poder e os partidos "viraram-se ao contrário", ou seja, funcionam para dentro, geram poder apenas dentro, constituem uma barreira para qualquer mecanismo de representação que venha da sociedade para o Estado, sem o mediar pelos interesses dos seus membros do aparelho. O tráfico de influências e lugares, o nepotismo, mesmo já com uma componente familiar, o rígido controlo burocrático, a criação de carreiras profissionalizadas no poder interno, a corrupção, tudo isto faz com que os partidos políticos sejam hoje o lugar que mais justifica a ideia de "uma crise de regime".
Resumindo e concluindo: se quisesse identificar os três mais importantes factores da "crise de regime" em Portugal, eles seriam a crise da justiça, a crise da representação (partidos e Parlamento) e a crescente subordinação do poder político ao poder económico, com fragilização acentuada do poder executivo. Não custa compreender como tudo isto encaixa perfeitamente no pano de fundo de uma comunicação social muito superficial e dominada pelo espectáculo e que produza um surto crescente de populismo. Já não falta muito para se exigir que os "políticos" tenham que usar uma estrela amarela na roupa para serem identificados como os pestíferos que são. Então a "crise do regime" estará claramente instalada como crise da democracia.
Grave é o que se esta a passar um pouco por todo o país em que muitos eleitores não conseguem votar devido a incompetência do governo, que não previu os efeitos práticos das mudanças com o número de eleitor nos novos documentos de identidade. Esta situação vai manchar estas eleições. E é pura e simplesmente fugir à responsabilidade dizerem que se pode ir a Net (experimentem) telefonar (experimentem) e usar o sms (experimentem).Há eleitores idosos perplexos quando os mandam para a Net e outros a saírem furiosos das mesas de voto sem votarem. E a CNE diz que nada de grave se esta a passar...
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Na freguesia de S. Sebastião, Guimarães, o problema resolveu-se porque o presidente da comissão recenseadora (o presidente de Junta de Freguesia) imprimiu a lista com todos os nomes e respectivos números de eleitor que constavam dos cadernos eleitorais por ordem alfabética. Assim, dirigindo-se a qualquer mesa de voto, era indicado o número e a mesa a que se deveriam dirigir. O problema era indicar a que secção de voto se deveriam dirigir aqueles que tinham tirado o cartão de cidadão e foram colocados noutras freguesias. Houve casos de eleitores que moram na mesma morada há décadas (em S. Sebastião) e que quando tiraram o cartão de cidadão foram transferidos, sabe-se lá porquê e com que critério, noutras freguesias.
Tiago Laranjeiro.
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Ontem também fui um dos eleitores com dificuldades em votar. Tinha substituído o meu anterior Cartão de Cidadão por motivo de furto e, na altura em que fiz essa substituição, disseram-me que nesta nova versão deste documento passava a estar incluído o número de eleitor.
Dirigi-me à escola onde habitualmente voto e, chegada a minha vez, foi-me dito para mandar uma SMS ou então ir à Junta de Freguesia, porque os cadernos estão ordenados por número de eleitor e eu também não me lembrava dele. Para cúmulo, não tinha levado o telemóvel comigo mas um jovem prontificou-se a mandar a dita SMS com os meus dados a partir do seu aparelho. Ele disse-me que tinha enviado a SMS dele na sexta-feira e só recebeu a resposta no domingo de manhã. Nada animador, portanto.
Fiquei à espera que o jovem votasse na esperança de ainda receber a SMS com o meu número de eleitor. Nada. Felizmente a minha casa encontra-se a dez minutos do local de voto e, já em casa, fui à internet e por acaso tive sorte, porque sendo ao meio-dia, o serviço estava bastante rápido e não demorei nada.
Lá voltei para votar e vi outras pessoas com o mesmo problema e algumas delas bastante zangadas. Vi também um caso na minha secção de voto de uma senhora que ainda possuía o Cartão de Eleitor antigo e para espanto de todos os presentes, o número dela tinha simplesmente desaparecido dos cadernos eleitorais. Esta senhora nem com a Junta de Freguesia lá ia.
O que se passou é um vergonha nacional, porque um Estado que trata com tanto paternalismo os abstencionistas, quase como se fossem uns criminosos, não conseguiu ou não quis dar as condições para aqueles que se dignaram ir votar. Vi pessoas furiosas que simplesmente se foram embora a resmungar palavrões.
É o Portugal tecnológico. Porreiro pá!
João Paulo Brito
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O que ontem se passou com o Cartão do Cidadão, não é admissível em democracia, não é desculpável perante um aparelho de estado que facilmente hostiliza e abafa o cidadão cumpridor com controles, exigências e ameaças, não é possível deixar morrer perante um regime agonizante e em descrédito por uma fatia cada vez maior do seu povo - some-se os votos brancos, os votos nulos, os votos em Coelho, os votos em Moura e metade da abstenção, e temos a dimensão aproximada do descrédito neste regime. Por isto tudo, o que se passou com o Cartão do Cidadão tem que ter consequências e avaliação. E para que seja racional, deve-se começar por uma avaliação quantitativa. Será difícil pôr um contador na Net, para que o cidadão possa registar a sua deslocação à mesa de voto e a sua impossibilidade de votar?
António Lopes
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Vi agora o seu post sobre a falha técnica eleitoral. Onde eu votei, e onde a minha companheira votou, foi a mesma confusão que toda a gente narra. Completa falta de respeito pelo povo é argumentar que ele se devia ter informado antes, quando nunca isso foi avisado, por exemplo na TV. Mas isto não é novo, neste Governo. As Finanças agem da mesma maneira há muito. Basta recordar a história das “declarações anuais” dos “recibos verdes”, de obrigatoriedade de entrega publicada em Decreto mas de que ninguém foi avisado (seria bem simples fazê-lo pela net, por onde agora é obrigatório toda a gente entregar as Declarações). Depois todos tiveram de pagar a multa por atraso, e a resposta do Estado foi a de que os cidadãos têm a obrigação de conhecer a lei. Isto é a exemplificação perfeita do espirito burocrático num Estado prepotente. Pinto de Sá
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A minha mulher dirigiu-se ao local de voto dos últimos 20 anos. Encontrou uma fila enorme para as pessoas perceberem onde iam votar por causa dos cartões do cidadão. Havia um (repito, um) funcionário a dar informações. Nas salas de votos, as habituais quatro ou cinco pessoas sem nada para fazer. Uma vergonha. Mas pior, a informação que o dito funcionário dava não era onde as pessoas deviam deslocar-se, mas sim que o local de voto não era ali. Ouvida a mesma, a minha mulher veio embora e, sem saber onde se dirigir, começou uma pequena saga. Site do STAPE, da CNE, do Governo, do recenseamento e nada. Envio de sms para o número fornecido e nada. Chamada para o número fornecido e nada. Plano B: consulta no site da internet relativo à nossa junta de freguesia para ve se havia alguma informação, mas não. Plano C: procurar aí mesmo se existiam informações antigas em eleições antigas. Sorte: os locais de voto estavam indicados no âmbito das eleições europeias de 2009. Assim sendo, existiam três locais possíveis. Arriscámos o maior. Sorte, era lá. Pura sorte, no entanto. E isso fomos nós, pessoas com acesso a informação, informadas, com meios e capacidade para reagir. Mas pergunto-me sobre as milhares e milhares de situações idênticas em que todas essas milhares de pessoas ficaram coarctadas nesse seu direito soberano, afinal o direito que define a própria democracia. Existirão responsáveis? Duvido, até porque o efeito da abstenção não servirá de bode expiatório para os resultados finais e só em caso contrário se tentariam explicações. Uma vergonha.
Rui Esperança
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Uma vergonha, a forma como decorreram as eleições de hoje. Na Buraca estavam dezenas de pessoas na Junta de Freguesia, entre as quais eu próprio, pois tinham sido alterados os números de eleitores para quem tinha um Cartão de Cidadão. Mas, ninguém nos avisou! Como é isto possível, após tantas alterações tecnológicas que não resolvem problemas, tão fáceis de solucionar? Porque é que os novos cartões não podem ter um número de eleitor? Isto faz algum sentido? A incompetência é total. Rui Mota
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É de justiça dizer que o problema com o n.º de eleitor foi resolvido, na Assembleia de Voto onde votei (uma freguesia da Amadora), com a brevidade possível e a mobilização dos presentes: - um elemento circulando na sala e aconselhando os eleitores que chegavam, sem saberem o seu número (era o meu caso) e trazendo consigo apenas o Cartão Único. - uma mesa destinada exclusivamente a fornecer a cada eleitor o seu n.º, a partir do cartão de identificação, com uma fila própria e com um elemento agarrado ao telemóvel para solicitar a informação, que chegou em segundos. Também em abono da verdade se diga que os detentores do Cartão Único receberam em casa uma carta com o seu n.º de eleitor e se não levaram esse documento consigo (o meu caso), foi por esquecimento. Cristina Baptista
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Votei faz agora 1 hora, e, de facto, na minha freguesia, Lamaçães, concelho de Braga, onde só existem 3 secções de voto, as secções não tinham fila para votar, mas encontravam-se cerca de 10 pessoas no balcão de informações da Junta, com o cartão de cidadão na mão, por isso, suponho que estivessem a ter problemas sobre o local onde votam.
Como ainda tenho BI, votei sem sobressaltos.
Alberto Fernandes
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Aconteceu comigo e ainda tenho o antigo BI e Cartão de Eleitor. Tentei através da net saber o novo numero de eleitor, visto o antigo ter sido alterado, informação dada na habitual mesa de voto, e não consegui, só a indicação para tentar mais tarde.
É realmente inadmissivel não ter havido um alerta da CNE para as alterações, tanto de eleitores com o novo cartão do cidadão, como daqueles que ainda têm o antigo, como é o meu caso, e a hipótese de nas antigas mesas de voto, saber qual o novo numerol e local de voto.
Incompetência e falta de respeito para com os eleitores num grau extremo.
Já enviei e_mail para a CNE, com todos os meus dados, e espero poder votar nas próximas eleições.
Idalina Mendes
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É, de facto, muito grave pois a data das eleições foi marcada só há três meses (11 Outubro 2010)! E o facto de os cidadãos que mudaram de residência não terem cuidado de actualizar o seu recenseamento (ainda que só em três meses …) é pura “incompetência do governo”, se não for mesmo incompetência directa e pessoal do Primeiro-Ministro!
Eduardo Cardeano
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O que se está a passar hoje é simplesmente inadmissível e deveria conduzir a consequências muito severas para os responsáveis políticos por esta situação. Hoje foi por incompetência, mas e se amanhã existir uma intenção deliberada de dificultar ou impedir o exercício do direito de voto? O exemplo de hoje mostrou como essa manipulação seria fácil. A utilização de novas tecnologias numa área tão essencial da vida democrática tem de ser cuidadosamente ponderada e revista. O controlo dos actos eleitorais tem de poder ser realizado por qualquer pessoa. Os meios utilizados têm que ser acessíveis a qualquer pessoa, sem estar dependentes do controlo (ou incompetência do Estado). Isto é um corolário essencial da igualdade e liberdade do exercício de direito de voto.
A utilização de meios tecnológicos nos actos eleitorais mais básicos (cartão de eleitor hoje, boletim de voto e urnas amanhã, já se está a ver) não aumenta a segurança do voto, ao contrário do que um certo deslumbre simplório acredita. Pelo contrário, com o cartão actual o nosso direito de voto é apenas um conjunto de bit gravados num chip, que só determinadas pessoas (do Estado) têm acesso. A nossa identidade está dependente não apenas da posse de um cartão (o que já é suficientemente preocupante) mas ainda de instrumentos tecnológicos que só o governo controla. Os perigos e possibilidades desta dependência de algo tão básico e essencial como a nossa identidade são bem evidentes. Se só só certas pessoas, com conhecimentos muito específicos e técnicos, controlam esta informação, como é que nos podemos assegurar que ela não é manipulada?
A facilidade com que em Portugal estas mudanças são efectuadas, sem qualquer ponderação dos riscos de concentração de poder e dependência no Estado revelam muito sobre a nossa cultura política de liberdade.
J.l.
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http://abrupto.blogspot.com/2011/01/grave-grave-e-o-que-se-esta-passar-um.html Sou testemunha deste caso das sms para saber onde voto. Estou à espera da resposta! Ainda não veio.
E se puder ajudar... A taxa de participação estava nos 13,4 % ás 12h. Estou a tentar saber como está neste momento mas sem informação nos jornais!
-- Bruno Teixeira
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Sao 14:50 do dia 2011/1/23.
Para poder exercer o meu direito de votar para as eleicoes presidenciais, procurei no http://http://www.recenseamento.mai.gov.pt/ o meu numero de eleitor. Ja' passou mais de 1 hora e ainda nao consegui, sequer, enviar o meu numero de identificacao.
Sei de vizinhos que foram de manha votar e demoraram imenso tempo a obter o numero de votante na delegacao da junta de freguesia de S. Domindos de Benfica. Este facto, gravissimo porque poe em causa o direito constitucional de liberdade de votacao, podia ter sido resolvido se tivessem - reforc,ado a capacidade dos vossos servidores, e - retirados os ficheiros graficos do vosso portal, por forma a diminuir o trafego.
Tenho pena que o deslumbramento tecnologico nao seja acompanhado pela competencia.
Luxury, then, is a way of being ignorant, comfortably An approach to the open market of least information. Where theories can thrive, under heavy tarpaulins without being cracked by ideas.
(I have not seen the earth for years and think now possibly “dirt” is negative, positive, but clearly social. I cannot plant a seed, cannot recognize the root with clearer dent than indifference. Though I eat and shit as a natural man ( Getting up from the desk to secure a turkey sandwich and answer the phone: the poem undone undone by my station, by my station, and the bad words of Newark.) Raised up to the breech, we seek to fill for this crumbling century. The darkness of love, in whose sweating memory all error is forced.
Undone by the logic of any specific death. (Old gentlemen who still follow fires, tho are quieter and less punctual. It is a polite truth we are left with. Who are you? What are you saying? Something to be dealt with, as easily. The noxious game of reason, saying, “No, No, you cannot feel,” like my dead lecturer lamenting thru gipsies his fast suicide.
COISAS DA SÁBADO: O GOVERNO POR DETRÁS DA CAMPANHA CONTRA CAVACO
Como já disse várias vezes, o pseudo-blogue “Câmara Corporativa” é um produto directo dos círculos mais próximos da governação à volta do Primeiro-ministro e pago com os nossos impostos. A sua função é conhecida pelo menos nos seus aspectos mais grosseiros (produção e distribuição de argumentário, campanhas de ataque pessoal aos inimigos do PM, etc.) . Os aspectos mais subtis e “negros” são da ordem da desinformação profissionalizada e essa está para além do attention span habitual nos meios dos blogues e do jornalismo. Mas o que de lá vem é sempre revelador, apoiado por uma base de dados também profissional e material informativo e fotográfico muito para além do que está acessível na Internet. E pelos boys anónimos da Câmara Corporativa se percebe muito bem como a campanha do BPN contra Cavaco não veio de Alegre, mas directamente do governo e de Sócrates. Eles sabem que Cavaco vai ganhar as eleições, não querem saber de Alegre para nada, mas querem um Cavaco fragilizado no seu segundo mandato presidencial. Percebe-se muito bem porquê.
My dear Telemachus, The Trojan War is over now; I don't recall who won it. The Greeks, no doubt, for only they would leave so many dead so far from their own homeland. But still, my homeward way has proved too long. While we were wasting time there, old Poseidon, it almost seems, stretched and extended space.
I don't know where I am or what this place can be. It would appear some filthy island, with bushes, buildings, and great grunting pigs. A garden choked with weeds; some queen or other. Grass and huge stones . . . Telemachus, my son! To a wanderer the faces of all islands resemble one another. And the mind trips, numbering waves; eyes, sore from sea horizons, run; and the flesh of water stuffs the ears. I can't remember how the war came out; even how old you are--I can't remember.
Grow up, then, my Telemachus, grow strong. Only the gods know if we'll see each other again. You've long since ceased to be that babe before whom I reined in the plowing bullocks. Had it not been for Palamedes' trick we two would still be living in one household. But maybe he was right; away from me you are quite safe from all Oedipal passions,