ABRUPTO

26.1.11


ÍNDICE DO SITUACIONISMO (126) : AO QUE LEVA O ÓDIO A JARDIM

A questão do situacionismo não é de conspiração, é de respiração.
E, nalguns casos, de respiração assistida.

Este título "Jardim nunca teve tantos votos como Coelho" num texto de Rosa Pedroso de Lima no Expresso online  merecia um prémio ou de incompetência ou de desinformação, pela sua evidente sugestão de falsidade. É verdade que Jardim nunca teve tantos votos como Coelho pela simples razão que Coelho concorreu num universo de votos nacionais e Jardim apenas nos votos regionais da Madeira. O pior de tudo é que a jornalista anota a diferença de passagem, mas todo o artigo se baseia em comparações impossíveis de fazer com seriedade e que se destinam a "justificar"  a falsidade do título.

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Como era previsível, estamos a ser encharcados com leads que têm vários objectivos, tendo os mais mediáticos como objectivo diminuir a vitória de Cavaco Silva. Com algumas excepções, os comentaristas de serviço tocaram repetidamente nas teclas " Cavaco teve menos votos que as abstenções", " foi o presidente eleito com menos votos de sempre" e, com a assinatura de Mário Soares, " Cavaco não foi magnânimo no discurso de vitória ".

Claro que, para contrapor, se poderia dizer : " Cavaco, sozinho, teve mais votos do que os outros candidatos todos juntos ", " da primeira eleição para a segunda perdeu 500 mil votos, Sampaio nas mesmas condições perdeu 600 mil ", " Cavaco nestas eleições teve mais votos sozinho do que todo o PS de Sócrates em 2009 " e, como grande tour de force, " Cavaco é o único português que, em democracia, e para os dois mais elevados cargos da Nação, se candidatou seis vezes e ganhou . . . .cinco ".

É isto sério, como análise política ?

Claro que não.

Em estatística chamamos a isto "isolar dois elementos sem análise de contexto ". É tentar diminuir a observação da realidade a uma correlação primária para tentar influenciar essa mesma realidade. São artifícios básicos de distorção que servem para jornalistas impreparados e comentaristas engagés. Também servem para chumbar na faculdade.

(Maurício Barra)
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Foi no futebol e pelo futebol que começou a degradação moral do país. Foi no futebol que se viu pela primeira vez a manipulação da linguagem destinada a justificar os meios justificados pelos fins.
Foi no futebol que se viu pela primeira vez a simulação de um penalti na jornada 1 ser punida com não sei quantos jogos de suspensão e a mesma simulação na jornada 2 não merecer punição alguma.
Foi no futebol que se viu pela primeira vez o empurrão a um jogador pelo treinador “A” ser qualificado como “bárbara agressão”, punível com irradiação, e o mesmo empurrão pelo treinador “B” não passar de um "gesto" numa “confusão”, disciplinarmente irrelevante e normal num desafio de futebol.
Foi no futebol que se viu pela primeira vez um prevaricador ser premiado com um castigo que o obriga a ficar de fora num jogo sem importância, para poder jogar na semana seguinte a partida do título.
Depois, a prática deletéria da lei interpretada à medida das conveniências do caso concreto, da regra criada depois do fim do jogo para alterar o seu resultado estendeu-se a toda a sociedade e tornou-se um dos indicadores mais seguros da crise de regime que vivemos e que Pacheco Pereira analisou na sua última crónica no “Público”.
Não há hoje quem, a propósito de tudo e de nada, não se dedique com entusiasmo ao exercício da má fé como forma de governo e de justiça.

Desde domingo passado, assistimos aqui e ali, na imprensa, na televisão, nos partidos políticos e nos blogs, a mais um desses exercícios: desta vez, o pretexto são as eleições presidenciais.
Aníbal Cavaco Silva ganhou as presidenciais. Concorreu com outros cinco candidatos. As regras eram claras para todos. Ganhava à primeira volta o candidato que obtivesse metade dos votos expressos mais um. Ninguém pôs em causa esta regra. Todos a aceitaram e foram a jogo com ela. Cavaco ganhou.
Agora, de má fé, andam por aí a tentar desvalorizar a vitória. Que houve muitas abstenções, que foi uma maioria risível, que foi uma maioria que não chega aos 25% dos eleitores e que, como tal, não pode ser considerada maioria, que não sei quê, que não sei que mais…
MÁ FÉ!
Cavaco tem todos os defeitos do mundo e eu não sou suspeito de o admirar. Não votei nele, não aprecio o seu estilo rancoroso de político que se julga acima dos políticos e não penso que o país tenha ganho absolutamente nada com a sua reeleição.
Contudo, uma coisa são os sentimentos pouco estimáveis que nutro por Aníbal Silva, outra, a honestidade intelectual com que se enfrentam os adversários. Não é admissível, não é tolerável, não é suportável que aqueles que se dizem democratas, que aceitaram as regras do jogo, que jogaram com essas regras, venham agora diminuir a vitória de quem ganhou, invocando outras regras que não eram as regiam a partida, só porque não ganhou quem se queria que ganhasse.

Não devia ser necessário dizer o óbvio, mas num país que parece ter perdido o sentido dos valores, o óbvio tem que ser constantemente repetido. E eu repito: não é legítimo alterar as regras de um jogo depois do jogo terminado, só porque o resultado que não nos agradou. Isso acontece, de facto, no futebol profissional. Mas, porque acontece, é que que o futebol profissional é uma actividade que deve ser remetida para as trevas exteriores, para o foro estritamente privado, sem um segundo de cobertura pelos órgãos de comunicação social públicos, sem um cêntimo de apoio autárquico ou do Estado e carregada de impostos, como os casinos, o tabaco, o álcool e todas as actividades nas margens do vício e da ilicitude.
Foi no futebol que a degradação moral do país começou. Hoje, por força da força do futebol, disseminou-se por toda a sociedade. E já nos parece a todos normal. Como se vê pela tentativa de diminuição da vitória de Aníbal Silva.

(António Cardoso da Conceição)

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