ABRUPTO

30.11.09


ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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EARLY MORNING BLOGS

1687 - Vasto teatro è il mondo

Vasto teatro è il mondo, siamtutti commedianti,
Si può fra brevi istanti carattere cangiar.
Quel ch'oggi è un Arlecchino battuto dal padrone,
Domani è un signorone, un uomo d'alto affar,
Fra misteriose nuvole, che l'occhio uman non penetra,
Sta scritto quel carattere che devi recitar.
Odo del cocchio crescere il prossimo rumore
Vieni, t'insegni il core colui che devi amar.

(Jacopo Ferretti, cavatina de Alidoro em La Cenerentola de Rossini)

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29.11.09

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE





Mar.



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)



A Caminho do Pico do Ruivo. (Carlos Oliveira)



Neuchâtel, Suíça, "confecção artesanal de trufas de chocolate". (Fernando Correia de Oliveira)





Amesterdão. (Vítor Magalhães)

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EARLY MORNING BLOGS

1686 - As coisas

A bengala, as moedas, o chaveiro,
A dócil fechadura, as tardias
Notas que não lerão os poucos dias
Que me restam, os naipes e o tabuleiro,
Um livro e em suas páginas a ofendida
Violeta, monumento de uma tarde,
De certo inesquecível e já esquecida,
O rubro espelho ocidental em que arde
Uma ilusória aurora. Quantas coisas,
Limas, umbrais, atlas e taças, cravos,
Nos servem como tácitos escravos,
Cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão muito além de nosso olvido:
E nunca saberão que havemos ido.

(Jorge Luis Borges, tradução de Ferreira Gullar)

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28.11.09

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EARLY MORNING BLOGS

1685 - The Reckoning

All profits disappear: the gain
Of ease, the hoarded, secret sum;
And now grim digits of old pain
Return to litter up our home.

We hunt the cause of ruin, add,
Subtract, and put ourselves in pawn;
For all our scratching on the pad,
We cannot trace the error down.

What we are seeking is a fare
One way, a chance to be secure:
The lack that keeps us what we are,
The penny that usurps the poor.

(Theodore Roethke)

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27.11.09


COISAS DA SÁBADO:
O QUE SÓ SE SABE DEPOIS DAS ELEIÇÕES E QUE SE DEVERIA TER SABIDO ANTES




Tanta coisa! O número do deficit por exemplo, deliberadamente escondido meses após meses, com a publicitação de números e previsões irrealistas, denunciadas por todos, partidos e economistas, e que teve o papel de ainda mais descredibilizar o Ministro das Finanças, um dos poucos que ainda incutia alguma confiança aos portugueses. A cegueira eleitoralista foi tal que o Ministro negou previsões da EU e de outras instituições internacionais como “excessivamente pessimistas”,

Que a economia e as finanças estavam muito mal, pressentia-se e sabia-se. Mas a real dimensão dos problemas foi escondida e ainda está escondida na sua dimensão real. O que vai acontecer é que esta teimosia no erro, vai ter custos graves para o país. Vai adiar medidas inevitáveis, vai agravar tendências negativas, até que de repente vamos todos acordar com uma economia ingovernável, com as finanças descontroladas e o país na falência. Não excluo, como já disse uma vez, que nessa altura o PS saia de cena pela porta mais baixa que encontrar e deixe a outrem uma crise gravíssima. Estamos mais perto disso do que se pensa e o mero apego ao poder do PS, forte que seja, pode soçobrar perante medidas internacionais gravosas para Portugal e um colapso “argentino”. E tudo isto, sem qualquer responsabilidade da oposição. Apenas pela fuga em frente e pela ocultação da realidade. A continuar assim ainda achamos Medina Carreira um optimista.

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COISAS QUE AMEAÇAM TORNAR O “SUMO DE LARANJA” AINDA MAIS ÁCIDO



Haver notícias como esta (cito):

O ex-ministro social-democrata Ângelo Correia recorreu hoje à ironia quando questionado sobre a situação interna no PSD, dizendo que o sumo de laranja está "um bocado ácido".

Ângelo Correia falava aos jornalistas no final de uma cerimónia de inauguração da central fotovoltaica do Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (MARL), que teve a presença do primeiro-ministro, José Sócrates, e na qual participou na qualidade de presidente da Foment Invest. (…) A Foment Invest foi a empresa vencedora do concurso para a construção de uma central fotovoltaica no MARL, que representou um investimento de 31 milhões de euros e que possui 28 mil painéis solares.

Ângelo Correia, assim como o primeiro-ministro, José Sócrates, salientaram que esta central fotovoltaica "é a maior do mundo em área urbana", podendo produzir energia para três mil famílias, satisfazendo as necessidades de consumo anuais de 12 mil pessoas.

Falando na qualidade de presidente da Foment Invest, Ângelo Correia elogiou a política do Governo na área da energia.

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ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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1684 - Icebergs

Icebergs, sans garde-fou, sans ceinture, où de vieux cormorans
abattus et les âmes des matelots morts récemment viennent s'accouder
aux nuits enchanteresses de l`hyperboréal.

Icebergs, Icebergs, cathédrales sans religion de l'hiver éternel,
enrobés dans la calotte glaciaire de la planète Terre.
Combien hauts, combien purs sont tes bords enfantés par le froid.

Icebergs, Icebergs, dos du Nord-Atlantique, augustes Bouddhas gelés
sur des mers incontemplées. Phares scintillants de la Mort sans issue, le
cri éperdu du silence dure des siècles.

Icebergs, Icebergs, Solitaires sans besoin, des pays bouchés, distants,
et libres de vermine. Parents des îles, parents des sources, comme je
vous vois, comme vous m'êtes familiers...

(Henri Michaux)

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26.11.09


EARLY MORNING BLOGS

1683 -Da Nossa Semelhança

Da nossa semelhança com os deuses
Por nosso bem tiremos
Julgarmo-nos deidades exiladas
E possuindo a Vida
Por uma autoridade primitiva
E coeva de Jove.

Altivamente donos de nós-mesmos,
Usemos a existência
Como a vila que os deuses nos concedem
Para, esquecer o estio.

Não de outra forma mais apoquentada
Nos vale o esforço usarmos
A existência indecisa e afluente
Fatal do rio escuro.

Como acima dos deuses o Destino
É calmo e inexorável,
Acima de nós-mesmos construamos
Um fado voluntário
Que quando nos oprima nós sejamos
Esse que nos oprime,
E quando entremos pela noite dentro
Por nosso pé entremos.

(Fernando Pessoa / Ricardo Reis)

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25.11.09


PONTO / CONTRAPONTO - 7


Aqui.


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ESPÍRITO DO TEMPO: ONTEM



Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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1682 - Este Seu Escasso Campo

Este, seu ‘scasso campo ora lavrando,
Ora solene, olhando-o com a vista
De quem a um filho olha, goza incerto
A não-pensada vida.
Das fingidas fronteiras a mudança
O arado lhe não tolhe, nem o empece
Per que concílios se o destino rege
Dos povos pacientes.
Pouco mais no presente do futuro
Que as ervas que arrancou, seguro vive
A antiga vida que não torna, e fica,
Filhos, diversa e sua.

(Fernando Pessoa / Ricardo Reis)

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22.11.09

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UMA BUROCRACIA POLÍTICA DE PRIMEIRA
.......................................................................escolhe
...................................................................................UMA BUROCRACIA POLÍTICA DE SEGUNDA


Terminadas as últimas aflições com o Tratado de Lisboa, pressionados os irlandeses a votar "sim" sob pena das maiores desgraças lhes acontecerem num momento difícil em que estavam, isolado Vlaclav Klaus, começou a corrida para se moldarem as instituições da União Europeia ao novo Tratado. Afastado também o risco de um referendo britânico, em que o "não" era garantido, a máquina burocrática da Europa conheceu uma pequena aceleração. Escolho as palavras com cuidado, "máquina burocrática" para designar o que é hoje essencialmente a União Europeia, conduzida sem fulgor pelos actuais governantes europeus, e "pequena aceleração" porque já se percebeu que pouca coisa vai mudar nos tempos mais próximos, porque não só há muita inércia, como não há muita vontade para sair da inércia. Não estamos em tempos de grandes decisões, porque ou custam dinheiro, que ninguém está disposto a pagar, ou implicam deslocações de poder que ninguém tem força para garantir, mesmo entre o directório que de facto dirige a Europa.

Como se percebeu, Portugal chegou ao ponto zero da sua capacidade de influência europeia, e nem sequer se ouviu alguém emitir uma opinião, quanto mais um interesse, nem que fosse sobre o perfil dos novos cargos. Não valia a pena, e nem sequer vale a pena fingir que vale a pena. A União Europeia está muito longe e a nossa debilidade é tão grande que não contamos para nada. Podiam ter saído nas escolhas o Xá da Pérsia no exílio, ou um candidato do Official Monster Raving Loony Party, que ninguém perceberia a diferença com Catherine Ashton e Herman Van Rompuy.

Poucas coisas revelam mais a situação actual da Europa do que estas escolhas para os dois cargos que era suposto resolverem os impasses de direcção e de representação que a União Europeu conhece, e, por isso, tudo se passou perante a indiferença geral. À partida, a própria definição dos cargos pelo Tratado de Lisboa já reflecte um crescendo burocrático. O cargo de presidente da União representa uma fonte de conflitos institucionais com o presidente da Comissão, e sempre que um se impuser, enfraquece o outro. Tudo indica que a mera existência do cargo aponte para um downgrading do papel de presidente da Comissão, que até agora era a "cabeça" da União. Agora é a "outra" cabeça, a do chapéu mais antigo e gasto, que empalidecerá com o novo chapéu, durante algum tempo.

Quanto ao novo "ministro" dos Negócios Estrangeiros, a segunda variante do "número de telefone que Kissinger dizia que não tinha", dificilmente conhecerá muito mais sucesso do que a primeira variante, o "senhor PESC", Javier Solana. O problema da existência ou melhor, da inexistência, de uma política externa europeia é estrutural e não é resolvido acrescentando títulos cada vez mais pomposos a uma ausência de condições e de vontade política de ter uma política comum que seja mais do que a do mínimo denominador: Londres, Berlim, Paris farão o que entenderem e só usarão, insisto, usarão, a nova "ministra" quando tal for útil para a sua própria política externa, quando tal corresponder a uma vontade comum. Como é óbvio, para Lisboa, ou Haia, ou Praga, ou Vilnius, ou Varsóvia, resta um papel de subordinarem as sua políticas externas aos ditames europeus, por regra. As excepções, como por exemplo o adiamento do reconhecimento do Kosovo, serão isso mesmo, as excepções que confirmam a regra.

Mas Catherine Ashton, ela própria uma burocrata, contará com uma nova burocracia especializada, o Serviço Europeu para a Acção Externa, ou seja, uma diplomacia própria da União dependente de Bruxelas. Diga-se de passagem que isso será mais um prego no caixão da existência de uma diplomacia portuguesa própria, porque não será difícil de imaginar como é atractivo a governos pressionados pelo deficit fechar embaixadas ou não as abrir e entregar a representação de Portugal a embaixadores da União. Já há muito sítios onde tal acontece, mas ainda sem o grau de institucionalização que este novo serviço externo permitirá.

A escolha de Herman Van Rompuy e Catherine Ashton não deveria surpreender ninguém que acompanhe a União nos últimos anos. Já de há muito tempo que os chefes de governo aceitam apenas como perfil dos cargos liderantes da União personalidades desconhecidas, baças, que em nenhuma circunstância têm força e autoridade política próprias para empalidecerem a sua igualmente frágil liderança política. Na verdade, trata-se da escolha por governantes menores de governantes que eles acham ainda mais menores, das escolhas por uma burocracia de primeira de uma burocracia de segunda, que não lhes faz sombra e que não aspira a ser autónoma.

Estes dois nomes podem vir a ser a maior surpresa do mundo se forem aquilo que não foram até à sua escolha. Pode-se dar-lhes esse benefício de dúvida, mas um primeiro-ministro belga, do plat pays, que não é verdadeiramente um pays, e uma baronesa trabalhista, uma espécie típica da política britânica, que faz parte da House of Lords, sem eleição, e que não tem qualquer experiência de política externa, pareceriam escolhas absurdas se não fosse este critério de escolher pelo cinzento.

A biografia de Van Rompuy é típica dos políticos belgas e não é por acaso que se lhe atribui a quase exclusiva qualidade de negociador, de "homem de diálogo". Como me explicavam os taxistas belgas- sim porque os taxistas não são muito diferentes de terra em terra -, de cada vez que se passava por um buraco na rua ou por um andaime, esta obra era dos "socialistas", esta dos "democratas-cristãos", esta dos valões esta dos flamengos, esta dos "socialistas valões", aquela dos "nacionalistas flamengos", e por aí adiante. Mover-se neste xadrez é o modo como se sobe na política belga e, se se entender que a União é assim, e nós somos os "socialistas valões" e os italianos os "nacionalistas flamengos", então precisamos de um político belga para negociar as obras públicas. Mas a Bélgica é o que é, le plat pays, e aqui o "plat" não é só geográfico.

Os dois serão certamente bem-vindos pela burocracia de Bruxelas, que reconhece os seus e os promove. Mas só com muita imaginação é que se pode considerar que as escolhas são "ambiciosas", e que representam uma nova era europeia que de há muito nos é anunciada para depois de um novo Tratado feito para os desígnios do directório europeu. Vamos ver.

(Versão do Público de 21 de Novembro de 2009.)

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© José Pacheco Pereira
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