ABRUPTO

16.8.13


“TIREM AS MÃOS DO NOSSO ROCHEDO” 


Uma das razões pelas quais a União Europeia não pode ter o upgrade político que os engenheiros utópicos do europeísmo desejam é porque, como velho continente, - muita guerra geopolítica, nacional, e civil durante muitos séculos, muitas raças, culturas, tradições “história” hard, - só com muita prudência se pode avançar sem retirar debaixo do tapete um dos múltiplos conflitos nacionais que lá estão escondidos. Um desses, o “rochedo” inglês em território espanhol, está de novo a aquecer os ânimos entre o Reino Unido e a Espanha, motivando uma florida retórica bélica do Presidente da Câmara de Londres. Espanha que, por sua vez, têm umas possessões em Marrocos, de que também não quer ouvir falar que não são “espanholas”. Se começarmos por Portugal, estamos em perfeita felicidade, porque Olivença se bem que não inteiramente “resolvida”, não excita ninguém a não ser o seu Grupo de Amigos. Mas, caminhando para dentro da Europa, temos as “nacionalidades” espanholas, em particular o País Basco e Catalunha, depois a Córsega, o Reino Unido às voltas com a independência da Escócia e com a ferida do Ulster, a Itália com o pequeno problema do Trentino- Alto-Ádige e o grande problema da Lega Nord. Quanto mais para o centro leste da Europa, pior. Temos a pilha explosiva das Balcãs, de que nem vale a pena falar, a fronteira greco-turca no Mar Egeu, o Epiro entre a Grécia e a Albânia e a Macedónia (perdão FYROM, “antiga república jugoslava da Macedónia”, nome oficial), a Moldávia dividida, as múltiplas leis que após a II Guerra limitaram os direitos de propriedade alemães na República Checa, na Dinamarca, na Polónia, toda a complicada fronteira da Federação Russa, não sustentada em acordos internacionais mas apenas acordos temporários, de Spitzberg no Ártico, passando pelo enclave de Kaliningrado, à Ossétia na Geórgia. 

Com excepção habitual dos Balcãs e do Cáucaso, a maioria dos conflitos estão naquilo que se chama “baixa intensidade”, mas estão lá. Nenhum desapareceu, alguns estão em crescendo, como se vê com o “rochedo”, ou com a rejeição da Alemanha na Grécia, que vai buscar as memórias da guerra e da ocupação. A União Europeia e a OSCE têm tido um papel positivo em evitar muita conflitualidade, mas esta situação devia ser sempre um sinal de prudência para as aventuras da criação utópica de uns “Estados Unidos da Europa”, que meia dúzia de burocratas e governantes, mais bruxelenses do que nacionais, pensam que se pode fazer escrevendo bonitas palavras num papel.

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ESPÍRITO DO TEMPO:  HOJE
Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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PRESIDENCIAIS NA SILLY SEASON 


As Presidenciais têm uma especial tendência para voltar na silly season. Como as coisas que se passam a sério, como os cortes nas reformas, são demasiados sérios para serem silly, as grandes manobras de longo prazo podem desenvolver-se debaixo do calor estival, propenso a inflamar as meninges. E parece que o lugar está a saldo, tantos candidatos aparecem: Marcelo Rebelo de Sousa (candidatura patrocinada por si próprio e pelas sondagens), Durão Barroso (candidatura patrocinada por si próprio e pelo seu grupo no PSD), Santana Lopes (candidatura patrocinada por si próprio e pelo seu grupo no PSD), Assunção Esteves (candidatura sugerida por cenários), António Guterres (candidatura proposta por Marcelo Rebelo de Sousa), António Costa (candidatura sugerida pelas sondagens, pelos amigos de Seguro, por Marcelo Rebelo de Sousa e por cenários), José Sócrates (candidatura sugerida pelos seus inimigos e pelos seus fãs, ambos com a mesma intensidade), Sampaio da Nóvoa (candidatura sugerida pela esquerda entre o PS e o BE), etc., etc. 

O trio do PSD, Marcelo, Barroso e Santana, é o mais activo nos preliminares, essencialmente marcando o terreno uns aos outros, e, se estivermos atentos às suas falas, mas acima de tudo aos seus silêncios, as manobras de posicionamento são evidentes. Dada a natureza das personagens e ao facto de todos terem eleitorados potenciais muito próximos, será uma luta feia, demasiado corpo a corpo para não fazer estragos. Todos se conhecem bem demais e todos têm uma história comum. Não vai ser bonito de ver.

Estas são as candidaturas que nascem nos partidos ou estão no meio político-comunicacional. Depois há que esperar um surto de independentes, alguns dos quais podem fazer estragos porque o populismo aguça demasiados apetites. E o populismo não é difícil nestes tempos de fácil demagogia. Também não vai ser bonito de se ver.

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EARLY MORNING BLOGS  
2347

Where justice is denied, where poverty is enforced, where ignorance prevails, and where any one class is made to feel that society is an organized conspiracy to oppress, rob and degrade them, neither persons nor property will be safe. 

(Frederick Douglass)

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15.8.13


EARLY MORNING BLOGS  
2346
 
 
"Ah! Se a vossa liberdade
Zelosamente guardais,
Como sois usurpadores
Da liberdade dos mais?"

(Bocage)

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13.8.13


APRENDER COM GUERRA JUNQUEIRO

Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. (...)

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro. Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.


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© José Pacheco Pereira
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