ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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9.4.13
O MATERIAL TEM SEMPRE RAZÃO (6)
Vale a pena repetir. Existe democracia quando se verificam duas condições: a soberania popular expressa pelo voto, e o primado da lei. DUAS CONDIÇÕES.
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O MATERIAL TEM SEMPRE RAZÃO (5)
Há várias coisas que nunca se devem esquecer: esta gente é vingativa e não se importa de estragar tudo à sua volta para parecer que tem razão. Já nem sequer é por convicção, é por vaidade e imagem.
Outra coisa, ainda mais complicada, que também não deve ser esquecida: o governo considera bem-vindas as ameaças da troika. São a chantagem que precisam, pedem e combinam. Não são uma voz alheia, nem dos "credores", nem da troika, nem de ninguém, são o auto falante agressivo que o governo necessita para tornar a sua política inquestionável e servir de ameaça a todas as críticas.
E por último, e não é de menos, esta gente é perigosa e, na agonia, muito mais perigosa ainda.
(A propósito do despacho do ministro Vítor Gaspar de 8 de Abril que pára o funcionamento do estado português, atribuindo essa decisão ao Tribunal Constitucional. O governo entrou numa guerra institucional dentro do estado, em colaboração com a troika, para abrir caminho a políticas de duvidosa legalidade e legitimidade baseadas no relatório que fez em conjunto com o FMI. Não conheço nenhum motivo mais forte e justificado para a dissolução da Assembleia da República por parte do Presidente do que este acto revanchista contra os portugueses.) (url) 8.4.13
O MATERIAL TEM SEMPRE RAZÃO (4)
O número de artigos e notas em blogues que começam com “a decisão do Tribunal Constitucional fez e aconteceu….” representam um sucesso do pensamento único governamental. Na verdade, deviam começar com “a política do governo fez e aconteceu…” Isto, porque a decisão do Tribunal Constitucional é que é a normalidade e a lei, e a política do governo é que é a anormalidade e a ilegalidade. A decisão do Tribunal Constitucional representa uma consequência da política do governo, das escolhas do governo, da incapacidade do governo de encontrar políticas de contenção orçamental que não passem pela violação da lei e pelo afrontamento da Constituição.
Mais: o caminho seguido pelo governo para o objectivo de cumprimento do memorando da troika é que põe em causa esse cumprimento, porque não teve em conta qualquer preocupação em salvar um quantum da economia nacional, desprezou os efeitos sociais do “ir para além da troika”, não deu importância a qualquer entendimento social e político, vital em momentos de crise. Foi um caminho de pura engenharia social, económica e política, prosseguido com arrogância por uma mistura de técnicos alcandorados à infalibilidade com políticos de aviário, órfãos de cultura e pensamento, permeáveis a que os interesses instalados definissem os limites da sua política. Quiseram servir os poderosos com um imenso complexo de inferioridade social, e mostraram sempre (mostrou-o de novo o primeiro-ministro ontem), um revanchismo agressivo com os mais fracos.
Pensaram sempre em atacar salários, pensões, reformas, rendimentos individuais e das famílias, serviços públicos para os mais necessitados e nunca em rendas estatais, contratos leoninos, interesses da banca, abusos e cartéis das grandes empresas. Pode-se dizer que fizeram uma escolha entre duas opções, mas a verdade é que nunca houve opção: vieram para fazer o que fizeram, vieram para fazer o que estão a fazer.
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O MATERIAL TEM SEMPRE RAZÃO (3)
O tom revanchista que o governo e os seus defensores assumem depois da decisão do Tribunal Constitucional , - do género "ai não quiseram isto, pois vão levar com muito mais", - mostra o carácter punitivo que está presente na política da coligação desde o início. A cada revés, e todas as semans há um grave revés, vêm novas ameaças e castigos, em vez de admissão de erros e inversão de caminhos. Como este tom punitivo é dos que melhor "comunica" com toda a gente, mesmo sem precisar de agências nem assessores, o governo está mais uma vez a semear ventos e a colher tempestades.
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O MATERIAL TEM SEMPRE RAZÃO (2)
A queda de Sócrates deu origem a uma pequena corte de viúvos e viúvas que passaram estes anos a tentar manter a memória do morto e a vingar-se de todas as maneiras dos seus assassinos. Agora estão muito contentes porque a RTP lhes deu uma mesa de pé de galo para falar com o morto e vice-versa. Esquecem-se que, em períodos como os que vivemos, até os mortos andam.
A queda previsível de Passos Coelho e a queda já efectiva de Relvas está a gerar o mesmo efeito: a criação de uma corte de viúvos e viúvas que também se preparam para carpir a "oportunidade perdida" de "mudar Portugal" e preparar a vendetta. Como os seus antecessores na viuvez, os blogues, o Twitter e as redes sociais são o seu terreno de eleição.
Ambos ajudaram a estragar Portugal até aos limites da ruína em que vivemos. Ambos pensam muito bem de si e acham que o povo não os merece. O nojo com que hoje olham para Portugal e os portugueses, uma ralé desqualificada cheia de vícios preguiçosos e de "direitos", é o seu melhor retrato. "Não nos merecem" é a inscrição que usam no seu brasão de lata.
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O MATERIAL TEM SEMPRE RAZÃO (1)
O Governo já tinha falhado por completo todos os objectivos do memorando, ANTES da decisão do Tribunal Constitucional. O governo já estava com dificuldades em "ir aos mercados", ANTES da decisão do Tribunal Constitucional. O Governo já estava a caminho de um segundo resgate, ANTES da decisão do Tribunal Constitucional. O Governo já estava em crise profunda, ANTES da decisão do Tribunal Constitucional. Todas as crises, económicas, sociais, e políticas já estavam em pleno curso, ANTES da decisão do Tribunal Constitucional.
A decisão do Tribunal Constitucional acelera todos estes processos mas não lhes deu origem. Nasceu deles. Nasceu de um Governo que, apesar de prevenido, mil vezes prevenido, insistiu num Orçamento de Estado assente em medidas ilegais. Bateu no peito cheio de ar e vento, insultando o Deus dos Trovões e levou com um raio em cima.
(url) POR QUE NÃO SAIMOS DA CEPA TORTA
Não há melhor exemplo da
miséria da nossa vida pública, na sua versão mediática, do que o facto
de José Sócrates ser a sua figura dominante num dia só, quanto mais por
meia dúzia de dias. Isso, sim, é que é revelador e preocupante, não a
figura do antigo primeiro-ministro, ou, acima de tudo, o que ele disse
ou possa vir a dizer, e muito menos a sua putativa futura vida política,
que, qualquer pessoa com um mínimo de bom senso e conhecimento da
realidade sabe que, se passar pelo voto, tão cedo não existe. Mas a
cerimónia colectiva de incomodidade e embasbacamento com a entrevista,
essa sim, é um péssimo sinal da anomia dos nossos tempos e das fortes
correntes de nostalgia e radicalismo que a atravessam.
Tudo isso explica o "efeito Sócrates", tão intenso quanto é nula a importância do que disse, um remake
da série de obsessões, mentiras e falsificações de números,
estatísticas e factos, que tiveram um papel muito relevante no
agravamento da crise do país e em colocá-lo numa situação de bancarrota.
Sim, porque, com mais ou menos "narrativa", a acção de Sócrates como
primeiro-ministro conduziu o país a um abismo. E sobre isso não se soube
nada de novo. Pior: confirmaram-se todas as suspeitas do que ele nos
tinha feito e continua capaz de fazer.
Se o fez por ser um "animal
feroz", ou por ter aquela determinação cega que ninguém lhe nega e tão
evidente foi na entrevista, eu ainda me preocupo mais, porque o teor
autoritário e dominador da personagem junto dos espíritos fracos foi uma
razão do seu sucesso político. Se ser "animal feroz" foi ou é
qualidade, então essa qualidade serviu para nos atirar a todos para uma
crise maior e sem fim, quando podia ser bem mais pequena e moderada nos
seus efeitos. O radicalismo que a reacção a Sócrates revela numa parte
da opinião pública e publicada, poderia ser a descoberta do populista
salvífico que muitos esperam, se não fosse tão viva a memória das suas
malfeitorias. É porque não quero que essa memória se esvaia, na fácil
máquina de esquecimento que é a comunicação social, que também aqui o
trato como assunto, porque o mal que ele traz alimenta-se do silêncio,
não da fala.
Este homem foi um perigo, ajudou, e muito, a
afundar-nos colectivamente, e seria hoje de novo um perigo, se não
houvesse tão recente e viva memória dos seus "feitos". Mas o que é
interessante é perceber que dele não nos defenderam muitos dos
iluminados da nossa praça, à direita e à esquerda, como agora também não
seriam capaz de o fazer. A razão por que me preocupa a reacção à
entrevista é esta: este homem seria o populista ideal, e muita gente
abre-lhe alas, apenas porque ele fala alto e grosso, num mundo em que
Seguro é o que é e Passos e Relvas são que são e não suscitam nem temor,
nem entusiasmo. Apenas tédio e preocupação.
Quando falei da
nostalgia que alimenta esta reacção à entrevista foi disso mesmo: a
direita precisa de um inimigo e trata-o como a quinta-essência das
malfeitorias da esquerda, coisa a que nunca pertenceu, porque precisa de
encontrar identidade pela construção de um adversário. Sócrates é o
adversário ideal, e é por isso que foi com a sua colaboração e
assentimento que o Governo lhe abriu as portas da "sua" televisão. Para
além disso, calcula que, por muito que possa vir a ser atingido por um
ou outro remoque certeiro, Sócrates será um problema essencialmente para
o PS. Os estragos que Sócrates possa vir a fazer ao Governo serão
sempre entendidos como danos colaterais, aceitáveis pela enorme vantagem
de ele impedir, pela sua mera existência semanal na televisão, a
consolidação da liderança de Seguro. Por outro lado, a vendetta
pessoal de Sócrates contra Cavaco é também bem-vinda, porque, para o
grupo à volta de Passos Coelho, Relvas, Menezes e Ângelo, colocar o
Presidente na ordem é uma necessidade estratégica. E pensa, e bem, que
não será possível a Sócrates no seu comentário escapar à "síndroma" de
Santana Lopes em que qualquer coisa discutida em 2013 vai dar, por volta
da terceira frase, à incubadora, ou, no caso de Sócrates, aos eventos
de 2011 e à contínua autojustificação de tudo pela traição alheia.
O
mesmo fenómeno de nostalgia e radicalização existe à esquerda. A
esquerda, principalmente a que está órfã no PS de Seguro, enfileira
atrás daquilo que pensa ser um cabo de guerra a sério e não de um clone
com falinhas mansas. Há demasiada orfandade na actual "oferta"política
para deixar um lugar para Sócrates e ele ocupa-o não porque queira o
lugar de Seguro, mas também porque, para ele, as dificuldades de Seguro
serão a sua versão dos danos colaterais. O "animal feroz" para "tomar a
palavra", que nele significa o mesmo que "tomar um castelo", sabe que
prejudica Seguro, mas é suficientemente obcecado com a sua pessoa e a
sua missão para não se preocupar com isso.
A comunicação social,
com quem Sócrates manteve uma relação muito próxima até ao momento em
que iniciou a sua queda, quando, à maneira portuguesa, todos os que lhe
apararam o jogo, o começaram a calcar com a mesma veemência com que o
adulavam, gosta de festa e Sócrates dá-lhes festa. Este homem que, como
Relvas, mas com muito mais poder e cumplicidades, usou todos os meios ao
seu alcance para afastar os jornalistas que se lhe opunham e punir
todos os que o afrontavam, volta hoje a ser tratado com a mesma
complacência com que se aceitavam sem questionar os seus anúncios
propagandísticos e sua contínua manipulação dos factos e estatísticas. O
modo como se menoriza o próprio conteúdo da sua entrevista - insisto um
remake sem novidades de tudo aquilo que andou a dizer em 2010-11 -, em detrimento do folclore do seu "efeito", mostra isso mesmo.
A
história da "narrativa" é reveladora. Sócrates apresentou-se como
pretendendo combater a "narrativa" que a direita fazia da sua governação
e queda, opondo-lhe a sua própria "narrativa". Esta história das
"narrativas", um modismo para designar uma construção ficcional de
eventos, preso exactamente pelo fio da narrativa, é atractiva porque
procede a uma selecção de factos, moldados pela sequência cronológica
escolhida, que pode não ser a que aconteceu, e pela eliminação dos
"factos-problema", que podiam prejudicar a clareza ficcional da
história. Na sua "narrativa", Sócrates coloca o seu principal motor
interior, a sua vontade, cuja determinação varreu com tudo, bom senso,
estudo, conhecimento, verdade, atenção ao real, custos, condições, tudo.
E levou-nos ao que se sabe.
É, no fundo, um argumentário
político, que pode ter uma maior ou menor aproximação à realidade ou à
ideologia, e que serve como discurso de justificação, mas não é, nem
foi, o que aconteceu, não é a realidade, nem a verdade. Não foi o que
aconteceu nem na "narrativa" contra Sócrates, nem na do próprio
Sócrates. Mas a escolha por Sócrates desta figura da "narrativa" mostra
como, para ele, os factos contam pouco, mas sim o conflito mediático
entre interpretações, o que é consistente com a recusa que sempre teve
da palavra "verdade" no vocabulário político. Ele não diz "no que
aconteceu", mas sim "na narrativa do que aconteceu". Há quem ache que
isto é que é a essência do "discurso político", a moldagem da realidade
pela vontade política. Sócrates era desta escola, uma variante mais
animada do que a moldagem da realidade pelas folhas de Excel, mas em
ambos os casos com efeitos desastrosos.
Aliás, Sócrates deu
muito poucos factos, e os que deu estão manchados, por serem falsos (a
escolha de números e estatísticas manipuladas, uma sua pecha de sempre)
ou poderem ter uma outra leitura e interpretação. Por exemplo, a
aprovação do PEC IV, com o apoio europeu (desvalorizado na "narrativa"
da direita), que tipo de ajudas garantia para Portugal? Desconhece-se.
Essas ajudas poderiam sobreviver à crise grega e à subida exponencial
dos juros nos mercados, sem darem origem a um qualquer "plano de
resgate"? Duvido. Por aí adiante. Como é que se poderia manter um
primeiro-ministro que, no momento em que mais precisava de alargar a sua
base de apoio, à frente de um Governo minoritário, hostilizava tudo e
todos? Por aí adiante. Nada foi verdadeiramente explicado na sua
"narrativa", que, no essencial, nos mostrou o mesmo homem que nada
aprende, nada esquece, e cuja vaidade e vontade varrem tudo à frente.
Não
foi a entrevista que foi interessante. Foi o seu efeito. O sucesso do
retorno de Sócrates não é o sucesso do governante de 2005-2011, nem a
sua reabilitação, mas o sucesso do populismo e da orfandade do país
político de 2013. Faz uma diferença. Faz toda a diferença.
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© José Pacheco Pereira
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