ABRUPTO

26.12.09


ESPÍRITO DO TEMPO: HOJE


Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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COISAS DA SÁBADO: EM VEZ DE INFORMAÇÃO, ENCENAÇÃO


Aquela reunião da protecção civil com o ministro engravatado e com meia dúzia de pessoas retiradas das camas a meio da noite, para abrir os noticiários matinais ao lado das notícias do sismo, teve tudo de encenação e nada de operação. Aos jornalistas pede-se mais do que ir lá filmar a encenação, pede-se que nos digam qual a utilidade da reunião, o que foi lá decidido que não o podia ser doutra maneira, mais eficaz e com menos aparato, e se tudo correu como devia correr antes da reunião, ou se apareceram falhas que seriam trágicas se o sismo tivesse más consequências.


ADENDA: Por que razão, dias depois, quando do temporal que atingiu várias zonas do país, não houve idêntica encenação "logo a seguir", como diz a prestimosa RTP? Por que desta vez era a sério e ainda agora, mais de 48 horas depois, continua a haver zonas do país sem electricidade.

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EARLY MORNING BLOGS

1708 - The Waste Land (fragmento)

(...)

Who is the third who walks always beside you?
When I count, there are only you and I together
But when I look ahead up the white road
There is always another one walking beside you
Gliding wrapt in a brown mantle, hooded
I do not know whether a man or a woman
-- But who is that on the other side of you?
What is that sound high in the air
Murmur of maternal lamentation
Who are those hooded hordes swarming
Over endless plains, stumbling in cracked earth
Ringed by the flat horizon only
What is the city over the mountains
Cracks and reforms and bursts in the violet air
Falling towers
Jerusalem Athens Alexandria
Vienna London
Unreal

(...)

(T. S. Eliot)

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25.12.09




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24.12.09


COISAS DA SÁBADO:
FAZER TUDO PARA FICAR CADA VEZ MAIS ENTERRADO NUMA MAIORIA RELATIVA


O que é que o PS conta ganhar com a guerra que está a fazer ao Presidente da República? O que é que o PS conta ganhar com a guerra ao Parlamento? Quem é que o PS conta enganar distraindo-nos com iniciativas “fracturantes” que nunca passariam em qualquer consulta popular? Será que o PS e José Sócrates ainda não perceberam que por muito mal que ande a instabilidade governativa, os portugueses nunca mais lhe darão uma maioria absoluta?

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EARLY MORNING BLOGS

1707 - On Seeing the Elgin Marbles



My spirit is too weak—mortality
Weighs heavily on me like unwilling sleep,
And each imagined pinnacle and steep
Of godlike hardship tells me I must die

Like a sick eagle looking at the sky.
Yet ’tis a gentle luxury to weep
That I have not the cloudy winds to keep
Fresh for the opening of the morning’s eye.
Such dim-conceived glories of the brain
Bring round the heart an undescribable feud;
So do these wonders a most dizzy pain,
That mingles Grecian grandeur with the rude
Wasting of old time—with a billowy main
A sun—a shadow of a magnitude.

(John Keats)

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21.12.09

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MEMÓRIA VIVA DE SÁ CARNEIRO

Tenho estado nos últimos dias a ver uma parte importante dos papéis inéditos de Francisco Sá Carneiro que cobrem os anos do PPD e do PSD entre 1974 e 1980. Os papéis significam notas e textos manuscritos, originais dactilografados, correspondência, textos de intervenções inéditas, actas, relatórios, etc., de Sá Carneiro e do núcleo fundador do partido. Ainda estou longe de ter visto sequer metade de metade, mas a riqueza do que já vi permite um comentário, ainda que provisório e subjectivo, sujeito a um estudo posterior mais académico, sobre o que se pode aprender vendo esses papéis para a discussão actual sobre a crise (real) e o destino (ameaçado) do PSD, tal como ele é. Os papéis permitem percebê-lo como ele foi, nos momentos da sua génese, e assim compreender as enormes diferenças, o que resultou bem e o que resultou terrivelmente mal.

É nítido que nos seus primeiros anos o PPD, e depois o PSD, era muito diferente da actualidade. Era constituído por uma elite nacional e local, os seus fundadores, que compreendia um conjunto de advogados, juristas, médicos, alguns reformados, professores, um ou outro engenheiro e alguns operários (sim, operários) e empregados. Mas os advogados eram o núcleo central dessa elite, quer a nível nacional, quer local. Esses advogados não eram alheios à intervenção política antes de 1974, uns na chamada "ala liberal" no tempo de Marcelo Caetano, outros como membros da oposição tradicional moderada e não comunista, com ligações à Maçonaria, e um ou outro como membro local da Acção Nacional Popular, o partido do regime. O núcleo central tinha uma forte influência da doutrina social da Igreja e do personalismo cristão, era politicamente liberal no sentido oitocentista do termo, reforçado por uma certa imagem do advogado como o defensor dos direitos individuais, e rapidamente se aproximou, depois do 25 de Abril, de uma social-democracia moderada ao modelo sueco e alemão.



Anotação manuscrita das profissões dos membros do Secretariado nas actas (1975-6).

Por isso, do ponto de vista ideológico, a tentativa de aproximação à Internacional Socialista não foi apenas pragmática ou "oportunista", por razões de procura de legitimidade política no ambiente radicalizado de 1974-5. Bem pelo contrário. A adesão à Internacional Socialista era para Sá Carneiro (e para sectores ainda mais "socialistas" como era então a JSD) uma política consistente, fortemente desejada e considerada de grande importância, e prosseguida com grande vigor e muitos esforços. Sá Carneiro via aí também um travão a que o partido se deslocasse para a direita. O principal factor dessa deslocação era o anti comunismo, um factor comum nesta elite fundadora, mas ainda mais importante naquilo a que se viriam a chamar as "bases".

Esta elite partidária, que depois, já de forma perversa e já na sua própria decadência, veio a ser qualificada de "barões", não estava acantonada num partido separado da governação. Bem pelo contrário, há um simbiose perfeita entre a direcção política partidária e a participação do PPD/PSD na governação, inclusive institucionalizada em órgãos como a Comissão Permanente para os Assuntos Governativos. Ou seja, a direcção do partido conduz politicamente a governação sem ambiguidades, e discute as grandes opções políticas e as prioridades legislativas, como é normal numa democracia parlamentar e partidária.

A separação de águas entre partido e governo, feita pela exclusão do partido, foi típica dos anos de Cavaco Silva, e desertificou os órgãos de topo e deixou-o entregue apenas à política local e à partilha dos lugares de poder. É verdade, diga-se em favor de Cavaco Silva, que os órgãos de topo do partido, a Comissão Política em particular, tornou-se inconfiável devido às fugas de informação. No tempo de Sá Carneiro já havia fugas, mas não se compara à destruição do papel dos órgãos dirigentes do partido pelas sistemáticas fugas de informação dos seus membros. Este processo enfraqueceu o PSD, e os governos do PSD. O partido ficava entregue a uma agenda menor muito ligada à partilha do pequeno poder e o governo perde dimensão e condução política.

Neste anos iniciais, a grande, absoluta diferença no retrato do PPD/PSD com a actualidade é que não havia aparelho, não havia um partido rigidamente estruturado e isolado socialmente e não havia "poder local". A elite dirigente comunicava com a "massa" do partido, através das "forças vivas locais" nos sítios de maior implantação, de forma quase perfeita. Embora houvesse uma rede de "notáveis", estes não eram profissionais partidários e prosseguiam as suas actividades profissionais ao mesmo tempo que se envolviam politicamente. Eram advogados, médicos, funcionários, professores, pequenos empresários, empregados, operários e "pepedês". Podiam até já fazer parte dos órgãos locais do partido, mas basta ver as histórias de implantação local, as actas dos organismos, existentes nos papéis de Sá Carneiro, para se perceber que a actividade em que se envolviam era de facto "militante": sessões de esclarecimento, comícios, mobilização local para eventos nacionais e alguma barganha política por influência, mas nada que se compare à actual gestão de sindicatos de voto, delegados aos congressos, lugares de deputados, vereadores, e outros de nomeação política. Havia "militância" no sentido militar original do termo, e uma forte identidade. Um dos autocolantes destes anos diz apenas "eu sou social-democrata".



E depois há "povo laranjinha" que, nestes anos turbulentos, se mobilizava pelo anticomunismo no Norte, e ao lado da Igreja e da sociedade local, e que via os partidos mais à esquerda, PCP e MDP, tomarem todos os poderes por via "administrativa" com o apoio do MFA. Esse "povo" comunicava com idêntico "povo" socialista na defesa dos valores tradicionais postos em risco pelo PREC, em particular, nos meios camponeses, a propriedade privada. Mas uma parte dele desenvolveu rapidamente uma ligação "orgânica" com essa elite urbana e a sua expressão local, mais as "forças vivas", os self made man, que eram na sua maioria expressão do comércio ou da pequena indústria local, ou de uma nova burocracia que se começava a formar naquilo que viria a ser designado "poder local". Estas eram as "bases" originais. Esse "povo" não precisava de aparelho para se mobilizar e enquadrar, e constituiu uma força sempre ao dispor dos dirigentes nacionais do PSD até à Aliança Democrática. É provável que tenha sido a AD, um verdadeiro rolo compressor político, a última expressão deste PPD/PSD inicial.

Por fim, há a política e a ideologia. Basta ler um discurso de Sá Carneiro para se perceber a enorme distância que existe entre o que o preocupava e motivava politicamente e o que passa por ser "política" na actualidade. Os seus papéis mostram uma contínua presença de questões ideológicas nos debates internos, e em particular as pastas sobre as dissidências que levaram à criação da ASDI revelam que, para além dos antagonismos pessoais, havia questões ideológicas e políticas de fundo. Mas, mais do que isso, mesmo em documentos que poderiam ser entendidos como conjunturais, existe uma ideia do ethos da política que impregnava a acção destes homens. Um documento interno como o "Memorando sobre as Negociações para a Constituição do II Governo Constitucional" começava com a seguinte frase: "Para o PSD, o traçado de uma nova política assume prioridade em relação ao mero problema do exercício do poder." Quem diria hoje isto com verdade?



De facto, não era a carreira nem o "protagonismo" que motivava estes homens que fundaram o PSD. Tal não significava que fossem perfeitos e que não tivessem vaidades, ambições, presunções, mas como não eram de plástico, nem feitos por especialistas de "comunicação" e marketing, tinham profissões e sólido prestígio social, ganho fora e não dentro do partido, pensavam diferente, actuavam diferente, e o seu exemplo, tão importante em instituições como os partidos na sua génese, mobilizava de forma diferente, gente diferente.


Manuscrito do primeiro discurso de pois da vitória da AD.

Nestes dias de aridez política e de muito oportunismo à solta, os papéis de Sá Carneiro continuarão a ser a melhor companhia para o militante do PSD que assina este artigo.

(Versão do Público, 19 de Dezeembro de 2009.)

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1706 - Le tombeau d'Edgar Poe

Tel qu'en Lui-même enfin l'éternité le change,
Le Poëte suscite avec un glaive nu
Son siècle épouvanté de n'avoir pas connu
Que la mort triomphait dans cette voix étrange!

Eux, comme un vil sursaut d'hydre oyant jadis l'Ange
Donner un sens plus pur aux mots de la tribu
Proclamèrent très haut le sortilège bu
Dans le flot sans honneur de quelque noir mélange.

Du sol et de la nue hostiles, ô grief!
Si notre idée avec ne sculpte un bas-relief
Dont la tombe de Poe éblouissante s'orne

Calme bloc ici-bas chu d'un désastre obscur,
Que ce granit du moins montre à jamais sa borne
Aux noirs vols du Blasphème épars dans le futur.

(Stephane Mallarmé)

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20.12.09

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: REFLEXOS



O Sol reflecte-se num lago de Titã.

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1705 -The Solitary Huntsman

The solitary huntsman
No coat
of pink doth wear,
But midnight black from cap to spur
Upon his midnight mare.
He drones a tuneless jingle
In lieu of tally-ho:
“I’ll catch a fox
And put him in a box
And never let him go.”

The solitary huntsman,
He follows silent hounds.
No horn proclaims his joyless sport,
And never a hoofbeat sounds.
His hundred hounds, his thousands,
Their master’s will they know:
To catch a fox
And put him in a box
And never let him go.

For all the fox’s doubling
They track him to his den.
The chase may fill a morning,
Or threescore years and ten.
The huntsman never sated
Screaks to his saddlebow,
“I’ll catch another fox
And put him in a box
And never let him go.”

(Ogden Nash)

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© José Pacheco Pereira
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