LENDO VENDO OUVINDO ÁTOMOS E BITS de 9 de Outubro de 2007
Percebo agora o sentido da frase que escolheu para o seu blog: "M'espanto às vezes, outras m'avergonho". Preparam, certamente, os seus leitores para alguns dos seus escritos. Fiquei, de facto, espantado, com a sua resposta.
O senhor é um político, mas também historiador. E sou um leitor de vários dos seus trabalhos. Sei que no seu blog faz política. Mas, onde está o rigor? A seriedade intelectual? Ou, contrariamente ao que vem afirmando, "em política, vale tudo"?
Pedi-lhe, simplesmente, que me respondesse a uma pergunta: "O que admitiu José Rodrigues dos Santos que tenha a ver com os últimos três anos? AFIRMA PEREIRA: " O que diz José Rodrigues dos Santos pode ter tido pretexto no que lhe aconteceu em 2004, mas, o modo como ele diz, só pode significar que considera que é pertinente para a actualidade." (sublinhado meu).
Eis aqui um caso de RIGOR ABSOLUTO.
O senhor consegue perceber pelo modo como diz, algo que lhe convem a si, mas que ele, efectivamente, nunca diz. Se leu declarações de José Rodrigues dos Santos ao DN, lá está: "Não ocupo nenhuma posição responsabilidade editorial, pelo que desconheço o comportamento da administração hoje em dia." Mais à frente: "Luís Marinho fala da sua experiência, eu falo sobre a minha."
Onde consegue o senhor ver aqui alusões ao presente? Claro que, como estas declarações já não lhe dão tanto jeito, acaba por afirmar que JRS "recuou". FANTÁSTICO.
Agora, sobre os seus "momentos-chávez".
Como se lembra, entre uma das centenas de vezes que atacou a Informação da RTP, desta vez em Agosto, falou de uma comparação que fez entre o Jornal da Tarde da RTP e o Primeiro Jornal da SIC, numa notícia envolvendo, como sempre, o Primeiro-Ministro. O tema era o anúncio dac construção da barragem do Baixo Sabor.
Pivot da reportagem da SIC: " O concurso público para a construção da barragem do Baixo Sabor vai ser lançado na próxima semana, e a obra deverá começar no Verão de 2008. O Primeiro-Ministro presidiu hoje à apresentação do projecto, que tinha mandado suspender há sete anos quando era ministro do Ambiente." A reportagem tinha 1' 54, com uma declaração do PM (no palanque).
Pivot da reportagem da RTP: "O concurso para a construção da barragem do Sabor vai ser lançado na próxima semana. A obra , que arranca no início de 2008, será concluída no máximo de 5 anos. O anúncio foi feito pelo Primeiro-Ministro, esta manhã, em Torre de Moncorvo". A reportagem tinha um off de 50 segundos, seguido de uma declaração do PM (no palanque).
Na altura, o senhor afirmava: "Mostra como a RTP passa sempre o PM,em grande plano,sózinho, no palanque"... Mas onde quer que a RTP, como as outras televisões, filmem o PM, quando ele está, sózinho num palanque? Aliás, como o faz com outros protagonistas, quando falam, sózinhos, em palanques. Sugere, pora acaso, que contratemos figurantes para colocar atrás do PM, para ele não aparecer sózinho?
Quando leio as suas acusações, embora saiba que está a fazer política, e a utilizar a RTP como arma de arremesso, tento vislumbrar o historiador sério e rigoroso. Em vão.
(António Luís Marinho)
NOTA: A prática do Abrupto é dar a quem se sente visado um direito de resposta em termos que são mais favoráveis até do que os dos jornais. Muitas vezes nem sequer faço qualquer comentário, deixando ao leitor o julgamento final. No caso de Luís Marinho, que ocupa as funções de Director de Informação da RTP, assiste-lhe todo o direito a defender-se das acusações que tenho feito à informação da RTP e que são de sua responsabilidade, mesmo quando o faz com argumentos ad hominem e de uma forma desabrida. Por outro lado, Marinho sempre vem à discussão, coisa que as nossas “autoridades” evitam com todo o cuidado e isso é um mérito e exige uma resposta.
Quanto à substância do que diz, acrescento dois comentários, um sobre as afirmações de José Rodrigues dos Santos e outro sobre os “momentos – Chávez”.
Quanto à interpretação errada (e com dolo) que Marinho me acusa de ter das declarações de José Rodrigues dos Santos, pouco tenho a acrescentar ao que disse aqui. Aliás, Marinho nas citações que faz reforça a minha interpretação: José Rodrigues dos Santos está a falar da actual cadeia hierárquica da RTP e não de qualquer outra que estivesse em funções quando ele se afastou e tivesse sido substituída. É exactamente a mesma de 2004 que ainda está em funções, e a quem acusa de se prestar a “interferências ilegítimas (...) em matéria editorial” em 2004, mas de cuja denúncia ele próprio continua a pagar o preço (em 2007). Quando perguntado sobre se as coisas continuam na mesma, José Rodrigues dos Santos limita-se a dizer que como já não ocupa o cargo que tinha em 2004, não sabe : "Não ocupo nenhuma posição responsabilidade editorial, pelo que desconheço o comportamento da administração hoje em dia." (...) "Luís Marinho fala da sua experiência, eu falo sobre a minha." Mas não deixa de acrescentar de forma genérica (vale para 2004 e 2007) : “Na minha experiência, os governos contactam as administrações e depois estas passam, ou não, os recados."
Luís Marinho pode agarrar-se à sua interpretação, que eu fico na minha que me parece aliás mais rigorosa e sustentada, e a única que explica por que razão há tanto incómodo com essas declarações que poderiam inclusive suscitar um processo interno.
Quanto à segunda questão, a dos Momentos – Chávez, a fragilidade da resposta de Luís Marinho parece-me evidente. Arranjou um exemplo de Agosto, em que a SIC deu mais tempo que a RTP a uma intervenção do primeiro-ministro. Será que Marinho quer dizer que a SIC e a TVI fazem isso por regra? Fizeram-no ontem, anteontem, em Setembro, em Julho, em Junho? Claro que não fizeram. E, acima de tudo, por regra, fazem-no de outra maneira, com outro tratamento editorial menos favorável à transmissão acrítica da “mensagem”. Essa é que é a questão e não apenas o tempo (também é), - é o tratamento noticioso de sessões que são muitas vezes montagens de propaganda, sem qualquer conteúdo informativo e a que a RTP dá o melhor dos seus telejornais e muitos directos.
Pode Luís Marinho pedir à ERC que lhe faça o trabalho de comparar o tratamento qualitativo favorável / desfavorável do primeiro-ministro entre a RTP, SIC e TVI, que mesmo a ERC terá muita dificuldade em ignorar o óbvio. Quanto à pergunta falsamente irónica de Marinho sobre o palanque - “ sugere, por acaso, que contratemos figurantes para colocar atrás do PM, para ele não aparecer sozinho?” – ela responde-se por si: não é preciso, o Primeiro-ministro faz isso bem, encarrega-se de arranjar os figurantes e o casting, que a RTP depois arranja-lhe o público.
Meu caro Luís Marinho, se isto tudo acontecesse numa televisão privada, eu podia não gostar, denunciar a manipulação e ficar por aqui. Mas a RTP é diferente, é paga com o dinheiro dos nossos impostos e é defendida com argumento ideológicos que implicam a superioridade e isenção do seu jornalismo, pelo que o seu escrutínio tem também natureza política. Não só, mas também. E nesse escrutínio não pode ser ignorado que a cadeia hierárquica da RTP sobe ao Ministro Santos Silva e termina no Primeiro-ministro Sócrates.
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Se fala assim do "serviço" da RTP havia de ouvir um dia destes a RDP, nomeadamente a Antena 1, para ver como as notícias podem ser tratadas à la Chavez. E mais: quando alguém reclama - pelo site que é a única forma de falar com o provedor, ele não responde. Mas se não responde para que é que serve um provedor?
(Nuno Dias)
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Foi com uma certa surpresa que vi o Eng. José Sócrates, Primeiro-Ministro, na inauguração da nova instalação da Pescanova, em Mira a discursar, tendo como pano de fundo a “marca” Pescanova. Fiquei surpreso e perplexo pois, por muito importante que seja qualquer investimento, o Primeiro-Ministro tem que ter um distanciamento sobre a promoção/publicidade do produto. Ao vê-lo falar, à frente do painel da Pescanova, lembrei-me do Capitão Iglo e, sinceramente, considero que o Capitão Iglo fica melhor no anúncio. Tem charme, mais alegria e mais bem disposto. De certeza que as crianças preferem o Capitão Iglo.
(António)
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Esperemos agora com espectativa redobrada a atenção que a RTP vá dar aos “momentos-socrates” com manifs, após a visita policial para esclarecimentos de percurso. Tivesse outro qualquer primeiro-ministro dito o que o actual disse sobre a orquestração dos protestos, e vinha aí a imprensa com uma catelinária de bruááásss de exagero quanto ao sucedido ( se fosse o Santana então … vinha aí o fascismo).