ABRUPTO

29.7.07


DIÁRIO DA CRISE NO PSD ESCRITO EM RONGORONGO (22)

Hoje os jornais estão cheios de pérolas para estes escritos em Rongorongo. Por exemplo, uma entrevista com Helena Lopes da Costa no Diário de Notícias. Tema: uma matéria com um longo historial, sobre a qual se poderia escrever um tratado de quinhentas páginas, a secção de Algés.
"O semanário Sol referia existir pagamento de quotas em massa na secção do PSD de Algés, de que é presidente. Quer comentar?

HLC - O Sol transformou-se no Povo Livre da secretaria-geral do PSD. É um jornal que me recuso a comprar.

Mas confirma ter pago a quota de 29 militantes?

HLC - O que posso dizer é que o partido me fez cair numa esparrela, pois foi por sugestão de Maria do Rosário Ferro, da tesouraria do PSD , que paguei por transferência bancária as quotas de alguns militantes que não o conseguiam fazer pois o código que receberam em casa dava o aviso de dados inválidos no multibanco.

Mas foram os militantes que se queixaram dessa dificuldade de pagamento?

HLC - Naturalmente as pessoas quando têm estes problemas e não conseguem pagar quotas dirigem-se à sua secção. Aliás, o PSD é o único partido em que o pagamento de quotas se transformou numa espécie de drama. Por isso contactei a sede nacional para saber de que forma se podia ultrapassar a situação. Creio que a funcionária do PSD agiu de boa-fé e que me deu uma indicação que deve ser a usual nestes casos."
No Público, há um artigo de "opinião" de Pedro de Abreu Peixoto, membro da secção concelhia de Vila Real do PSD, pressuposto apoiante de Menezes, intitulado "Carta aberta aos barões do PSD". Seria difícil encontrar melhor ilustração para o que escrevi no mesmo jornal (e está no Abrupto): a versão nua e crua da luta de classes dentro do PSD.
"No mistério insondável dos vossos interesses, que têm vindo claramente à luz do dia desde a altura em que decidiram trair o companheiro Santana Lopes e, mais proximamente, quando fizeram com que Marques Mendes ficasse sozinho na liderança, para queimar os últimos resquícios do poder do aparelho (...) Tenho a certeza de que estão felizes. Os vossos patéticos almoços onde vão tentando passear a classe que não têm surtiram resultado. Está aberto o caminho para tentarem um dos vossos.

É claro que ainda vos falta eliminar o companheiro Luís Filipe Menezes, mas aí fia mais fino. É que o homem, para além de não ser burro, tem mais de 40 por cento do partido. E, meus caros companheiros barões, confessem que têm medo. Com tanta percentagem, não sabem se podem dar-se ao luxo dos joguinhos de bastidores num qualquer restaurantezeco da moda.

(...) Os barões do PPD/PSD fizeram o partido sair do poder a nível nacional e esvaziaram-no em Lisboa. Corroem de forma lenta as estruturas legítimas do partido e tentam com golpes de teatro comandar o maior partido português na senda de uma estratégia consecutivamente mal explicada. Basta! As bases estão fartas da vossa incapacidade, mediocridade e mesquinhez. Vamos lutar pelo ressurgimento do nosso partido, livre das sentinelas dos poderes instituídos que se auto-alimentam em regime rotativo. Sempre as mesmas caras, sempre os mesmos discursos, sempre as mesmas lamúrias, sempre os mesmos inimigos, que são inexoravelmente de dentro do partido e nunca de fora dele. (...) Por mim atingi o limite de olhar para as vossas cinzentas figuras e apelo às bases para que vos atirem borda fora, elegendo nas próximas directas um social-democrata de sempre."
A continuar assim ainda vão haver feridos e mortos, mas não se pense que tudo isto é irrelevante. Não o é, bem pelo contrário. É o retrato da situação do nosso sistema político-partidário e, para o mudar, há que conhecê-lo. Não bastam grandes abstracções e nojo nefelibata. Mais vale estudar bem estas peripécias, não as olhar como minudências. Não são.
A crise no PSD e a disputa entre Marques Mendes e Luís Filipe Menezes fazem-me pensar nesta citação de Woody Allen: «Há dois caminhos na vida. O primeiro leva ao desespero, ao sofrimento e à angústia; o segundo leva à morte. Sabedoria consiste em saber escolher qual tomar...»

(José Carlos Santos)

É evidente que não preciso de apelar a quaisquer minudências relativas a direitos de resposta (morais entenda-se porque o espaço é privado…), em relação às linhas que o companheiro decidiu dedicar no seu blogue ABRUPTO a uma Carta Aberta aos Barões do PPD/PSD da minha autoria e publicada no Jornal "Público".

Tenho a certeza que o companheiro, a quem reconheço uma finura reconfortante do conceito de democracia, me dará algum espaço do seu. Prometo que é o último em relação a esta questão.

Tenho reflectido nas suas ideias sobre a luta de classes no interior do PPD/PSD, quando alertado para uma forma diferente de olhar para o estado calamitoso em que se encontra a capacidade de reacção política deste partido e a sua organização interna.

Devo confessar que a sua teoria me intriga.

Sei que no que respeita às lutas de classes, suas teorias, propósitos e acções, não teríamos um diálogo igual, já que os seus conhecimentos na matéria suplantam largamente os meus.

Uma coisa eu não sei! Mas outra coisa eu sei!

A primeira – que eu não sei!- diz respeito em qual classe o Dr. Pacheco Pereira me coloca dentro do PPD/PSD. Na realidade, apesar do meu esforço de adaptação da teoria de Ranganathan, não descortino a forma de proceder à classificação – portanto criação de classes - de companheiros de um mesmo partido. Talvez por não saber onde me encaixar. Ou terei que ir para a varia contrariando toda a teoria da classificação?

A segunda – que eu sei! – é que dar uma opinião é um acto de liberdade, seja aqui seja na pequena localidade de Sirkazhi e que me assiste o direito de ser idealista ou de andar nas nuvens, bem como me assiste o direito de ser um apoiante, não pressuposto, mas assumido de Luis Filipe Menezes e que, afortunadamente, o meu voto vale tanto como o seu.

Pedro de Abreu Peixoto

(Vila Real, 31 de Julho de 2007)

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