ABRUPTO

27.1.07


COISAS DA SÁBADO: O CERCO AOS PRÓ-AMERICANOS

Em Portugal, um número pequeno de jornalistas, comentadores e analistas apoiou a invasão americana do Iraque com diferentes argumentos e posições e razões. Eu fui um deles, como se sabe. Não era, nem nunca foi um grupo homogéneo, havendo diferentes maneiras de defrontar o problema do terrorismo, que estava subjacente em todo o desenvolvimento da política externa americana. Foi sempre uma minoria, muito minoria, e praticamente em nenhum momento teve qualquer espécie de hegemonia, quer no sistema comunicacional, quer na opinião pública. A maioria da opinião pública era-lhe desde sempre hostil e essa hostilidade foi-se agravando quer por erros próprios (a afirmação da existência das armas iraquianas de destruição massiva foi talvez o mais gravoso), quer pelo modo como os eventos da guerra se desenvolveram.

Mas não é tanto sobre as suas razões que escrevo, mas sobre o modo como tem sido atacados como se existisse para a questão iraquiana um delito de opinião que justificasse vários e sucessivos pedidos de silenciamento, contrição, auto-crítica, de pura e simples censura. Um dos alvos desse ataque censório tem sido o director do Público e, através dele, o próprio jornal. Quando a distância do tempo permitir ver estas coisas sem a dose maciça de má fé em que esse ataque assenta (uma das mais nefastas aquisições do debate sobre o Iraque que impregna tudo e foi analisada de forma certeira no livro de Fernando Gil / Paulo Tunhas), perceber-se-á como os argumentos com que, em artigos na imprensa e nalguns blogues José Manuel Fernandes é criticado, são ataques às suas opiniões como sendo impróprias de um director e de um jornal como o Público. Os ataques são políticos e censórios, uma etapa no cerco às opiniões que escapam ao unanimismo actual, a dele e a dos outros.

Um dos “argumentos“ mais absurdos é que a crise que o Público conhece (grave, mas menos grave do que a que conhece o Diário de Notícias, mesmo depois de uma profunda renovação) se deverá ao “conteúdo” pró-americano do jornal (que nem uma redacção e uma maioria de comentadores muito significativa contra a política americana no Iraque conseguiriam atenuar) e que só o “afastamento” do director (e por arrastamento dos que partilham da sua opinião) poderia evitar essa crise. Isto é um típico exemplo dessa mesma má fé, visto que as razões que explicam a crise do Público são comuns à imprensa escrita em geral e só por completa ignorância dessas razões é que se pode pensar que os artigos e os editoriais de opinião tem algum peso nessa crise. Aliás se fosse assim, o Le Monde Diplomatique seria o jornal mais lido em Portugal e o Diário de Notícias estaria a crescer exponencialmente com os leitores de “esquerda” que fogem do Público. Estas “análises” seriam disparates completos se não tivessem o seu claro intuito censório. Há quem não suporte um grão de diferença de opinião, fora do impante unanimismo dos nossos dias.

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© José Pacheco Pereira
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