ABRUPTO

5.5.07


PESSOAS 2


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INTENDÊNCIA


Em actualização ESTUDOS SOBRE O COMUNISMO.

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 5 de Maio de 2007


Dada a natureza do benevolente cuidado que o Estado espalha sobre todos nós, mesmo para com os nunca-fumadores como eu próprio, aqui se chama atenção, como serviço público, que deveria ser pago pelos critérios da RTP, para o último número de Nicotine & Tobacco Research, acabado de sair e onde há artigos como

Sociocultural correlates of menthol cigarette smoking among adult African Americans in Los Angeles

The impact and acceptability of Canadian-style cigarette warning labels among U.S. smokers and nonsmokers

Anxiety sensitivity and early relapse to smoking: A test among Mexican daily, low-level smokers

etc, etc. O mundo dos ricos é de facto interessante.

*

E já agora alguém me explica por que razão as Nações Unidas gastam dinheiro numa campanha em Portugal (e noutros países do Primeiro Mundo) de "Prevenção Rodoviária", certamente uma matéria muito importante mas longe de poder ser considerada prioritária em relação aos problemas mais agudos dos países subdesenvolvidos e em que cada tostão conta para salvar milhões de pessoas?

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NEM TODOS OS PRIMEIRO DE MAIO SÃO IGUAIS

Primeiro de Maio em Nouakchott, Mauritania.

(Eduardo Jorge)

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EARLY MORNING BLOGS
1013 - Leda and the Swan

A sudden blow: the great wings beating still
Above the staggering girl, her thighs caressed
By the dark webs, her nape caught in his bill,
He holds her helpless breast upon his breast.

How can those terrified vague fingers push
The feathered glory from her loosening thighs?
And how can body, laid in that white rush,
But feel the strange heart beating where it lies?

A shudder in the loins engenders there
The broken wall, the burning roof and tower
And Agamemnon dead.
Being so caught up,
So mastered by the brute blood of the air,
Did she put on his knowledge with his power
Before the indifferent beak could let her drop?

(W. B. Yeats )

*

Bom dia!

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MAR

No mar sobre o Funchal.

(Carlos Oliveira)

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COISAS DA SÁBADO : ANTES E DEPOIS

Um dos elementos fundamentais da retórica do Primeiro-ministro é que “antes” não se fazia nada, não se decidia nada, a oposição defendia sempre o contrário de hoje; “agora” decide-se tudo, faz-se tudo, sempre com um “rumo” certo e seguro que o PS sempre teve. Quando ouço isto, só há uma pergunta que acho que deveria ser obrigatório fazer: naquele preciso momento do “antes” quais eram as posições que o PS e José Sócrates defendiam sobre a matéria respectiva?

Para se reconstruir honestamente o mundo de “antes” é vital saber o que é que eles defendiam “antes”. E aqui a resposta é simples: o PS e José Sócrates defendiam o contrário de “agora”, sendo que o “agora” é muito mais parecido com o que os outros defendiam “antes”. “Antes” era a “obsessão do deficit”, “agora” é o “rigor orçamental”; “antes” era o “discurso da tanga”, “agora” é “um momento muito difícil”; “antes” era colocar os números antes das pessoas, “agora” é a irresponsabilidade de colocar as pessoas antes dos números, na saúde, na segurança social, na administração pública. Esta retórica política é uma das coisas que mais desprestigiam a política em democracia. PSD e PS pagam um preço significativo por essa retórica, mas o actual Primeiro-ministro é de uma desfaçatez acima do comum nesta forma de mentira.

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4.5.07


LIVROS NAS TERRAS DO LIVRO 6

Livros nas ruas. Rua Allenby, Telaviv, Israel.

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 4 de Maio de 2007


Isto em política é preciso ter uma paciência de Job, em particular quando se atravessa um período de vacas magras; um período de casa sem pão, onde todos ralham e ninguém tem razão; um período de fome má conselheira; um período em que se é preso por ter cão e por não ter. E há muitos provérbios populares significativos para o caso. Antes de Marques Mendes tomar uma posição, todos lha exigiam; depois de a tomar, todos a criticam. E nem sequer é uma decisão entre muitas, é esta mesmo, precisamente a que tomou, a que lhe exigiam, esta mesmo que lhe criticam. Ou porque é tarde de mais, ou porque é cedo demais, ou por mil e uma razões que servem agora e não servem depois.

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EARLY MORNING BLOGS
1012 - O Casamento do Sol

Dizem que em certo tempo desejou o Sol de se casar, e todas as gentes, agravadas disso, se foram queixar a Júpiter, dizendo: - Que no Estio trabalhosamente sofriam um Sol, que com seus raios os abrasava, donde inferiam e provavam, que se o Sol casasse e viesse a ter filhos, queimaria o mundo todo; porque um Sol faria Verão calmoso na Índia, outro em Grécia, outro na Noruega e terras setentrionais; pelo que sendo todas as três zonas tórridas, não teriam as gentes onde viver. Visto isto por Júpiter, mandou que não casasse.

(Esopo, Fábulas, vertidas do grego por Manuel Mendes)

*

Bom dia!

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3.5.07


IMAGENS QUE FALAM

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Em cima , Al-Haram al-Sharif, a "plataforma das mesquitas", raramente vazia. A segurança israelita abre o acesso aos não muçulmanos apenas por um período muito escasso, e mesmo assim quase ninguém passa hoje os controlos. Os polícias israelitas avisam com insistência para ninguém transportar Bíblias para a esplanada.

Em baixo, junto do Muro das Lamentações, uma pequena multidão de judeus participa em várias celebrações de Bar Mitzvah, o ritual da chegada dos jovens à maturidade. O Muro das Lamentações é o contraforte do antigo Templo destruído, sobre o qual se encontram actualmente os lugares santos muçulmanos. Embora de um lugar a outro bastam subir umas escadas, a distância é quase infinita.

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 3 de Maio de 2007


Afinal Pina Moura, convidado no dizer do próprio como "gestor" e pelas suas afinidades "ideológicas", foi-o, no dizer do seu patrão Manuel Polanco, " escolhido para presidir o grupo devido aos contactos que tem «na alta finança e na alta política» (TSF, hoje) ou seja como lobiista. Apetecia-me dizer que esta história ainda acaba mal, mas como é uma história portuguesa, melhor ibérica, nunca se sabe.

*

Temos, pois, Pina Moura "na qualidade de gestor", "na qualidade de político", "na qualidade de lobiista" ou noutra qualidade qualquer.

Tudo bem. Mas essa ideia de que uma pessoa pode ser uma coisa ou outra conforme "a qualidade que mais convém ao caso" , faz lembrar esta anedota de 1925 em que o patrão beijava a cozinheira... "na qualidade de artista da cozinha"...

C. Medina Ribeiro

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OS NOVOS DESCOBRIMENTOS: UM DEMÓNIO MARCIANO

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BIBLIOFILIA


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EARLY MORNING BLOGS
1011 - Entretiens sur la pluralité des mondes

Nous allâmes donc un soir après souper nous promener dans le parc. Il faisait un frais délicieux, qui nous récompensait d'une journée fort chaude que nous avions essuyée. La Lune était levée il y avait peut-être une heure et ses rayons, qui ne venaient à nous qu'entre les branches des arbres, faisaient un agréable mélange d'un blanc fort vif, avec tout ce vert qui paraissait noir. Il n'y avait pas un nuage qui dérobât ou qui obscurcît la moindre étoile, elles étaient toutes d'un or pur et éclatant, et qui était encore relevé par le fond bleu où elles sont attachées. Ce spectacle me fit rêver; et peut-être sans la marquise eussé-je rêvé assez longtemps; mais la présence d'une si aimable dame ne me permit pas de m'abandonner à la Lune et aux étoiles.

Ne trouvez-vous pas, lui dis-je, que le jour même n'est pas si beau qu'une belle nuit ? Oui, me répondit-elle, la beauté du jour est comme une beauté blonde qui a plus de brillant; mais la beauté de la nuit est une beauté brune qui est plus touchante. Vous êtes bien généreuse, repris-je, de donner cet avantage aux brunes, vous qui ne l'êtes pas. Il est pourtant vrai que le jour est ce qu'il y a de plus beau dans la nature, et que les héroïnes de romans, qui sont ce qu'il y a de plus beau dans l'imagination, sont presque toujours blondes. Ce n'est rien que la beauté, répliqua-t'elle, si elle ne touche. Avouez que le jour ne vous eût jamais jeté dans une rêverie aussi douce que celle où je vous ai vu près de tomber tout à l'heure à la vue de cette belle nuit. J'en conviens, répondis-je; mais en récompense, une blonde comme vous me ferait encore mieux rêver que la plus belle nuit du monde, avec toute sa beauté brune. Quand cela serait vrai, répliqua-t-elle, je ne m'en contenterais pas. Je voudrais que le jour, puisque les blondes doivent être dans ses intérêts, fût aussi le même effet. Pourquoi les amants, qui sont bons juges de ce qui touche, ne s'adressent-ils jamais qu'à la nuit dans toutes les chansons et dans toutes les élégies que je connais ? Il faut bien que la nuit ait leurs remerciements, lui dis-je; mais, reprit-elle, elle a aussi toutes leurs plaintes. Le jour ne s'attire point leurs confidences; d'où cela vient-il ? C'est apparemment, répondis-je, qu'il n'inspire point je ne sais quoi de triste et de passionné. Il semble pendant la nuit que tout soit en repos. On s'imagine que les étoiles marchent avec plus de silence que le soleil, les objets que le ciel présente sont plus doux, la vue s'y arrête plus aisément; enfin on en rêve mieux, parce qu'on se flatte d'être alors dans toute la nature la seule personne occupée à rêver. Peut-être aussi que le spectacle du jour est trop uniforme, ce n'est qu'un soleil, et une voûte bleue, mais il se peut que la vue de toutes ces étoiles semées confusément, et disposées au hasard en mille figures différentes, favorise la rêverie, et un certain désordre de pensées où l'on ne tombe point sans plaisir.


(Fontenelle)

*

Bom dia!

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2.5.07


IMAGENS QUE FALAM

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Culturas do Levante.

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1.5.07


IMAGENS QUE FALAM

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O "estrangulamento" de Belém num mapa usado pelos negociadores da Organização de Libertação da Palestina (OLP) de Dezembro de 2005.


Um das "entradas" (checkpoints) do Muro referidas no mapa acima, vista do lado palestiniano.

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LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 1 de Maio de 2007


As "Internacionais" no Arrastão. A portuguesa é um pouco wishy-washy, a inglesa muito folk e country, a alemã com alguma força, e a esperantista bem razoável. Mas a russa é que é o arquétipo, a única a sério, com o Exército Vermelho por trás. O comunismo sem força nunca parece o comunismo. Destinos.

*









Uma aproximação a como se vai ler no futuro passado: a edição em linha de Blogger and Podcaster.

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EARLY MORNING BLOGS
1010 - April 19

We have too much exhibitionism
and not enough voyeurism
in poetry we have plenty of bass
and not enough treble, more amber
beer than the frat boys can drink but
less red wine than meets the lip
in this beaker of the best Bordeaux,
too much thesis, too little antithesis
and way too much New York Times
in poetry we've had too much isolationism
and too few foreign entanglements
we need more Baudelaire on the quai
d'Anjou more olive trees and umbrella pines
fewer leafless branches on the rue Auguste Comte
too much sociology not enough Garcia Lorca
more colons and dashes fewer commas
less love based on narrow self-interest
more lust based on a feast of kisses
too many novels too few poems
too many poets not enough poetry

(David Lehman)

*

Bom dia!

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IMAGENS QUE FALAM

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Moda palestiniana.

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30.4.07


LENDO
VENDO
OUVINDO

ÁTOMOS E BITS

de 30 de Abril de 2007


Novas formas de sociabilidade: encontros de blogues (em alta), amizades de blogues (em baixa), amiguismo nos blogues (em alta quanto aos livros), sedução nos blogues (em alta, mas sempre muito corny), rupturas nos blogues (em alta), casamentos e divórcios nos blogues (não é estatisticamente relevante porque já não se usa), filhos nos blogues (em alta), mortes nos blogues (poucas, mas lá chegará o tempo).

O ersatz da vida toda, motor dos reality shows na TV, floresce nos blogues.

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LIVROS NAS TERRAS DO LIVRO 5

Primeira livraria da cadeia Steimatzky, o maior grupo de livrarias de Israel, todas de verde alface, na rua Jaffa em Jerusalem. A rua Jaffa é um dos locais preferidos dos bombistas suicidas na cidade.

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EARLY MORNING BLOGS
1009 - The Sun Rising

Busy old fool, unruly sun,
Why dost thou thus,
Through windows, and through curtains call on us?
Must to thy motions lovers' seasons run?
Saucy pedantic wretch, go chide
Late school boys and sour prentices,
Go tell court huntsmen that the king will ride,
Call country ants to harvest offices,
Love, all alike, no season knows nor clime,
Nor hours, days, months, which are the rags of time.

Thy beams, so reverend and strong
Why shouldst thou think?
I could eclipse and cloud them with a wink,
But that I would not lose her sight so long;
If her eyes have not blinded thine,
Look, and tomorrow late, tell me,
Whether both th' Indias of spice and mine
Be where thou leftst them, or lie here with me.
Ask for those kings whom thou saw'st yesterday,
And thou shalt hear, All here in one bed lay.

She's all states, and all princes, I,
Nothing else is.
Princes do but play us; compared to this,
All honor's mimic, all wealth alchemy.
Thou, sun, art half as happy as we,
In that the world's contracted thus.
Thine age asks ease, and since thy duties be
To warm the world, that's done in warming us.
Shine here to us, and thou art everywhere;
This bed thy center is, these walls, thy sphere.

(John Donne)

*

Bom dia!

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29.4.07


FERIADOS VIVOS E MORTOS
http://www.fundacao-mario-soares.pt/arquivo_biblioteca/Dossier02/images/0001.jpg
O discurso presidencial na Assembleia da República no dia 25 de Abril repetiu mais uma vez um tema recorrente nesse tipo de discursos: o que fazer com este dia para ele parecer "vivo" e não morto?
Ao longo dos anos, esta Câmara tem-se reunido em sessão solene para assinalar a passagem do dia 25 de Abril. Esta cerimónia tem vindo a repetir-se durante as últimas décadas, ano pós ano, sem grandes alterações de fundo. Creio que é chegado o tempo de nos confrontarmos com algumas interrogações. De tão repetida nos mesmos moldes, o que resta verdadeiramente da comemoração do 25 de Abril? Continuará a fazer sentido manter esta forma de festejarmos o Dia da Liberdade, ou será tempo de inovar? Estas dúvidas trazem consigo uma outra pergunta: não estarão as cerimónias comemorativas do 25 de Abril a converter-se num ritual que já pouco diz aos nossos concidadãos? Preocupo-me sobretudo com o sentido que este Dia da Liberdade possui para os mais jovens, para aqueles que nasceram depois de 1974. É deles o futuro de Portugal. O que dirá este cerimonial às gerações mais novas? É uma pergunta que não posso deixar de colocar à reflexão dos Senhores Deputados à Assembleia da República.

(Discurso de Cavaco Silva)
O que fazer com o 25 de Abril para não parecer mais um dia em que não se trabalha e se vai para o Algarve? A pergunta já fora feita por Eanes, Soares e Sampaio, quer a propósito do 25 de Abril, quer a propósito do 5 de Outubro. O que é que leva os presidentes a interrogar-se sobre o sentido do seu papel nas sessões solenes da Assembleia da República todas as vezes que têm de falar num feriado com origem histórica e cívica, já que nunca vi nenhum presidente interrogar-se sobre os feriados religiosos? Mais: por que razão essa interrogação se concentra nas cerimónias do 5 de Outubro e, em particular, nas do 25 de Abril e não se coloca com a mesma acuidade no 10 de Junho e muito menos no 1º de Dezembro? A razão é contra-intuitiva, mas é bem simples: é que o 25 de Abril ainda é um feriado vivo e, por isso, divide e é controverso.



Quando um presidente se interroga sobre o 25 de Abril e a sua eficácia comemorativa, está a fechar os olhos a uma evidência que passa a meia dúzia de metros da Assembleia: a "manifestação popular" do 25 de Abril que o PCP, a Intersindical, o BE, uma mão-cheia de pequenos grupos da extrema-esquerda que ainda existem e a ala esquerda do PS patrocinam com considerável sucesso na Avenida da Liberdade. Este ano até com um sucesso maior, dado que a "rua" tem estado bastante cheia de manifestações com grande quantidade de pessoas, devido ao agravamento da situação económica e social portuguesa. Mas esta manifestação é uma não-entidade, um curioso caso de como uma coisa que existe não existe nem para os media, nem para o Presidente, nem para a mecânica da opinião pública e publicada. Só a transformação deste 25 de Abril "popular", ou seja, da "esquerda", numa fantasmática irrealidade é que permite que o Presidente e os seus ecos governamentais digam, com absoluta calma e naturalidade, aquilo que, pelo menos para esta data, não é verdadeiro: que existe um problema de interesse e mobilização à volta do feriado do 25 de Abril. Bem pelo contrário, o 25 de Abril é um dos poucos feriados "vivos" que ainda existem, contrastando com a morte do 5 de Outubro (para todos menos os mações e os monárquicos) e dos outros feriados cívicos.


Várias fotos das "manifestações populares" do últimos anos, incluíndo a de 2007. Numa demonstração suplementar do carácter de não-acontecimento destas manifestações está a enorme escassez de fotografias disponíveis em linha, e dos resultados das pesquisas de imagem no Google.
Basta ver os blogues, que têm uma linguagem menos politicamente correcta, para se perceber que mesmo entre os jovens politizados ele está mais "vivo" que na própria Assembleia da República. Na Rede, uma parte da "direita", incluindo os jovens lobos da clientela de Paulo Portas, ou o seu espelho perfeito, os aderentes radicais chic pós-25 de Abril do BE, mantém uma enorme carga de politização do 25 de Abril, um 25 de Abril já completamente abstracto mas que ainda funciona como grande divisor na procura quase doentia de identidade que têm os grupos radicais.
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A sua convocatória apelava " à participação activa num acto de resistência à farsa Nazionalista, que terá início na Praça da Figueira, depois da manifestação do 25 de Abril ter terminado. Acreditamos que a impunidade e o à vontade com que os vários grupos “nazis” “fascistas” ou ditos “nacionalistas” agem tem de ser combatida aqui e agora, e sabemos que esse não é nem será nunca a tarefa de qualquer polícia ou instituição estatal, pelas suas afinidades e cumplicidades. A nossa denúncia é popular, não judicial.

Como tal, acreditamos que devemos exercer e expandir a autodefesa contra qualquer tipo de agressão por parte desses grupos que fazem o trabalho sujo que os capitalistas não querem fazer. (...) Esta manifestação, que é proposta por grupos libertários e autónomos, è aberta à participação de todas as pessoas e ideias que, de uma forma não partidária, desejam expressar a sua revolta e determinação, numa manifestação popular e unitária. Queremos deixar bem claro que somos e seremos capazes de nos organizar para agir e reagir sempre que necessário. Desejamos que a manifestação seja uma prova de força e determinação, chegando até ao seu final sem problemas nem distúrbios. Mas nunca renunciaremos ao nosso direito de autodefesa."

O problema é que a "vivacidade" do 25 de Abril, nas manifestações "populares" ou nos grupos radicais à direita e esquerda, é politicamente inconveniente e não é assimilável pelo discurso oficial que hoje une o Presidente com o primeiro-ministro e o PS, grande parte do PSD, e que obtém o lip service complexado do CDS-PP. Por isso têm que o matar para pretender ressuscitá-lo como outra coisa: um feriado morto, que se ensine nas escolas com a distância da viagem de Vasco da Gama e a unanimidade da opulência manuelina. No fundo a queixa é, digamos assim, pedagógica, as escolas não ensinam bem a "liberdade", como não ensinam bem a "boa educação", mudemos pois as coisas senhores deputados, em nome do 25 de Abril.

Tudo o que aqui digo sobre o 25 de Abril se aplica ao 1º de Maio, que também é um feriado "vivo", mas comemorado do lado não-existente. Pode aparecer um milhão de pessoas nas manifestações que a intelligentsia mediática aborrece-se com o evento com a mesma sensação de inutilidade que lhe dá a imprensa "económica" cheia de yuppies: são restos do Portugal "velho" que não quer reformas, nem progresso económico, nem dinamismo e flexibilidade empresarial, logo não existe para a política do presente. Para esta forma de "pensamento único" a nulificação do 25 de Abril e do 1º de Maio é uma forma de combate político, como para o PCP o é a sua afirmação nas ruas como componente do discurso comunista.

A ideia que a comemoração do 25 de Abril deve ser dirigida aos "jovens", essa outra entidade mítica da política moderna num país que tem cada vez menos jovens e cada vez mais velhos, é, bem vistas as coisas, um pouco absurda. Dirigi-la aos velhos teria certamente mais sucesso, porque para eles a data significa muito, muito bem ou muito mal, mas muito. Os retornados, os opositores ao regime de Salazar-Caetano, a elite que apoiava e beneficiava com a ditadura, o povo comum que nos primeiros dias depois de 25 de Abril "viveu" de forma existencialmente intensa uma revolução, as vítimas do PREC, todos os mais velhos têm alguma coisa a dizer sobre o 25 de Abril. Para os mais novos é em grande parte mais um TPC, mais umas aborrecidas aulas sobre o sinistro Salazar "que matou muita gente" e sobre a "liberdade", algo de tão abstracto porque felizmente ainda existe como o ar que se respira, ou seja, não se dá por ela a não ser quando não se tem.

Nos jovens, o 25 de Abril já está no mesmo catálogo de ignorância, irrelevância e indiferença que o feriado cívico que veio substituir, o 5 de Outubro. Já ninguém se recorda, mas o 5 de Outubro já esteve há uns anos tão "vivo" como hoje ainda está o 25 de Abril, quando os gritos dos republicanos, o que significava na prática a Maçonaria, de "viva a República" eram dados com lágrimas nos olhos e na expectativa da carga policial à porta dos cemitérios ou dos monumentos que lembravam os próceres da República. Depois, pouco a pouco, as "romagens" aos cemitérios foram tendo cada vez menos gente, que se gritava emocionada "viva a República" era da campa ao lado e não os ouviam os vivos. Mas, convém lembrar, o Portugal de 2007 ainda não é o Portugal dos jovens sem história, nem demográfica nem socialmente.

O 1º de Dezembro e o 10 de Junho são feriados ambíguos, porque os eventos que lhes deram origem já se apagaram de todo da memória colectiva. Esses sim estão completamente mortos, tanto mais mortos que ninguém pergunta sequer como os "transmitir aos jovens". Não estou a imaginar uma turba a atirar Pina Moura pela janela como fez a Miguel de Vasconcelos, nem camoneanos saudosos nas "comunidades" a recitar o vate pátrio e a mobilizar-se para a cerimónia das condecorações. A única parte "viva" do 10 de Junho é também aquela que escondemos: a memória dos militares mortos nas guerras coloniais, duplamente esquecidos, porque a sua memória choca com a parte "viva" do 25 de Abril e porque somos um dos poucos países que, tendo tido uma guerra recente, não temos sequer a dignidade da lembrança para oferecer aos que nela morreram, porque temos pouco respeito por nós próprios.

Resta pois o único feriado "vivo" de carácter histórico e cívico, o 25 de Abril, porque continua controverso e divisor, politicamente pouco neutro e mexendo com a paixão ou a repulsa das pessoas que o viveram e que ainda são muitas. Mas, como em tudo, é só esperar que o tempo o mate. A entropia fará o serviço de reduzir o 25 de Abril ao 5 de Outubro, como reduziu o 5 de Outubro ao 10 de Junho e o 1º de Dezembro a nada. Ficou alguma coisa? Ficou e muita, mas perderá a data como referência e ainda bem, porque significa que teve sucesso depois de estarmos todos mortos.

(No Público de 28 de Abril de 2007)

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IMAGENS QUE FALAM

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Cemitério judeu no Monte das Oliveiras, Jerusalem.

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1008 - ...esta aventura, y las a estas semejantes, no son aventuras de ínsulas, sino de encrucijadas ...

Ya en este tiempo se había levantado Sancho Panza algo maltratado de los mozos de los frailes, y había estado atento a la batalla de su señor Don Quijote, y rogaba a Dios en su corazón fuese servido de darle victoria y que en ella ganase alguna ínsula de donde le hiciese gobernador, como se lo había prometido. Viendo, pues, ya acabada la pendencia, y que su amo volvía a subir sobre Rocinante, llegó a tenerle el estribo, y antes que subiese se hincó de rodillas delante de él, y asiéndole de la mano, se la besó y le dijo: sea vuestra merced servido, señor Don Quijote mío, de darme el gobierno de la ínsula que en esta rigurosa pendencia se ha ganado, que por grande que sea, yo me siento con fuerzas de saberla gobernar tal y tan bien como otro que haya gobernado ínsulas en el mundo.

A lo cual respondió Don Quijote: advertid, hermano Sancho, que esta aventura, y las a estas semejantes, no son aventuras de ínsulas, sino de encrucijadas, en las cuales no se gana otra cosa que sacar rota la cabeza, o una oreja menos; tened paciencia, que aventuras se ofrecerán, donde no solamente os pueda hacer gobernador, sino más adelante. Agradecióselo mucho Sancho, y besándole otra vez la mano y la falda de la loriga, le ayudó a subir sobre Rocinante, y él subió sobre su asno, y comenzó a seguir a su señor, que a paso tirado, sin despedirse ni hablar más con las del coche, se entró por un bosque que allí junto estaba.


(Miguel de Cervantes)

*

Bom dia!

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