ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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12.5.16
SURPRESA!
Desenganem-se que sou muito mais liberal do que socialista,
mas sou sujeito a esse interessante anátema de que agora tudo o que não
pertence a essa direita radical é socialista, pelo menos, quando não é
esquerdista, radical, comunista, etc. Aliás, sobre o que disse no artigo que publiquei
e que suscitou a fúria destes “liberais” (“Para a nossa direita radical o Papa
é do MRPP”), nada é dito e percebe-se porquê: é que eles pensam mesmo que o
Papa é do MRPP com aquelas histórias da “economia que mata…”
Sabem qual é a surpresa? É que no essencial continuo a
pensar o mesmo e não me converti ao socialismo, a não ser à parte de socialismo
que existe na social-democracia.
....
(Hoje na .)
(url)
O PROBLEMA
DOS GRANDES PARTIDOS
Existe um
problema com os grandes partidos, o PS e o PSD? Existe e não é pequeno. Nem um
nem outro estão longe de corresponderem às necessidades dos actuais tempos
portugueses. Nem um nem outro são capazes de qualquer renovação significativa,
embora o PSD a tenha mais feito do que o PS, mas para pior. Nenhum tem hoje
qualquer capacidade de mobilização própria fora de eleições, não agregam por
mérito os sectores mais dinâmicos da sociedade, não produzem ideias, nem
políticas novas, estão lá à espera da mudança dos ciclos políticos e mesmo
assim sem grande eficácia.
O PS pode
estar hoje no governo, mas nunca se deve esquecer que perdeu as últimas
eleições. Repito: perdeu as últimas eleições. E também não se deve esquecer, e
às vezes parece, que para manter o governo tal como ele é, um governo “novo” de
PS com apoio parlamentar do BE e PCP,
vai ter que travar combates políticos muito duros, quer lá fora na
“Europa” do Eurogrupo, quer cá dentro com uma direita “passista” que não tem um
pingo de moderação. Duvido que nessas circunstâncias o PS como está sirva para
muito a não ser para aumentar o isolamento do governo com todos os viúvos e
viúvas de Seguro e Belém a virem a terreiro criticar a “experiência radical “
de Costa quando este parecer mais frágil.
Quanto ao
PSD está cada vez mais longe do que foi, um partido social-democrata,
reformista e basista. Cavaco, mesmo apesar dos seus tempos finais na
Presidência, foi o último a manter alguma ligação com as origens do partido,
com excepção dos interregnos de Manuela Ferreira Leite e Marques Mendes. O
primeiro sinal do que se ia passar foram as direcções de Lopes e Menezes, muito
diferentes entre si, mas trazendo elementos que desvirtuaram a identidade partidária, desde o culto de
personalidade do “menino guerreiro” até ao modo como Menezes construiu uma
estrutura de controlo que ainda lá está com Passos Coelho. Mais do que Relvas, Passos teve a “mão” de Menezes.
Mas todos
vinham de “dentro”, dos maus costumes aparelhísticos que sempre existiram no
PSD, como Passos vinha dos mesmos hábitos de carreira reproduzidos na JSD para
pior. Quando hoje se olha para a elite partidária que dá o poder “albanês” de
Passos dentro do partido é difícil reconhecer qualquer identidade
social-democrata, mas sim uma mescla de gente da Maçonaria, jovens de uma
direita radical feita nos blogues e redes sociais muito ignorante e agressiva,
que, como já o escrevi, acha que o Papa é do MRPP…
Chega para a
“luta de classes”, tem aliados poderosos na “Europa”, mas nada tem a dar ao
país que não seja servir os poderosos e punir os fracos e institucionalizar,
com as fórmulas dos think tanks mais reaccionários, uma ideia de “liberalismo”
que envergonharia Adam Smith. Não gostam da liberdade, gostam da autoridade e
do poder.
O PROBLEMA
DOS PEQUENOS PARTIDOS
É que nada
indica que possam deixar de ser pequenos, nem a curto, nem a médio e muito
menos a longo prazo. O CDS está a seguir a política habitual dos tempos em que
não está no governo como partido de coligação: pôr-se a jeito para voltar ao
governo como partido de uma outra coligação, quer com o PSD, quer com o PS. O
PS que sabe isso muito bem, alimenta-o com elogios que tem também a vantagem de
o ajudar a cortar as amarras com o PSD, coisa que o CDS quer rapidamente fazer.
O PSD é nestes dias uma espécie de trambolho para o CDS, e impede-o de voltar a
ser “responsável” outra vez e poder “negociar”.
O BE parece
estar bem, mas não está. Tudo o que o alimenta como partido de certas causas
tribunícias que o PCP não quer por conservadorismo, cultura e tradição, como as
chamadas “causas fracturantes”, está ou a esgotar-se ou a perder sentido, num
partido que participa no poder político actual. A “causa” do Cartão do Cidadão,
ou do cartaz com Jesus Cristo com “dois pais”, é um exemplo de uma irrelevância
mais ou menos inócua, que mostra o esgotamento de um caminho. O outro caminho,
as medidas que envolvem a melhoria das condições de vida da população, se
conseguidas serão, para a maioria que delas pode beneficiar, mérito do governo
do PS.
O PCP está
também num impasse. O seu poder existe, essencialmente nos sindicatos da CGTP,
mas está estagnado e não dá os proventos políticos que deu no passado. Os
militantes do PCP votarão por regra no partido até morrerem, mas o problema é
que a “lei da vida” faz com que morram cada vez mais e os esforços de renovação
interior, que existem de facto, não permitem ao PCP sair do gueto em que
sobreviveu, mas de onde se mostra incapaz de sair. Os comunistas portugueses
são um milagre de sobrevivência política se comparados com muitos outros
partidos à cabeça mais fortes, e que desapareceram de todo. As diferentes
variantes de comunismos reformistas ou de “eurocomunismos” teriam feito desaparecer
o PCP, como fizeram ao PCE e ao PCF, e isso foi o último combate de Cunhal, já
a URSS estava a cair com Gorbachev. Mas essa época acabou e hoje reformas
profundas no pensamento teórico e organizacional, na linguagem e no modus
operandi, caso houvesse forças endógenas no PCP para as forçar, teriam um
impacto diferente. O BE pode ter avanços ou recuos eleitorais, o PCP não pode
ter recuos eleitorais muito significativos e agarrar-se ao que sempre fez, -
“vão-se os anéis e fiquem os dedos”-, não funciona porque já não tem anéis e os
dedos não estão grande coisa.
/Da .)
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© José Pacheco Pereira
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