ABRUPTO

5.9.15


NA MORTE DE MANUEL DIAS DA FONSECA



Manuel Dias da Fonseca é um nome conhecido por muito pouca gente. No Porto e sobretudo em Matosinhos já mais gente o conhece, mais como vereador da Cultura nos tempos em que o foi, do que pela sua obra poética, aliás escassa e discreta. Mas eu conheci-o como uma coisa que já quase não existe, um amante da música, um melómano. Muitas vezes, nos turbulentos anos 60, um grupo de amigos, que me incluía a mim, o Óscar Lopes, o Eugénio de Andrade, o Jorge Peixinho, a Ilse e o Arménio Losa, iam nas tardes de domingo a sua casa em Matosinhos ouvir os discos que só ele tinha e só ele trazia de fora de Portugal. Eu era o mais novo, o que me faz ser o último sobrevivente. 

A meio da tarde, havia um bolo feito por sua mãe e chá, ou seja um ambiente que já na altura era do passado, burguês, antigo, culto e ilustrado. Ele sabia muito de música e gostava de pôr discos para os presentes adivinharem quem eram os seus autores. Uma vez, com alguma ironia, tendo em conta parte da composição da sala – "do you know what I mean", como diziam os Monty Python –, a pergunta era se era um homem ou uma mulher que cantava. Parecia uma mulher, mas era um homem, Alfred Deller, contratenor, a cantar Purcell. 


Boa música tenhas tu Manuel. Bach, pelo menos, anda por lá 



Versão da  .

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© José Pacheco Pereira
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