ABRUPTO

27.7.14




CARTAS PORTUGUESAS A LUDWIG PAN, GEÓLOGO E AGRIMENSOR NA AUSTRÁLIA

(As duas primeiras aqui, a terceira aqui.)


4º CARTA A LUDWIG PAN, PESQUISADOR DE OURO NOS ANTÍPODAS, SOBRE UM MANTRA BUDISTA 

 Meu caro Pan 

Desejo-te os bens simples do prospector: água fresca, café, lume, toalhinhas refrescantes e corned beef de boa qualidade. Ou estou a ver muitos filmes do Faroeste (sim, a palavra existe mesmo…) e acho que essa longínqua Austrália é igual? Que seja. 

 Nós por cá, todos bem. 

Já ouvi isto nalgum lado, quando o “nós” e “por cá” não estavam nada bem. E lembro-me do “banco”. Todos os dias as nossas altas autoridades nos dizem que o “banco” está bem, é porque está tudo bem. Parece um mantra. Om mani padme hum. Om mani padme hum. Om mani padme hum. Om mani padme hum. Chega para mantra, mas cá é entoada muito mais vezes. Até o presidente, que diz que não faz declarações no estrangeiro sobre política nacional, lá disse Om mani padme hum na Coreia ou em Timor. Espanto dos budistas lá por longe. 

Por favor não leias esta carta alto aos teus aborígenes. Om mani padme hum. O “banco” está bem, embora as “empresas” dos Espírito Santo essas sim é que estão muito mal. Om mani padme hum. Não sei muito bem onde colocam a muralha de aço, mas uma coisa parece “não contaminar” a outra. Eles são os mesmos, e presumo que sim, donos do mesmo, ou parcialmente, numa grande parte, donos do mesmo. Mas o “mesmo” tem uma parte que está má e outra que está boa, mas não comunicam. Pode ser. Om mani padme hum. E como tu, presumo, não tens “papel” do banco, nem deste nem de nenhum outro, podes estar descansado nos antípodas, que estás “bem”, não estás “exposto” a não ser ao firmamento e ao pó. 

Eu penso que é muito útil que aprendas os costumes aborígenes e que me dês um curso acelerado. Por exemplo: dizes-me tu que na Austrália, por onde andas, a da selva obscura, embora sem selva, parece que é proibido falar com as sogras. Parece que os aborígenes quando têm a senhora sogra ao lado, não se lhe dirigem. O diálogo deve ser interessante, um aborígene pede à filha da sogra que lhe diga, “chegue-me esse lagarto roti”. E a filha diz à mãe “Amarynah (Chuva) , minha mãe, dá a este Banjora (coala macho) meu marido, o lagarto que está dependurado no espeto”. 

Os povos sábios resolvem assim os seus problemas de relacionamento e eu devia fazer coisa semelhante, mas não tenho sogra. Aliás, Portugal devia fazer uma coisa parecida. Tomo por certo que a sogra por cá é o Capital, o que já foi de Marx e agora vem no livro de Piketty que não li. O do Piketty. E a filha é o nosso distinto governo, dois em um, mas muito juntinhos. O pobre marido são os portugueses. Na verdade, foram os portugueses que casaram com a filha dela, votando no PSD e no CDS. 

Por cá, caro Pan, os casamentos duram quatro anos, embora a sogra tenha a tendência para ser a mesma. Agora pelos vistos querem descasar e casar com outra, embora a sogra não deixe. Obriga-os ao “consenso”, a fazer um novo acordo pré-nupcial chamado “acordo de regime”, tudo coisas destinadas a impedir mudar de filha, o mais provável, e a mudar de sogra, o altamente improvável. Então os portugueses manifestam-se, protestam, dão “sinais inequívocos”, mas como a filha está agarrada ao casamento nada diz á sogra e os portugueses, como não podem falar directamente com a sogra, ficam a falar sozinhos. 

Verdade seja dita que há uma maneira pouco recomendável e em desuso de falar directamente com a sogra, chama-se revolução, mas é rara e muito complicada. De facto, os teus aborígenes têm razão: falar directamente com a sogra é o fim da paz familiar e o tumulto social. Assim, a gente atura a filha, mas cada dia que passa o divórcio é mais provável, embora haja uma fila de filhas da mesma sogra à espera de vez. Até porque a sogra, em colaboração com a filha, nos rouba muito e nos mente com quantos dentes tem e tem muitas fiadas. 

 Nós por cá todos bem. 

Uma desgraça. Verdade seja, lembrei-me agora, tu também trabalhas para a sogra, procurando o teu ouro e eu também, escrevendo lendas urbanas. Mas que se há-de fazer, é a vida. Om mani padme hum. Mas o “banco” está bem. 

Um abraço do teu parceiro do país onde tudo está sempre bem.

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PONTO / CONTRAPONTO
  aos domingos às 20 horas na SICN.

  Até o retorno do  caos do futebol lhe alterar mais uma vez o horário.

Tema:


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20.7.14


PONTO / CONTRAPONTO
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A CRISE NO BLOCO DE ESQUERDA 


O BE foi um caso de sucesso na política portuguesa. Muito do que conseguiu foi por mérito próprio, mas muita da sua projecção resultou da simpatia activa da comunicação social. O BE tinha novidade, era constituído por um grupo de homens e mulheres muito capazes do ponto de vista político radical, e parecia alterar as regras de um jogo demasiado rígido, logo sem novidade mediática. Algumas causas, também com simpatia activa nos media, como as chamadas “causas fracturantes”,  ajudaram, mas com o tempo esgotaram-se no seu próprio sucesso. O BE conseguiu em pouco tempo crescer eleitoralmente, conseguiu alguma implantação regional, com uma organização que cobria praticamente o país, mesmo que em muitos sítios fossem pouco mais de que uma dúzia de pessoas. Mas existiam, estavam lá. 

 Mas o BE nunca conseguiu duas coisas: ter um corpo doutrinário sólido e “orgânico”, e penetrar noutros meios que não fossem a juventude radical urbana, os filhos da classe média instalada. Mas essa base de recrutamento mudou muito com a crise. Os filhos da classe média passaram a ser a de uma classe média enraivecida e pauperizada pela crise, e absorveram mais do que se imagina o apontar de dedos governamental às culpas dos reformados, funcionários públicos, sindicatos e sindicalistas, os velhos e os pensionistas. Mesmo enraivecidos contra o governo, incorporaram as explicações da propaganda governamental, aliás como muitos dos seus pais que acham que “viveram acima das suas posses”, se não eles os seus vizinhos. E por isso, desprezam as manifestações sindicais, olham de lado os velhos, acreditam que as dificuldades do seu destino se devem a quem tem emprego “com direitos” e quem recebe pensões e reformas. 

 Neste contexto, que o BE nunca compreendeu bem, a organização não conseguiu atrair nem renovar, nem fileiras, nem votos. Movimentos como o “Que se lixe a troika”, ambíguo, desorganizado, sem estruturas permanentes, mobilizando à esquerda e à direita nas manifestações, elogiadas- imagine-se! - pelo próprio governo, tiveram o sucesso fátuo deste tipo de iniciativas, mas ajudaram a esvaziar o BE. 

O que é que hoje sustenta o BE? O parlamento. Ora o efeito da parlamentarização num grupo como o BE é mortífero. Cria um embrião de partidocracia, aconchegando na Assembleia, deputados e funcionários, logo amplifica as dissidências quando os lugares são escassos ou ameaçam tornar-se ainda mais escassos. E gera aquilo que o venenoso Lenine chamava o “cretinismo parlamentar”. Os tribunos são bons, e o BE sempre teve bons tribunos para além de Louçã, mas mesmo no parlamento o BE tornou-se bem comportado. O BE vai lá perguntar algumas vezes coisas duras aos governantes, mas nem sempre. E, como o PCP, institucionalizou-se, já não sai pela porta fora quando há um atropelo grave ao funcionamento regular da Assembleia e eles não têm faltado.

Ora, nos dias de hoje, quem introduziu novidade e diferença no sistema político, foram as candidaturas independentes nas autárquicas, Marinho Pinto nas europeias, os cidadãos que votam em branco e nulo em cada vez maior quantidade. E não há nada que o BE possa hoje oferecer que não se encontre melhor noutro sítio. Se é para partir tudo, há melhor do que o BE: começam a surgir alguns grupos que querem ser “casseurs”, mas ainda estão na infância. Se é para criar um “socialismo radical” com capacidade de se aliar com o PS, há melhor do que o BE: é entrar para o PS. Se é para protestar, sem prisões organizativas, há melhor do que o BE: há uma miríade de grupos culturais, de protesto, de causas desde o PAN aos anarquistas. Se é para falar alto e bom som, há melhor do que o BE, o Dr. Mário Soares oferece uma plataforma bem audível, como foi a Aula Magna. Se é para mobilizar a “classe operária” há melhor do que o BE: o PCP ou a CGTP. Se é para exercer uma oposição intelectual, há melhor do que o BE: há universidades e centros de investigação, podem ir para o ISCTE (como dizem as más línguas) ou para o CES do professor Boaventura.

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FALÊNCIAS, INCUMPRIMENTOS, CASAS E SALÁRIOS PENHORADOS JÁ NÃO SÃO NOTÍCIAS 



Tenho, de há muito tempo, chamado a atenção para um dos aspectos desta crise que é que ela se agrava com o tempo e que medidas tomadas naquilo que se chama os anos “piores” vão ser ainda piores nos anos em que se diz que o “pior já passou”. Não há mentira mais abjecta do que o “pior já passou”, apenas porque alguns números desgarrados da economia, que nem sequer chegam para fazer uma série consistente, melhoraram. O que acontece é que em cada ano que passa na crise, as suas principais vítimas ficam pior, deixadas para trás pelo embandeirar em arco e pela perda de atenção da comunicação social, que não lhes encontra novidade. 

Um exemplo para quem esteja atento a “outras” estatísticas menos gloriosas, como aumento de percentagem dos incumprimentos na banca, o aumento de penhoras no fisco, a falência de pessoas e famílias. O que se passa é que para muitas pessoas e famílias da classe média que ainda tinham poupanças e suportaram 2012 e 2013, chegados a 2014, tornaram-se insolventes quando chegou o IRS. Ou as centenas de milhares que só agora deixaram de receber o subsídio de desemprego, desempregadas que ficaram nos primeiros anos da crise, e que vão engrossar aqueles que não vem nas estatísticas de emprego. Como é que vão viver? Não se sabe. 

 Para muitos milhares de portugueses este ano de 2014 é o primeiro ano trágico da sua vida. Encontram algum reflexo disso nas notícias que abrem os telejornais? Nada.

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 A DIREITA DEIXOU DE SER PATRIÓTICA (2)



Mesmo falando de Pátria na sua forma mais minimalista – quase só a defesa dos interesses dos portugueses como portugueses e não como cidadãos da Europa, a defesa da comunidade nacional como história, língua e cultura –, provoca uma enorme irritação nos círculos do poder, PSD e CDS e também no PS.

Este nervoso é, em muitos casos, sentimento de culpa, noutros medo de que uma certa desfaçatez no que se está a fazer não seja aceite pela maioria dos portugueses, se for apresentado sem disfarces, usando os nomes que as coisas têm e falando delas sem as vestes do engano. Querem os portugueses ser uma região da Europa com menos poderes que os länder alemães, com uma política externa, uma política de defesa (Portugal aceitou que aspectos da sua política das Forças Armadas viessem no memorando), e a sua política interna, a começar pelo orçamento e a continuar por uma governação que pouco mais faz do que aplicar “directivas” europeias, seja definida em Bruxelas e em Berlim? Uma parte importante da direita portuguesa que antes enchia o peito com o patriotismo responde sim, nalguns casos por necessidade, noutras por vontade, noutras por serviço.

Há dois aspectos em que este abandono do patriotismo por parte do actual poder político é muito evidente. Um, é o modo como se actua em relação às Forças Armadas, que é mais um sintoma do que uma causa; outra, a política tão deliberada como dolosa de cedência de soberania a instâncias internacionais em que Portugal não tem nenhuma voz, entra mudo e sai calado, como o primeiro-ministro em muitos Conselhos Europeus.

Não vou perder tempo com duas questões que aparecem sempre como justificações, mas que não estão no cerne daquilo que quero discutir. Uma, no que concerne às Forças Armadas, é a denúncia do corporativismo dos militares, que os leva a quererem manter privilégios e estatuto, inaceitáveis no actual (des)equilíbrio social. Sim, é verdade, há corporativismo nas Forças Armadas, mas isso não legitima o que o actual poder está a fazer com elas, independentemente daquilo que possam ser resistências corporativas. A outra é a combinação de uma espécie de realismo cínico, que diz que Portugal nunca foi independente nos últimos quatrocentos anos (as datas variam) e por isso é hipocrisia estar agora a achar anormal aquilo que sempre existiu.

É o argumento de que se Portugal é dependente de facto, por que razão se preocupar por o ser de jure? Até é mais “verdade”, mais transparente que se assuma que os portugueses não mandam nada e que por isso qual é problema que o Parlamento português perca poderes para a Europa? Um subproduto deste raciocínio é que hoje a natureza das nações europeias é partilharem soberania nas instituições da União Europeia, pelo que é um modo de pensar arcaizante, para não dizer antiquado, considerar que as “velhas” ideias de soberania possam ter qualquer papel nos dias de hoje. Seriam, aliás, apenas manifestações de um nacionalismo vulgar e perigoso.

A questão das Forças Armadas é que, estando como estão e como vão estar daqui a uns anos da mesma política, elas não servem mesmo para nada. Não será difícil então apontá-las a dedo como um peso inútil no orçamento. Já o escrevi e repito: os actuais governantes, a começar pelo ministro da Defesa, fechariam o exército, a marinha e a aviação, amanhã se pudessem e iria o Conselho de Ministros vangloriar-se da grande reforma que fez e do dinheiro que poupou. Mas como não pode fazer isso, estraga.

O PSD e o PS têm grande responsabilidade no caminho de progressiva destruição das nossas Forças Armadas. Foi por pressão das “jotas”, com relevo para a JSD, que acabou o Serviço Militar Obrigatório, abrindo caminho para umas Forças Armadas profissionais, que eram mais caras e que rapidamente se tornaram a primeira vítima de cortes, sempre que havia necessidade. As Forças Armadas eram e são, para o actual poder, expendable mesmo quando os governantes se passeiam de peito cheio nas paradas e se dizem umas fases muito patrióticas nos discursos.

No fundo, a questão da Pátria resume-se a uma posição simples: o que não fizermos por nós, ninguém o fará. Podem ajudar-nos, como é suposto ajudarmos os nossos vizinhos, mas o zelo e a dedicação que vem daquele “nós” só nós o temos, ou deveríamos ter. Basta um exemplo. Num falso arroubo de patriotismo, o Governo patrocinou um mapa de Portugal que enchia meio mundo no hemisfério Norte, dominando o Oceano Atlântico a enorme área ocupada pelas ilhas e a sua zona económica exclusiva. Portugal seria assim a grande potência do Atlântico Norte, da costa africana junto de Marrocos, passando pelo pequeno enclave das Canárias, até junto da costa americana. E, na verdade, esse é o nosso território, mas a outra verdade é que só a muito custo conseguimos manter responsabilidades internacionais pela busca e salvamento, pela segurança das importantes rotas marítimas que o atravessam, ou proteger os nossos bens. Estamos por um fio no quadro dos mínimos dos mínimos das nossas obrigações. Uma avaria num helicóptero, uma avaria num avião, um problema de tripulação e um salvamento pode não ser feito, já para não falar do controlo eficaz dessa parte de mar que enche o mapa oficial, em termos de segurança, em termos de exploração de recursos, em termos de defesa do nosso património estratégico. Talvez se pudesse vender, como as praias e as ilhas gregas?

Mas o desprezo pelas Forças Armadas é apenas um sintoma, onde se centra a verdadeira doença, a perda efectiva da Pátria e com ela do autogoverno e da democracia, é no actual curso europeu que está a mudar um projecto comunitário e de coesão, por um império imperfeito, incoerente, desigual e hierárquico, em que Portugal ocupa o downstairs. Serve para passar férias e está em prisão domiciliária por dívida. Portugal é hoje uma província desse império, por submissão dos nossos governantes, que aceitaram tudo o que lhes exigiram e fugiram e fogem de obter legitimação popular e democrática, para a transformação de Portugal numa região falida e com má fama que é necessário governar com mão de ferro, sem dar veleidade aos súbditos de escolherem ou decidirem alguma coisa, dada sua propensão para viver do dinheiro alheio.

A ideologia desta submissão é múltipla. Há um aspecto de progressismo e de engenharia utópica, modernista e modernaço, e há a vontade de usar um poder exógeno para impor uma tutela endógena a favor de interesses de uma pequena minoria de portuguesas, como diriam os marxistas um “poder de classe”. Comecemos pela primeira: o nosso actual europeísmo não é muito diferente do iberismo do passado. Representa uma ideia progressista, iluminista, cosmopolita, contra os pacóvios das fronteiras. Trará o reino da razão aos ignaros rurais que pensam à dimensão da sua quinta e só se preocupam em manter os marcos no sítio, ou até, aos escondidos, em movê-los um pouco mais para dentro do terreno do vizinho. Para eles, só há ou nacionalismo identitário, ou internacionalismo europeísta. 

A isto se junta a ideia de que quem não tem dinheiro não tem vícios, logo, um país em bancarrota não pode queixar-se dos credores mandarem nele. Coisa aliás que até não é má de todo, porque a pressão externa “impõe” políticas “responsáveis” aos portugueses irresponsáveis, obrigando-os a viver de acordo com as suas necessidades. Quero lá saber da Pátria, dizem alguns, se a troika (com a prestimosa e dedicada ajuda do Governo) está a fazer aquilo que nenhum governante português seria capaz: baixar salários, reformas e pensões, acabar com o Estado como instrumento social, correr com os funcionários públicos, e destruir os direitos do trabalho. O colaboracionismo com o poder de fora faz-se por afinidade ideológica e, claro, com vantagem própria. 

É na direita que estas ideias hoje fazem mais estragos porque encontrou nas posições da troika e dos “protectores” alemães um instrumento precioso para obter ganhos “sociais” em Portugal. Porém, ainda há um pequeno problema, ainda há eleições. Por isso, mesmo que se deixe de falar em Pátria e patriotismo, pode-se sempre colocar a questão em termos democráticos: que sentido tem a democracia portuguesa se os eleitores portugueses vão deixar de poder escolher quase tudo que é decisivo para o seu país e para as suas vidas?

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ESPÍRITO DO TEMPO: ESTES DIAS










Passagem do tempo por um banco do jardim de S. Amaro. (RM)

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13.7.14


PONTO / CONTRAPONTO
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Tema: 


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CARTAS PORTUGUESAS A LUDWIG PAN, GEÓLOGO E AGRIMENSOR NA AUSTRÁLIA

(As duas primeiras aqui.)


 3ª CARTA

Meu caro Ludwig Pan, Herr Professor nas artes da geologia, à procura do ouro na Austrália.

Obrigado pela tua carta. Ver o céu sem tecto e sem luz deve-te animar os sentimentos filosóficos. A Kant animava, e tu estudaste Kant no Liceu e bastante a sério. Costumes germânicos. Mas, mais prosaicamente, penalizas-te pelo atraso da resposta, e dizes que me envias esta carta de mula, do teu acampamento até ao posto de civilização mais próximo. Nisso deves sentir-te um émulo da Al-Qaida que não usava telefones, mas muares. Passons. 

Não sei, meu caro Pan, se já dormes à aborígene, no chão com um dingo ao lado, mas olha que por cá nem um exército de dingos faz a função protectora. Eles bem podem morder, mas como é tudo de plasticina e chewing gum fica sempre na mesma. E, imagina, se os cães ficam furiosos com a ineficácia da mordida, o que se passa com os donos. Por cá, o poder é de aço no seu centro mas tem metros de plástico, plasticina, gelatina e pastilha elástica à volta. Pode ser até que lá dentro seja de barro e cair quando se conseguir cavar um túnel, mas os metros de coisas dúcteis e moles à volta protegem-no. A má comunicação social é um dessas barreiras moles. A da economia é mestra do culto da inevitabilidade, já fez o destino do país para os próximos trinta anos e não há volta a dar. Dizem eles. Mas vão ver tanta volta, para ao bem e para o mal…

A outra, a generalista, salvo raras excepções, come com imensa facilidade o que se lhe põe no prato. Lembras-te das privatizações? Era tudo um modelo de transparência, até quando se começaram a saber as coisas, inside trading, rendas acordadas por um governo que privatizava para “libertar” a economia, transumância de cadeiras entre o poder de cá e poder de lá, e sempre os mesmos facilitadores. Os mesmos de hoje, muito no activo, mas cujo nome associado a estes negócios toda a gente conhece e ninguém coloca em letra de imprensa. Se a comunicação social aprendesse, seria mais atenta com os elogios do dia seguinte, os que deixam uma primeira impressão, a mais valiosa como sabes. 

E continuam a acreditar em todas as histórias da carochinha e a gerar novas primeiras impressões. Vê lá tu, que andaram dias a fio a elogiar a atitude viril do Primeiro-ministro que não “usou” o banco público para salvar os Espírito Santo! Aquilo é que foi uma “mudança”, temos um governo que não obedece à banca e não faz os fretes aos de sempre. A fonte de tão gloriosa atitude veio naturalmente do governo, usando do elogio em boca própria. Primeira impressão, a que custa mais a passar.

Mas, mesmo que o quisesse, podia fazê-lo? A troika, essa proibidora tenaz, deixava? Havia dinheiro? Não eram “auxílios de estado” disfarçados, proibidos por Bruxelas? Ou verdadeiramente tinha outros planos? Não se pergunta o que se devia perguntar em tempo devido. Lá se ajuda o infractor. A próxima vez que não levantar um tronco de 200 quilos vou por na imprensa que é moralmente inaceitável e de uma desigualdade flagrante, levantar troncos desse peso porque isso amesquinha os fracos. E eu estou sempre do lado dos fracos e por isso tenho muito mérito em não levantar o tronco. 

E não te parece estranho, que aqueles que “nunca” quiseram interferir, recebam o grande prémio: o “banco do regime” que passou para o PSD? Foi certamente por acaso. Devia pedir-te conselho a ti, que, como alemão, oscilas às segundas-feiras em achar que a ordem do mundo é mística e indecifrável, inscrita numas runas antigas, e que um nevoeiro ancestral se levanta do lado do Reno ou numa densa floresta para encantar tragicamente os humanos, tu romântico às segundas-feiras, passas na terça a ser um cientista que acha que a ordem do mundo está inscrita numa rígida gramática qualquer, seja a de Hegel ou a de Marx e tudo se explica por uma causa e um efeito, pela afirmação e pela negação, e pela “acção reciproca”... 

Diz-me lá como devo interpretar como é que os mestres da inacção governamental acabam por ter uma tão completa vitória? Será que são como os mestres do arco Zen que só acertam no alvo quando não olham para ele? 

Deixa lá. São destinos. Tu procuras ouro no meio do nada, e eu vivo no meio da pirite. Destinos. 

Um abraço do teu amigo que não é Pan.

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A DIREITA DEIXOU DE SER PATRIÓTICA (1)


À partida, faço uma prevenção e uma precisão iniciais. A prevenção é que a designação de “direita” e a dualidade “direita/esquerda” não são nos dias de hoje termos muito precisos e úteis do ponto de vista analítico, mas uso aqui o termo “direita” por facilidade e comodidade, num mero sentido descritivo. Designa essencialmente o PSD e o CDS, mas, e aqui já se revela por que razão o termo é ambíguo, podia-se incluir também o PS nesta matéria.

 A precisão é que uso o termo “patriotismo” num sentido vago de um sentimento comum de partilha a uma mesma comunidade com identidade histórica e nacional, linguística, cultural, territorial, que define fronteiras e interesses comuns e que pressupõe que esses interesses têm que ser defendidos num quadro de competição ou conflitualidade com outros interesses. É o sentimento de risco permanente, logo de defesa activa, dos interesses de uma comunidade nacional, que é o elemento dinâmico daquilo que se possa chamar patriotismo. Penso que isto chega para não entrar em grandes discussões identitárias.

 A chave deste processo de abandono da noção de Pátria encontra-se no PSD, porque é aí que há uma significativa mudança. O CDS segue por arrasto, embora no caso do PSD a crise patriótica seja a da sua componente partidária e no CDS seja mais institucional e do Estado. Mas a mudança política centra-se no PSD (e no PS), acompanhando a evolução do “internacionalismo” clássico da tradição comunista para um “europeísmo”, muito evidente no Livre e em parte do Bloco. Por uma daquelas ironias em que a história é fértil, o PCP, perdida a referência internacionalista da URSS e do comunismo mundial, acaba por ser nos dias de hoje o mais patriótico dos partidos e aquele que mais resiste à deslocação dos centros de poder nacionais para o quadro europeu. Fê-lo e fá-lo por razões políticas instrumentais, mas não só. Na história do PCP, o quadro nacional sempre esteve presente na ideologia e na política e o que é muito importante, no imaginário da “indústria nacional”, do “pão português”, muitas vezes o reverso do “trigo” das Campanhas do Trigo do Estado Novo. A questão é que nessa tradição também estava o PSD e deixou de estar.

 As mudanças do PSD com a ascensão ao poder de um aparelho profissionalizado e de carreira, com origem nas “jotas”, e que no poder, e com o poder, atrai alguns jovens intelectuais ultraconservadores, são muito relevantes. O PSD foi na sua origem um partido que foi buscar ao socialismo moderado, à social-democracia, à doutrina social da Igreja, a sua âncora para evitar colocar-se à direita do espectro político, onde não queria que o colocassem, e onde não queria estar. Esta intenção é tão evidente nos seus fundadores, que nem vale a pena perder muito tempo a nomeá-la. Não foi instrumental para acompanhar a viragem à esquerda do sistema político pós-ditadura, como hoje se diz, podendo ser deitada pela borda fora logo que a situação mudasse. Foi substancial e de fundo e impregnou o PSD de uma tradição, de uma linguagem e uma simbólica, que ainda hoje atrapalham os seus próceres “neoliberais”.

 Mas o nascente PPD não se teria tornado popular se se ficasse apenas por esta estratégia de afirmação ideológica, com origem em profissionais liberais e intelectuais, e não fosse mergulhar no tecido social português profundo, onde encontrou uma identidade que fez a sua história. É por isso que o programa identitário do PSD é o da sua génese no PPD inicial e feito por Sá Carneiro e é o “programa não escrito”, a sua história. E aí outras realidades emergiram. Duas são do “contra” e uma é do “pró”.

 As do “contra” são fáceis de identificar: uma é o anticomunismo, outra é a hostilidade à Maçonaria. Ambas têm ambiguidades, principalmente a segunda, dado que houve sempre mações no PSD, a começar por uma parte do republicanismo e oposicionismo histórico mais conservador que aderiu ao partido, a nível nacional e local. Mas se havia mações, da Maçonaria tradicional do Grande Oriente Lusitano, essa era uma opção individual, mantida com uma enorme discrição e que em nada marcava o rank and file partidário, que detestava a Maçonaria.

 Esta é uma grande diferença com a actualidade, em que uma parte importante da direcção política e do aparelho do partido pertence à Maçonaria, e de forma muito significativa às novas obediências maçónicas surgidas nas últimas décadas. A Loja Mozart é apenas um caso, unindo o líder parlamentar do PSD, outros membros do PSD, com o dono da Ongoing, e antigos e actuais elementos dos serviços de informação, envolvidos num conjunto de escândalos públicos. Mas distritais inteiras do PSD são constituídas por membros das novas maçonarias, que funcionam como estrutura horizontal para criar redes de poder e de negócios. Quanto à componente antimaçónica do PSD estamos conversados. Está defunta.

 Mesmo a componente anticomunista do PSD foi-se alterando na actual direcção para uma componente anti-socialista, mais do que anticomunista. A ideologia confusa e híbrida que caracteriza os actuais dirigentes do PSD tem sido descrita como “liberal” ou “neoliberal”. Tenho-me sempre manifestado contra esta classificação que dá demasiada dignidade ideológica a uma mescla de ideias e posições que nada têm de liberal. Se quisermos fazer a distinção sem sentido entre “liberalismo económico” e liberalismo político, rapidamente compreenderíamos que o “liberalismo económico”, a que correntemente se chama “neoliberalismo”, não é liberalismo. O liberalismo, com o seu amor pela liberdade, a sua valorização do indivíduo, a percepção da relação entre a propriedade e a liberdade, a pulsão pela privacidade e pelo direito de cada um definir os objectivos da sua vida, tem muito pouco a ver com a redução do homem ao “homo economicus”, a ditadura estatal do fisco, a burocratização de toda a actividade social para aumentar o controlo do Estado, o desrespeito pelo primado da lei, o encosto aos mais fortes e culpabilização dos mais fracos.

 Neste contexto, a apologia do “empreendedorismo”, de uma “economia” onde se fala obsessivamente de empresas e nunca se nomeia os trabalhadores, esta recusa da consolidação de direitos sociais e do melhorismo como objectivo de uma política do bem comum, precisa de um anti-socialismo como alvo, até para exorcizar as origens do próprio PSD. O anti-socialismo é por isso hoje mais corrente nos círculos do poder, porque ajuda a criar um polo antinómico no qual se inclui a ideia de estado social, de investimento público como panaceia económica, do “despesismo do estado”, e de qualquer ideia de intervencionismo estatal nos negócios, mais do que nas empresas.

 Ficamos agora com o “pró” que fazia parte da identidade colectiva do PSD (e não só): o sentimento patriótico do “mais português dos partidos portugueses”. É exactamente aqui que existe por parte do actual poder no PSD, um curso que é objectivamente antipatriótico e que assenta em dois processos interligados: a desvalorização das Forças Armadas, tratadas como fardo orçamental que seria vantajoso alijar caso houvesse oportunidade, e a transmissão de soberania nacional para o estrangeiro, a retirada do poder do Parlamento português para definir os orçamentos nacionais, a desvalorização das eleições e da escolha entre diferentes opções com a ditadura da “inevitabilidade” imposta por credores e Bruxelas, a subordinação do Governo e Parlamento nacionais a uma governação europeia definida pelo Conselho e pelo Parlamento Europeu, assente em “directivas comunitárias”, a defesa da caducidade da Constituição (e do poder do Tribunal Constitucional) face à legislação constitucional “não escrita” do direito comunitário, etc., etc.

Resumindo e concluindo, visto que os detalhes ficam para o próximo artigo: a subordinação, à revelia da democracia, da nação e da pátria, da comunidade dos portugueses, a uma estrutura de poder que foi “comunitária” e é hoje antidemocrática, hierárquica e imperial e que se chama União Europeia, subordinada aos interesses nacionais da Alemanha. E o principal executante, teorizador, legitimador, deste processo meio escondido, meio às claras, tem sido o PSD, junto com o CDS e o PS. É por isso que a direita deixou de ser patriótica para ser internacionalista, na versão europeísta.

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6.7.14


PONTO / CONTRAPONTO
  aos domingos às 20 horas na SICN.
  Se o caos do futebol não lhe alterar mais uma vez o horário.

Tema: raparigas fazendo boquinhas para as fotografias.

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DUAS CARTAS PORTUGUESAS A LUDWIG PAN, GEÓLOGO E AGRIMENSOR NA AUSTRÁLIA


 1ª CARTA

 Caro Ludwig Pan

 Não sei que antepassado te deixou de herança o nome de "tudo", porque não é todos os dias que se conhece um Pan, nem o que te levou a andares pelos antípodas a fazer “geological surveys”, em terras onde nem a Internet te chega, A distância permite essa boa pedagogia de voltar a escrever cartas, essa antiguidade caída em desuso, em vez dos apressados email. Eu sei que és discípulo dedicado do grande Humboldt, e sei também que um bom alemão dá um excelente surveyer, ou um atento Vermessungstechniker, grandes catalogadores, grandes eruditos, excelentes autores de edições críticas, coleccionadores obsessivos, e isso para encontrar ouro, depois de peneirar cem mil pedrinhas, num leito seco de rio, é garantia de sucesso. 

 Mas esse teu nome pesa demais para a nossa terra portuguesa, que se contenta com pouco. E já que queres tudo, como eu com os papéis, vou-te dar novas do meu país que podes usar como curiosidades avulsas, fazendo o teu próprio cabinet com essas curiosidades, no meio de uns fósseis ou de um geodo. 

 Mas aqui vai. O meu paÍs tem uma estranha doença, associada aos seus estados de alma e que tem a ver com o futebol. Os teus germânicos combatentes da bola parece que esmagaram as nossas “esperanças” no Mundial e a equipa, psicologicamente deprimida, passou a jogar mal. É tudo muito fraco de alma, precisam de psicólogos. Numa reviravolta psicossomática qualquer, a equipa começou a estragar o corpo e as pernas dos jogadores. Um pais de especialistas em lesões musculares discutia afincadamente o estado das pernas do jogador A ou B, mas parece que não era só A e B, mas C, D, E, F, seis pelo menos.

 A Pátria que foi embandeirada em arco para umas terras do interior do Brasil, veio de lá murcha e triste, mas alivia-se achando que todos eram muito amigos da selecção portuguesa, Ou seja, O Brasil inteiro estava tristíssimo com o que nos aconteceu e era choro e ranger de dentes quando tivemos que fazer as malas mais cedo. É interessante, o Brasil que não gosta de nós em nada, converteu-se pelo futebol… e o meu povo, necessitado de conforto na desgraça futebolística, encontrou nesse grande amor por nós um lenitivo para a desgraça da selecção. O que é que se há-de fazer? A gente ilude-se pensando que vai ganhar porque tem “o melhor jogador do mundo”, entra em depressão quando perde, depois encontra conforto na imaginação criadora de que todos nos amam e estimam “lá fora”.

 E estamos pois assim, sem saber o que fazer, nem como preencher os milhares de horas de logomaquia futebolística na televisão, que criaram, como aquele pó branco, uma habituação, de que só se sai sofrendo. E como ninguém quer sofrer, mete mais pó, cada vez mais misturado com farinha e outras coisas inomináveis. Mas tu estás livre disso, podes falar com os lagartos e pintar-te com um aborígene, mas por favor, não comas o que eles comem. Mantém um pouco de civilização. Fazes cá falta. Não sobra cá muita.

 Um abraço do teu amigo que não é Pan.

 2ª CARTA 

Meu caro Ludwig

 Perguntas-me quem manda no meu pais, na democracia, nos assuntos correntes, para contares aos anciãos aborígenes enquanto eles batem em dois pauzinhos secos uma velha encantação. Respondo-te mas não os assustes, não há magia do mundo que cure a nossa desgraça, e nem o Crocodile Dundee se safava por cá.

 Ficarás talvez surpreendido em saber que nenhum dos portugueses que conheces vem na lista que te faço. No entanto, muitos destes homens tem mais poder que o Presidente da República Falar-te-ia de um Marco, de um António, de vários Luíses, de um Carlos, de um Miguel, de um Duarte, de uma Teresa, de vários Josés, que estão nos partidos que agora se chamam do “arco da governação”, ou seja partidos de primeira. Os de segunda não contam a não ser um pequenino que se alia com um dos grandes, seja com um seja com outro. Estes nomes que te são desconhecidos, a ti que só fixas um nome caso haja algum mérito social, nasceram nos partidos, não tem outra profissão que não seja dada pelos partidos, e se tiverem que perder o emprego, nunca mais terão o trem de vida a que estão habituados.

 Agora são, na sua maioria, de uma maçonaria. Esta é uma novidade importante, porque até agora havia um partido que estava ligado à maçonaria velha e o outro odiava a maçonaria, mas parece que os costumes mudaram. Agora está ligado a uma nova maçonaria, com relações pouco recomendáveis. Será que ouvem muito Mozart? Duvido, o bater dos pedreiros na loja não deve permitir ouvir outra coisa senão a construção das muralhas dentro das quais se entrincheiram. Entretando vão estragando o país, mas isso tu já sabes que lês o Die Zeit e o Der Spiegel. 

Estes tempos dão para a meditação, podes dizer aos teus sábios dos pauzinhos que certamente se governam melhor que nós. Será que quando vivemos tempos de decadência damos por ela? Não sei. Penso que sim, mas não sei. Mas confessa que a pergunta é muito alemã.

 Do teu amigo que não é Pan.

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© José Pacheco Pereira
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