ABRUPTO

17.3.13



SUSTENTABILIDADE 
É uma palavra daquelas que o bando do “economês”, que vai muito para além dos economistas, gestores, jornalistas económicos para a retórica empresarial de “sucesso”, quase sempre em relação directa com o insucesso, gostam de usar. Sabe-lhes bem na língua, mesmo que signifique muito pouco e transporte mais ambiguidade do que certeza. Aliás o mesmo acontece com muitas outras palavras do jargão actual do “economês” que, transpostas para um conteúdo programático para além de um conteúdo descritivo de variáveis económicas, dão torto. 

Vejamos alguns dos sucessos proclamados do “ajustamento”: abaixamento do nível de vida das famílias, destruição das “más” empresas, baixa de salários, redução dos custos do estado em salários e pensões, equilibro da balança comercial, redução drástica do consumo, corte do investimento público. Muito bem. No entanto, muitas destas medidas foram apresentadas como temporárias e a prazo curto, extinguindo-se com ao fim do “programa” do memorando, umas vezes até 2012 (incumprido), outras para 2013 (incumprido) e agora prometidas para 2014, ou 2015. 

A fórmula dos novos cortes, a da “refundação do estado”, é suposto ser de outra natureza, trazendo cortes permanentes destinados a dar “sustentabilidade ao país”. Cá está palavrinha mágica. Eu que não me deixo encantar facilmente por estas palavrinhas, faço algumas perguntas. 

Será que já perceberam que a manutenção em permanência do actual status quo, não representa a manutenção de status, mas um declive que se acentua ano a ano para a pobreza? Ou seja, não resulta na queda para num nível “ajustado” de pobreza, mas sim na aceleração de um processo de empobrecimento, que é hoje o único elemento dinâmico da sociedade portuguesa? E que uma sociedade a empobrecer rapidamente, dia a dia, mês a mês, ano a ano, não é uma sociedade estável mas conflitual e que as consequências desses conflitos são imprevisíveis? E que os que estão a empobrecer votam pelo menos de quatro em quatro anos, e não me parece que vão dar o seu voto aos que os querem empobrecer “permanentemente”, mas irão atrás de quem lhes propuser qualquer coisa desde que não seja ao seu presente?

Ou seja, resumindo e concluindo, em democracia esta política não é sustentável. Insustentável. Ponto.

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© José Pacheco Pereira
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