ABRUPTO |
semper idem Ano XIII ...M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... (Sá de Miranda) _________________ correio para jppereira@gmail.com _________________
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30.1.13
EM FINS DE FEVEREIRO, INÍCIO DE MARÇO...
... sairá finalmente, sólido das suas 600 páginas. Depois haverá notícias mais detalhadas. Entretanto, e respondendo a muitas perguntas e solicitações, o volume quarto da biografia de Álvaro Cunhal ainda deverá ser publicado em 2013, o ano do centenário. Cobrirá o período de 1960-8, ficando um quinto volume para os anos de 1968-74. Depois Cunhal sobe à Chaimite, no dia 30 de Abril de 1974, com um soldado e um marinheiro ao lado, e termina para já a saga. No entretanto, entre as Armas de Papel e o Cunhal - IV, haverá um pequeno volume de textos sobre os anos da "crise", talvez para Junho.
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ENTÃO, GOVERNANTES, NÃO É DE DIZER QUALQUER COISINHA
Após um estranho e longo silencio, em que o que aparecia relativo às malfeitorias bancárias se resumia ao BPN, BPP e em menor grau ao BCP, a imprensa começa timidamente a falar dos banqueiros de topo, aqueles que fazem e desfazem governos e que estão sempre ao lado do poder, de Salazar a Passos Coelho, passando pelos socialistas. Não me refiro ao que é ilegal, porque disso deve cuidar a justiça, mas dos "esquecimentos" que levam milhões lá para fora sem serem declarados ao fisco, para depois a memória melhorar, ou ser melhorada e o dinheiro regressar cá dentro com um pequeno imposto para pagar de bónus.
Mas há um silêncio muito esquisito, se não fosse verdadeiramente pouco esquisito, no modo como as coisas estão: estando o governo envolvido numa luta épica para que os portugueses paguem impostos, nunca condenou estes "esquecimentos"? Insisto, condenar do ponto de vista da moral cívica, já que a lei é suposto ter outro andamento e outras consequências. É verdade que mesmo com a lei em curso, o governo às vezes fala à vontade, como a nossa ministra da justiça fez recentemente, dizendo que "a partir de agora deixou de haver impunidade". Mas era para o PS de Paris e não para a banca. Aqui é só silêncios e gentilezas. Para a banca faltosa, não há mesmo nenhuma palavrinha zangada, vindo do mesmo ministro e primeiro-ministro e dos vários secretários de estado que incham o peito contra as cabeleireiras, os mecânicos de automóveis, e os donos de café e restaurantes? Aí sim, há palavras duras e mostras de robusta firmeza.
Não deviam os governantes dizer alguma coisa? Dever, deviam. Dizer, não dizem.
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“REGRESSAR AOS MERCADOS EM 2013”
Vamos
admitir que Portugal “regressa aos mercados” em 2013, cumprindo aquilo
que já é o único objectivo da política governamental que os seus
responsáveis pensam que é realisticamente atingível antes de eleições. O
défice, a dívida, a recessão ou um crescimento larvar resultado apenas
de que não se pode estar sempre a descer, o desemprego, a crise social
em todo o seu esplendor, as falências, o aumento da pobreza, tudo isto
parece estar para continuar e durar muito para além do actual ciclo
eleitoral. Mas, com o abaixamento dos juros nos mercados, que favorecem
Portugal, a Irlanda e mesmo a Grécia, pode ser possível fazer algumas
pequenas emissões com sucesso para dar pretexto a que a mão protectora
do BCE se estenda sobre Portugal. O que conta é a mão do BCE e não o
sucesso das emissões, mas será sempre dito o contrário.
É mau? Não é, é bom, mais vale isso do que nada. Mas vale muito menos do
que o governo quer dar a entender. É verdadeiramente “voltar aos
mercados”? Não é, porque sem o aval do BCE seria impossível. É
sustentável? Não é de todo, mas o governo pensa apenas até 2015, porque o
“que se lixem as eleições” foi dito em ingsoc e doublespeak, a
linguagem orwelliana em que uma coisa significa exactamente o seu
contrário
Vamos
de novo voltar à admissão principal de que Portugal “regressa aos
mercados”. Significa isso que a troika se vai embora de vez? Errado, a
troika fica cá mesmo sem cá estar. O Pacto Orçamental garante a
continuidade da política da troika. “Bruxelas”, essa entidade mítica,
passa a ter um direito de veto sobre os orçamentos, colocando o
parlamento português sob tutela permanente naquela que foi a sua mais
importante prerrogativa numa nação que era soberana. Os fundos
comunitários já virão com a condição da obediência. E, depois, a mão
benfazeja do BCE, e dos alemães que o controlam, só se estenderá se a
política da troika se mantiver, e, em caso contrário, é que Portugal
será mesmo “atirado” aos mercados, ou seja dura uma semana até pedir
novo resgate.
É verdade que a benevolência com Portugal se deve em grande parte ao
facto de que para os decisores que contam nesta matéria, a começar por
Angela Merkel, os actuais governantes tem-se esforçado em fazer o que
lhes é pedido. Por isso Passos e Gaspar têm razão quando afirmam que
Portugal, em particular a sua encarnação em Vítor Gaspar, tem aumentado a
sua “credibilidade” junto dos mercados, porque estes sabem que enquanto
a Alemanha e o BCE protegem Portugal, as emissões portuguesas,
principalmente nos prazos mais curtos, são um bom investimento.
Mas,
como Nossa Senhora, presume-se, não aparecerá em Wall Street, e muito
menos em S. Bento, não há milagres que evitam que, mesmo com todas as
protecções especiais, a “ida aos mercados”, se se der, seja artificial e
acima de tudo muito frágil. Como, a continuar-se a mesma política da
troika directamente na Grécia e em Portugal, e indirectamente na Espanha
e na Itália, as crises são inevitáveis, quer no plano político, quer
social, quer económico, como é que ficamos se de novo se der uma subida
de juros em resposta a um agravamento da situação em qualquer país
europeu? Ora esse agravamento é inevitável a prazo curto e a
volatilidade dos mercados grande. Como é que faremos depois? Vamos de
novo pedir o regresso da troika mais uma centena de milhar de milhões de
euros de um novo resgate?
Eu bem sei que para os responsáveis por esta política se isto acontecer
depois de 2015, não é “culpa” deles, que fizeram sair nominalmente a
troika de cá, mas de quem estiver no poder na altura. Mas a sua lavagem
de mãos é como a de Sócrates em Paris: deixaram o menino no colo dos
outros e foram-se à vida.
O
que mais me espanta quando isto se discute e se saúda gloriosamente
este “regresso” protegido e imperfeito aos mercados, é que quem lhe
deita os foguetes antecipadamente tem mais que obrigação de saber que,
no fundo, se trata apenas de ir pedir mais dinheiro, endividar-nos mais,
e que é na aplicação desse dinheiro que está a chave. Ou seja, e cá vem
a terrível frase feita, é a fragilidade estrutural da nossa economia,
da nossa sociedade e da nossa política, que conta e isso não se resolve
pedindo mais dinheiro, seja à troika seja aos mercados, mas sabendo como
o aplicar bem, para depois o poder pagar. Superar estas fragilidades é
que é a chave de qualquer regresso aos mercados que seja sustentável e
sem crescimento não há nada para ninguém que seja sustentável.
Sustentável, a palavra que mais entusiasma qualquer tecnocrata, mas com a
qual eles têm uma mera relação platónica.
Aqui
as águas dividem-se e entra em cena o conjunto de ideias superficiais
que passa por ser ideologia. A crença, porque não é mais do que uma
crença, de que colocadas as pedras no sítio certo, défice quase zero,
dívida a ser paga, salários em baixo e mão-de-obra barata, estado apenas
para os muito pobres e vagamente regulador para tudo o resto, sociedade
competitiva porque empobrecida, separação de águas entre os
“preguiçosos” e os “empreendedores”, austeridade mais autoridade, se
entra num boom económico imparável que resolverá tudo e mostrará a
validade das receitas da troika. Há quem acredite nisso, alguns yuppies
já fora de época que são muito activos nas redes sociais, e cujo
pensamento cabe em 140 caracteres, mas há acima de tudo quem precise
disto, quem tenha interesse nisto, mesmo que não acredite muito no seu
desfecho. Se posso pagar muito menos em salários e despedir quem quiser,
não me importo de ser neo-liberal durante meia semana e na outra,
quando quero aceder a alguns dinheiros comunitários, sou keynesiano se
for preciso.
Mas enquanto os primeiros andam já à procura de inimigos externos, o
“povo habituado a ser protegido” é o primeiro candidato e as
“corporações”, o segundo; os pragmáticos esforçam-se por aproveitar o
que podem, porque sabem aquela verdade que toda esta ilusão pretende
esconder: isto não vai durar muito. Ou, dito de outra maneira mais
precisa: se continuar a haver democracia isto não vai durar muito. E
aproveitam enquanto podem, até porque o “Monte Branco” e as Caimões não
estão assim tão longe.
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(url) A DERIVA ANTIDEMOCRÁTICA A FAVOR DE UM GOVERNO "SEM ENTRAVES"
A democracia é feita de duas componentes fundamentais: o primado da
soberania popular, expressa essencialmente por uma escolha pelo voto, e o
primado da lei num Estado de direito. Não é apenas a escolha pelo voto
que caracteriza a democracia, porque senão viveríamos numa tirania,
associada a uma demagogia populista. Foi assim que Hitler chegou ao
poder, com eleições, mas violando o primado da lei e do direito, e este é
o modelo latino-americano de ditaduras populistas como as de Péron a
Chávez.
Na prática, as coisas são mais complicadas, mas por muito
complicadas que sejam, convém não esquecer o simples, que é também o
essencial: é o voto mais a lei e não é só o voto, nem só a lei. Ora,
poucas vezes se tem assistido a uma tão grande ascensão de posições
antidemocráticas como nos últimos tempos, o que mostra como a "crise" -
uma palavra muito ambígua, mas que serve como descrição de um tempo e um
modo - tem uma forte componente antidemocrática, que provoca uma séria
corrupção dos fundamentos da democracia.
Há dois movimentos não inteiramente distintos na motivação e no modus operandi,
que estão hoje a corroer os fundamentos da democracia em Portugal. Um,
grosso modo, pode considerar-se que vem "de baixo" da insatisfação
popular, da radicalização de sectores sociais como a classe média, do
populismo nas ruas e nas redes sociais e que representa uma pressão a
favor da "democracia directa". Os "indignados" a fazerem assembleias
populares com cem pessoas, convencidos que representam o povo, são a
face ridícula de um movimento mais profundo contra os partidos, os
políticos, o Parlamento, o Governo, a presidência, a representação. Não é
que eles não mereçam muitos dos epítetos menos amáveis que lhes são
dirigidos, mas a "democracia directa" não é pura e simplesmente uma
democracia, mas uma tirania demagógica.
Outro movimento
antidemocrático, bem mais perigoso a curto prazo visto que tem mais
capacidade de subverter as instituições, vem "de cima", da elite do
poder, do governo e do establishment politico-económico que o
controla e lhe define a orientação. O modo como a questão da
constitucionalidade do Orçamento do Estado (OE), do papel do Presidente
da República e do Tribunal Constitucional está a ser tratada constitui
uma deriva perigosa contra a democracia. A sua face visível inclui
recentes declarações de Eduardo Catroga sobre a Constituição como
"entrave à governação", ou de Ferraz da Costa no mesmo sentido, ou de
uma série de empresários e banqueiros politizados que aparecem na
vanguarda de defesa do Governo, no mesmo sentido de considerar que o
Governo devia ter a liberdade de tomar as medidas que entender "para
salvar o país", mesmo que elas fossem ilegais à luz do Estado de direito
encimado pela Constituição.
Há muita indiferença democrática
nessa deriva, mas há também uma vontade de que uma governação em nome de
interesses, ideologias e elites possa ser feita sem qualquer peia
legal, sem "entraves", ou seja, de forma ilegal e antidemocrática. Há
hoje por isso uma pulsão fortemente antidemocrática por parte de grupos,
partidos, políticos, personalidades públicas, e depois amplificada pela
tropa menor dos propagandistas e bloguistas, de cujo alcance nem eles
próprios se apercebem, porque há também muita ignorância atrevida à
mistura. Claro que há também muita necessidade de bodes expiatórios e
consciência de fracasso, ressentimento e radicalismo.
Não me
surpreende que seja assim, visto que os elementos antidemocráticos
inscritos numa democracia que nunca verdadeiramente se emancipou dos
longos quarenta e oito anos de autoritarismo são muito fortes na vida
pública portuguesa. Eles surgem na coligação entre mais velhos que tem
poder económico, já viram muito e compraram gente de mais, sabem muito
bem o que querem e são indiferentes à democracia, e jovens muito
ignorantes, amorais, subservientes aos velhos por complexo e interesse, e
que sem o manto da protecção partidária não seriam nada de nada, como
aliás nunca foram. Neste caldo de cultura e interesses, as ideias sobre a
política, a gravitas de estado, a hipervalorização do "consenso", a
hostilidade ao debate, o medo à competição e ao escrutínio, o receio do
"outro", são a norma que funciona a favor de um universo fechado,
assente nos poderes fácticos e na sua delegação, e que não quer ter
nenhum limite nem aos seus interesses, nem às suas carreiras.
Nos
últimos dias, esta deriva antidemocrátiva veio ao de cima reagindo à
decisão do Presidente da República de enviar as normas do Orçamento para
verificação sucessiva da constitucionalidade, e pelo receio de que o
Tribunal Constitucional lhe dê razão. Estamos a falar de uma
Constituição que de há muito critico, inclusive em muitas das regras que
hoje estão na base do debate público a propósito do Orçamento. Há muito
tempo que tenho um ponto de vista muito negativo sobre a manta de
retalhos do texto, desde o absurdo preâmbulo a muito de programático e
declarativo que está na Constituição. E, como se tem visto nos últimos
tempos, muita dessa ganga não tem protegido de forma eficaz muitos
daqueles "direitos adquiridos" que se consideravam garantidos pela
Constituição. Por isso, mesmo como está, a Constituição tem permitido a
esmagadora maioria das medidas da governação, pelo que só muito
dificilmente pode ser considerada um obstáculo à política corrente. Tem
também permitido a transformação de Portugal numa região europeia
subordinada a um directório estrangeiro.
Mas não é isso que está
em causa, não é o conteúdo da Constituição, nem o direito de a criticar, mas sim os procedimentos que
na Constituição são o fundamento do nosso sistema democrático, que vão
desde os mecanismos do sistema eleitoral, aos poderes de Governo,
Assembleia, Presidente e tribunais. Não pode a Constituição servir para
se afirmar a legitimidade do Governo, porque tal é conveniente, e,
quando coloca em causa eventuais medidas ilegais do OE, ser uma
"entrave" inaceitável à governação e sua bondade. Até porque se as
coisas são assim, não é culpa nem do Presidente, nem do Tribunal
Constitucional, nem da Constituição, mas sim do modo como os actuais
dirigentes do PSD, antes e depois de chegarem ao Governo, trataram da
questão constitucional, primeiro minimizando-a e depois violando-a.
Este
Governo, na arrogância dos seus primeiros tempos, não deu a mínima
importância em falar com o PS para fazer uma revisão constitucional, no
início da aplicação do memorando, quando tal era plausível. Depois,
foi-se emaranhando num labirinto de arranques e recuos, como a discussão
a propósito da "regra de ouro" e do Pacto Orçamental, cada vez com a
sua posição mais fragilizada pelo desastre da política governativa. O PS
foi crescendo, e tornando rígida a sua posição, Até que o patético
apelo à "refundação" do Estado, que era na sua origem um apelo a uma
revisão constitucional in extremis, revelou um Governo acossado perante
um PS em que Passos Coelho conseguiu o milagre de colocar o seu
alter-ego António José Seguro a crescer nas sondagens. Para quem não
acredita em milagres, este move de deslumbramento o mais agnóstico dos
seres.
Hoje, temos um OE que pode estar ferido de
inconstitucionalidades graves, em medidas que são vitais para a sua
execução e põem em causa a continuidade do Governo. A culpa não é do
Presidente em mandá-las para verificação, como é seu dever, nem do
Tribunal Constitucional, se as considerar inconstitucionais, como é sua
obrigação, nem da Constituição que o Governo deve respeitar para poder
ser considerado legal e legítimo. Se o Tribunal considerar que aspectos
do OE são inconstitucionais, a culpa é em primeiro e ultimo lugar do
Governo, que insistiu, contra muitas opiniões qualificadas, em fazer um
OE com dúvidas fundadas de ilegalidade.
Porquê? Porque não sabe
fazer de outra maneira, e precisa de não ter qualquer "entrave" para nos
taxar? Ou porque, consciente ou inconscientemente, está cada vez mais a
caminhar para um abismo que pensa confortável, visto que pode cair
apontando o dedo a todos porque queria "salvar o país da bancarrota" e
"não o deixaram"? As duas hipóteses são provavelmente verdadeiras e
complementares e os motivos mesquinhos, mas ambas são demasiado
perigosas para a nossa democracia. Elas alimentam a crise e a sua
componente de deriva antidemocrática. Como se vê.
(Versão do Público de 5 de Janeiro de 2013.)
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EARLY MORNING BLOGS
2293 - Three Poems after Yannis Ritsos
REVERSALS
There are graves under the houses and houses
under the graves and linking the three
a broad stone staircase where the dead
go up and the living go down. They pass one another
wordlessly which might mean they don’t know, or else
they’re pretending not to know. You can smell
the orange grove on the hill; you can hear
children bowling barrel hoops down the street.
Two women gossip as they fill their jug at the spring.
Their secrets cloud the water.
Later they walk back through an avenue
of cypresses, carrying the jug like a bastard child.
TRAPPED
In the house across the street, in a room
directly opposite his, was a long mirror. When he looked
out of his window, he would see himself in the room
like a thief caught in a trap. He threw a stone.
His neighbor ran in to the sound of breaking glass,
then came to the window and shouted across:
“Thank God for that: whenever I looked in my mirror
there you were, doing something shifty behind my back.”
The first man turned away. The long mirror in his room
brought him face to face with his neighbor, knife in hand.
THE ACCUSED
Just as he locked the door, as he pocketed the key,
as he glanced over his shoulder, they arrested him.
They tortured him until they tired of it.
“Look,” they said,
“the key is your key, the house is your house,
we accept that now; but why did you put the key
in your pocket as if to hide it from us?”
They let him go, but his name is still on a list.
(David Harsent )
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ALTERNATIVAS
O pior discurso situacionista é o que está sempre a perguntar, quando se critica a governação, pelas alternativas. “Não apresentou alternativas” é a frase mágica que funciona como afirmação (a política do governo é a única possível), como negação (não há alternativas à política do governo) e como acusação (quem fala sem enunciar alternativas, que o poder reconheça como tal, não tem direito a falar). Nenhuma destas coisas é verdadeira, não só porque há alternativas, umas boas e outras más, mas nem por isso deixam de ser alternativas; como muita gente apresentou alternativas, mas foram e são recusadas de imediato, como a crítica, quando fundada, é ela mesmo um exercício que abre espaço a alternativas.
ALTERNATIVAS E ESPAÇO POLÍTICO
O principal problema das alternativas é haver espaço para existirem, espaço objectivo, espaço materializável, espaço realista, e o facto de o governo estar sempre a criar um esgotamento deste espaço, a diminui-lo, a inquina-lo, não é argumento a não ser contra o governo. Sem ser uma alternativa viável, como se vê pelos resultados, a acção do governo é destruidora das alternativas possíveis. É aliás mais eficaz em destruir essas alternativas, do que em se afirmar como possibilidade, e é por isso que aceitar acriticamente, como faz muita comunicação social, o discurso da “ausência de alternativas” é a forma mais acabada de situacionismo nos dias de hoje.
Uma coisa é verdadeira: o facto de se governar de determinado modo diminui muito o campo das alternativas. Não é que não haja, ou não tenha havido alternativas, é que há também uma contínua destruição de alternativas, quer pelo governo, quer, em menor grau, pela oposição. Passos Coelho, Gaspar, Álvaro Santos Pereira, e António José Seguro têm vindo de forma consistente a diminuir o campo das alternativas ao afunilarem as possibilidades de acção. Um exemplo típico é a continuada destruição do próprio espaço político do governo, através do sistemático ignorar e maltratar da concertação social, um dos poucos campos de alargamento existentes, logo de legitimação, da acção política vinda do governo. O mesmo pode ser dito da contínua e sistemática política de ignorância do PS por parte do PSD e do CDS governamentais, que de há muito destruiu qualquer possibilidade de entendimentos alargados.
DESTRUIR AS ALTERNATIVAS
Outro factor de destruição de alternativas está na elaboração de legislação avulsa, mal feita, incompetente e muitas vezes ao lado dos problemas, quer para defender interesses, quer pura e simplesmente por ignorância. “Parece” que se defronta um problema, mas este fica na mesma ou pior. A maneira como o governo actuou com as fundações é um exemplo típico: vilipendiou a própria ideia de fundação, que continua a ser uma maneira válida da sociedade civil assumir funções em complemento do estado por genuína doação ao serviço do país de bens privados; deixou escapar aquilo que imediatamente devia acabar, as fundações criadas pelo estado destinadas a fazer desorçamentação; e deixou na mesma muitos dos abusos do estatuto de fundação que existiam e continuam a existir. O resultado é que tudo continua na mesma, mas é hoje mais difícil fazer uma política séria e alternativa de reforma das fundações. Parece que foi feita e não foi.
NÃO FOI POR FALTA DE AVISOS
O mesmo se pode repetir em muita outra legislação feita à pressa para a troika ver e que criou caos e confusão, nalguns casos gerou monstros, e “queimou” por algum tempo a possibilidade de reformas efectivas em áreas vitais para a modernização do estado e da economia. O mais grave é que muita gente que sabia do que falava avisou o governo, mas, com enorme jactância, foram ignorados, mesmo quando depois se bateu com a cabeça numa parede. Não foi por não serem avisados, foi porque desprezaram os avisos, mesmo quando depois se lamentam dos efeitos.
A meia hora suplementar é um típico exemplo, a TSU outro, o agravamento “enorme” dos impostos outro, o IVA da restauração, outro, o aumento do desemprego, outro. Um caso mais que flagrante é a política europeia, onde o grande destruidor de alternativas é o próprio governo. Em todos estes casos, a acção do governo seca o terreno como uma floresta de eucaliptos, e depois vem dizer que o deserto mostra que… nada lá cresce. O problema é que as alternativas são sensíveis ao tempo – há coisas que se podiam fazer diferente em 2011, outras que já não se podem fazer agora, outras ainda que agora continuam a poder-se fazer, mas com muitos mais custos e menor margem da manobra.
OS GRANDES DESTRUIDORES DE ALTERNATIVAS
O grande destruidor das alternativas é o governo, mas o grande destruidor da alternativa ao governo é o PS de Seguro. Mas essa história fica para outra altura, porque remete para o terreno onde menos de facto há alternativas: a erosão por parte dos aparelhos partidários das elites governativas capazes de unir capacidade politica e eleitoral, saber e patriotismo. E hoje, o PS e o PSD, não produzem tal espécie. Aqui sim, há um grave problema de alternativa.
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MARQUES JÚNIOR
Marques Júnior era uma espécie rara de pessoas a que chamamos “homens bons”. Não há muitos e nem todos os que existem podem exercer a sua “bondade” no plano cívico. À sua volta criam uma forma rara de bem-estar, uma dissipação do conflito, uma acalmia que não é apatia, porque tem direcção e sentido. Eu sei disso, porque não pertenço á espécie e por isso percebo-os de imediato pela diferença. Não penso que o mundo deva ser apenas construído por esta “bondade”, não acredito nisso pura e simplesmente, mas que ela faz falta, faz. Poucos dias antes de Marques Júnior falecer falei com ele e, durante 2012, pude partilhar as suas preocupações e as suas mágoas com a nossa tragédia nacional, o PS, o modo como os nossos serviços de informações estavam a ser destruídos pela cupidez de poder e pela ignorância. E talvez, por eu próprio não ter a sua espécie de “bondade” custou-me particularmente o exercício de hipocrisia feito na hora da sua morte por alguns que exactamente mais o magoaram e preocuparam nos últimos tempos da sua vida.
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OS CONVIDADOS DA MESA DE NATAL DOS PORTUGUESES
O discurso do "economês", que é hoje uma parte
importante do discurso do poder, é uma espécie de marxismo pobre e
rudimentar, que acredita a seu modo que a "infraestrutura" condiciona a
"superestrutura", ou seja, que é a "economia" que determina a
"política". Marx ainda falava da "acção recíproca" e, quando teve que
defrontar a questão da arte e da literatura, ainda abriu caminho a uma
autonomia complexa da "superestrutura", mas isso é muito complicado para
mentes simples educadas por manuais escolares que estavam igualmente
impregnados deste marxismo vulgar. Depois, com as modas mediáticas e os
blogues, este marxismo vulgar virou uma vulgata liberal com muita
facilidade.
Vai tudo com muitas aspas, porque a "economia" é aqui
sinónimo de meia dúzia de ideias simples sobre as empresas, mais
preconceitos do que ideias, e a "política" é uma gestão técnica
condicionada pela "economia" que gere rendimentos, subsídios, impostos,
gastos e poupanças, e cujo valor é "libertar" a "economia" das suas
baias na Constituição, nas leis, nos sindicatos, nos "direitos
adquiridos", nas "ideias antiquadas", no "Portugal do passado" que
precisa de ser desmantelado por um "projecto de futuro" com ajuda de
muita "coragem" autoproclamada e do memorando salvífico da troika.
Parece um programa de uma "jota", e é um programa de uma "jota": ideias
feitas, retórica grandiloquente, palavras cheias de "projecto
geracional", de "Portugal de futuro", de "amanhãs que cantam" em versão
reaccionária. A isto soma-se alguma presunção adâmica e um milenarismo
profético - "estamos a mudar Portugal" - que, se tudo não estivesse já
tão gasto e mole, mataria de ridículo quem o enunciasse.
Não se
pode pois esperar destas pessoas que saiam do conforto das suas
abstracções escolares e juvenis, para o mundo que não cabe num qualquer
"trabalho de casa". É por isso que o marxismo vulgar, que, sem saberem,
lhes molda o pensamento, os faz falar da crise e da pobreza de forma
meramente "infraestrutural": pobreza é fome, é não ter casa, é dormir na
rua, é tudo aquilo que exige assistência. A pobreza para eles é apenas
grande escassez material e remete para um universo assistencialista, com
imagens de sopa dos pobres modernizadas, de IPSS que dão pão, roupa e
cobertores, da benemerência severa e moralizadora do Estado apenas para
os "mais pobres e necessitados". Tudo o resto é perdulário.
Saliente-se
que esta forma de ver a pobreza não é muito diferente da que aparece
nas reportagens televisivas, porque o universo de experiência e
mentalidade de muitos políticos não difere do dos jornalistas. Andaram
30 anos sem ver um pobre, e agora que se fala deles procuram-no com a
força do estereótipo. Um pobre, acham eles, é pouco mais do que um
mendigo que não pede, mas que se pode perceber pelo modo, tom, face,
roupa, que é pobre. Depois há todo um conjunto de reportagens sobre a
"pobreza envergonhada", mas elas são casuísticas e por definição feitas
com quem não "se envergonha" da sua pobreza. Na pobreza procuram o
espectáculo mediático, nada mais.
Estes pobres do estereótipo
aliam a sua pobreza a serem humildes e amochados: não protestam,
agradecem. Os pobres que aparecem no imaginário discursivo dos políticos
e de jornalistas nunca são os pobres perigosos, não vivem em Setúbal,
nem no Cerco do Porto, porque nesses a condição de perigosos oculta a de
pobres e estão incluídos numa categoria particular, a dos que não
querem trabalhar, ou que são subsídio-dependentes, ou drogados e
traficantes, mais as suas famílias, ou que são grupos criminosos oriundo
de minorias de que não se pode falar, como os ciganos ou os negros dos
subúrbios. Não é que não haja alguma verdade nestas caraterizações, mas
elas são mais um ecrã de ocultação do que um conhecimento da realidade.
O
marxismo vulgar e rudimentar desta visão da pobreza encontra-se na sua
descrição assente apenas nos sinais de miséria evidente, acantonando a
pobreza em segmentos da população que de há muito vivem na miséria, por
causas anteriores à crise actual. Estes pobres, muitos e demais, mas
mesmo assim poucos no balanço geral dos dias de hoje, são usados para
ocultar os que estão a empobrecer, os "novos pobres", quer porque só
agora é que são pobres, ou porque são pobres de maneira diferente. Uma
imagem excessiva da pobreza, dos que nada têm, serve para evitar falar
do empobrecimento, dos que, para o poder, têm apenas "problemas" a que
"sobreviverão". O Governo cuida dos primeiros, os outros que "aguentem".
Ora,
é o empobrecimento que caracteriza os tempos de hoje, é o
empobrecimento o principal efeito social da crise, e, para o perceber,
não serve a visão dos que já estão na miséria, até porque não é entre
eles que a crise faz mais estragos. É que os que já estavam na pobreza e
na miséria não são os mais atingidos pela crise, mas os que tinham dela
escapada nas últimas décadas. O Governo e o discurso do poder usa os
muito pobres e alguma protecção que têm tido face à crise como sinal de
justiça social, ao mesmo tempo que ignora, fecha os olhos, não faz nada,
e fustiga com o moralismo do "viver acima das suas posses" os que estão
a empobrecer. Fá-lo de uma maneira perversa, colocando muito abaixo a
fasquia dos que para o discurso governamental são "quase ricos", ou
seja, um alvo de "ajustamento".
O desdém pela "classe média" vem
deste moralismo punitivo sobre os portugueses que melhoraram a sua
condição desde o 25 de Abril, fossem operários ou filhos de operários,
camponeses ou filhos de camponeses, comerciantes ou filhos de
comerciantes, funcionários ou filhos de funcionários. Muitos fizeram uns
cursos que não valem nada para serem doutores, mas pela primeira vez na
esmagadora maioria das famílias portugueses havia estudantes
universitários, muitos foram à República Dominicana ou a Cuba em
programas de férias baratas, fazer patetices a crédito, muitos compraram
sofás e plasmas e vários telemóveis, mas, tiremos o folclore, o kitsch do gosto, e o que fica é uma real melhoria da vida de muitos portugueses.
O ataque à classe média é um remake do ódio à "burguesia", quer na versão esquerdista, quer na visão direitista, a que tinha, por exemplo, O Independente, que
adorava a "velha riqueza" e escarnecia dos que tinham "peúgas brancas",
ou, como Macário Correia, tinham pais pobres e isso "via-se". Como
sempre acontece, os melhores intérpretes desta sanha são eles próprios
típicos membros e representantes dos grupos que escarnecem, falsos
senhoritos com pretensões monárquicas, pequeno-burgueses que acham que,
como falam o telefone com Ricardo Salgado, estão noutro escalão social,
gente que gostava mesmo de ir a Marbella, mas hoje faz de conta que
nunca fez nada disso. Os caminhos do Senhor são de facto tortuosos.
A
mensagem do "Pedro e da Laura" no Facebook, um casal que resolveu
falar-nos no Natal com uma proximidade forçada que incomoda, é um
exemplo típico deste marxismo vulgar da "infraestrutura". A pobreza é
não ter "na Consoada os pratos que se habituaram", em vez de não ter
emprego; é "não poderem dar aos filhos um simples presente", em vez de
estarem deprimidos por terem que em Janeiro despedir os seus empregados
amigos de sempre; é "não conseguiram ter a família toda à mesa", em vez
de terem vergonha por não poderem pagar o que devem.
A todos eles
o "Pedro e a Laura" aconselham que não tenham "pesar", por estarem
falidos, ou desempregados, ou endividados, ou terem perdido a casa, ou
não terem dinheiro para a renda, ou terem que dizer ao filho que não há
dinheiro para continuar a estudar, ou que já não podem mais ajudar os
pais reformados, ou por estarem tão zangados com a vida que todos à
volta pagam um preço elevado em violência verbal e não só. O "Pedro e a
Laura" pedem-lhes para terem "orgulho" na sua nova condição de pobres
sem futuro e destino, porque, ao tirarem os filhos da escola, ao
perderem o emprego, ao caírem na condição de párias sociais, porque não
podem pagar ao fisco, ao perderem todos os seus bens, estão a garantir
"que os nossos filhos tenham no futuro um Natal melhor".
Não,
"Pedro e Laura", na mesa de Natal de muitos portugueses o que preocupa
não é a falta de rabanadas, nem brinquedos, nem pessoas, mas sim o facto
de lá estar sentado o medo, a indignidade, a vergonha e o desespero,
coisas que não vêm em estatística nenhuma. E isso não garante futuro
nenhum que valha a pena viver, nem aos pais, nem aos filhos, nem aos
netos.
(Versão do Público de 29 de Dezembro de 2012.)
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2291 - Pantoum Of The Great Depression
Our lives avoided tragedy (Donald Justice) (url) 4.1.13
O ano de 2013 vai ser o ano da viragem que dará razão ao Governo e às folhas de Excel. No fundo, sabemos todos que a Microsoft não teria um software tão famoso, se ele não funcionasse. Ao lado do Excel, as previsões da oposição são feitas com as cartas do Tarot e vendo os programas da Maya.
Dizem que as coisas estão muito mal, mas não estão tão mal como isso. Vejam os manifestantes do 15 de Setembro. São contra o governo? Não, foram contra a TSU, um “erro de comunicação” identificado pelo professor Marcelo e rapidamente corrigido. Para além disso, os mesmos manifestantes são contra as greves e contra os funcionários públicos. Estão os pobres urbanos a favor da revolução? Enganam-se, já os viram a falar contra a greve dos transportes quando as televisões os procuram nas estações? Por eles, acabava o direito á greve já amanhã, juntando-se a Ferraz da Costa numa diatribe sobre o excesso de indisciplina nas empresas públicas e a libertinagem permitida pela Constituição. O Salazar é que os punha na ordem.
Estão os jovens indignados? Estão, estão, contra aqueles que por tornarem “rígido” o “mercado do emprego”, ocupam os empregos enquanto eles são “precários”. Vejam lá se eles vão às manifestações da CGTP? Não vão, porque eles leem blogues, e sabem que os sindicalistas querem continuar a ser “sanguessugas” dos nossos impostos, a ganhar sem trabalhar. Para além disso, os jovens sabem muito bem que o estado não vai garantir-lhes as reformas no futuro e, por isso, para que é que têm que estar a pagar hoje as reformas milionárias acima dos 1300 euros? Os velhos que se cuidem, porque estão a prejudicar os mais novos, como disse o senhor Primeiro-ministro aos jovens da JSD, cheios de confiança nos seus “projectos de futuro” e de carreira. No fundo, sabem que são os “seus” que estão no poder.
Há gente zangada nos restaurantes, nos professores, nos trabalhadores das diversões, nos polícias, nos médicos, nas forças armadas? Não se iludam, são apenas grupos corporativos que estão a perder os privilégios que tinham e a ter que pagar impostos que nunca pagaram. Aliás, são os poderosos que mais estão contra este governo. É o lóbi dos restaurantes que não quer passar facturas, todos representantes de um sector sem interesse para a economia exportadora que queremos construir. Militares? Isso são os restos do PREC e um anacronismo que é preciso corrigir. Já acabamos com o Serviço Militar Obrigatório, agora para que é que são precisas as forças armadas a não ser como uma polícia “pesada” anti-motim? São como os juízes do Tribunal Constitucional, um grupo que julga em causa própria, para defender as suas chorudas reformas, mesmo que para isso tenha que matar a economia. Aliás os verdadeiros inimigos do governo são gente sem valor que se habituou toda a vida a viver do estado e que está apenas a defender a sua reforma atacando vilmente este corajoso governo. Não é Bagão Félix?
Falam contra os bancos e acusam o governo de lhes dar tudo o que pode? Esquerdismo à Louçã, porque a saúde do sistema financeiro é fundamental para a nossa economia e os bancos fazem a sua parte. Há quem coloque o dinheiro no estrangeiro e em offshores? É apenas a natural expressão do receio que tiveram com a bancarrota de Sócrates, a quem apoiaram apenas por engano. No fundo estão a comportar-se racionalmente como deve fazer o grande capital. E a verdade é que, à medida que os seus nomes aparecem no “Monte Branco”, portam-se como devem e pagam os seus impostos. Não é muito, mas eles percebem bem como este governo está ao serviço dos “interesses da economia”, que são também os seus. Tudo gente patriótica.
Só uns intriguistas é que podem dizer que o governo não cumpre contractos com os trabalhadores, ao mesmo tempo que é mole com os offshores e respeitador dos contratos blindados das PPPs. É verdade que muitos dos seus autores, - da blindagem,- estão no governo ou trabalham para o governo nas grandes firmas de advogados e consultadoria, mas isso é porque são competentes e confiáveis. Foram-no antes e são-no hoje. O que é que queriam, que o governo os colocasse á margem, com tudo o que eles sabem e podem? Intrigas e inveja.
2013 vai ser o ano do pensamento positivo, vai mostrar que o optimismo é a melhor atitude a ter na vida. Há crise, sim senhor, mas nós aguentamos. Os portugueses no meio de grandes dificuldades em ajustar-se vão cortar no supérfluo, deixar de comer bifes, lavar só metade dos dentes, e ir ao hospital quando já estão de maca. No fim, vamos chegar vivos. Vamos aguentar. Vamos continuara a dar mostras de civismo e das qualidades de paciência que tornaram o “bom povo português” um exemplo que a Europa segue com carinho e inveja.
Na Europa, também tudo está mudar. O país e Vítor Gaspar tem um prestígio incalculável, que é o melhor asset para Portugal. Ele é a Merkel, o Schauble, o Draghi, o Trichet a debitarem elogios e a aprenderem muito connosco. Não cumprir o défice deixou de ser muito importante. Vamos fazer duas ou três emissões com sucesso em 2013, pequenas, a vários prazos, prudentes, e depois os alemães vão colocar-nos a mão por baixo e defender-nos dos mercados, porque com esse sucesso, já podemos ser apoiados pelo BCE. Foi o que nos prometeram, para podermos apresentar a saída da troika como um grande trunfo político. Esperemos que resulte. O resto não interessa, mesmo que isto não seja bem voltar aos mercados, mas só a cabeça negra da oposição dirá isso. E não me venham com tretas sobre a sustentabilidade, porque sustentáveis só temos que ser até ao “que se lixem as eleições”. Depois a culpa passa outra vez para o PS.
Com a saída da troika o governo pode aparecer aos olhos dos eleitores como tendo cumprido o memorando “que outros assinaram”, e, retomado a “soberania” nacional, que “outros perderam”. É verdade que continuamos a ser obrigados a fazer a mesma política mesmo sem a troika, mas deixam-nos uma pequena folga para haver eleições sem ser em estado de calamidade. A troika zela pelos seus e o Pacto Orçamental está lá sempre para por na ordem as tentações keynesianas. Para além disso, como disse Passos Coelho, os números vão ser ter baixos que alguma vez têm que subir.
Vamos continuar a confiar nos dois partidos corajosos que nos vão retirar da bancarrota para onde nos atirou o Sócrates. Vejam a inteligência de Portas, a teimosia convicção de Passos Coelho, a tenacidade de Relvas contra a campanha miserável que lhe fazem, o saber profundo de Vítor Gaspar, a lealdade daqueles deputados que, contra ventos e marés, votam tudo o que é preciso, a fidelidade quase canina dos propagandistas, bloguistas amigos, também assessores, também a trabalhar com os gabinetes nas agências de comunicação e imagem, um serviço muito importante para não haver “falhas de comunicação”. E se as há, é porque não contratam os serviços que deviam, os especialistas nessa arte de “persuasão” que as almas danadas da oposição chamam de manipulação.
Eles sim são homens de princípios. E se estão surpreendidos pelo “canino” na fidelidade, é porque desprezam o melhor amigo do homem, ali, a dar a dar, e que ladra e morde quando é preciso. Fazem-nos muita falta neste tempo de crise, em que, aparentemente solitários, os homens que nos governam, têm consigo a maioria silenciosa dos melhores portugueses e os seus cães. Pensamento positivo, que o pior já passou.
MAS, HÁ UM PEQUENO PROBLEMA…
É que não acredito numa linha do que está escrito antes. (url) (url) 2.1.13
(NOT SO) EARLY MORNING BLOGS
2289 -Mnemosyne
It 's autumn in the country I remember.
How warm a wind blew here about the ways! And shadows on the hillside lay to slumber During the long sun-sweetened summer-days. It's cold abroad the country I remember. The swallows veering skimmed the golden grain At midday with a wing aslant and limber; And yellow cattle browsed upon the plain. It 's empty down the country I remember. I had a sister lovely in my sight: Her hair was dark, her eyes were very sombre; We sang together in the woods at night. It 's lonely in the country I remember. The babble of our children fills my ears, And on our hearth I stare the perished ember To flames that show all starry thro' my tears. It 's dark about the country I remember. There are the mountains where I lived. The path Is slushed with cattle-tracks and fallen timber, The stumps are twisted by the tempests' wrath. But that I knew these places are my own, I 'd ask how came such wretchedness to cumber The earth, and I to people it alone. It rains across the country I remember.
(Trumbull Stickney)
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EARLY MORNING BLOGS
2288 - The Years Awakening
How do you know that the pilgrim track Along the belting zodiac Swept by the sun in his seeming rounds Is traced by now to the Fishes’ bounds And into the Ram, when weeks of cloud Have wrapt the sky in a clammy shroud, And never as yet a tinct of spring Has shown in the Earth’s apparelling; O vespering bird, how do you know, How do you know? How do you know, deep underground, Hid in your bed from sight and sound, Without a turn in temperature, With weather life can scarce endure, That light has won a fraction’s strength, And day put on some moments’ length, Whereof in merest rote will come, Weeks hence, mild airs that do not numb; O crocus root, how do you know, How do you know?
(Thomas Hardy)
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© José Pacheco Pereira
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