ABRUPTO

31.1.12


PERGUNTAS QUE NÃO LEVAM A PARTE NENHUMA


 

 

 

 

 

  

 

3. POR QUE RAZÃO FALHARAM AS ÚLTIMAS MANIFESTAÇÕES DOS "INDIGNADOS"?

A comunicação social tem estado relativamente silenciosa sobre o estrondoso falhanço das últimas manifestações "indignadas", como se não houvesse nada a perguntar, nem nada a analisar. O mesmo se diga da patética manifestação contra Cavaco Silva, que nem sequer 200 pessoas reuniu, apesar de ter sido abundantemente anunciada na comunicação social, incluindo a televisiva. Ora tenho para mim que qualquer manifestação hoje que mereça a simpatia benevolente da comunicação social (como aconteceu com os exemplos referidos) que tenha menos de alguns milhares de pessoas obriga a analisar não apenas os factores de atracção em que se baseia o apelo, mas também os factores de repulsão que afastam as pessoas.

A primeira manifestação da chamada "geração à rasca" (a designação de "indignados" era ainda muito minoritária) foi um grande sucesso. Mas é o caso típico de uma manifestação unanimista, que desde a JSD à extrema-direita, de grupos de "artistas" à extrema-esquerda, do PSD ao BE ao PCP, teve todo o mundo e ninguém a apoiar e uma comunicação social activa e ultra-simpática a divulgá-la. Só quem não era patriota é que não saía à rua. Ah! E havia um pequeno pormenor - era contra José Sócrates no clímax da sua impopularidade. Tinha que ser um sucesso e foi, mas gerou a ilusão de que poderia dar origem a um novo tipo de movimentos, o que também entusiasmou muitas redacções sempre prontas a encontrar "novos" movimentos sociais e depreciar os "antigos".

Mas o sucesso da segunda manifestação só existiu enquanto se esteve longe do folclore das "assembleias populares" em frente ao Parlamento e deveu-se ao mais antigo dos movimentos sociais, a CGTP, mais o PCP. Foi isso que encheu as avenidas e foi isso que se rarefez, quando as tropas disciplinadas dos sindicatos e do PCP se recusaram a participar nas cenas excitadas de grupos que acham que o povo são eles e que podem fazer um soviete a brincar nas escadas da Assembleia. Já aqui se percebeu que estavam em jogo factores de rejeição e que essa rejeição foi do vanguardismo mimético da cena entre o hippie e o leninista, no meio de tendas de campismo e lixo, que se pretendeu montar sob o arrogante nome de "assembleia popular".

Por isso, a terceira manifestação foi um falhanço completo. Sem a CGTP, ficou apenas o folclore, alguns genuínos indignados e uma extrema-direita que usa a mesma linguagem dos radicais indignados e por isso estava lá por direito próprio. O mesmo se pode dizer da micro-manifestação da "moedinha para o Cavaco", um ainda maior falhanço, apesar da publicidade na comunicação social, em que a todos os outros factores de rejeição se acrescenta o facto de os jornalistas gostarem muito do engraçadismo, mas a maioria das pessoas, mesmo irritadas com Cavaco Silva, não acharem bem o gozo com a figura do Presidente.

Como é que isto vai continuar? Um pequeno número de proto-leninistas e anarquistas vão tentar provocar incidentes, como se esses incidentes revelassem qualquer "luta de classes", os "artistas" vão continuar a fazer cenas de rua, e tudo isto só ultrapassará a paisagem do Camões e da Rua do Carmo, se a CGTP e o PCP quiserem. Até agora não quiseram.
  


 


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© José Pacheco Pereira
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