ABRUPTO

31.1.12


PERGUNTAS QUE NÃO LEVAM A PARTE NENHUMA

2. POR QUE RAZÃO NINGUÉM FALA EM PRIVATIZAR AS RÁDIOS PÚBLICAS?

A televisão é o grande instrumento de poder na comunicação social e por isso é normal que a atenção política se centre na privatização anunciada de parte da RTP e no desenho futuro ainda por conhecer da empresa estatal. Mas surpreende-me o silêncio e ausência de discussão sobre o facto de, no universo da comunicação social pública, haver um importante sector de rádio: vários canais de rádio tradicionais, e vários na Internet. Ora todos os problemas que se colocam com os canais televisivos da RTP colocam-se com ainda mais agudeza na rádio, onde a oferta privada é mais sólida e importante e não custa nada aos contribuintes. Temos a Rádio Renascença, ou a TSF, só para ir a dois exemplos influentes de um universo de rádios privadas numeroso e activo, cobrindo todas as formas de música, clássica, ligeira, portuguesa, fado, rock, e um jornalismo de qualidade, agressivo e competitivo. 
 
O que é que justifica existir um pesado sector comunicacional de rádios públicas? A resposta é certamente a mesma que é dada para os canais televisivos da RTP: à esquerda, ideologia da superioridade do público sobre o privado; à direita, poder manter um braço armado na comunicação social que depende de escolhas políticas.

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A garantia de uma oferta mínima de um certo tipo de programação audiovisual dita "erudita", uso o termo por facilidade, é uma opção política. Poderemos achar que essa garantia deve existir ou não existir, mas que a escolha tem que ser feita, isso tem. Pelo menos enquanto em Portugal vigorar um sistema de mecenato do qual as pequenas iniciativas raramente beneficiam, não poderemos pensar em vir a ter a já referida oferta garantida por privados como acontece na rádio e televisão pública dos Estados Unidos da América. Pessoalmente acho que sim, que deve ser garantida essa oferta, pela mesma razão que deve apoiar, por exemplo, a ópera. É uma questão de ter ou não ter. Por mais fé que tenhamos na livre iniciativa quanto à oferta cultural, são já vários os exemplos de ofertas que, por não serem de grandes massas acabam por morrer. 
É portanto uma questão de opção política e é legítimo que defendamos uma ou outra solução. O que me parece estranho, no caso deste seu artigo, é a afirmação de que "Temos a Rádio Renascença, ou a TSF, só para ir a dois exemplos influentes de um universo de rádios privadas numeroso e activo, cobrindo todas as formas de música, clássica, ligeira, portuguesa, fado, rock, e um jornalismo de qualidade, agressivo e competitivo." Como é evidente, na lista de géneros que refere há um que não é de massas e não faria sobreviver nenhuma rádio não apoiada pelo estado. Dizer que a Renascença ou a TSF cobrem o universo da música clássica parece-me, no mínimo, um enorme exagero. É apenas um pormenor no seu texto, mas parece-me ser um pormenor muito importante na elaboração da sua argumentação.
(João Tinoco)

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